Batalha de Tel Hai – Wikipédia, a enciclopédia livre
Batalha de Tel Hai | |||
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Guerra Franco-Síria | |||
![]() Leão de Judá, no Memorial Joseph Trumpeldor, em Tel Hai. | |||
Data | 1 de março de 1920 | ||
Local | Tel Hai | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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A Batalha de Tel Hai foi travada em 1º de março de 1920 entre forças árabes e judaicas na vila de Tel Hai, no norte da Galiléia. Durante o evento, uma milícia árabe xiita, acompanhada por beduínos de uma aldeia próxima, atacou a localidade agrícola judaica de Tel Hai. Ao fim da batalha, oito judeus e cinco árabes foram mortos. Joseph Trumpeldor, o comandante dos defensores judeus de Tel Hai, foi baleado na mão e no estômago e morreu enquanto era levado para Kfar Giladi naquela noite. Tel Hai acabou sendo abandonada pelos judeus e queimada pela milícia árabe.
O evento é considerado por alguns estudiosos como parte da Guerra Franco-Síria e por outros como um surto de violência do conflito intercomunitário que se desenvolveu posteriormente no Mandato da Palestina.
Contexto
[editar | editar código-fonte]Tel Hai foi habitada de forma intermitente desde 1905 e foi permanentemente estabelecida como posto fronteiriço em 1918, após a derrota do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial.
A área ficou sujeita a ajustes de fronteira entre britânicos e franceses. A Guerra Franco-Síria ocorreu no início de 1920 entre nacionalistas árabes sírios, sob o rei Hachemita, e a França. Gangues ('isabat) de camponeses fronteiriços baseados em clãs, combinando política e banditismo, agiam na área da fronteira vagamente definida entre o Mandato Britânico da Palestina, que seria estabelecido em breve, o Mandato Francês do Líbano e a Síria.[1]
Joseph Trumpeldor serviu como oficial do exército russo durante a Guerra Russo-Japonesa de 1905, sendo um dos poucos judeus russos a ganhar receber patente de oficial do czar. Ele também comandou uma unidade auxiliar judaica que lutou junto com o Exército Britânico durante a Campanha de Galípoli na Primeira Guerra Mundial. Sendo assim, ele era um militar experiente, a quem o movimento sionista delegou o comando do posto avançado ameaçado.
Linha do tempo
[editar | editar código-fonte]Guerra Franco-Síria
[editar | editar código-fonte]No início da Guerra Franco-Síria, a Alta Galileia era povoada por várias tribos árabes beduínas semi-nômades, a maior delas residindo em Halasa, e quatro pequenos assentamentos judaicos, incluindo Metula, Kfar Giladi, Tel Hai e Hamra. Enquanto as aldeias árabes e beduínas se aliaram ao Reino Árabe da Síria, os residentes judeus optaram pela neutralidade durante o conflito dos árabes com os franceses.
No início da guerra, um residente de Kfar Giladi foi morto por beduínos armados, o que aumentou enormemente a tensão na região. As aldeias judaicas eram regularmente saqueadas por beduínos pró-Síria, sob o pretexto de procurar espiões e soldados franceses. Em um incidente, Trumpeldor e outros judeus foram despidos como um insulto público por parte de uma milícia beduína árabe.
Batalha
[editar | editar código-fonte]Em 1º de março de 1920, várias centenas de árabes xiitas da aldeia de Jabal Amil, no sul do Líbano, marcharam até os portões de Tel Hai junto com beduínos de Al-Khalisa e seu líder (mukhtar), Kamal Affendi. Eles exigiam entrar para procurar soldados franceses em Tel Hai. Um dos agricultores disparou um tiro para o ar, um sinal para reforços da vizinho Kfar Giladi, que trouxe dez homens liderados por Trumpeldor, destacado por Hashomer para comandar a defesa das aldeias da região.[2] Trumpeldor e os seus dez homens tentaram negociar com os xiitas e as milícias itinerantes das aldeias e convencê-los a partir. Por fim, o líder beduíno foi autorizado a entrar na aldeia em busca de soldados franceses.
Kamal Affendi encontrou Deborah Drechler, uma das residentes judias, que apontou-lhe uma pistola, aparentemente surpresa ao ver um beduíno armado na aldeia. Ele tentou desarmá-la e um tiro foi disparado durante a luta (não está claro se da pistola de Deborah ou de outra arma) e um grande tiroteio eclodiu. Trumpeldor foi baleado e gravemente ferido, enquanto os lados se barricaram na aldeia. Kamal pediu para sair, dizendo que tudo foi um mal-entendido, e a força judaica aprovou o cessar-fogo. Durante a retirada árabe, um dos defensores judeus, sem saber dos acordos dos seus camaradas e sem ouvir devido ao tiroteio anterior, disparou contra o grupo árabe e a troca de tiros recomeçou.
