Constantino Diógenes (pretendente) – Wikipédia, a enciclopédia livre
Pseudo-Constantino Diógenes Pseudo-Leão Diógenes | |
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Morte | após 1095 |
Nacionalidade | Império Bizantino |
Pseudo-Constantino Diógenes ou Pseudo-Leão Diógenes (m. após 1095) foi um pretendente mal-sucedido ao trono bizantino contra o imperador Aleixo I Comneno (r. 1081–1118). De origem humilde, fingiu ser um filho do imperador Romano IV Diógenes (r. 1068–1071). Exilado no Quérson, escapou e tomou refúgio entre os cumanos, de quem, em 1095, recebeu ajuda para invadir o Império Bizantino. Avançou contra Adrianópolis antes de ser capturado por um ardil e cegado por tropas imperiais.
Biografia
[editar | editar código-fonte]De acordo com a Alexíada de Ana Comnena, foi um homem de origem obscura que fingiu ser Leão Diógenes, filho do imperador Romano IV Diógenes (r. 1068–1071), e que morreu próximo de Antioquia em 1073. Uma vez que o filho de Romano IV que morreu em Antioquia não foi Leão e sim Constantino Diógenes, o filho mais velho do imperador, estudiosos tradicionalmente emendaram a referência de Ana conformemente.[1] Por outro lado, dado o aporte fornecido pelos cumanos para este pretendente, o estudioso francês Jean-Claude Cheynet sugere que ele de fato alegou ser Leão, que ao contrário de seu irmão esteve ativo na fronteira danúbia e foi conhecido pelos cumanos, morrendo em batalha contra eles em 1087.[2][3]
De acordo com o relato de Ana, Pseudo-Diógenes veio para Constantinopla do Oriente, "pobre e trajando uma pele de cabra". No entanto, logo reuniu um grupo de apoiantes entre a população, e abertamente declarou sua intenção de reclamar o trono de Aleixo I Comneno (r. 1081–1118).[4] Aleixo de início desprezou as agitações do pretendente, mas então sua irmã Teodora, a viúva do verdadeiro Constantino Diógenes que retirou-se para um mosteiro, protestou o abuso do nome de seu marido, e o imperador prendeu e exilou-o em Quérson. Lá, Pseudo-Diógenes fez contato com os cumanos que frequentavam a cidade. Uma noite, subiu os muros e, escoltado por eles, escapou de sua prisão. Procurando refúgio entre os cumanos, logo ganhou o reconhecimento deles como imperador e seu apoio na tentativa de tomar o trono, embora, como Ana Comnena relata, isso foi mais um pretexto para invadir e saquear as províncias bizantinas.[5][6]
Com Pseudo-Diógenes no comando, os cumanos cruzaram o Danúbio e invadiram o território imperial em 1095.[5][6] Eles rapidamente ocuparam o Tema de Parístrio próximo ao rio, e Aleixo moveu seu exército para confrontá-los, fazendo Anquíalo sua base de operações.[7] O imperador colocou destacamentos para guardar os passos sobre a Cordilheira dos Bálcãs, porém, utilizando-se de guias valacos locais, os cumanos foram capazes de atravessar as forças bizantinas e descer em direção às planícies da Trácia.[8]
O nome Diógenes manteve sua atração entre os membros do exército imperial e população, como evidenciado no plano frustrado no ano anterior sob o terceiro e mais novo filho de Romano IV, Nicéforo Diógenes, ou o uso de outro Diógenes pretendente como uma marionete durante a invasão normanda de Boemundo I de Antioquia uma década depois.[9] Assim, a causa do pretendente recebeu um impulso quando os cidadãos de Goloe (atual Lozarevo) abriram os portões e aclamaram-o imperador, sendo seguidos por Diábolis (atual Iambol) e outras cidades.[5][10] Encorajados, os cumanos moveram-se contra Aleixo em Anquíalo, contudo, após três dias de concentração dos exércitos sem algum confronto, os invasores partiram, pois o terreno não favorecia seu estilo de guerra, e nem poderiam induzir os bizantinos ao ataque.[11]
O pretendente agora persuadiu os cumanos a marcharem mais ao sul para Adrianópolis, cujo governador, Nicéforo Briênio, o Velho, era um parente de Romano IV e de quem esperava a abertura dos portões a cidade.[12] Contudo, quando o pretendente e os cumanos apareceram diante dos muros de Adrianópolis, e Pseudo-Diógenes clamou pela rendição de seu "tio", o cegado Briênio disse que não reconhecia sua voz.[5][13] Os cumanos então lançaram cerco à cidade. A guarnição e os cidadãos resistiram com valor, lançando ataques contra os sitiantes e, após 48 dias, lançaram um ataque total que repeliu-os. Durante o conflito, Pseudo-Diógenes recebeu um corte de chicote no rosto por um jovem guerreiro bizantino chamado Mariano Mavrocatacalo.[14]
Naquele ponto, um dos comandantes de Aleixo, Alacaseu, decidiu-se por um ardil: raspou e desfigurou-se, e foi encontrar-se com o pretendente, alegando ter sido maltratado pelo imperador. Invocando sua velha amizade com Romano IV e seus sofrimentos para provar sua lealdade, induziu Pseudo-Diógenes para entrar na fortaleza de Putza, que propôs render-se a ele. O pretendente e suas escoltas cumanas festejaram e jantaram no palácio do governador. Após caírem no sono, contudo, os bizantinos mataram os cumanos e tomaram o pretendente como cativo. Em Tzúrulo (atual Çorlu), foi entregue para o drungário Eustácio Ciminiano, e cegado por um servente turco.[5][15][16] Após a captura do pretendente, Aleixo derrotou os cumanos e repeliu-os para além do Danúbio.[17]
O historiador Basile Skoulatos observa que o episódio de Pseudo-Diógenes é uma história bizantina muito peculiar. Ana Comnena denegriu-o como homem de nascimento falso, sem vergonha e astuto, propenso a beber, mas no entanto exibiu qualidades extraordinárias: foi capaz de criar um séquito dentro de Constantinopla, assegurar o apoio dos cumanos, e em sua tentativa de conquistar Briênio, dispôs de considerável conhecimento dos laços dinásticos que uniram os vários membros da aristocracia bizantina superior.[18]
Referências
- ↑ Skoulatos 1980, p. 75.
- ↑ Cheynet 1996, p. 100.
- ↑ Skoulatos 1980, p. 175–176.
- ↑ Dawes 1928, p. 237.
- ↑ a b c d e Skoulatos 1980, p. 76.
- ↑ a b Dawes 1928, p. 238.
- ↑ Dawes 1928, p. 238–239.
- ↑ Dawes 1928, p. 239–240.
- ↑ Cheynet 1996, p. 365–366.
- ↑ Dawes 1928, p. 240.
- ↑ Dawes 1928, p. 240–241.
- ↑ Dawes 1928, p. 241.
- ↑ Dawes 1928, p. 241–242.
- ↑ Dawes 1928, p. 241–243.
- ↑ Dawes 1928, p. 243–245.
- ↑ Cheynet 1996, p. 99, 366.
- ↑ Dawes 1928, p. 245–247.
- ↑ Skoulatos 1980, p. 76–77.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Cheynet, Jean-Claude (1996). Pouvoir et contestations à Byzance (963–1210). Paris: Publications de la Sorbonne. ISBN 978-2-85944-168-5
- Dawes, Elizabeth A. (1928). The Alexiad. Londres: Routledge & Kegan Paul
- Skoulatos, Basile (1980). Les personnages byzantins de I'Alexiade: Analyse prosopographique et synthese. Louvain-la-Neuve: Nauwelaerts