Alavancagem financeira – Wikipédia, a enciclopédia livre
Em finanças, alavancagem (em inglês, leverage ou gearing) é um termo genérico que designa qualquer técnica utilizada para multiplicar a rentabilidade [1] através de endividamento.
Resulta, portanto, da participação de recursos de terceiros na estrutura do capital da empresa. A organização se utiliza de ativos ou de recursos externos, tomados a um custo (taxa de juros) fixo, visando aumentar o lucro dos seus acionistas.[2]
Formas comuns de conseguir alavancagem são: tomar empréstimos, comprar ativos fixos e usar derivativos.[3] Exemplos:
- Uma sociedade anônima pode alavancar seu patrimônio líquido tomando dinheiro emprestado. Quanto mais ela toma empréstimos, menos capital próprio ela precisa. Assim, a empresa apresentará uma relação lucros (ou perdas) / capital proporcionalmente maior (porque a base será menor).[4]
- Uma empresa pode alavancar suas receitas comprando ativos fixos. Isso faz aumentar a relação entre custos fixos e custos variáveis da empresa, e a variação da receita resultará de maior variação nas receitas operacionais (isto é, nas receitas decorrentes da atividade principal da empresa).[5][6]
- Hedge funds frequentemente alavancam seus ativos usando derivativos. Um fundo pode obter ganhos (ou perdas) sobre o valor de $20 milhões de óleo cru, por exemplo, depositando apenas $1 milhão como garantia.[7] Neste caso, o investimento total exige uma margem de apenas 5%, ocorrendo um maior Risco Financeiro.
Há duas categorias distintas de alavancagem:
- Alavancagem operacional: tem como ponto de partida o aumento das vendas, em contrapartida aos custos fixos. É determinada pela relação existente entre as receitas operacionais e o lucro antes de juros e imposto de renda (LAJIR), conceito que se confunde com o de lucro operacional.[2]
- Alavancagem financeira: tem como base o aumento do lucro líquido, em contraponto às despesas financeiras (juros, comissões e outras despesas bancárias). É a capacidade da empresa de elevar o lucro líquido por cota (no caso de uma sociedade por cotas de responsabilidade limitada) ou por ações (no caso de uma sociedade anônima), fazendo uso de recursos de empréstimo a juros constantes (fixos). Corresponde à relação entre passivo e recursos próprios.[2] A alavancagem financeira também pode ser entendida como o efeito produzido pelo capital de terceiros sobre o patrimônio líquido.[8]
Objetivo
[editar | editar código-fonte]A alavancagem financeira tem como objetivo potencializar a rentabilidade dos capitais próprios e o lucro dos acionistas, sem que estes precisem investir recursos próprios adicionais. A alavancagem financeira funciona, portanto, como um multiplicador do capital próprio.[9]
A alavancagem financeira corresponde à relação entre capital próprio e os créditos aplicados em uma dada operação. Segundo Gitman[10], alavancagem financeira é o uso de ativos ou recursos com encargos financeiros fixos para aumentar os efeitos de variações do lucro antes de juros e imposto de renda sobre o lucro por ação - isto é, para aumentar o retorno dos acionistas da empresa. Assim, a empresa usa recursos de terceiros (basicamente, empréstimos, debêntures, ações preferenciais, etc.) para maximizar os efeitos da variação do lucro operacional (LAJIR) sobre os lucros por ação. Maior alavancagem pode aumentar o retorno mas também significa aumento de riscoe eventual a exposição à insolvência.
A decisão de usar a alavancagem financeira depende não apenas de uma expectativa de rentabilidade dos investimentos a serem realizados com recursos de empréstimos, mas também dos custos desse empréstimo. É necessário considerar a influência desse acréscimo de endividamento na estrutura financeira da empresa, bem como o risco financeiro envolvido, a curto, médio e longo prazos.[9] O endividamento pode se mostrar interessante se o custo do empréstimo for menor que o retorno que se espera obter com a aplicação dos recursos oriundos desse empréstimo.
