Crítico (profissional) – Wikipédia, a enciclopédia livre

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Critic de Lajos Tihanyi. Óleo sobre tela, c. 1916.

Um crítico é uma pessoa que comunica uma avaliação e uma opinião sobre várias formas de obras criativas, como arte, literatura, música [en], cinema, teatro [en], moda [en], arquitetura e alimentação. Os críticos também podem ter como tema políticas sociais ou governamentais. Os julgamentos críticos, derivados ou não do pensamento crítico, ponderam uma série de fatores, inclusive uma avaliação da extensão em que o item em análise atinge seu objetivo e a intenção de seu criador e um conhecimento de seu contexto. Eles também podem incluir uma resposta pessoal positiva ou negativa.[1]

As características de um bom crítico são a capacidade de articulação e, de preferência, a capacidade de usar a linguagem com um alto nível de apelo e habilidade. Simpatia, sensibilidade e percepção também são importantes. A forma, o estilo e o meio são todos considerados pelo crítico. Na crítica de arquitetura [en] e gastronômica, a função, o valor e o custo do item podem ser componentes adicionais.

Os críticos são aceitos publicamente e, em grande parte, seguidos por causa da qualidade de suas avaliações ou de sua reputação. Críticos influentes de arte, música, teatro e arquitetura geralmente apresentam seus argumentos em livros completos. Um exemplo muito famoso é The Seven Lamps of Architecture [en] e The Stones of Venice [en], do britânico John Ruskin. Os críticos podem basear sua avaliação em uma série de posições teóricas. Por exemplo, eles podem adotar uma perspectiva feminista ou freudiana.[2]

Diferentemente de outros indivíduos que podem editorializar sobre assuntos por meio de sites ou cartas escritas para publicações, os críticos profissionais são pagos para produzir suas avaliações e opiniões para empresas de mídia impressa, rádio, revistas, televisão ou na internet. Quando a opinião pessoal supera o julgamento ponderado, as pessoas que emitem opiniões sobre eventos atuais, assuntos públicos, esportes, mídia ou arte costumam ser chamadas de “especialistas” em vez de críticos.

Os próprios críticos estão sujeitos a críticas concorrentes, já que o julgamento crítico final sempre envolve subjetividade. Um crítico estabelecido pode desempenhar uma função poderosa como árbitro público de gosto ou opinião. Além disso, os críticos, ou um grupo coordenado de críticos, podem conceder símbolos de reconhecimento.

A palavra “crítico” vem do grego κριτικός (kritikós) 'capaz de discernir',[3] que é uma derivação grega da palavra κριτής (krités), que significa uma pessoa que oferece uma análise, um juízo de valor, uma interpretação ou uma observação.[4]

A visão dos críticos sobre a crítica

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O crítico de arte estadunidense, Clement Greenberg, escreveu que um bom crítico se distingue pela “compreensão das provas [...] e pela [...] lealdade para com o que é relevante”;[5] o poeta e crítico T. S. Eliot defendia que “um crítico deve ter um sentido de facto muito desenvolvido”.[5]

No ano de 1971, Harold Charles Schonberg, principal crítico musical do jornal The New York Times entre os anos de 1960 a 1980, disse que escrevia para si próprio, “não necessariamente para os leitores, não para os músicos. [...] O trabalho de um crítico não é estar certo ou errado; o seu trabalho é expressar uma opinião num inglês legível".[6] Schonberg foi o primeiro crítico musical a receber o Prémio Pulitzer de crítica.[7]

O escritor estadunidense Daniel Mendelsohn [en] descreveu a equação da crítica para os críticos como conhecimento somado ao gosto gera o 'julgamento significativo'.[8][9]

Crítico gastronômico, Terry Durack, explicou que de um crítico “espera-se uma discussão exaustiva, objetiva e legítima” que coloque “a ópera, a arte ou o livro em contexto, de modo a contribuir para o seu próprio corpo de conhecimentos”; no contexto de uma crítica gastronômica, isto significa que “não se trata de eu gostar ou não gostar; trata-se de eu o ajudar a decidir se vai gostar ou não”.[10]

Crítica social e política

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Críticos sociais e políticos têm utilizado várias formas de arte para expressar suas críticas, incluindo a literatura e a música. Pierre Beaumarchais, por exemplo, antes da Revolução Francesa, usou sua peça Le Mariage de Figaro [fr] para denunciar os privilégios aristocráticos, e a influência de um crítico é ampliada por releituras subsequentes, como as versões operísticas da peça de Beaumarchais (O Barbeiro de Sevilha) por Rossini e (As Bodas de Fígaro) por Mozart.

