Batalha de Macau – Wikipédia, a enciclopédia livre
Batalha de Macau | |||
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Guerra Luso-Holandesa | |||
Barcos holandeses a disparar os seus canhões em águas macaenses, desenho de 1665 | |||
Data | 22 de junho de 1622–24 de junho de 1622 | ||
Local | Macau, China | ||
Desfecho | Vitória decisiva portuguesa | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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A Batalha de Macau em 1622 foi um conflito da Guerra Luso-Holandesa travada na colônia portuguesa de Macau, no sudeste da China. Os portugueses, em inferioridade numérica e carecendo de fortificações adequadas, conseguiram repelir os holandeses numa vitória muito celebrada a 24 de junho, após uma batalha de três dias. Até hoje, a batalha permanece como a única batalha significativa travada entre duas nações europeias na China continental.[1]
Contexto
[editar | editar código-fonte]Desde que os portugueses foram autorizados pela dinastia Ming a estabelecer uma base permanente comercial em Macau em 1557, o porto de Macau beneficiou-se de maneira assaz por ser o intermediário do lucrativo comércio sino-japonês, dado que as rotas diretas estavam proibidas pelos Ming, temendo os piratas wokou. O sucesso português em Macau chamou a atenção doutras potências marítimas europeias que estavam a ter mais dificuldade a assentar-se no Extremo Oriente. Quando Filipe II da Espanha se tornou Rei de Portugal após a crise dinástica portuguesa de 1580, as colónias portuguesas tornaram-se então no alvo dos inimigos de Espanha, especialmente dos holandeses e dos ingleses, que desejavam também expandir os seus impérios ultramarinos. Macau já tinha resistido razias dos holandeses em 1601, 1603 e em 1607, mas a invasão de 1622 foi a primeira tentativa real de capturar a cidade. Os holandeses, frustrados com a pouca rentabilidade do seu posto comercial em Hirado e o sucesso dos portugueses em Nangasaque devido ao acesso por parte dos lusos ao lado chinês; esperavam que a captura de Macau dar-lhes-ia uma base comercial na China e ao mesmo tempo livrar-se dos portugueses da rota Macau-Nangasaque.[2] A queda de Macau também teria deixado os castelhanos nas Filipinas sem meios de apoio e facilitaria uma invasão holandesa de Manila.[3]
Apesar das razias, as autoridades portuguesas não foram capazes de erguer um sistema de defesa integral e extensivo devido à interferência de oficiais chineses. Os meios de defesa que Macau tinha na altura estavam limitados a umas poucas baterias: um no extremo oeste da península de Macau (posterior local da fortaleza de São Tiago da Barra), uma em cada extremo meridional da baía da Praia Grande (São Francisco no leste e Bom Parto no oeste) e outra em construção, a de Fortaleza do Monte, pela Catedral de São Paulo.[4] O mau estado das defesas de Macau era bem conhecido pelos holandeses quando o barco holandês Gallias capturou um navio português em 1621 na costa de Malaca que transportava cartas relativas às defesas de Macau. A julgar pelas cartas interceptadas e a informação disponível vinda do Japão, o Governador-geral das Índias Orientais Neerlandesas Jan Pieterszoon Coen achou que Macau não conseguiria resistir um ataque sério, pelo que começou a planificar a invasão.[5]
Consequências
[editar | editar código-fonte]A batalha foi a vitória mais decisiva alguma vez produzida pelos portuguesas aos holandeses no Extremo Oriente, dado que as perdas humanas dos atacantes superavam grandemente àquelas dos defensores.[6] A estimação mais reduzida portuguesa diz que foram mortos mais de trezentos inimigos nesse dia, enquanto a maioria das fontes lusas mencionam seiscentos ou oitocentos mortos inimigos. A lista oficial holandesa refere cento e trinta e seis mortos e cento e vinte e seis feridos, sem ter em conta os mercenários bandaneses e japoneses. O historiador C. R. Boxer sugere que o número real de mortos poderia ser de trezentos se os mortos bandaneses e japoneses fossem contados. As perdas de oficiais holandeses foram especialmente sérias, dado que sete capitães, quatro lugar-tenentes e sete insígnias foram perdidos na batalha. Além disso, os holandeses perderam todos os seus canhões, bandeiras e equipamento. Em comparação, as mortes portuguesas apenas contabilizam quatro portuguesas, dois espanhóis e alguns escravos; por volta de vinte teriam sido feridos.[7] Na Batávia, Jan Pierterszoon Coen estava enraivecido pelo resultado da batalha, grafando "desta maneira embaraçosa perdemos a maioria dos nossos melhores homens juntamente com a maior parte das armas".[8]
