Araracanga – Wikipédia, a enciclopédia livre
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Araracanga | |||||||||||||||
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Estado de conservação | |||||||||||||||
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1] | |||||||||||||||
Classificação científica | |||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||
Ara macao (Linnaeus, 1758) | |||||||||||||||
Distribuição geográfica | |||||||||||||||
Distribuição geográfica da araracanga | |||||||||||||||
Sinónimos | |||||||||||||||
Macrocercus araracanga Sittace macao |
Arara-escarlate[2] ou araracanga[3] (nome científico: Ara macao), também conhecida pelos nomes de aracanga, arara-macau, arara-piranga, macau[4][5] e arara-vermelha-pequena, é uma espécie de ave pertencente à família Psittacidae, sendo a terceira maior representante do gênero Ara,[6] que reúne araras e maracanãs. Ocupa um grande território na América que vai do sul do México até o norte do estado brasileiro do Mato Grosso. É uma das aves mais emblemáticas das florestas neotropicais, mas sua população vem declinando e em algumas áreas já foi extinta ou está em grande perigo. A população centro-americana está particularmente ameaçada.[7][8][9] Entretanto, a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, em 2009, classificou o estado da espécie globalmente como "pouco preocupante".[1]
Etimologia
[editar | editar código-fonte]"Araracanga" e "aracanga" vêm do termo tupi ararakanga. "Arara" vem do tupi arara[10]. "Ararapiranga" vem do termo tupi para "arara vermelha"[11].
Taxonomia e descrição
[editar | editar código-fonte]Foi descrita pela primeira vez por Lineu em 1758. Tradicionalmente, tem sido considerada uma espécie monotípica, como a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais ainda o faz, mas, há alguns anos, foi proposta a divisão em duas ou três subespécies. O Sistema Integrado de Informação Taxonômica reconhece apenas duas: Ara macao macao (Linnaeus, 1758), presente na América do Sul e Ara macao cyanopterus (ou cyanoptera) Wiedenfeld, 1995, que ocorre na América Central.[1][12][13]
Os indivíduos desta espécie pesam cerca de 1,2 quilogramas,[14] com 85–91 cm de comprimento. Sua plumagem geral é vermelha com verde, asas em azul e amarelo e face glabra e branca. Os olhos vão do branco ao amarelo. Têm pernas curtas e uma longa cauda pontuda, asas largas, um bico largo, curvo e forte com parte superior branca e inferior negra e pés zigodáctilos, que os tornam hábeis escaladores e manipuladores de objetos. Quando voam e se alimentam, emitem um característico grito forte e rouco, como um RRAAAAH,[6][15] e são capazes de articular sons imitando palavras humanas ou vozes de outros animais.[5]
Ocorrência, ameaças e conservação
[editar | editar código-fonte]A Ara macao ocorre em uma vasta área americana, indo do sul e leste do México até o Panamá, com um hiato, então continuando por todo o norte da América do Sul até o norte do Mato Grosso, incluindo regiões adjacentes do Maranhão, Pará e Bolívia. No Peru e Equador ocorre em toda parte a leste da Cordilheira dos Andes.[1] Já foi vista até no nordeste da Argentina.[16] A União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais indica, como países nativos da Ara macao: Belize, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guiana Francesa, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Peru, Suriname, Trinidad e Tobago e Venezuela. Foi introduzida pelo homem em Porto Rico[1] e algumas áreas urbanas dos Estados Unidos, Europa e outros pontos da América Latina.[13]
Sua população total é estimada entre 20 000 e 50 000 indivíduos, mas está em declínio. Entretanto, o número é considerado ainda expressivo, o que, junto com a sua grande área de ocorrência e o ritmo relativamente lento do seu declínio populacional, fez a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais declarar a Ara macao como em condição "pouco preocupante" (LC).[1] Porém, há um consenso de que a espécie precisa receber atenção. Já foi declarada como "ameaçada" na lista Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção.[5][8][14]
