Capitão-de-saíra-amarelo – Wikipédia, a enciclopédia livre

Como ler uma infocaixa de taxonomiaCapitão-de-saíra-amarelo
Espécime avistado na Reserva Natural Vale de Linhares, no Espírito Santo, Brasil
Espécime avistado na Reserva Natural Vale de Linhares, no Espírito Santo, Brasil
Espécime avistado em Belize
Espécime avistado em Belize
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Passeriformes
Subordem: Tyranni
Família: Tyrannidae
Subfamília: Tyranninae
Género: Attila
Espécie: A. spadiceus
Subespécie:
  • A. S. pacificus
  • A. S. cozumelae
  • A. S. gaumeri
  • A. S. flammulatus
  • A. S. salvadorensis
  • A. s. citreopyga
  • A. s. sclateri
  • A. s. caniceps
  • A. s. parvirostris
  • A. s. parambae
  • A. s. spadiceus
  • A. s. uropygiatus
Nome binomial
Attila spadiceus
(Gmelin, 1789)
Distribuição geográfica
Distribuição do capitão-de-saíra-amarelo
Distribuição do capitão-de-saíra-amarelo
Sinónimos[2]
  • Muscicapa spadicea Gmelin, 1789
  • Muscicapa uropygiata Weid, 1831

Capitão-de-saíra-amarelo[3] (nome científico: Attila spadiceus) é uma espécie de ave passeriforme da família dos tiranídeos (Tyrannidae), endêmica da América Central e América do Sul.

O capitão-de-saíra-amarelo foi formalmente descrito em 1789 pelo naturalista alemão Johann Friedrich Gmelin em sua edição revisada e ampliada do Systema Naturae de Carlos Lineu, que o colocou junto com o papa-moscas no gênero Muscicapa e cunhou o nome binomial Muscicapa spadicea.[4][5] O epíteto específico vem do latim spadiceus, que significa "cor de castanha" ou "cor de tâmara".[6] Gmelin baseou sua descrição no "papa-moscas-de-garganta-amarela" de Caiena, que havia sido descrito em 1783 pelo ornitólogo inglês John Latham em seu livro A General Synopsis of Birds.[7] O capitão-de-saíra-amarelo é agora um dos sete papa-moscas colocados no gênero Attila, que foi introduzido em 1831 pelo naturalista francês René Lesson.[8]

Doze subespécies são reconhecidas:[8]

  • A. S. pacificus Hellmayr, 1929 – noroeste do México;
  • A. S. cozumelae Ridgway, 1885Cozumel (México);
  • A. S. gaumeri Salvin & Godman, 1891península de Iucatã e ilhas próximas;
  • A. S. flammulatus Lafresnaye, 1848 – sudeste do México até Belize e centro-norte de Honduras;
  • A. S. salvadorensis Dickey & Van Rossem, 1929 – El Salvador ao noroeste da Nicarágua;
  • A. s. citreopyga (Bonaparte, 1854) – sudeste de Honduras e Nicarágua ao oeste do Panamá;
  • A. s. sclateri Lawrence, 1862 – leste do Panamá e noroeste da Colômbia;
  • A. s. caniceps Todd, 1917 – norte, centro-norte da Colômbia;
  • A. s. parvirostris Allen, JA, 1900 – nordeste da Colômbia e noroeste da Venezuela;
  • A. s. parambae Hartert, EJO, 1900 – oeste da Colômbia e noroeste do Equador;
  • A. s. spadiceus (Gmelin, JF, 1789) – sudeste da Colômbia, oeste e norte da Venezuela, Trindade e Tobago, Guianas, leste do Equador, leste do Peru, norte da Bolívia e norte do Brasil;[2]
  • A. s. uropygiatus (Wied-Neuwied, M, 1831) – sudeste do Brasil (Pernambuco, Alagoas, Bahia e Espírito Santo).[9]

