Concílio de Roma – Wikipédia, a enciclopédia livre
Concílio de Roma (ou Sínodo de Roma) é o nome dado a diversos concílios e sínodos realizados na cidade italiana de Romana, antiga capital do Império Romano e capital do Império Romano do Ocidente.
Concílio sobre Atanásio (341)
[editar | editar código-fonte]Quando Constantino morreu, o bispo de Alexandria e defensor da doutrina nicena Atanásio, que havia sido exilado no Concílio de Tiro, em 335, recebeu permissão para retomar sua sé em Alexandria. Logo depois, em 338, o filho de Constantino, o novo imperador Constâncio II, um ariano, renovou o banimento de Atanásio. Ele seguiu para Roma e passou a ser protegido por Constante, o imperador romano do ocidente[1].
Em 340, cem bispos se reuniram em Alexandria e se declararam a favor de Atanásio e papa Júlio I escreveu para os aliados de Ário exigindo fortemente que eles reinstalassem Atanásio, mas sem sucesso. Em 341, papa Júlio II convocou um sínodo em Roma para tratar do impasse e o resultado foi que Atanásio foi inocentado de todas as acusações[2] e reinstalado em sua sé.
Concílio de 382
[editar | editar código-fonte]O Concílio de Roma de 382 foi um concílio regional da Igreja antiga realizado em 382, sob a autoridade do Papa Dâmaso I para discutir a eleição do patriarca de Constantinopla. No ano anterior, o imperador Teodósio I havia nomeado um candidato "azarão" Nectário como patriarca de Constantinopla. Os bispos do Ocidente se opuseram ao resultado da eleição e pediram um sínodo comum do Oriente e do Ocidente para resolver a sucessão da sé de Constantinopla, e assim o Imperador Teodósio, logo após o encerramento do Primeiro Concílio de Constantinopla em 381, convocou o Bispos imperiais para um novo sínodo em Constantinopla; quase todos os mesmos bispos que compareceram à segunda reunião anterior se reuniram novamente no início do verão de 382. Na chegada, eles receberam uma carta do Sínodo de Milão, convidando-os para um concílio em Roma. Não restaram os documentos desse concílio.
Há uma tradição, não substanciada por evidências documentais contemporâneas ao concílio, de que essa reunião teria discutido o cânone bíblico. Contudo, escritos de Agostinho, Jerônimo e posteriores menções ao concílio faz entender que foram discutidos esse assunto.
Um século depois, o Decretum Gelasianum do Papa Gelásio I (492-496) oferece uma lista de livros canônicos da Bíblia, que teria sido baseado nesse concílio de 382[3].
Sínodos do século VIII
[editar | editar código-fonte]O primeiro deles, o de 721, foi convocado pelo papa Gregório II para estabelecer a os cânones para melhorar a disciplina da Igreja[4]. Um outro concílio, em 732, convocado por Gregório III com o mesmo objetivo, tratou de questões disciplinares sobre a conduta dos monges[5].
Os sínodos de 731 foram parte da controvérsia iconoclasta contra as doutrinas do imperador bizantino Leão III, o Isauro, que decretou o fim da veneração aos ícones e a imediata destruição de imagens por todo o império[6]. No primeiro sínodo, Gregório sugeriu depor um padre que havia sido encarregado de levar suas cartas ao imperador, mas acovardou-se ao chegar em Constantinopla. O concílio decidiu apoiar a condenação de Gregório ao imperador, mas sugeriu que o padre se penitenciasse e fosse enviado novamente com as cartas[7].
Depois que o emissário foi preso na Sicília por ordens de Leão, um segundo sínodo foi convocado em 1 de novembro de 731 e contou com a presença do arcebispo de Ravena, um tradicional aliado dos bizantinos, o que demonstra a magnitude da crise instalada na igreja pela iconoclastia do imperador[8][9]. O concílio condenou Leão novamente, mas nenhuma tentativa de fazer chegar até ele uma comunicação oficial fracassaram. Depois da condenação, Leão confiscou os territórios papais na Sicília e na Calábria e retirou de sua jurisdição também o território da prefeitura pretoriana da Ilíria, passando-a para a do patriarca de Constantinopla[10]. Em retribuição, o sínodo passou para o patriarca de Grado toda a regão da Venetia et Istria, reduzindo significativamente a jurisdição de Aquileia[11].
Sínodos durante a controvérsia das investiduras
[editar | editar código-fonte]Durante a controvérsia entre o imperador Otão I e o papa Leão XII por causa do apoio deste a Berengário II, rei da Itália. Depois de expulsar o papa da cidade, Otão convocou o clero da cidade para sínodo em 963, entre 6 de novembro e 4 de dezembro, provavelmente ilegal, que depôs o papa. Liuprando de Cremona, o secretário e defensor de Leão durante os trabalhos, conta que, depois de se recusar a comparecer por 3 vezes, Leão foi deposto e o protonotário Leão, agora papa Leão VIII, foi eleito em seu lugar.
No sínodo do ano seguinte, entre 26 e 28 de fevereiro, os atos de 963 foram rejeitados e Leão VIII, deposto. Já no trono, João XII ordenou a mutilação de alguns de seus principais acusadores, a flagelação de outros e excomungou Leão. No mesmo ano, em 14 de maio, morreu e os nobres romanos elegeram papa Bento V, provocando o imperador Otão I a cercar a cidade novamente, tomando-a em 23 de junho acompanhado de Leão VIII[12]. Bento V foi demovido a diácono e jamais retornou ao trono papal.
Em 1078, outro sínodo foi realizado em Roma para reafirmar as reformas do papa Gregório VII[13].
Referências
- ↑ "St. Athanasius" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
- ↑ Encyclopædia Britannica, 15th edition. Chicago: Encyclopædia Britannica, Inc. ISBN 0-85229-633-9
- ↑ F. C. Burkitt (1913). «Decreto Gelasiano». Journal of Theological Studies (em inglês) (14): 469–471
- ↑ Hefele, Charles Joseph; Clark, William R. (trans.), A History of the Councils of the Church from the Original Documents, Vol. V (1896)
- ↑ Mann, Horace K., The Lives of the Popes in the Early Middle Ages, Vol. I: The Popes Under the Lombard Rule, Part 2, 657-795 (1903)
- ↑ Mann, pgs. 204-205
- ↑ Mann, pg. 205
- ↑ Hefele, pgs. 302–303
- ↑ Duffy, Eamon, Saints & Sinners: A History of the Popes (1997), pg. 63
- ↑ Hefele, pgs. 303–304
- ↑ Mann, pg. 211
- ↑ Mann, Horace K., The Lives of the Popes in the Early Middle Ages, Vol. IV: The Popes in the Days of Feudal Anarchy, 891-999 (1910)
- ↑ "Cardinal Deusdedit" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Treadgold, Warren, A History of the Byzantine State and Society (1997)
- Hefele, Charles Joseph; Clark, William R. (trans.), A History of the Councils of the Church from the Original Documents, Vol. V (1896)
- Mann, Horace K., The Lives of the Popes in the Early Middle Ages, Vol. I: The Popes Under the Lombard Rule, Part 2, 657–795 (1903)