Chandni Chowk – Wikipédia, a enciclopédia livre
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Bairro | ||||
Extremidade oriental da Chandni Chowk. O edifício branco é o Gauri Shankar Mandir, um emplo hindu dedicado a Xiva. À esquerda avistam-se as torres vermelhas do Digambara Mandir, o templo jainista mais antigo de Deli. | ||||
Localização | ||||
Localização em mapa dinâmico | ||||
Coordenadas | 28° 39′ 23″ N, 77° 13′ 56″ L | |||
País | Índia | |||
Distrito | Deli Central | |||
Cidade | Deli |
Chandni Chowk (em hindi: चांदनी चौक; em urdu: چاندنی چوک) é um dos mais antigos e mais movimentados mercados de Velha Deli, na Índia. Situa-se perto da Estação de Velha Deli e do Forte Vermelho. Foi construído no século XVII pelo imperador mogol Shah Jahan e desenhado pela sua filha Jahanara Begum.[1] Chandni Chowk pode traduzir-se como "Avenida do Luar",[a] um nome que pode dever-se ao facto de originalmente ter um canal que refletia a luz da Lua.[3]
Chandni Chowk designa também toda a área envolvente do mercado propriamente dito na área muralhada de Velha Deli, que vai desde a Porta de Lahore do Forte Vermelho até à Fatehpuri Masjid, ou seja à área a oeste do Forte Vermelho e a norte e a oeste da Jama Masjid.[4] Originalmente, no centro da avenida principal corria um canal.[5] Segundo outras fontes, havia vários canais que dividiam o mercado.[1]
História
[editar | editar código-fonte]A história do mercado remonta à fundação da capital Shahjahanabad, quando Shah Jahan construiu o Forte Vermelho na margem do rio Yamuna. Chandni Chowk foi desenhada pela princesa Jahanara Begum, a filha favorita de Shah Jahan, em 1650. Originalmente o bazar tinha 1 560 lojas,[6] era quadrado e tinha um lago no centro, que refletia a luz da Lua. O bazar foi famoso pelos seus mercadores de prata.
O lago do centro foi substituído por uma torre com relógio, que por sua vez foi demolida na década de 1950. O centro do bairro continua a ser conhecido pelo nome da torre: Ghantaghar. Chandni Chowk foi o mais grandioso mercado indiano, onde passavam as procissões imperiais mogóis, uma tradição que teve continuidade no período colonial britânico com a realização do Delhi Durbar em 1903. Em 1863, os britânicos construíram no bairro a sede do governo municipal.
Originalmente, a designação de Chandni Chowk aplicava-se apenas à praça que tinha um lago. A secção que vai desde essa praça até Chowk Kotwali chamava-se originalmente Johri Bazar. As outras secções do grande bairro comercial eram o Urdu Bazaar e o Fatehpuri Bazar. O Urdu Bazaar era o mais próximo da residência imperial e ia desde a Porta de Lahore até Chowk Kotwali (perto da Gurdwara Sis Ganj). Alegadamente, Urdu Bazaar significa "mercado do acampamento" e a língua deve o seu nome a esse acampamento. Ghalib (1797–1869) menciona a destruição deste mercado durante os distúrbios durante e após a Rebelião Indiana de 1857. O Fatehpuri Bazar ia desde a praça do lago até à Fatehpuri Masjid.