Algumas variações de coloração de Attila spadiceus foram anteriormente tratadas como espécies distintas — como “A. viridescens” e “A. wightii” — conforme proposto por Robert Ridgway (1907). O grupo de subespécies flammulatus, presente na América Central, também foi considerado por Ridgway (1907) uma espécie separada de A. spadiceus. Além disso, ele classificou a subespécie parvirostris, do nordeste da Colômbia, e sua forma ruiva, A. rufipectus, como espécies distintas. Posteriormente, Carl Eduard Hellmayr (1929) reuniu todas essas formas sob A. spadiceus, interpretação que passou a ser adotada por todas as classificações subsequentes. No entanto, D. W. Leger e D. J. Mountjoy (2003) identificaram diferenças vocais marcantes entre as populações sul-americanas e centro-americanas de A. spadiceus, sugerindo fortemente a existência de pelo menos duas espécies distintas. Ainda assim, essas análises não incluíram adequadamente as populações localizadas a oeste dos Andes na América do Sul, que, segundo P. Coopmans (comunicação pessoal), apresentam vocalizações semelhantes às do grupo flammulatus da América Central.[10]

Distribuição e habitat

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O capitão-de-saíra-amarelo ocorre no Belize, Bolívia, Brasil (estados do Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Pernambuco Piauí, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, Tocantins[2][11]), Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guiana Francesa, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Nicarágua, Peru, Suriname, Trindade e Tobago e Venezuela.[1] No Brasil, está presente nos biomas da Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal, nas bacias hidrográficas do Araguaia, da foz do Amazonas, do Contas, do Doce, do Gurupi, do Itapecuru, do Paraguaçu, do Jequitinhonha, do litoral do Amapá, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Bahia, Espírito Santo, Ceará e Piauí, do Madeira, do Mearim, do Negro, do Paraguai 03, do Baixo e Médio Parnaíba, do Paru, do Purus, do Solimões, do Tapajós, do Alto e Baixo Tocantins, do Trombetas e do Xingu. Habita uma variedade de ambientes, incluindo florestas úmidas de planície, matas alagáveis, florestas montanas e suas bordas, além de vegetação secundária, clareiras, plantações e jardins com árvores altas. Também ocorre em florestas decíduas semiáridas e em áreas arbustivas de formações florestais e savânicas. Utiliza preferencialmente os estratos médio e alto da mata, embora ocasionalmente desça ao solo. É encontrado geralmente abaixo de 1 500 metros de altitude, podendo, em casos isolados, atingir até 2 100 metros.[2][12]

O capitão-de-saíra-amarelo vive por volta de 3,1 anos e não pratica migração.[1] É uma espécie ativa, agressiva e barulhenta, geralmente vista sozinha. Alimenta-se de insetos, aranhas, sapos e lagartos retirados da vegetação ou do solo. Persegue a presa a pé, bem como ataca em pequenas investidas, e segue colunas de formigas de correição. Também consome muitas frutas, como gumbo-limbo (Bursera simaruba) e menos frequentemente Cymbopetalum mayanum,[13] e sementes. Forrageia solitário ou aos pares e raramente acompanha bandos mistos.[2][9]

O capitão-de-saíra-amarelo faz seu ninho numa cavidade profunda de musgos, folhas e fibras vegetais; ele pode ser construído geralmente a menos de três metros de altura, entre epífitas, entre raízes de suporte ou num barranco, não necessariamente na floresta. A ninhada típica é de três a quatro ovos com manchas lilases ou ruivas, branco-opacos ou rosados.[14] A incubação pela fêmea dura de 18 a 19 dias até a eclosão, com mais 18 dias até a formação dos filhotes.[15]

As aves da América Central têm estruturas de canto ligeiramente diferentes e também tendem a uma plumagem ocre mais clara, independentemente da regra de Gloger; às vezes são separados como Attila flammulatus. Seu canto característico dado ao amanhecer foi analisado em detalhes: variáveis weerys que podem se tornar weery'os, e muitas vezes terminam num woo-whit; uma máquina de estados finita foi desenvolvida para simular tal estrutura.[16]

