A Ilustre Casa de Ramires – Wikipédia, a enciclopédia livre

A Ilustre Casa de Ramires

Estátua em bronze do rei Sancho I de Portugal no castelo de Silves.
Autor(es) Eça de Queirós
Idioma português
País  Portugal
Gênero romance
Localização espacial Santa Irineia, Vila Clara
Editora Livraria Chardron
Lançamento Porto, 1900
Páginas 543
Cronologia
Correspondência de Fradique Mendes
A Cidade e as Serras

A Ilustre Casa de Ramires é um romance realista da terceira fase do escritor português Eça de Queirós. Publicado em 1900, representa a sua maturidade intelectual e o apogeu do seu estilo como escritor, onde a crítica corrosiva e a ironia cáustica que haviam marcado a segunda etapa da sua produção – fase de adesão ao naturalismo – cedem lugar a uma postura de maior esperança nos valores humanos e abrem espaço para um certo optimismo.

A história aparente narra a vida de Gonçalo Mendes Ramires, a sua chegada à política e as tradições familiares portuguesas, mas fica evidente a analogia que Eça faz com a História portuguesa, as suas mudanças políticas e a sua tradição. O administrador Gouveia, uma das personagens, chega a afirmar, nas últimas linhas da obra, que o seu amigo Gonçalo se parece com Portugal.

Escrita e publicada em meio a instabilidade política da monarquia e sob a humilhação do Ultimato inglês, o autor sugere um retorno ao colonialismo e à aristocracia como saída para Portugal.

A representação proposta por Eça é construída a partir de Gonçalo Mendes Ramires, um fidalgo, morador da pequena Vila Clara que ambiciona participar da política. Quando um amigo de Ramires o convida para publicar um romance nos Annaes da Literatura, vê sua grande chance de ter o nome reconhecido e ingressar finalmente na política. Dessa forma o protagonista de Eça torna-se também ele autor de uma novela, uma novela histórica que se passaria no Século XIII e teria como personagem um ancestral seu, Tructesindo Ramires, fiel cavaleiro do rei D. Sancho I e que se vê envolvido nas lutas entre o rei D. Afonso II e as suas irmãs, depois da morte do Rei, em 1211. Porém, toda a narrativa de Gonçalo não passa de uma versão em prosa, frouxa e mal elaborada de um poema [necessário esclarecer] escrito anos atrás por um tio e publicado num jornal de província. Seus talentos literários não passam da mal dissimulada cópia, como sua estrutura moral não passa de um jogo hábil entre interesse e conveniência social.[necessário esclarecer]

A presença destas duas histórias paralelas fazem de Ilustre Casa um romance de formação, ou seja, um romance sobre a arte de escrever. E Eça sugere que a escrita é um trabalho árduo, duro, de muito esforço, pois narra o seu Ramires cansado após horas de produção num gabinete fechado. Ou pressionado pelo editor e sem as páginas concluídas. Esta concepção, tão oposta aos românticos, será no Século XX estudada e aplicada em diversas oficinas literárias.

As quatro histórias

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Eça de Queirós trabalha o seu romance com o paralelismo, ou seja, há mais de um conflito ao mesmo tempo. Vejamos quais são eles a partir de um trecho da obra, em que se encontram:

(História 1) Gonçalo escreve uma novela; motivação da história
(História 2) Desejo de Gonçalo entrar na política –> Eleições para deputado
(História 3) O casamento da irmã e seu romance com Cavalleiro (motivo do ódio por AC)

(História 4) A possibilidade de um casamento com uma rica e bela viúva

“Desde as quatro horas da tarde, no calor e silêncio do domingo de Junho, o Fidalgo da Torre, em chinelos, com uma quinzena de linho envergada sobre a camisa de chita cor-de-rosa, trabalhava. Gonçalo Mendes Ramires (que naquela sua velha aldeia de Santa Ireneia, e na vila vizinha, a asseada e vistosa Vila-Clara, e mesmo na cidade, em Oliveira, todos conheciam pelo "Fidalgo da Torre") trabalhava numa Novela Histórica, A Torre de D. Ramires, destinada ao primeiro número dos Anais de Literatura e de História, revista nova, fundada por José Lúcio Castanheiro, seu antigo camarada de Coimbra, nos tempos do Cenáculo Patriótico, em casa das Severinas. A livraria, clara e larga, escaiolada de azul, com pesadas estantes de pau-preto onde repousavam no pó e na gravidade das lombadas de carneira, grossos fólios de convento e de foro, respirava para o pomar por duas janelas, uma de peitoril e poiais de pedra almofadados de veludo, (...)”

A Ilustre Casa de Ramires (1900)

Este romance desenrola-se em dois planos que caminham paralelamente. Num tom romântico e idealista faz-se o romance histórico, num tom realista descreve-se a vida da província. É evidente o contraste entre a nobreza dos feitos guerreiros do romance histórico e a mesquinhez e a bisbilhotice da vida da província. O próprio estilo diverge.

Do ponto de vista estilístico, destaca-se a utilização de particípios transformados em advérbios, a recusa do uso de verbos comuns e banais (como dizer, perguntar, responder, etc.), o uso frequente de hipálages, onomatopeias, hipérboles e repetições.

Relativamente ao emprego do adjetivo, é notória a tripla e dupla adjetivação, de modo a proporcionar uma unidade rítmica. É também comum o adjetivo adverbial, excelentemente posicionado.

Para obter efeitos cómicos, Eça emprega epítetos excessivos a respeito de coisas triviais. É também frequente a atribuição de qualidades concretas ao imaterial.

Refira-se, por outro lado, a utilização do discurso indireto livre, tendo sido Eça o primeiro escritor português a utilizá-lo com plena consciência das suas possibilidades estilísticas.

É também extraordinário o aproveitamento das potencialidades sonoras que o escritor faz do vocabulário que emprega.

Ligações externas

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