De fato, há muitas razões para se preocupar e os esforços até agora têm sido insuficientes para reverter a tendência de queda populacional. As maiores ameaças para esta espécie são a destruição do seu ambiente e a caça predatória, estando entre as aves mais cobiçadas no tráfico ilegal de animais silvestres.[14][17] Como a sua longa e vistosa cauda não cabe nos ninhos, fica para fora, o que a denuncia facilmente para os caçadores num período em que a ave fica particularmente vulnerável a inimigos, e como seu ciclo reprodutivo é longo, sua população cresce devagar.[6][14] Em alguns lugares ainda é caçada pela carne.[16]
Em El Salvador, foi extinta[1] e desapareceu do leste do México e da costa pacífica da Nicarágua e Honduras.[14] No Panamá[9] e na Costa Rica está ameaçada,[8] e na Guatemala,[18] Peru e Venezuela se tornou rara.[13] Em Belize é muito rara, calculava-se em 1997 a existência de apenas 30 indivíduos, embora um grupo adicional tenha sido mais tarde redescoberto.[19] Como visto, a subespécie cyanoptera, que ocorre na América Central, já se tornou no geral extremamente rara e sua extinção fora de reservas especialmente bem protegidas é considerada inevitável.[9]
Por outro lado, vários países adotaram medidas de conservação da espécie, criando leis e reservas, e projetos privados de monitoramento de ninhos, mapeamento de populações, educação ambiental e criadouros para soltura também estão sendo realizados, com resultados positivos.[8][9][14][18][20][21] Ela se tornou um grande atrativo no ecoturismo de algumas regiões, o que pode contribuir para sua conservação.[14][16][22][23]
Comportamento, alimentação e reprodução
[editar | editar código-fonte]Prefere viver em altitudes não superiores a mil metros,[16] nas galerias das florestas tropicais, úmidas ou secas, frequentando os estratos arbóreos superiores, embora desça ao solo em ocasiões.[1][6] Pode viver nas beiras das matas, nos descampados, desde que sobrevivam algumas árvores grandes e altas, e habitar até áreas suburbanas se não for molestada.[24] Prefere a proximidade dos rios, mas pode obter água também de depósitos naturais em bromélias e forquilhas de troncos.[6] Gosta de tomar banho de chuva e entre seus hábitos está roer muita madeira. Não tem grande fôlego, sendo capaz só de voos curtos, mas é um excelente escalador e acrobata das árvores. Manipula seus alimentos com uma pata com grande habilidade e parece gostar de se divertir com objetos vários que encontra.[5] Pelo seu tamanho quase não tem predadores, mas felinos e aves de rapina de grande porte podem caçá-la.[16]
É uma espécie muito gregária e pode conviver com outras araras e papagaios. Voa em pares ou grupos de três, unidos frouxamente a um grande grupo. Alimenta-se em grupos grandes, preferencialmente de sementes de frutos ainda verdes, mas também come frutos maduros, folhas, larvas, flores, brotos, néctar e ocasionalmente terra, para obter suplementos minerais e eliminar toxinas da dieta. Tem um importante papel de dispersora de sementes no equilíbrio de seus ambientes, e como prefere as sementes, muitas vezes descarta as polpas dos frutos, que caem ao solo ou ficam expostas, sendo consumidas por outras aves, insetos e mamíferos que de outra forma não teriam acesso a elas. Com seu bico poderoso abre sementes muito duras, cujas sobras também servem de alimento para outras espécies.[5][6][14][15][16][25]
Os casais são monogâmicos e inseparáveis. Nidificam geralmente em ocos de troncos, muitas vezes de árvores mortas, mas também em fendas em paredões de rocha. Colocam de um a três ovos, que a fêmea choca por 22 a 34 dias (há discordância entre os autores), sendo alimentada pelo macho. Os filhotes nascem em dias diferentes, implumes, cegos e indefesos. Ambos os pais cuidam da ninhada e a defendem com vigor, mas pode ser atacada por répteis e mamíferos. As crias comem uma papa regurgitada pelos pais e com dois a três meses deixam o ninho, mas permanecem junto dos pais por algum tempo, aprendendo como viver na floresta. Sua plumagem adulta só é conseguida aos dois anos. Atingem a maturidade sexual aos três anos e podem viver em média de 40 a 60 anos.[5][6][14] Já foram registrados exemplares com 75 anos em cativeiro.[16]
