Cavalaria mecanizada e blindada – Wikipédia, a enciclopédia livre
Nos exércitos, a cavalaria mecanizada e a cavalaria blindada são tipos de tropas usando veículos blindados para missões clássicas de cavalaria como reconhecimento, segurança dos flancos, ação retardadora e ofensivas. Ela emergiu no período entreguerras do século XX pela mecanização da antiga cavalaria hipomóvel. As novas tecnologias como o carro de combate colocaram em cheque as instituições de cavalaria. Em alguns exércitos ela manteve o nome, acumulando os adjetivos de mecanizada ou blindada, e em outros, a cavalaria foi extinta e existem apenas as forças mecanizadas e blindadas. Os cavalos foram aposentados durante e após a Segunda Guerra Mundial. Isso foi mais demorado nos países menos desenvolvidos, como no Brasil, onde o processo só terminou nas reformas militares do final dos anos 1960.[1] Por analogia com as antigas missões a cavalo, os carros de combate seriam os couraceiros (cavalaria pesada), os blindados mais leves seriam os lanceiros, ulanos e hussardos e os fuzileiros embarcados seriam os dragões (infantaria montada).[2]
Nos anos antes da Segunda Guerra Mundial os exércitos francês, britânico e americano tinham forças mecanizadas altamente móveis, mas com pouca blindagem e poder de fogo, para missões de cavalaria como incursões e perseguição. Elas eram distintas das forças mecanizadas “pesadas”. Os exércitos alemão e soviético também tinham alguns blindados em funções de cavalaria.[3] Durante a guerra, unidades de reconhecimento com carros blindados realizaram missões de cavalaria. Britânicos e canadenses incluíram carros de combate nos regimentos de reconhecimento, que acabaram usados como forças blindadas comuns. Os alemães tinham carros blindados mais pesados para o reconhecimento, podendo lutar pela informação.[4]
A cavalaria mecanizada americana deveria realizar o reconhecimento pela infiltração, evitando o combate. Na prática, combateu com frequência e realizou muitas missões além do reconhecimento. Suas unidades foram reforçadas e, após a guerra, transformadas na cavalaria blindada.[5] A Arma Blindada americana, onde estavam as divisões com carros de combate, desenvolveu-se distinta da cavalaria.[6] Na Guerra do Golfo (1990–1991) a cavalaria blindada americana já tinha muito mais blindagem e poder de fogo, chegando a usar carros de combate. Suas funções eram teoricamente o reconhecimento e segurança, mas a cavalaria também foi usada pelos comandantes como parte do esforço principal devido a seu poder de choque blindado.[7]
No Exército Brasileiro, há diferença entre cavalaria blindada e mecanizada, e regimentos e brigadas de ambos os tipos. A cavalaria mecanizada usa blindados mais leves, sobre rodas, como o EE-9 Cascavel e EE-11 Urutu, para reconhecimento e segurança. Já a cavalaria blindada usa veículos sobre lagartas, com maior poder de fogo e blindagem. A Brigada de Cavalaria Blindada, idêntica à Brigada de Infantaria Blindada desde 2004, tem dois Regimentos de Carros de Combate (que também pertencem à cavalaria) e dois Batalhões de Infantaria Blindados. O Regimento de Cavalaria Blindado tem dois esquadrões de carros de combate e dois de fuzileiros blindados, idênticos à infantaria blindada. A cavalaria blindada usa o Leopard 1, M60 e M113.[8][9][10] Na evolução da cavalaria brasileira, não houve arma blindada independente. A cavalaria blindada brasileira incorporou a antiga Divisão Blindada.[1] Em 1977, fontes americanas se referiram à cavalaria mecanizada brasileira como uma cavalaria blindada.[11][12] A Brigada de Cavalaria Mecanizada brasileira, criada nos anos 70, é semelhante ao Armored Cavalry Regiment americano contemporâneo.[9]
