Barroco em Portugal – Wikipédia, a enciclopédia livre
O estilo barroco desenvolveu-se em Portugal entre 1580 e 1756. Estabelece-se o ano de 1580 como o início do Barroco, data que ficou marcada pela morte de Camões, e também pela perda da autonomia de Portugal, que passou para o domínio espanhol.[1] Na arquitetura seguiu-se com o mesmo modelo "herreriano e escurialense".[2] O luxo manifestou-se sobretudo em elementos decorativos.[2]
Introdução histórica
[editar | editar código-fonte]Ao contrário do resto da Europa (onde se vivia um forte sistema político absolutista) o Barroco português não se inicia em 1600.[carece de fontes] Portugal encontra-se nesta época em profunda crise política, económica e de identidade social; provocada principalmente pela perda do trono para Filipe II de Espanha. A nobreza abandona as cidades, saindo para o campo, levando pequenas cortes consigo, desta forma tentando preservar a identidade sócio-cultural portuguesa. Fechados às influências de Espanha, encontram-se também fechados ao mundo. É nesta época que nasce a Arquitectura Chã.
O Barroco como estilo arquitectónico exige dinheiro que Portugal não tinha, após a perda do nordeste do Brasil para os holandeses e a sua independência para a Espanha. A economia não era sustentável porque grande parte da riqueza nacional baseava-se no ouro e nas pedras vindas do Brasil, com as quais se comprava todos os bens de consumo que não eram produzidos no país. Só no fim do século XVII a crise económica do país melhora, remetendo, no entanto, para uma situação semelhante à do reinado de D. Manuel.
Na continuação da corrente absolutista vivida já no resto da Europa, D. Pedro II depõe o irmão D. Afonso VI, alegando-o incapaz de governar e de comandar o reino de Portugal.
Arquitetura Barroca
[editar | editar código-fonte]A arquitetura Barroca em Portugal tem uma situação muito particular e uma periodização diferente do resto da Europa. É condicionada por diversos factores políticos, artísticos e económicos que originam várias fases e diferentes tipos de influências exteriores, resultando numa mistura original, frequentemente mal compreendida por quem procura ver arte italiana, mas com formas e carácter próprios.
Inicia-se numa conjuntura complicada, com o esforço financeiro do reino canalizado para a guerra de independência, após 60 anos de reis espanhóis (D. Filipe I, II e III). Outro factor fundamental é a existência da arquitectura Jesuítica, também a chamada Arquitectura Chã. São edifícios basilicais de nave única, capela-mor profunda, naves laterais transformadas em capelas interligadas (pequenas portas de comunicação), interior sem decoração e exterior com portal janelas e muito simples. É um tipo de edifício muito prático, permitindo ser construído por todo o império com pequenas adaptações, e pronto a receber decoração quando se pensar seras da época e o fausto a que o reino chegou. A talha dourada assume características nacionais e posteriormente "joaninas" devido à importância e riqueza dos programas decorativos. A pintura, escultura, artes decorativas e azulejo também atravessam uma época de grande desenvolvimento.
O barroco na verdade não sente grande falta de edifícios porque permite transformar através da talha dourada, (pintura, azulejo, etc.) espaços áridos em aparatosos cenários decorativos. O mesmo se poderia aplicar aos exteriores. Permitem posteriormente aplicar decoração ou simplesmente construir o mesmo tipo de edifício adaptando a decoração ao gosto da época e do local. Prático e económico.
O Barroco
[editar | editar código-fonte]Após o final da guerra de restauração da independência e depois da crise de sucessão entre D. Afonso VI e D. Pedro II, Portugal estava pronto para o grande barroco. Inicia-se de modo tímido, fugindo aos modelos maneirista, tentando animar e modernizar as novas construções, recorrendo à planta centrada e a decorações menos austeras, destacando-se a Igreja de Santa Engrácia em Lisboa, de João Nunes Tinoco e João Antunes. Santa Engrácia é um edifício imponente, de formas curvas e geométricas, de planta centrada, coroado por uma imponente cúpula (terminada apenas no século XX), decorado por mármores coloridos e impondo-se à cidade.
No reinado de D. João V o barroco vive uma época de esplendor e riqueza completamente novas em Portugal. Apesar de o terremoto de 1755 ter destruído muitos edifícios, o que chegou aos nossos dias ainda é impressionante. O Paço da Ribeira, a Capela real (destruídos no terremoto) e o Palácio Nacional de Mafra, são as principais obras do rei. O Aqueduto das Águas Livres pretende trazer para Lisboa água numa distancia de cerca de 18 quilómetros, merecendo destaque o destroços sobre o vale de Alcântara devido à monumentalidade dos seus arcos originais e imponência do conjunto. No entanto, um pouco por todo o país são visíveis as marcas da época e o fausto a que o reino chegou. A talha dourada assume características nacionais e posteriormente “joaninas” devido à importância e riqueza dos programas decorativos. A pintura, escultura, artes decorativas e azulejo também atravessam uma época de grande desenvolvimento.
Palácio de Mafra
[editar | editar código-fonte]O Palácio Nacional de Mafra é o mais internacional dos edifícios barrocos portugueses e, no seguimento da moda entre os monarcas europeus. Constituído por um palácio real, uma basílica e um convento, resulta de uma promessa feita pelo rei em relação à sua sucessão. Com projecto de Johann Friedrich Ludwig), arquitecto alemão estabelecido em Portugal, inicia as obras em 1717 e termina em 1730. É um edifício imenso, possui na fachada dois torreões, inspirados no desaparecido torreão do Paço da Ribeira, com a basílica ao centro e duas torres sineiras dominadas por uma imponente cúpula. Por trás fica o mosteiro de modo a que não seja visto da rua. O conjunto é visível do mar, funcionando como um marco territorial, e utilizado como residência de verão da corte. Sabe-se que o rei queria construir uma igreja ainda maior que o Vaticano, mas ao saber que foi necessário mais de um século mudou de ideias. No seu conjunto além da basílica destacam-se, ainda, a biblioteca os seis órgãos da igreja e os dois carrilhões.
