Anticlericalismo – Wikipédia, a enciclopédia livre

Escultura de um dinossauro rodeado de ovelhas como crítica à Igreja Católica e ao Papa Bento XVI, exibida na Jornada Mundial da Juventude de 2005, em Colónia, Alemanha.

O anticlericalismo é a oposição à autoridade religiosa, normalmente em questões sociais ou políticas. O anticlericalismo histórico tem se oposto principalmente à influência do catolicismo romano. O anticlericalismo está relacionado ao secularismo, que busca separar a igreja da vida pública e política.[1][2]

Alguns se opuseram ao clero com base na corrupção moral, questões institucionais e/ou divergências na interpretação religiosa, como durante a Reforma Protestante. O anticlericalismo existiu de uma forma ou de outra ao longo de quase toda a história do cristianismo. Foi extremamente violento durante a Revolução Francesa, porque os revolucionários afirmaram que a Igreja desempenhou um papel fundamental nos sistemas de opressão que levaram a ela.[3] Muitos clérigos foram mortos e os governos revolucionários franceses tentaram colocar os padres sob o controle do Estado, tornando-os funcionários.

O anticlericalismo difere do chamado laicismo, pois implica uma hostilidade aberta face ao mundo clerical, pelo fato da sua influência social ou política. O laicismo apenas rejeita a influência da Igreja na esfera pública, considerando que os assuntos religiosos pertencem à esfera privada de cada indivíduo.

É um movimento histórico que se caracteriza por condenar a influência dominante de instituições religiosas, especialmente contra o clero da Igreja Católica. Sua atitude denota uma crítica à instituição eclesiástica e à hierarquia católica em geral, o que não implica necessariamente anticristianismo. Ou seja, é possível que uma mesma pessoa mantenha uma posição anticlerical e seja cristã.

O ativista anticlerical critica a acção política e social das instituições religiosas. O anticlericalismo é mais frequente contra o Cristianismo, mas há atitudes anticlericais contra as demais religiões.

O anticlericalismo foi um sentimento presente no Iluminismo, Revolução francesa, revoluções proletárias e/ou socialistas e liberais. No século XVII, essa postura readquiriu um novo vigor, na medida em que a burguesia, que já possuía e controlava o poder económico, era dada mais para o materialismo e menos para o lado espiritual. Como consequência, existem países laicos que barraram (ou reduziram) a influência clerical em sua política (e até mesmo estatizando as propriedades clericais), servindo de exemplo países como França, Uruguai, Cuba, Venezuela, Itália, República Checa etc.

Durante a Reforma Protestante, o anticlericalismo resultou da oposição aos privilégios legais políticos e económicos do clero.[4][5]

Revolução francesa

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Estampas da época comparando (à esquerda) o "padre patriota que faz o juramento cívico de boa fé" com o (à direita) "padre aristocrático" que se esquiva ao mesmo juramento.

Durante a Revolução Francesa, a Constituição Civil do Clero foi aprovada em 12 de julho de 1790, exigindo que todos os clérigos jurassem lealdade ao governo francês e, por extensão, à cada vez mais anticlerical Assembleia Nacional Constituinte. Todos, exceto sete dos 160 bispos, recusaram o juramento, assim como cerca de metade dos párocos. Os padres que não se comprometiam eram exilados ou presos e mulheres a caminho da missa eram espancadas nas ruas. A perseguição violenta do clero e dos fiéis foi o primeiro estopim duma rebelião popular contra os revolucionários; o segundo sendo o recrutamento.[6]

Muitas igrejas foram convertidas em "templos da razão", nos quais se realizavam serviços ateístas. Como parte da campanha para descristianizar a França, em Outubro de 1793 o calendário cristão foi substituído por um que se iniciava a partir da data da Revolução,[7] e foram programados Festivais da Liberdade, da Razão e do Ser Supremo. Surgiram novas formas de religião moral, incluindo o Culto do Ser Supremo e o primeiro culto ateu patrocinado pelo Estado em França, o Culto da Razão.[8]

Em Agosto de 2018. o próprio Papa Francisco criticou o clericalismo na Igreja Católica, por criar uma cultura em que o abuso criminoso era generalizado e esforços extraordinários eram feitos para manter os crimes ocultos.

O Papa apontou o clericalismo como uma doença na Igreja, uma doença que pretende que "a Igreja" significa "sacerdotes e bispos", e ignora ou minimiza a contribuiçao dos leigos. O clericalismo, disse ele, envolve tentar "substituir ou silenciar ou ignorar ou reduzir o povo de Deus a pequenas elites".

"Dizer 'não' ao abuso é dizer um enfático 'não' a ​​todas as formas de clericalismo", escreveu o Papa numa carta aos católicos.[9][10]

Referências

  1. Zuckerman, Phil (2016). The Nonreligious: Understanding Secular People and Societies. [S.l.]: Oxford University Press. p. 20 
  2. «Anticlericalism | Religion, Politics & History | Britannica». Britannica (em inglês). Consultado em 21 de junho de 2023 
  3. Weight, Alexa. «God and Revolution: Religion and Power from PreRevolutionary France to the Napoleonic Empire». Department Of History. Western Oregon University. Consultado em 26 de Junho de 2023 
  4. Davies, Norman (1996). Europe: A History: A Panorama of Europe, East and West, From the Ice Age to the Cold War, From the Urals to Gibraltar. [S.l.]: Harper Perennial 
  5. Hillerbrand, Hans J. (2000). Historical Dictionary of the Reformation and Counter-Reformation. [S.l.]: Fitzroy Dearborn Publishers. Entrada: Anticlericalismo 
  6. Joes, Anthony James (2006). Resisting Rebellion: The History and Politics of Counterinsurgency. [S.l.]: University Press of Kentucky. pp. 51–52 
  7. Tallet, Frank (1991). «Cap.: Dechristianizing France: The Year II and the Revolutionary Experience». Religion, society and politics in France since 1789. [S.l.]: The Hambledon Press. pp. 1–2 
  8. Fremont-Barnes, Gregory (2007). Encyclopedia of the age of political revolutions and new ideologies, 1760–1815. [S.l.]: Greenwood Press. pp. 119, 237 
  9. Wooden, Cindy (22 de agosto de 2018). «Clericalism: The culture that enables abuse and insists on hiding it». America Magazine (em inglês) 
  10. Sherwood, Harriet (20 de agosto de 2018). «Pope on sexual abuse: 'We showed no care for the little ones'». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077 
  • Zuckerman, Phil (2016) - The Nonreligious: Understanding Secular People and Societies - Oxford University Press

Ligações externas

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