Edifícios e quarteirões
[editar | editar código-fonte]Os principais edifícios com importância histórica de Chandni Chowk são geralmente designados como havelis, kuchas e katras. Os havelis são mansões quase palacianas, com um grande pátio ou átrio interior rodeado por divisões espaçosas e normalmente com outro pátio exterior com muros em volta que rodeia o edifício. Um dos maiores havelis ainda preservado na área é o Chunnamal Haveli. As kuchas são quarteirões com casas cujos donos têm em comum um atributo, geralmente a sua ocupação. Os seus nomes traduzem esse atributo, como por exemplo o Maliwara, o quarteirão dos jardineiros, ou o Ballimaran, o kutcha dos remadores. Os katras designam quarteirões separados de comerciantes e artesãos do mesmo ofício ou tipo de negócio, que usualmente vivem e trabalham juntos, num sistema semelhante ao das habitações das guildas de Amesterdão.[7]
Edifícios religiosos
[editar | editar código-fonte]A mesquita mais famosa de Deli, a Jama Masjid situa-se praticamente em Chandni Chowk e nas suas vizinhanças há vários santuários pertencentes a várias religiões. Indo do Forte Vermelho para oeste destacam-se os seguintes templos:
- Digambara Mandir — É o templo jainista mais antigo de Deli. Foi construído em 1526[8] e tem um hospital para aves.[9]
- Gauri Shankar Mandir — Templo hindu dedicado a Xiva, construído pelo general marata Appa Gangadhar em 1790 e completamente renovado em 1959. No entanto, é provável que no local já existisse um templo desde o século XII. Gauri e Shankar são nomes alternativos, respetivamente, da deusa Parvati e do seu consorte Xiva.[10][11][12]
- Shri Shiv Navgrah Mandir Dham — É um templo dedicado a Navagraha (os nove planetas da astrologia hindu).[13] Junto a ele situam-se os templos Shri Sankatmochan Hanuman Mandir e Shri Shakti Mandir.
- Igreja Batista Central — Igreja batista construída em 1814 pela Sociedade Missionária Batista,[14] é apontada como a igreja cristão mais antiga no norte da Índia.[15]
- Gurdwara Sis Ganj Sahib — Templo sique dedicado a Tegh Bahadur, o nono guru sique. Foi construída em 1783 no local onde aquele guru foi executado em 1675.[16][17]
- Sunehri Masjid — Mesquita construída em 1722 por um nobre mogol, Roshan-ud-Daulah, durante o reinado de Maomé Xá, foi restaurada em 1852 pelo último imperador mogol, Bahadur Xá Zafar. Deve o seu nome ("Mesquita Dourada"; sunehri significa "dourado" em urdu) às três cúpulas principais, cobertas de cobre dourado. Foi desta mesquita que o xá da Pérsia Nader Xá assistiu durante várias horas ao Katl-e-Aam (massacre de todas as pessoas que se encontrassem) por ele ordenada em 11 de março de 1739, que resultou em mais de 30 000 mortos.[18]
- Fatehpuri Masjid — Mesquita construída em 1650 por Fatehpuri Begum, uma da esposas do imperador Shah Jahan.[19][20]
Havelis
[editar | editar código-fonte]- Palácio Bhagirath — construído por Begum Samru, a governante do principado de Sardhana que foi dançarina profissional na adolescência e juntou uma fortuna colossal.
- Mansões Naughara do Kinari Bazaar — construídas por jainistas no século XVIII.
- Khajanchi Haveli — Mansão dos khajanchi, os contabilistas de Shah Jahan, que deram o nome a uma rua, a Gali Khajanchi. O haveli está ligado ao Forte Vermelho por um longo túnel subterrâneo, construído para que o dinheiro pudesse ser transferido de forma segura.
- Haveli de Mirza Ghalib — onde viveu o proeminente poeta de língua persa e urdu do século XIX.
- Chunnamal haveli — situado em Katra Neel, pertenceu a Lala Chunnamal, um comerciante extremamente rico de meados do século XIX.
- Haveli de Zeenat Mahal — situado no Lal Kuan Bazar, era a residência de Zeenat Mahal, a esposa favorita do último imperador mogol, Bahadur Xá Zafar.
- Haksar Haveli — no Bazar Sitaram, foi onde se casou Jawaharlal Nehru em 1916.
- Haveli Naharwali — onde nasceu o ex-presidente do Paquistão, Pervez Musharraf.
- Haveli Banarsi Bhawan — situado junto ao templo jainista de Meru, tem um poço.
- Haveli Dharmpura — na rua Gali Guliyan, é de estilo mogol tardio, embora algumas partes apresentem influências da arquitetura do século XX.[21]
Comércio e restauração
[editar | editar código-fonte]Em Chandni Chowk encontram-se lojas de uma imensa variedade de especialidades, desde comida, nomeadamente doces, até livros, passando por vestuário tradicional e moderno, pronto-a-vestir e feito à medida, calçado e artigos de couro, eletrónica, etc. Na doçaria destacam-se os jalebis fritos em ghi (manteiga clarificada) pura. No vestuário tradicional destacam-se, entre outros, os sáris, os bordados chikan e os zaris (brocados brilhantes originalmente fabricado com fibras de ouro ou prata).
