Clóvis Graciano – Wikipédia, a enciclopédia livre

Clóvis Graciano
Retrato do pintor brasileiro Clovis Graciano, em 1943.
Nome completo Clóvis Graciano
Nascimento 29 de janeiro de 1907
Araras, Estado de São Paulo
Morte 29 de junho de 1988 (81 anos)
São Paulo, Estado de São Paulo
Nacionalidade brasileiro
Cônjuge Maria Aparecida Portugal
Ocupação muralista, pintor, desenhista, cenógrafo, figurinista e ilustrador.
Prêmios Prêmio de Viagem ao Estrangeiro (1948)

Prémio Jabuti (1966)[1]

Movimento estético Modernismo, figurativismo
"Alabarda" (1959), mural na fachada do Edifício Nações Unidas, na Avenida Paulista.
Mural "A Cidade de Hoje" (1969), em São Paulo

Clóvis Graciano (Araras, 29 de janeiro de 1907São Paulo, 29 de junho de 1988) foi um muralista, pintor, desenhista, cenógrafo, figurinista e ilustrador brasileiro.[2]

Destacou-se em vários campos das artes plásticas, principalmente na produção de murais. Há cerca de 120 deles registrados no Brasil, concentrados majoritariamente na cidade de São Paulo.[3]

Em sua carreira, Graciano permaneceu fiel ao figurativismo, jamais tendo atração pelo abstracionismo. Tratou constantemente de temas sociais, como os trabalhadores rurais, operários e retirantes, além de temas históricos como as bandeiras e bandeirantes e indígenas.

Filho da imigrante italiana Caterina Graziano, nunca foi registrado por seu pai. Em 1927 empregou-se na Estrada de Ferro Sorocabana, em Conchas, interior do estado de São Paulo, passando a pintar postes e porteiras para as estações ferroviárias[3].

Aos 25 anos, combateu na Revolução Constitucionalista de 1932[4].

Em 1934 transferiu-se para São Paulo, como fiscal do consumo, passando a partir daí a dividir seu tempo entre o emprego e a pintura de cavalete. Nesse período, conheceu o pintor Candido Portinari, com quem estabeleceu amizade e de quem recebeu aconselhamentos para iniciar estudos formais em desenho e aquarela[3].

Envolvimento com as artes

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Em 1937, já tendo travado contato com a arte de Alfredo Volpi, Clóvis Graciano instalou-se no Palacete Santa Helena e integrou, então, o Grupo Santa Helena, com os artistas Francisco Rebolo, Mario Zanini, Aldo Bonadei, Fulvio Pennacchi, Alfredo Rizzotti, Humberto Rosa e outros, além do próprio Volpi.[5]

Em 1944, deixou o cargo de fiscal de consumo para dedicar-se somente às artes. Até então, vinha participando de concursos e exposições individuais, ganhando prêmios e medalhas.[3]

Ilustrou em 1947 a obra Luzia-Homem, do romancista cearense Domingos Olímpio, para a coleção dos Cem Bibliófilos do Brasil. Além disso, ilustrou diversas outras obras, incluindo livros de Jorge Amado e Dorival Caymmi[3].

Entre 1949 e 1951, foi estudar em Paris após ser contemplado com o prestigiado Prêmio Viagem ao Estrangeiro do Salão Nacional de Belas Artes. Lá visitou museus e travou conhecimentos com outros artistas, além de aprender técnicas de produção de telas à óleo e murais com mosaicos.

Retorno ao Brasil

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Ao retornar ao país em 1951, realizou diversos murais em áreas públicas e privadas, ocupando grandes dimensões e utilizando o mosaico e o azulejo. O estilo dos murais (e tabém das pinturas em cavalete) é figurativo, com representação de tipos sociais, tendo a atividade do trabalho como destaque. Em entrevista cedida em 1956 para o jornal Última Hora, Graciano afirma:

"Ultimamente estou procurando na pintura (...) fixar a vida das gentes simples do Brasil. Quero mostrar em meus trabalhos, principalmente nos painéis que serão vistos pelo povo, o que é esse próprio povo. Ele se reconhecerá nos muitos personagens que constituirão minha obra. Como num romance cíclico, o povo aparecerá na figura tosca de um machadeiro, no desempenho dos boiadeiros, nos vultos curvados dos homens que plantaram o café (...). Pedreiros, metalúrgicos, colonos, tipógrafos - esses são os heróis do meu livro".[6]

Em 1971, exerceu a função de diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo, e presidente da Comissão Estadual de Artes Plásticas e do Conselho Estadual de Cultura.[4]

Além da pintura, Graciano dedicou-se a diversas atividades paralelas, lecionando cenografia na Escola de Arte Dramática de São Paulo (EAD), e ilustrando jornais, revistas e livros, principalmente nos anos 1980.

Destruição do Monumento ao Trabalhador em Goiânia

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Em 1959, foi inaugurado um monumento em Goiânia no centro da Praça do Trabalhador, elaborado por dois murais de Clovis Graciano: "Luta dos Trabalhadores" e "Mundo do Trabalho". Os painéis situavam-se em frente à Estação Ferroviária da cidade, e eram dispostos em semicírculo e sustentados por pilastras de concreto ao molde de cavaletes e rodeados por espelhos d'água. O projeto arquitetônico foi assinado pelo arquiteto goiano Elder Rocha Lima.[7]

Por seu poder simbólico, o local se tornou ponto de encontro para manifestações no Dia do Trabalho. O painel se referia a várias cenas relacionadas à luta dos trabalhadores, incluindo referências aos enforcados de Chicago, que lutaram pela jornada de 8 horas no fim do século XIX[8]. Logo, os painéis não eram bem vistos durante a repressão da ditadura militar no Brasil.