O estudo da alavancagem financeira ou operacional evidencia a importância relativa dos recursos de terceiros na estrutura de capital de uma empresa. Para isso analisa-se a taxa de retorno do capital próprio, considerando-se o custo dos capitais de terceiros, usados para alavancar as operações da empresa.[2]
A alavancagem financeira será positiva para a empresa se os capitais de terceiros de longo prazo produzirem efeitos positivos sobre o patrimônio líquido, ou seja, se o retorno sobre o patrimônio líquido for superior ao retorno sobre o ativo. De nada adiantaria a uma empresa captar recursos a longo prazo se, após essa captação, o retorno sobre o patrimônio líquido recuasse à posição anterior à captação.
Alavancagem financeira e risco
[editar | editar código-fonte]O grau de alavancagem financeira (GAF) de uma empresa é um importante indicador do grau do risco a que empresa está submetida. Se existe capital de terceiros de longo prazo na estrutura de capital, a empresa estará "alavancada", ou seja, corre risco financeiro.
O GAF evidencia os efeitos das variações ocorridas no lucro antes dos juros e do imposto de renda (LAJIR) que se refletem no lucro líquido.[2] Pode ser calculado com o uso das seguintes fórmulas:
GAF = Variação % no Lucro Líquido / Variação % no LAJIR = ∆LL / ∆LAJIR
ou
GAF = LAJIR / LAJIR – Despesas Financeiras = LAJIR / LAIR
sendo LAIR=lucro depois dos juros e antes do imposto de renda
Também pode ser expresso da seguinte forma:
GAF = RPL/RAT
sendo
- RPL[11]= Retorno sobre o Patrimônio Líquido = Lucro líquido/Patrimônio Líquido
Se GAF = 1,0, a alavancagem financeira será considerada nula. Nesse caso, não há despesas financeiras, ou seja, não há capital de terceiros (que são, geralmente, instituições financeiras) na estrutura de capital. O risco financeiro é baixo .
Se GAF > 1,0 a alavancagem financeira será considerada favorável: o retorno sobre o Ativo Total (conjunto de bens e direitos da empresa, expressos em moeda) será razoavelmente maior que a remuneração paga ao capital de terceiros (a título de juros e comissões).
Se GAF < 1,0 a alavancagem financeira será considerada desfavorável, pois os recursos de terceiros tiveram um custo maior do que o ROI e, neste caso, estão prejudicando a empresa. Nesse caso, há risco financeiro. Se o RPL é menor do que o RAT, isto significa que o capital de terceiros está consumindo parte do patrimônio líquido. Mesmo se o Ativo Total gerar um retorno, parte desse retorno estará sendo financiada por capital de terceiros - o qual é, neste caso, remunerado a uma taxa superior à taxa de retorno sobre o Ativo Total. Diz-se então que o capital de terceiros está exercendo alavancagem negativa.[8][13]
Referências
- ↑ Brigham, Eugene F., Fundamentals of Financial Management (1995).
- ↑ a b c d e Alavancagem operacional, financeira e combinada Por Tomislav Femenick; 18 de abril de 2005.
- ↑ Mock, E. J., R. E. Schultz, R. G. Schultz e D. H. Shuckett, Basic Financial Management (1968).
- ↑ Grunewald, Adolph E. e Erwin E. Nemmers, Basic Managerial Finance (1970).
- ↑ Ghosh, Dilip K. e Robert G. Sherman, "Leverage, Resource Allocation and Growth," Journal of Business Finance & Accounting. Jun. 1993, p. 575-582.
- ↑ Lang, Larry, Eli Ofek e Rene M. Stulz, Leverage, Investment, and Firm Growth," Journal of Financial Economics. Jan. 1996, p. 3-29.
- ↑ Chew, Lillian, Managing Derivative Risks: The Use and Abuse of Leverage, John Wiley & Sons (July 1996).
- ↑ a b c Vieira, José Carlos. Gestão Financeira II Arquivado em 28 de dezembro de 2013, no Wayback Machine. 2ª edição revista e atualizada. Universidade do Sul de Santa Catarina. UnisulVirtual, 2007.
- ↑ a b Alavanca Financeira . Knoow.net
- ↑ GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. 7ª edição, São Paulo, Editora Harbra Ltda, 1997. Capítulo 11, p. 418.
- ↑ Também referido como ROE, do inglês Return on Equity.
- ↑ Também referido como ROA, do inglês Return on Asset.
- ↑ Morante, Antônio Salvador. Alavancagem Financeira e Ponto de Equilíbrio.
Ver também
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