Acerca da defesa portuguesa, Coen disse: "Os portugueses venceram-nos em Macau com os seus escravos; não foi feito com nenhum soldado, para o que não há nenhum em Macau. [...] Vide como o inimigo defende assim as suas possessões tão facilmente enquanto nós nos desperdiçarmos a nós próprios".[9] Ele também que disse que "Os escravos dos portugueses em Macau serviram-nos tão bem e tão fielmente, que eram que eles que tinham derrotado e expulsado a nossa gente dali o ano passado" e que "A nossa gente viu muitos poucos portugueses" durante a batalha.[10][11][12] Quando oficiais chineses menores levaram cabeças de holandeses a Cantão como prova do serviço português na defesa de território chinês,[13] aparentemente relataram também a bravura dos escravos, fazendo com que o Almirante Provincial (海道副使; chamado nas fontes europeias haitao) ficasse impressionado e enviasse um presente de duzentos picuis de arroz para serem distribuídos entre eles.[9] A defesa bem-sucedida significou que Portugal poderia continuar a controlar o comércio entre a China e o Japão, que naquela altura era o único comércio rentável para o poder português em declínio. Apenas vinte anos depois desta batalha o Japão expulsou os portugueses em 1639 e a possessão portuguesa de Malaca caiu para os holandeses em 1641.[14]
Comemorações
[editar | editar código-fonte]Sendo uma grande vitória para os portugueses em Macau, a batalha foi comemorada de muitas formas. Em 1871, foi erguido um monumento da batalha no Jardim da Vitória.[15] Além disso, os residentes de Macau começaram a celebrar o 24 de junho como o Dia da Cidade para comemorar a vitória e tomaram São João Baptista como seu padroeiro, cuja memória litúrgica é celebrada no dia 24 de Junho na Igreja Católica.[16] Este dia foi feriado, sendo observado todos os anos até à transferência de soberania para a China, em 1999. Desde aí, a tradição do arraial em honra de São João tem-se mantido, acima de tudo por iniciativa de algumas associações de matriz portuguesa.[17]
Referências
- ↑ Boxer, Charles Ralph (1948). Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao (em inglês). Haia: Martinus Nijhoff. p. 86. OCLC 186321609
- ↑ Boxer, Charles Ralph (1948). Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao (em inglês). Haia: Martinus Nijhoff. p. 72. OCLC 186321609
- ↑ Boxer, Charles Ralph (1948). Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao (em inglês). Haia: Martinus Nijhoff. p. 73. OCLC 186321609
- ↑ Boxer, Charles Ralph (1948). Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao (em inglês). Haia: Martinus Nijhoff. p. 76. OCLC 186321609
- ↑ Boxer, Charles Ralph (1948). Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao (em inglês). Haia: Martinus Nijhoff. p. 74. OCLC 186321609
- ↑ Boxer, Charles Ralph (1948). Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao (em inglês). Haia: Martinus Nijhoff. p. 83-84. OCLC 186321609
- ↑ Boxer, Charles Ralph (1948). Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao (em inglês). Haia: Martinus Nijhoff. p. 84. OCLC 186321609
- ↑ Boxer, Charles Ralph (1948). Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao (em inglês). Haia: C. R. Boxer. p. 83. OCLC 186321609
- ↑ a b Boxer, Charles Ralph (1948). Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao (em inglês). Haia: Martinus Nijhoff. p. 85. OCLC 186321609
- ↑ Hamilton, Ruth Simms (2007). Routes of Passage: Rethinking the African Diaspora: Volume 1, Part 1 (em inglês). East Lansing: Michigan State University Press. p. 143. ISBN 978-0870136320. OCLC 75968994
- ↑ Studia, revista semestral. Lisboa: Centro de Estudos Historicos Ultramarinos. 1968. p. 89. OCLC 906146118
- ↑ Sono, Themba (1993). Japan and Africa: The Evolution and Nature of Political, Economic and Human Bonds, 1543-1993 (em inglês). Pretória: HSRC Publishers. p. 23. ISBN 978-0796915252. OCLC 30375035
- ↑ Wills, John Elliot (1974). Pepper, Guns, and Parleys: The Dutch East India Company and China, 1662–1681 (em inglês). Los Angeles: Harvard University Press. p. 8. ISBN 978-0674661813. OCLC 64281732
- ↑ Boxer, Charles R. (1979) [1928]. The Portuguese Embassy to Japan (1644-1647): And the Embassy of Captain G. de Siqueira (em inglês). Bloomsbury: ABC-CLIO, LLC. ISBN 978-0313269820. OCLC 1887980
- ↑ Garrett, Richard J. (2010). The Defences of Macau: Forts, Ships and Weapons over 450 years (em inglês). Hong Kong: Hong Kong University Press. p. 13. ISBN 978-9888028498. OCLC 489006759
- ↑ Os 4 Padroeiros de Macau (2) – São João Baptista e o Monumento da Vitória, Crónicas Macaenses, 27 de Fevereiro de 2014.
- ↑ Lopes, Fernando Sales; Pinheiro, Gonçalo Lobo (17 de agosto de 2016). «São João Baptista, Padroeiro da Cidade». Revista Macau. Consultado em 22 de junho de 2024
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Boxer, Charles Ralph (1948). Fidalgos in the Far East, 1550-1770: Fact and Fancy in the History of Macao (em inglês). Haia: Martinus Nijhoff. 297 páginas. OCLC 186321609
- Garrett, Richard J. (2010). The Defences of Macau: Forts, Ships and Weapons over 450 years. Hong Kong: Hong Kong University Press. 288 páginas. ISBN 978-9888028498. OCLC 489006759