Numa madrugada de abril de 1969, ativistas do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) derramaram piche fervido nos dois murais. A pasta preta cobriu a quase totalidade das duas superfícies. Nenhuma providência foi tomada para a limpeza e recuperação das pastilhas, que rapidamente se descolavam das duas bases de concreto. Em 1973, o prefeito Manoel dos Reis determinou a raspagem das pastilhas, sem critérios de restauro. Por fim, em 1986, o prefeito Joaquim Roriz determinou a demolição das pilastras de concreto que sustentavam os painéis.[7]

Desde 1990 são propostas iniciativas para reconstrução do monumento, porém sem resultados concretos.

Principais obras

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Parte de seus murais foi executada em prédios públicos, enquanto outra se localiza em edifícios privados e residências. Há ainda obras em acervos de museus e coleções particulares do Brasil e do exterior.[9] Estima-se que o artista possua cerca de 100 murais realizadas na cidade de São Paulo, e outros distribuídos pelo país[4].

Principais murais de Clovis Graciano
Mural Ano Área Local Cidade Conservação Técnica
Residência Miguel Abujamra[10] 1950 Externa Bairro do Sumaré São Paulo/SP Preservado Mosaico vidroso
A partida da Bandeira[11] 1951 Interna Edifício O Estado de São Paulo / Hotel Jaraguá São Paulo/SP Preservado -
Alegoria às Artes[12] 1952 Interna Teatro João Caetano São Paulo/SP Preservado Pintura mural
Sem título[13] 1953 Interna Edifício Lausanne São Paulo/SP Preservado Pintura mural
Sem título (em parceria com Di Cavalcanti) 1953 Interna Pavilhão de Recepção de Autoridades do Aeroporto de Congonhas São Paulo/SP Preservado Pintura mural
Sem título[14] 1954 Externa Mercado do Marapé Santos/SP Preservado Mosaico vidroso
Sem título 1955 Externa Edifício Bienal, bairro de Moema São Paulo/SP Preservado Mosaico vidroso
Alabarda 1959 Externa Edifício Nações Unidas São Paulo/SP Preservado Azulejo
Monumento ao Trabalhador (dois painéis: A Luta do Trabalhador e O Mundo do Trabalho) 1959 Externa Praça do Trabalhador Goiânia/GO Demolido Mosaico vidroso
Os bandeirantes[15] 1959 Externa Conjunto Industrial da Willys Overland / Ford do Brasil São Bernardo do Campo/SP Preservado Mosaico vidroso
Armistício de Iperoig 1962 Interna FAAP São Paulo/SP Preservado Azulejo
Subida da Serra, Os Bandeirantes, Epopeia do Café e A Cidade de Hoje 1969 Externa Avenida Rubem Berta (muro) São Paulo/SP Preservado Azulejo

Referências

  1. «Premiados em 1966». Prêmio Jabuti. Consultado em 15 de setembro de 2024 
  2. «Obituário: estados». Jornal do Brasil, ano XCVIII, edição 84, página 12/republicado pela Biblioteca Nacional - Hemeroteca Digital Brasileira. 1 de julho de 1988. Consultado em 15 de maio de 2021 
  3. a b c d e Freitas, Aline Hubner (2023). Clovis Graciano: estratégias de amizade e as inter-relações entre os muralistas mexicanos e os modernistas brasileiros. Campinas: Universidade Estadual de Campinas. Tese (Doutorado) 
  4. a b c Kwak, Gabriel (março de 2007). «Clovis Graciano: 100 anos de um artista». Getulio: p.61-65. Consultado em 14 de setembro de 2024 
  5. «Clóvis Graciano». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 15 de maio de 2021 
  6. «Clovis Graciano, o pintor: hino aos trabalhadores». Hemeroteca Digital Brasileira. Última Hora (n.1395): p.3. 5 de janeiro de 1956. Consultado em 21 de setembro de 2024 
  7. a b Borges, P.C.A. (2017). «Mudanças urbanas e fragilidades da política de memória (A destruição do Monumento ao Trabalhador em Goiânia)». Revista Sociedade e Estado. v.32 (n.2): p.345-370. Consultado em 4 de abril de 2024 
  8. Peres, Nelio Borges (2020). «Lugares de Memória dos Trabalhadores #17: Monumento ao Trabalhador, Goiânia (GO)». LEHMT. Consultado em 4 de abril de 2024 
  9. «Clóvis Graciano». Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Consultado em 15 de maio de 2021 
  10. «Oswaldo Côrrea Gonçalves - arquiteto». Revista Acrópole (n.184). Agosto de 1953. Consultado em 14 de setembro de 2024 
  11. «Edifício O Estado de São Paulo». Revista Acrópole (n.181): p.190. Maio de 1953. Consultado em 19 de março de 2024 
  12. Brisola, Sergio (9 de março de 2021). «Painel do Teatro Popular João Caetano». Descubra Sampa. Consultado em 14 de setembro de 2024 
  13. «Edifício Lausanne». ArquivoArq. Consultado em 14 de setembro de 2024 
  14. «Inaugurado domingo o Mercado Popular do Marapé». Hemeroteca Digital Brasileira. A Tribuna (n.146): p.5. 14 de setembro de 1954. Consultado em 21 de setembro de 2024 
  15. «Conjunto Industrial da Willys Overland». Revista Acrópole (n.265). Novembro de 1960. Consultado em 14 de setembro de 2024