Caboclo – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Para a entidade da umbanda, veja Caboclos na umbanda. Para a casta militar do Egito, veja Mamelucos. Para os habitantes tradicionais mestiços do litoral das regiões Sudeste e Sul do Brasil, veja Caiçara. Para outros significados, veja Cabocla.
Nascimento de caboclo representado no Monumento aos Bandeirantes, em Santana de Parnaíba, no Brasil.

Caboclo, caboco, mameluco,[1] cariboca ou curiboca é o mestiço de branco com indígena. Também era a antiga designação do indígena brasileiro. Pode, também, ser sinônimo de caipira.[2] O mestiço de branco com caboclo é o cariboca ou curiboca sendo denominação utilizada também pelos filhos de brancos e indígenas.[3]

Mulher Mameluca no Brasil Holandês, cerca de 1637 a 1664. Pintura de Albert Eckhout.
Diogo Álvares Corrêa, o "Caramuru".
A princesa indígena tupinambá Catarina Paraguaçu, que foi esposa do Diogo Álvares Corrêa (Caramuru), e convertida ao catolicismo.

A história do povo caboclo começa nos primeiros anos do século XVI, com o início da exploração do pau-brasil na zona costeira. Embora as relações consensuais e não consensuais entre homens europeus e mulheres indígenas ocorram desde os primórdios da colônia, o primeiro caso documentado de indivíduo branco a se fixar em território brasileiro, e a prosperar em uma comunidade indígena no Brasil, foi o do português Diogo Álvares Corrêa, que naufragou na costa do recôncavo da Bahia em 1509.[4][5]

Diogo Álvares, o "Caramuru" (apelido recebido pelos indígenas tupinambás), através da sua união com a princesa indígena Catarina Paraguassú, deram origem a "raça brasileira", começando a miscigenação racial baiana, juntos deixaram uma extensa descendência cabocla.[6] A cabocla Madalena Caramuru (filha do Caramuru com a Catarina), é considerada a primeira mulher brasileira alfabetizada.[7]

A denominação foi dada pelos primeiros colonos lusitanos nas terras brasileiras para os mestiços. Os mamelucos que se destacaram na então colônia portuguesa foram os bandeirantes, que colaboraram para a expansão do território, até então limitado pelo Tratado de Tordesilhas. Assim, alguns se destacaram na então colônia portuguesa (séculos XVI a XIX) como bandeirantes, exploradores que se engajavam na captura de índios e na busca de metais preciosos, contribuindo para a expansão do território brasileiro para além das fronteiras delimitadas na época pelo Tratado de Tordesilhas.

Na América do Sul, mameluco (mais comumente conhecido como "caboclo") é, também, o termo usado para identificar pessoas mestiças. Nos século XVII e século XVIII, mameluco referia-se a bandos organizados por colonizadores (mesclados ou não) caçadores de escravos. Mamelucos eram, em sua maioria, exploradores que vagueavam pelo interior da América do Sul desde o Atlântico até às encostas dos Andes, e do rio Paraguai até ao rio Orinoco fazendo incursões nas áreas indígenas em busca de metais preciosos.

Segundo o Dicionário Aurélio, "caboclo" procede do tupi kari'boka, que significa "procedente do branco".[2] O tupinólogo Eduardo de Almeida Navarro defende que "caboclo" se originou do termo tupi kuriboka, que, num primeiro momento, designava o filho de índio com africana. Mais tarde, kuriboka teria passado a se referir também ao filho de mãe índia e pai branco e depois ao mestiço de caboclos e brancos.[8][3]

Câmara Cascudo, no "Dicionário do Folclore Brasileiro", defende a forma "caboco". Além disso, não encontrou base nas diversas hipóteses etimológicas existentes para o termo, como a que afirma derivar do tupi caa-boc, "o que vem da floresta", ou de kari'boca, "filho do homem branco".

Alegoria do "Caboclo" ilustrando a edição da revista Bahia Illustrada, em 1918. Se tornou a personificação dos brasileiros que lutaram contra os portugueses pela Independência da Bahia.

Os caboclos formam o mais numeroso grupo populacional da Região Norte do Brasil (Amazônia) e de alguns estados da Região Nordeste do Brasil (Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, Alagoas, Ceará e Paraíba).[carece de fontes?] Contudo, a quantificação do número de pessoas consideradas caboclas no Brasil é tarefa difícil, pois, segundo os métodos usados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em seus recenseamentos, os caboclos entram na contagem dos 44,2% de pessoas consideradas pardas no Brasil, grupo que também inclui mulatos, cafuzos e várias outras combinações da mistura de negros ou índios com outras raças, como negro e oriental, índio e oriental, negro, índio e branco, negro, índio e oriental etc.[9]

Os atributos que definem a categoria social caboclos são econômicos, políticos e culturais. Nesse sentido, o termo refere-se aos pequenos produtores familiares da Amazônia que vivem da exploração dos recursos da floresta. Os principais atributos culturais que distinguem os caboclos dos pequenos produtores de imigração recente são o conhecimento da floresta, os hábitos alimentares e os padrões de moradia. Devido a seus atributos econômicos similares, no entanto, os dois, caboclos e imigrantes, podem ser alocados na categoria social mais ampla de camponeses.

Referências

  1. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 074.
  2. a b FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 302.
  3. a b «Cariboca». Dicio. Consultado em 28 de outubro de 2019 
  4. «Caramuru - Diogo Álvares Correia». www.historia-brasil.com. Consultado em 8 de junho de 2024 
  5. Oliveira, Ivan Rafael de (17 de dezembro de 2023). «Nossa Senhora da Graça – Salvador». SOS Família e Juventude. Consultado em 8 de junho de 2024 
  6. Beirante, Maria Ángela (2003). «Um santuário de romaria no tempo da expansão: Nossa Senhora da Atalaia: (Montijo)». Revista Portuguesa de História (36): 173–199. ISSN 0870-4147. doi:10.14195/0870-4147_36-1_7. Consultado em 8 de junho de 2024 
  7. Extraordinárias: mulheres que revolucionaram o Brasil. [S.l.]: Seguinte. 25 de junho de 2018 
  8. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 244.
  9. «PNAD 2006» (PDF) 
  • CARVALHO, M. R.; CARVALHO, A. M. (org.). Índios e caboclos: a história recontada. Salvador: EDUFBA, 2012, 269 p. link.
  • CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura / Instituto Nacional do Livro, 1954.
  • MAGALHÃES LIMA, Deborah. A construção histórica do termo caboclo: sobre estruturas e representações sociais no meio rural amazônico. Novos Cadernos NAEA, Belém, v. 2, n. 2, p. 5-32. 1999. link.
  • RIBEIRO, Darcy. O Brasil caboclo. In: O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. link.
  • RODRIGUES, Carmen Izabel (2006). «Caboclos na Amazônia: a identidade na diferença». Novos Cadernos NAEA (1). ISSN 2179-7536. doi:10.5801/ncn.v9i1.60 
  • SANTOS, José Geraldo. O Brasil indígena e mestiço de Manoel Bomfim. Curitiba: Editora CRV, 2020. ISBN 9786555787597