August Ahlqvist [en], um professor e poeta finlandês, que nutria admiração por Johan Ludvig Runeberg, o poeta nacional da Finlândia, fez críticas muito negativas à produção literária de Aleksis Kivi, quando Kivi apresentou o conteúdo da vida social do povo em um estilo rude de realismo ao invés de romantismo.[11][12] Entre as críticas sociais e políticas mais famosas em forma literária estão as sátiras As Viagens de Gulliver de Jonathan Swift e A Revolução dos Bichos de George Orwell.[13][14] Alguns críticos políticos, como Ai Weiwei, usam a arte visual como meio de expressão. Ao longo da história, críticos políticos enfrentaram riscos elevados, incluindo o risco de prisão ou morte.[15][16][17][18][19]

Crítica virtual

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Foram desenvolvidos vários sites com o objetivo de compilar ou publicar críticas originais no ambiente digital. Alguns exemplos são o Blogcritics [en], o Rotten Tomatoes e o Yelp. De acordo com A. O. Scott [en], crítico-chefe de cinema do The New York Times, 'toda a gente na Internet é um crítico'.[20] Alguns críticos, como Roger Ebert, alcançaram um estatuto icónico na cultura pop e tornaram-se muito respeitados.[21][22][23]

Cinema e televisão

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Os críticos de cinema estadunidenses Roger Ebert e Gene Siskel colaboraram e apareceram na televisão, por vezes concordando na sua análise das obras cinematográficas, outras vezes divergindo.[23]

Personagens que representam críticos fizeram parte de alguns filmes e foram representados em comédias, como um crítico gastronômico na animação Ratatouille e um crítico de arte numa das partes iniciais da comédia antológica History of the World, Part I [en].[24][25]

Respostas aos críticos

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As pessoas cujo trabalho é objeto de crítica têm uma grande variedade de reações. Podem, por exemplo, sentir-se agradecidas, ofendidas, angustiadas, encorajadas, divertidas ou desiludidas. A banda estadunidense Guns N' Roses, na canção, Get in the Ring [en] que compõe o álbum Use Your Illusion II, respondeu aos críticos de diversas revistas musicais.[26][27]

A marca de biscoitos brasileira Globo, do Rio de Janeiro, agradeceu ao The New York Times, por criticar seu produto por ser “sem gosto e sem graça, assim como a culinária carioca”, pois houve uma onda de engajamento em defesa do biscoito e pela culinária do Rio.[28][29]

Críticos notórios

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Entre críticos notórios, que destacaram-se em suas atividades pode-se citar:[23][30]