Conservação

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no Brasil, em 2005, o capitão-de-saíra-amarelo foi classificado como Vulnerável (VU) na Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo.[17] Em 2018, a subespécie nominal foi definida como pouco preocupante (LC), e a subespécie A. s. uropygiatus como vulnerável (VU) na Lista Vermelha do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio);[18][19] em 2021, foi mencionado na Lista de Aves do Ceará[20] e em 2022, foi classificado como em perigo (EN) na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da Fauna do Ceará.[21]

Indivíduo avistado no Parque Nacional da Amazônia, em Itaituba, no Pará

Desde 2021, o capitão-de-saíra-amarelo é classificado como Pouco Preocupante (LC) na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN / UICN), pois ocorre numa distribuição extremamente grande e não se aproxima dos limiares para Vulnerável sob o critério de tamanho de distribuição (segundo a IUCN, extensão de ocorrência < 20 mil quilômetros quadrados combinada com um tamanho de distribuição decrescente ou flutuante, extensão/qualidade do habitat ou tamanho populacional e um pequeno número de locais ou fragmentação severa). Sabe-se que suas populações estão em tendência decrescente, mas o declínio não é suficientemente rápido para se aproximar dos limiares para vulnerável (> 30% de declínio ao longo de dez anos ou três gerações) e sua população é muito grande, o que igualmente descaracteriza a classificação como vulnerável (< 10 mil indivíduos maduros com um declínio contínuo estimado em > 10% em dez anos ou três gerações, ou com uma estrutura populacional especificada).[1]

Embora se assuma que a população da espécie está decrescendo, estima-se que haja de 500 mil a 5 milhões de indivíduos maduros. Não está sujeito aos planos de recuperação e conservação das instituições responsáveis dada a sua grande população, mas é sabido que está presente em áreas de conservação de espécies ao longo de toda a área na qual é endêmico.[1] A subespécie A. s. uropygiatus habita uma área de 212 quilômetros quadrados, numa porção do território brasileiro onde sofre forte pressão antrópica (conversão de áreas naturais em agrícolas e pecuária), gerando perda da qualidade de habitat.[9]

Áreas de conservação

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No Brasil, o capitão-de-saíra-amarelo está presente em muitas áreas de conservação:[2][9]

Áreas de Proteção Ambiental (APA)

Áreas de Proteção Ambiental Estadual (Arie)

Estações Ecológicas (ESEC)

Florestas Nacionais (FLONA)

Parques Nacionais (PARNA)

Reservas Biológicas (REBIO)
Reservas Extrativistas (RESEX)
Florestas Estaduais (FES)
Parques Estaduais (PE)

Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN)