Importância cultural
[editar | editar código-fonte]Esta arara é uma figura destacada em muitas culturas indígenas americanas desde tempos imemoriais.[26] Foi identificada em murais em Bonampak[27] e foi esculpida em pedra em Copán, ambos monumentos da cultura Maia,[28] que a identificava com o calor solar e a associava à deidade primordial chamada Sete Araras.[29] Entre os Astecas era a ave que carregava até a vida além-túmulo as almas dos mortos nascidos no 11º dia de sua semana de treze dias.[30] Uma arara, identificada como provavelmente a macao, era a principal deidade aviforme na cultura Izapan.[31] Suas penas, usadas em adornos e artefatos religiosos, foram encontradas em muitos ítens arqueológicos, incluindo múmias do Peru.[27] Também foi encontrado um esqueleto parcial desta arara sobre a cabeça de um esqueleto humano em um enterramento no Panamá, que pode ter sido de um xamã.[32] Entre os Bribri da Costa Rica era um animal protetor; suas penas vermelhas eram usadas em ritos de cura e em cerimônias fúnebres para afugentar maus espíritos e iluminar o caminho dos mortos até o novo mundo. A água que elas bebiam de ocos em troncos também era considerada curativa.[28] Desde antes da chegada de Colombo foi muito procurada, na região do norte do México e sudoeste dos Estados Unidos, para retirada de plumas, para funções rituais e para domesticação, com um grande centro de criação em Paquimé.[33]
Atraiu de imediato a atenção também do homem branco assim que ele chegou à América. Esta arara aparece no primeiro mapa do Brasil, datado de 1502. Existem indícios de que os descobridores europeus já haviam-na encontrado na última década do século XV, em 1498, na desembocadura do Rio Orinoco.[5] Jean de Léry a considerou uma das duas aves mais belas do mundo, junto com a arara-de-barriga-amarela.[34]
Ainda hoje está presente nas culturas indígenas que sobreviveram.[5] Como exemplo, os Yanomami, nos ritos ligados à entidade mítica Wasulumani, representada pela Ara macao, evitam o uso de penas multicores para não ofendê-la, competindo com seu esplendor, e seus adornos se limitam a penas de cores preta e branca.[35] Além disso, sua imagem aparece nas obras de vários artistas antigos e contemporâneos de todo o mundo, seja em pintura, gravura, fotografia e outras técnicas, incluindo estamparia de tecidos.[36][37][38][39][40][41][42][43] Sua imagem também já foi impressa em selos.[44][45]
A Ara macao é também muito apreciada como animal de estimação. Como outras de sua família, é muito sociável e dócil, mas sua criação é bastante trabalhosa, pois são aves grandes que exigem amplas instalações e precisam de muito estímulo do tratador; pessoas que passam a maior parte do dia fora de casa não devem manter esta espécie em cativeiro, além de ser imprescindível oferecer-lhes brinquedos diversos com que possam se exercitar e manter-se ocupadas em outros horários. Podem também causar algum incômodo por serem animais naturalmente barulhentos. Para que se mantenham saudáveis a dieta deve ser variada, incluindo sementes, vegetais e frutas frescas. É recomendável disponibilizar um osso para que obtenham cálcio e desgastem o bico sempre em crescimento. Como seus hábitos incluem roer madeira, as gaiolas devem ser de metal, e devem possuir uma área grande para que possam voar. À noite a gaiola pode ser coberta para manter as aves tranquilas e habituá-las a horários definidos. Muitos criadores costumam cortar parte de suas penas alares para diminuir sua capacidade de voo e mantê-las sob o alcance e controle. Elas podem ser treinadas para imitar a voz humana e podem ser manipuladas, desde que com gentileza e atenção. Sob estresse, na forma de gaiolas pequenas, má alimentação, maus tratos ou recebendo pouca atenção, podem desenvolver doenças e comportamentos aberrantes, incluindo aumento da agressividade e da destrutividade, que podem chegar até a automutilação.[7][46]
Referências
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