Seis judeus e cinco árabes foram mortos nos combates. Trumpeldor foi baleado na mão e no estômago e morreu enquanto era levado para Kfar Giladi naquela noite. Os sobreviventes de Tel Hai consideraram que sua posição era insustentável e escolheram retirar-se, após o que os árabes incendiaram a aldeia.
Consequências
[editar | editar código-fonte]Os oito judeus mortos em Tel Hai (este número inclui dois mortos num ataque anterior em janeiro de 1920) foram enterrados em duas valas comuns em Kfar Giladi, e ambos os locais ficaram abandonados por um tempo.[2]
Em 3 de março, Kfar Giladi também foi atacada por um grande grupo de beduínos. Os defensores abandonaram a posição e recuaram para a aldeia xiita de Taibe onde receberam abrigo e escolta até Ayelet Hashahar, que estava sob controle britânico.[3]
A Guerra Franco-Síria entrou em seus últimos estágios em julho de 1920, com a derrota dos lealistas hachemitas na Batalha de Maysalun. A fronteira na área da Alta Galiléia foi finalmente acordada entre britânicos e franceses, e esta área seria incluída no Mandato Britânico da Palestina. Isso permitiu que Tel Hai fosse reassentada em 1921. Entretanto, não se tornou uma comunidade independente viável e em 1926 foi absorvida pelo kibutz de Kfar Giladi.
Com um monumento nacional na Alta Galileia, Israel homenageia a morte de oito judeus, seis homens e duas mulheres, incluindo Joseph Trumpeldor. O memorial é mais conhecido por uma estátua emblemática de um leão desafiador representando Trumpeldor e seus camaradas. A cidade de Kiryat Shemona, literalmente Cidade dos Oito, recebeu o nome deles.
O homem que liderou o ataque, Kemal Hussein, serviu como representante do Fundo Nacional Judaico em 1939 nas negociações de compra das terras que formariam o Kibutz Dafna.
Significado
[editar | editar código-fonte]Idith Zertal escreveu que a batalha marcou “o dramático início do conflito violento sobre a Palestina”.[4]
Herança de Trumpeldor
[editar | editar código-fonte]Trumpeldor ficou gravemente ferido e morreu poucas horas depois. Ele é tradicionalmente creditado por ter dito antes de morrer "Não importa, é bom morrer (tov lamut) pelo nosso país" ("אין דבר, טוב למות בעד ארצנו") palavras que na memória coletiva sionista e israelense permanecem intimamente associadas ao nomes "Trumpeldor" e "Tel Hai". Uma teoria recente argumentou que as últimas palavras de Trumpeldor foram, na verdade, uma maldição pungente em sua língua materna, o russo, refletindo a frustração com sua má sorte, ou seja, 'Foda-se sua mãe' ((Yob tvoyú mat'),:ёб твою мать!).[5]
As palavras atribuídas a Trumpeldor, além disso, são claramente uma variante do conhecido ditado "Dulce et decorum est pro patria mori" ("É doce e apropriado morrer pela pátria"), derivado das Odes do poeta romano Horácio, linhas com as quais Trumpeldor, tal como outros europeus instruídos da época, podiam estar familiarizados.
Referências
- ↑ Laurens 2016, p. 502.
- ↑ a b Segev 1999, p. 122–126.
- ↑ Cohen. p 178.
- ↑ Zertal 2005, p. 5.
- ↑ Zerubavel 1994, p. 105–126, 115.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Laurens, Henry (2016). La Question de Palestine (em francês). 1. Paris: Fayard. 716 páginas. ISBN 9782213703572
- Segev, Tom (1999). One Palestine, Complete (em inglês). [S.l.]: Metropolitan Books. ISBN 0805048480
- Zertal, Idith (2005). Israel's Holocaust And The Politics Of Nationhood (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press
- Zerubavel, Yael (1991). A Política de Interpretação: Tel Hai na Memória Coletiva Israelense. [S.l.]: AJS (Associação para Estudos Judaicos). pp. 133–160
- Zerubavel, Yael (1994). The Historic, the Legendary, and the Incredible: Invented Tradition and Collective Memory in Israel (em inglês). [S.l.]: Princeton University Press. pp. 105–126
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Motins de Nebi Musa em 1920
- Motins na Palestina de 1929
- Motins na Palestina de 1929
- Motins na Palestina de 1933
- Revolta árabe de 1936–39 na Palestina
- Massacre de Tiberíades em 1938
- Motins em Jafa
- Acordo Sykes-Picot