Terra Indígena (TI)
Outras áreas

Referências

  1. a b c d e BirdLife International (2021). «Bright-rumped Attila, Attila spadiceus». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2021: e.T22700354A137976063. doi:10.2305/IUCN.UK.2021-3.RLTS.T22700354A137976063.enAcessível livremente. Consultado em 12 de novembro de 2021 
  2. a b c d e f Silveira, Luís Fábio; Efe, Márcio Amorim; da Costa, Thiago Vernaschi Vieira; Dornas, Túlio Dornas (2023). «Attila spadiceus (Gmelin, 1789)». Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (SALVE), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). doi:10.37002/salve.ficha.29618.2. Consultado em 23 de maio de 2025. Cópia arquivada em 4 de maio de 2025 
  3. Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 212. ISSN 1830-7809. Consultado em 13 de janeiro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 23 de abril de 2022 
  4. Gmelin, Johann Friedrich (1789). Systema naturae per regna tria naturae : secundum classes, ordines, genera, species, cum characteribus, differentiis, synonymis, locis (em latim). 1, Part 1 13th ed. Lípsia: Georg. Emanuel. Beer. p. 937. Consultado em 15 de maio de 2025. Cópia arquivada em 15 de maio de 2025 
  5. Traylor, Melvin A. Jr, ed. (1979). Check-List of Birds of the World. 8. Cambridge, Massachusetts: Museum of Comparative Zoology. p. 190 
  6. Jobling, J. A. (2010). «Corythopis, p. 120; spadiceus, p. 190». Helm Dictionary of Scientific Bird Names. Londres: Bloomsbury Publishing. pp. 1–432. ISBN 9781408133262 
  7. Latham, John (1783). A General Synopsis of Birds. 2, Part 1. London: Printed for Leigh and Sotheby. pp. 353–354. Consultado em 15 de maio de 2025. Cópia arquivada em 15 de maio de 2025 
  8. a b Gill, Frank; Donsker, David; Rasmussen, Pamela, eds. (agosto de 2024). «Tyrant flycatchers». IOC World Bird List. v 12.2. Consultado em 11 de maio de 2025. Cópia arquivada em 23 de março de 2025 
  9. a b c d Silveira, Luís Fábio; Santos, Caio Graco Machado; Albano, Ciro Ginez; Lima, Diego Mendes; Bencke, Glayson Ariel; Pacheco, José Fernando; Piacentini, Vítor de Queiroz; Alves, Wagner Nogueira (2023). «Attila spadiceus uropygiatus (Wied, 1831)». Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (SALVE), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). doi:10.37002/salve.ficha.29618.2. Consultado em 23 de maio de 2025. Cópia arquivada em 4 de maio de 2025 
  10. Remsen, J. V., Jr.; Areta, J. I.; Bonaccorso, E.; Claramunt, S.; Jaramillo, A.; Lane, D. F.; Pacheco, J. F.; Robbins, M. B.; Stiles, F. G.; Zimmer, K. J. «A classification of the bird species of South America». American Ornithological Society. Cópia arquivada em 4 de abril de 2022 
  11. «Ocorrência do gênero 'Attila». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 15 de maio de 2025. Cópia arquivada em 15 de maio de 2025 
  12. Salaman, Paul G. W.; Stiles, F. Gary; Bohórquez, Clara Isabel; Álvarez-R., Mauricio; Umaña, Ana María; Donegan, Thomas M.; Cuervo, Andrés M. (2002). «New and noteworthy bird records from the east slope of the Andes of Colombia» (PDF). Caldasia. 24 (1): 157–189. Consultado em 29 de abril de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 21 de agosto de 2007 
  13. Foster, Mercedes S. (2007). «The potential of fruiting trees to enhance converted habitats for migrating birds in southern Mexico». Bird Conservation International. 17 (1): 45–61. doi:10.1017/S0959270906000554 
  14. Stiles, F. Gary; Skutch, Alexander F. (1989). A Guide to the Birds of Costa Rica. Ítaca, Nova Iorque: Universidade Cornell. p. 310. ISBN 978-0-8014-9600-4 
  15. Tyler, Stephanie J. (2004). «Family Tyrannidae (Tyrant flycatchers)». In: del Hoyo, J.; Elliott, A.; Christie, D.A. Handbook of the Birds of the World. 9: Cotingas to Pipits and Wagtails. Barcelona, Espanha: Lynx Edicions. pp. 170–462 [445–446]. ISBN 978-84-87334-69-6 
  16. Leger, Daniel W. (2005). «First documentation of combinatorial song syntax in a suboscine passerine species». Condor. 107 (4): 765–774. doi:10.1650/7851.1 
  17. «Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo». Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), Governo do Estado do Espírito Santo. Consultado em 7 de julho de 2022. Cópia arquivada em 24 de junho de 2022 
  18. «Attila spadiceus Sclater & Salvin». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 12 de abril de 2022. Cópia arquivada em 9 de julho de 2022 
  19. «Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção» (PDF). Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente. 2018. Consultado em 3 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 3 de maio de 2018 
  20. Girão-e-Silva, W. A.; Crozariol, M. A. (2021). Lista de Aves do Ceará. Fortaleza: Secretaria do Meio Ambiente do Ceará. Consultado em 11 de maio de 2025. Cópia arquivada em 12 de dezembro de 2023 
  21. «Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da Fauna do Ceará». Governo do Estado do Ceará, Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (SEMA). Consultado em 14 de junho de 2025. Cópia arquivada em 16 de fevereiro de 2025 : Mamíferos continentais; Anfíbios e Répteis; Aves; Mamíferos marinhos; e Tartarugas marinhas