Uma parte do bairro é chamado "Mercado de Roupa" (Cloth Market). Em Nai Sarak a maior parte das lojas são livrarias, papelarias e de materiais decorativos. Em Nai Sarak há também lojas especializadas em sáris de noivas e lehengas (uma espécie de saias tradicionais bordadas e plissadas).
Em Lal Kuan as lojas são sobretudo de ferramentas e de equipamentos de cozinha, nomeadamente de hotelaria. Junto a Lal Kuan situa-se o Mercado de Tilak, uma área especializada em produtos químicos industriais. Dariba é a área da joalheria de prata e ouro, onde também se vendem troféus, medalhas, recordações e peças afins.
Restauração
[editar | editar código-fonte]Em Chandni Chowk há vários restaurantes e confeitarias tradicionais (halwais)[22][23][24] O halwai mais antigo de Deli, o Ghantewala, foi fundado em 1790 e um dos seus clientes foi o imperador Shah Jahan. Fechou em julho de 2015.[25][26] Na Paranthewali Gali (ou Gali Paranthe Wali; tradução livre: "beco dos vendedores de parathas") os três estabelecimentos mais famosos funcionam desde as décadas de 1870 e 1880. O Pt Kanhaiyalal Durgaprasad foi fundado em 1875, o Pt Dayanand Shivcharan em 1882 e o Pt Baburam Devidayal Paranthewale em 1886. A concentração das lojas de parathas era tal em 1911 que a pequena rua, então chamada Chota Dariba ou Dariba Kalan, mudou para o seu nome para o atual. Nos anos a seguir à independência da Índia, era frequente Nehru, Indira Gandhi e Vijaya Lakshmi Pandit irem a Paranthewali Gali comer parathas.[27]
Entre os estabelecimentos de restauração mais antigos e mais famosos estão o Natraj’s Dahi Bhalla Corner e o Kanwarji Bhagirathmal. Este último foi fundado em em 1850 e é especializado em daal-biji e nariyal barfi. Daal-biji ou dalbiji é um pastel salgado de massa crocante de besan (farinha de grão-de-bico) com sementes de melão e meloa.[28] Nariyal barfi é um doce à base de coco (nariyal), leite e ghi com especiarias, nomeadamente cardamomo.[29][30] O Natraj’s Dahi Bhalla Corner foi fundado em 1940 e é especializado em dahi bhalla, um doce de vadas (bolas de massa frita) imersas em iogurte, e em aloo tikki (pastéis de batata cozida com cebola e especiarias).[31]
Notas
[editar | editar código-fonte]- Parte do texto foi inicialmente baseado na tradução do artigo «Chandni Chowk» na Wikipédia em inglês.
Referências
- ↑ a b Daftua, Swati (31 de janeiro de 2011). «Delhi — 100 years as the Capital» (em inglês). www.thehindu.com. Consultado em 7 de fevereiro de 2017
- ↑ Muttreja, Bhavana. «Traditional Dwelling Analysis of Chandni Chowk» (em inglês). archinomy.com. Consultado em 10 de fevereiro de 2017
- ↑ Sundaramurti, Avanija. «Take a Culinary Journey Through Mouthwatering Chandni Chowk» (em inglês). www.chillibreeze.com. Arquivado do original em 10 de janeiro de 2012
- ↑ «Red Fort a Chandni Chowk, Nova Delhi». Google Maps. Consultado em 7 de fevereiro de 2017
- ↑ Taher, Mohamed (1998), Encyclopaedic Survey of Islamic Culture: Growth & Development, ISBN 9788174884879 (em inglês), Anmol Publications
- ↑ Blake, Stephen P. (1998), «Contributors to the urban Landscape: Women builders in Safavid Isfahan and Mughal Shahjahanabad», in: Hambly, Gavin, Women in the Medieval Islamic World: Power, patronage, and piety, ISBN 9780312224516 (em inglês), St. Martin’s Press, p. 420
- ↑ «The Havelis, Kuchas and Katras of Chandni Chowk» (em inglês). www.chandnichowk.com. Arquivado do original em 18 de novembro de 2007