O Exército Argentino tem a cavalaria de tanques, com o Tanque Argentino Mediano, e de exploração, com o Panhard AML. O Exército Colombiano tem grupos de cavalaria mecanizada semelhantes à cavalaria mecanizada brasileira. O Exército Peruano tem cavalaria blindada com veículos sobre lagartas — o carro de combate leve AMX-13 (considerado de reconhecimento) e o viaturas blindadas de transporte de pessoal (VBTP) M113 — e os VBTPs sobre rodas UR-416, Fiat 6614 e 6616 e BRDM-2. O Exército Nacional da Venezuela tem cavalaria blindada sobre lagartas com o Scorpion-90, para reconhecimento, e cavalaria mecanizada sobre rodas, com o V-100, V-150 e Dragoon ASV. Peruanos e venezuelanos têm carros de combate em unidades sem a designação de cavalaria.[13]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b Savian, Elonir José (Julho de 2013). «Haverá sempre uma Cavalaria: resistências à mecanização no Exército Brasileiro (1937-1972)» (PDF). Natal: ANPUH. XXVII Simpósio Nacional de História. Consultado em 27 de fevereiro de 2021
- ↑ Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. «A Arma de Cavalaria» (PDF). Consultado em 15 de outubro de 2022
- ↑ House, Jonathan M. (1984). Toward Combined Arms Warfare: A Survey of 20th Century Tactics, Doctrine, and Organization (PDF). Fort Leavenworth: Combat Studies Institute. p. 76-78.
- ↑ Jarymowycz, Roman Johann (2008). Cavalry from hoof to track. [S.l.]: Greenwood Publishing Group. p. 190-191.
- ↑ Wright, E. D. (2013). Mechanized Cavalry Groups: Lessons for the Future of Reconnaissance and Surveillance (PDF) (Dissertação de Mestrado). Fort Leavenworth: United States Army Command and General Staff College. Consultado em 17 de outubro de 2022
- ↑ Wilson, John B. (1999). «Organizing the First Armored Divisions» (PDF). Armor. Consultado em 17 de outubro de 2022
- ↑ Thomas, Vincent A. (2013). A Dying Breed: The United States Cavalry in Today's Army (PDF) (Dissertação de Mestrado). Fort Leavenworth: United States Army Command and General Staff College. Consultado em 17 de outubro de 2022
- ↑ Souza Junior, Jorge Francisco de (2010). As Forças Blindadas do Exército Brasileiro - Atualização, Modificação e Modernização: uma proposta (PDF) (TCC). Rio de Janeiro: ECEME. Consultado em 16 de fevereiro de 2021. Cópia arquivada (PDF) em 13 de janeiro de 2019
- ↑ a b Mesquita, Alex Alexandre de (2014). «A Brigada de Cavalaria Mecanizada no contexto da transformação da Doutrina Militar Terrestre: a estrutura de combate convencional mais atual do Exército Brasileiro». Forte Leavenworth: CAC/EUA. Military Review: 10-15. Consultado em 16 de fevereiro de 2021
- ↑ Pedrosa, Fernando Velôzo Gomes (2018). Modernização e reestruturação do Exército brasileiro (1960-1980) (Tese de Doutorado). Rio de Janeiro: UFRJ. Consultado em 28 de dezembro de 2020. p. 175-176.
- ↑ Ogorkiewicz, Richard M. (maio–junho de 1977). «Armor advances in Brazil». Armor. Consultado em 17 de outubro de 2022
- ↑ Jacobson, Michael (maio–junho de 1977). «Armor in Desert Shield». Infantry Magazine. Fort Benning: US Army Infantry School. p. 25-27.
- ↑ Mathias, Flavio Moreira (2019). «A utilização de blindados sobre lagartas e sobre rodas na Argentina, Chile, Colômbia, Peru e Venezuela». A Defesa Nacional. 106 (838): 24-36. Consultado em 12 de março de 2021