Referências

  1. Moreno, María (2014). Notas, disparos, sublinhados. [S.l.]: Circuito 
  2. Dolan, Jill (24 de outubro de 2012). The Feminist Spectator as Critic (em inglês). [S.l.]: University of Michigan Press 
  3. «Henry George Liddell, Robert Scott, A Greek-English Lexicon, κρι^τ-ι^κός». Perseus. Universidade Tufts. Consultado em 15 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 4 de junho de 2024 
  4. «Henry George Liddell, Robert Scott, A Greek-English Lexicon, κρι^τ-ής». Perseus. Universidade Tufts. Consultado em 15 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 19 de maio de 2024 
  5. a b Greenberg, Clement (1961). Art and Culture: Critical Essays (em inglês). [S.l.]: Beacon Press 
  6. Kozinn, Allan (27 de julho de 2003). «Harold C. Schonberg, 87, Dies; Won Pulitzer Prize as Music Critic for The Times». The New York Times. Consultado em 15 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2023 
  7. «Music Critic Harold C. Schonberg, 87». The Washington Post (em inglês). 26 de janeiro de 2024. ISSN 0190-8286. Consultado em 15 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 15 de outubro de 2024 
  8. Mendelsohn, Daniel (28 de agosto de 2012). «A Critic's Manifesto». The New Yorker (em inglês). ISSN 0028-792X. Consultado em 15 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 6 de outubro de 2024 
  9. Spiegelman, Willard (10 de fevereiro de 2016). «Everyone's a Critic». The Wall Street Journal. ISSN 0099-9660. Consultado em 27 de março de 2016. Cópia arquivada em 16 de janeiro de 2017 
  10. Durack, Terry (3 de dezembro de 2016). «The role of a restaurant critic in the digital age». The Sydney Morning Herald. Consultado em 5 de dezembro de 2016. Cópia arquivada em 7 de dezembro de 2017 
  11. Sihvo, Hannes (2014). «Kivi, Aleksis (1834–1872)». The National Biography of Finland. Consultado em 1 de maio de 2016. Arquivado do original em 27 de setembro de 2020 
  12. Liukkonen, Petri (2008). «Kivi, Aleksis (1834–1872)». Authors' Calendar. Consultado em 9 de maio de 2016. Arquivado do original em 26 de fevereiro de 2020 
  13. Elias, Alice (24 de janeiro de 2023). «"A Revolução dos Bichos", de George Orwell, é publicado». Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Consultado em 15 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 24 de janeiro de 2023 
  14. Benevides, Daniel (8 de janeiro de 2011). «Crítica/Aventura: Gulliver traz sátira implacável à civilização». Folha de S.Paulo. Consultado em 15 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 15 de outubro de 2024 
  15. «HRW Calls for Release of Thai Government Critic». VOA. Consultado em 27 de março de 2016. Arquivado do original em 17 de março de 2016 
  16. «Zambian opposition leader arrested for 'defaming' President Lungu». Africanews. Consultado em 27 de março de 2016. Cópia arquivada em 9 de abril de 2016 
  17. Shah, Saeed; Nauman, Qasim (1 de março de 2016). «Pakistanis Throng Funeral of Man Hanged for Killing Critic of Blasphemy Laws». The Wall Street Journal. ISSN 0099-9660. Consultado em 27 de março de 2016. Cópia arquivada em 4 de dezembro de 2019 
  18. «Thousands march in Moscow to honor slain Kremlin critic Nemtsov». Reuters. 28 de fevereiro de 2016. Consultado em 27 de março de 2016. Cópia arquivada em 16 de janeiro de 2017 
  19. «Beijing Critic Says Family Detained in China in Internet Crackdown». VOA. Consultado em 27 de março de 2016. Cópia arquivada em 28 de março de 2016 
  20. Scott, A. O. (30 de janeiro de 2016). «Everybody's a Critic. And That's How It Should Be.». The New York Times. ISSN 0362-4331. Consultado em 27 de março de 2016. Cópia arquivada em 28 de dezembro de 2016 
  21. Rothman, Lily (30 de janeiro de 2016). «Roger Ebert Statue Unveiled Outside Illinois Theater». Time. Consultado em 27 de março de 2016. Cópia arquivada em 13 de junho de 2015 
  22. Ortiz, Erik (25 de março de 2016). «Man Arrested for Overdue Tom Green Rental From 2002». NBC News (em inglês). Consultado em 15 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 30 de abril de 2024 
  23. a b c Child, Ben (25 de abril de 2014). «Statue commemorating thumbs-up film critic Roger Ebert unveiled». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077. Consultado em 15 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 16 de setembro de 2024 
  24. Sutton, Ryan (1 de outubro de 2021). «A Restaurant Critic's Take on 'Ratatouille': The Restaurant Critic Was the Real Hero». Eater (em inglês). Consultado em 15 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 8 de março de 2024 
  25. «Review of "History of the World: Part 1" (1981)». Reviews of Old and New Stories. Mostly Old (em inglês). 19 de setembro de 2021. Consultado em 15 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 4 de junho de 2023 
  26. Costa, Paulo (15 de maio de 2014). «Guns N' Roses: quem são os críticos citados em "Get In The Ring"». Whiplash.net. Consultado em 16 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 16 de outubro de 2024 
  27. Rettig, James (28 de junho de 2023). «Guns N' Roses Get In The Ring With Critics Of Their Glastonbury Performance». Stereogum (em inglês). Consultado em 16 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 12 de julho de 2023 
  28. «Biscoito Globo agradece NYT por crítica». Meio e Mensagem - Marketing, Mídia e Comunicação. 17 de agosto de 2016. Consultado em 16 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 16 de outubro de 2024 
  29. Segal, David (13 de agosto de 2016). «Rio's Carnival for the Senses Ends at the Food Line». The New York Times. Consultado em 16 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 17 de agosto de 2016 
  30. «Especial Crítica Literária | Galeria de críticos». Biblioteca Pública do Paraná. Junho de 2022. Consultado em 16 de outubro de 2024. Cópia arquivada em 30 de setembro de 2022