Norte de Portugal
[editar | editar código-fonte]No norte de Portugal as construções barrocas são numerosas. Com mais população e maiores recursos económicos, o norte, nomeadamente as zonas do Porto e de Braga, assistiu a uma renovação arquitectónica, visível numerosa lista de igrejas conventos e palácios da aristocracia. A cidade do Porto (classificada património da humanidade pela UNESCO) é a cidade do barroco. Destaca-se a obra do muito produtivo Nicolau Nasoni, arquitecto italiano radicado em Portugal, e edifícios originais e de bom enquadramento cenográfico como a igreja e torre dos Clérigos, a galilé da Sé do Porto, Igreja da Misericórdia do Porto, Palácio de São João Novo, Palácio do Freixo, Paço Episcopal do Porto, Igreja do Bom Jesus da Cruz em Barcelos e muitos outros.
Literatura barroca em Portugal
[editar | editar código-fonte]A literatura barroca portuguesa foi impressa(prima) principalmente em duas antologias: Fénix Renascida e Postilhão de Apolo, que reuniu autores como: D. Francisco Manuel de Melo, Jerónimo Baía, Soror Violante do Céu, António da Fonseca Soares (Frei António das Chagas), D. Tomás de Noronha, Diogo Camacho e António Barbosa Bacelar, Eusébio de Matos, Bernardo Vieira Ravasco, Francisco Rodrigues Lobo e D. Francisco Xavier de Meneses, entre outros. Além desses poetas, destaca-se igualmente o padre Antônio Vieira, que participa tanto da história da literatura portuguesa quanto da literatura brasileira, e a escritora sóror Mariana Alcoforado.
Padre António Vieira (1608 – 1697)
[editar | editar código-fonte]Nasceu em Lisboa, em 1608. Aos seis anos veio com a família para a Bahia, iniciando seus estudos no Colégio dos Jesuítas. Aos 21 anos já era professor de Teologia no Colégio de Salvador. Em 1640, quando Portugal libertou-se do domínio espanhol, Vieira voltou para a terra natal. Adquiriu grande prestígio junto à Corte e foi nomeado pregador régio. Atacado pela Inquisição por defender os judeus, volta ao Brasil em 1652, estabelecendo-se como chefe de uma missão no Maranhão. Por combater a escravidão a que os colonos portugueses submetiam os indígenas, ele e os demais jesuítas da missão foram expulsos do Maranhão em 1661. Vieira finalmente caiu nas mãos da Inquisição: cassaram-lhe o direito de pregar e, mais tarde, condenaram o jesuíta à prisão domiciliar. Suspensa a pena graças à intervenção do rei de Portugal, partiu Vieira para Roma, onde solicitaria a anulação de seu processo. Numa breve passagem por Portugal, concluiu que jamais recuperaria o prestígio junto à Corte. Voltou para o Brasil em caráter definitivo, dedicando-se à obra de catequese e conversão. Sua atuação política, intimamente associada à sua obra, centralizou-se na defesa dos judeus, negros e índios. Morreu em 1697, em Salvador.
A obra do padre Vieira compreende obras de profecia, cartas e sermões.
- Obras de Profecia
História do Futuro e Esperanças de Portugal são duas obras proféticas publicadas. Partindo de uma interpretação da Bíblia, Vieira formula profecias para sua pátria.
- Cartas
Nessa obra, de interesse documental, Vieira trata de diversos assuntos relacionados à sua atuação e à questões políticas do momento em que vivia no Brasil.
- Sermões
O sermão é uma prática religiosa antiga. É uma espécie de discurso religioso que antigamente, na época do Padre António Vieira, era feito no púlpito. Normalmente discute os dogmas da religião, visando comover, ensinar e persuadir o ouvinte, que encontra-se apto para um reencontro com Deus. Geralmente os sermões eram longos e muito bem elaborados. Na atualidade eles são recitados em no máximo 20 minutos pelos padres.
Constituem a melhor parte da obra de Vieira. São quinze volumes, compreendendo mais de duzentos sermões.
Essas pregações religiosas refletem a essência do estilo barroco: a tentativa de expor uma síntese da dualidade do homem, ser composto de matéria (corpo), e espírito (alma).
São bastante conhecidos os seguintes sermões:
- a) Sermão da Sexagésima – de caráter metalinguístico, pois trata da própria arte de pregar.
- b) Sermão pelo bom-sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda – cujo tema é a invasão holandesa de 1640. Vieira toma partido, obviamente, dos portugueses, contra os holandeses, que eram protestantes.
- c) Sermão de santo António – também conhecido como Sermão aos peixes, que versa sobre a escravidão indígena efetivada pelos colonos europeus.
Os sermões do padre Vieira buscam arrebatar o ouvinte para despertar sua consciência, convidando-o a pensar e agir. Visando a este objetivo, o jesuíta geralmente estabelece analogias entre o presente vivo e a Bíblia.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- ↑ Geraldo Chacon (2015). Barroco e Arcadismo - Apresentação da Literatura Portuguesa e Brasileira 2. [S.l.: s.n.] p. 10
- ↑ a b «Arquitectura Renacentista Clásica y Herreriana»