- ↑ «Digambar Jain Temple» (em inglês). www.liveindia.com. Consultado em 7 de fevereiro de 2017
- ↑ Singh, Sarina; et al. (2015), Lonely Planet India, ISBN 9781743216767 (em inglês) 16.ª ed. , p. 61
- ↑ «Gauri Shankar Mandir Delhi» (em inglês). www.delhihelp.com. 18 de setembro de 2010. Consultado em 7 de fevereiro de 2017
- ↑ «Gauri Shankar Mandir Chandni Chowk» (em inglês). www.delhiunlimited.com. Consultado em 7 de fevereiro de 2017
- ↑ «Gauri Shankar Temple» (em inglês). www.liveindia.com. Consultado em 7 de fevereiro de 2017
- ↑ «Shri Shri Navgrah Mandir Dham» (em inglês). www.indiasatkar.in. Consultado em 7 de fevereiro de 2017
- ↑ «Central Baptist Church» (em inglês). www.discoveredindia.com. Consultado em 7 de fevereiro de 2017
- ↑ «Central Baptist Church» (em inglês). www.delhiinformation.in. Consultado em 7 de fevereiro de 2017
- ↑ «Gurudwara Sis Ganj Sahib» (em inglês). religions.iloveindia.co. Consultado em 7 de fevereiro de 2017
- ↑ «Gurudwara Sisganj Sahib, Delhi» (em inglês). Gurudwaras of World. www.worldgurudwaras.com. Consultado em 7 de fevereiro de 2017
- ↑ Soofi, Mayank Austen (7 de março de 2012). «City Monument – Sunehri Masjid, Chandni Chowk» (em inglês). The Delhi Walla. www.thedelhiwalla.com. Consultado em 7 de fevereiro de 2017
- ↑ «Fatehpuri Shahi Masjid — A mute witness to the travails of Dillee» (em inglês). The Milli Gazette. www.milligazette.com. 1 de maio de 2000. Consultado em 7 de fevereiro de 2017
- ↑ «Fatehpuri Masjid, Delhi» (em inglês). www.indianetzone.com. Consultado em 7 de fevereiro de 2017
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- ↑ Sharma, Ritika (28 de setembro de 2008). «Chowk and cheese» (em inglês). MiD Day. archive.mid-day.com. Consultado em 10 de fevereiro de 2017
- ↑ «Old Delhi Food» (em inglês). Delhi Tourism and Transportation Development Corporation. www.delhitourism.gov.in. Consultado em 10 de fevereiro de 2017
- ↑ «Street food of Delhi» (em inglês). Explore India. travel2tourist.wordpress.com. 27 de setembro de 2013. Consultado em 10 de fevereiro de 2017
- ↑ «Ghantewala: Why did Delhi's 'oldest sweet shop' shut down?» (em inglês). www.bbc.com. 24 de julho de 2015. Consultado em 10 de fevereiro de 2017
- ↑ «Ghantewala, a Delhi sweet shop that served emperors, closes down» (em inglês). www.hindustantimes.com. 2 de julho de 2015. Consultado em 10 de fevereiro de 2017
- ↑ Swamy, K. R. N. (10 de novembro de 2002). «Frozen paranthas posing a challenge to Paranthewali Gali fare» (em inglês). www.tribuneindia.com
- ↑ Rakheja, Henna (8 de março de 2012). «Melting sweetness, crisp and succulent» (em inglês). www.deccanherald.com. Consultado em 10 de fevereiro de 2017
- ↑ Kapoor, Sanjeev. «How to make Fresh Nariyal Barfi - A tasty, soft coconut dessert that is easy to prepare, a must try» (em inglês). www.sanjeevkapoor.com
- ↑ «Express recipe: How to make Besan Nariyal Barfi» (em inglês). indianexpress.com. Consultado em 10 de fevereiro de 2017
- ↑ Soofi, Mayank Austen (11 de maio de 2011). «Do you know where to find Delhi's best dahi bhalla?» (em inglês). blogs.hindustantimes.com. Consultado em 10 de fevereiro de 2017
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Muttreja, Bhavana. «Traditional Dwelling Analysis of Chandni Chowk» (em inglês). archinomy.com. Consultado em 10 de fevereiro de 2017
- Galán, Javier (20 de abril de 2015). «Qué ver en Delhi: El mercado Chandni Chow» (em espanhol). Sociedad Geográfica de las Indias. www.lasociedadgeografica.com. Consultado em 10 de fevereiro de 2017