Ó meu Menino (Pias) – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Se procura outras cantigas com o mesmo nome, veja Ó meu Menino.

"Ó meu Menino" ou "Deus Menino de Pias" é um cante de Natal português originário da freguesia de Pias no concelho de Serpa. Existe também uma outra versão, muito semelhante, da freguesia próxima de São Matias no concelho de Beja.[1]

Este cante apresenta características da música do período Barroco[2] e a sua letra parece confirmar esta datação uma vez que inclui a trova "Ó meu Menino, ó Meu Redentor, / Meu doce Jesus, salvai-nos, Senhor!" que faz também parte de uma "Novena ao Menino Jesus" em Porto Moniz, tradição católica que remonta aos séculos XVIII e XIX.[3]

Em 1940 o etnógrafo alentejano Joaquim Baptista Roque publicou a versão de São Matias, que o próprio recolheu, na sua obra Alentejo Cem por Cento.[4] Contudo, é a versão de Pias que tem gozado de grande popularidade e alguma internacionalização.[5][6] Este facto deve-se principalmente ao trabalho de harmonização do compositor português Eurico Carrapatoso que adaptou a canção para duas das suas obras:

  • Terceiro andamento de "Natal Profano" para coro a cappella em 1997.[7]
  • Oitavo andamento (e tema unificador) de "Magnificat em Talha Dourada" para coro, solista e orquestra em 1998.[2]

O tema da letra de "Ó meu Menino" é a súplica dos fiéis pela misericórdia do Menino Jesus que é, ao mesmo tempo, um pobre menino nascido numa gruta entre animais e o Salvador do Mundo.

Josefa de Óbidos: Menino Jesus Salvador do Mundo (1673) na Igreja Matriz de Cascais.
Menino de Pias Menino de S. Matias
Estribilho/Responsório: Estribilho/Responsório:

Ponde em nós os Vossos olhos,
Misericórdia, amor!

Vossos olhos,
De misericórdia, amor!

Coplas/Versos: Coplas/Versos:

Ó meu Menino,
Meu doce Jesus,
Ó meu Redentor,
Salvai-me, Senhor!

Meu Menino,
Meu doce Jesus,
Ó meu Redentor,
Salvai-nos, Senhor!

Pobre em Belém,
Sorrindo na dor,
Quem tudo sustém,
Do mundo Senhor.

Ditosa Belém
Que o mundo abrigais
Dizei à Mãe Santa:
"Bendita sejais!"

Senhor da Vida,
Que pobre que estais,
Na gruta despida,
Por entre animais.

Cravos de amor,
Cravados na cruz;
As almas Vos clamam:
"Salvai-nos, Jesus!"[1]

Vede, pastores,
O vosso Cordeiro,
Olhai pecadores,
O Deus verdadeiro.[1]

A cantiga é interpretada em alternância de acordo com os cânones do Cante Alentejano: um solista (o "ponto") canta as quadras e, de seguida, responde todo o coro com o estribilho. Da conjugação da melodia com essa forma tradicional de interpretação, resulta uma composição descrita por alguns autores como nostálgica e solene.[6]

Formalmente a música segue o modo frígio.[8]

Referências

  1. a b c José Rabaça Gaspar (2012). «Cante ao Menino - Pias». O Canto do Cante. Consultado em 18 de setembro de 2015 
  2. a b Paula de Castro; Miguel Azguime, et al. «Magnificat em Talha Dourada». Centro de Investigação & Informação da Música Portuguesa. Consultado em 18 de setembro de 2015 
  3. Gama, Manuel da (10 de dezembro de 2007). «Missas do Parto preparam o Natal na Madeira». Jornal da Madeira 
  4. Roque, Joaquim (1940). Alentejo cem por cento. subsídios para o estudo dos costumes, tradições, etnografia e folclore regionais 1 ed. Beja: [s.n.] 
  5. Peter Jacobi (5 de setembro de 2012). «Review: Vox Reflexa a joy» (em inglês). Jacobs School of Music. Consultado em 18 de setembro de 2015 
  6. a b Orquestra y Coro de la Comunidad de Madrid (19 de junho de 2013). «Ciclios Musicales de la Comunidad de Madrid» (PDF) (em espanhol). Consultado em 18 de setembro de 2015 
  7. Paula de Castro; Miguel Azguime, et al. «Natal Profano». Centro de Investigação & Informação da Música Portuguesa. Consultado em 18 de setembro de 2015 
  8. Padre António Marvão (1997). Estudos sobre o Cante Alentejano. Col: Música Tradicional. [S.l.]: Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores (INATEL). ISBN 972-9208-03-4. Consultado em 26 de julho de 2012 

Ligações externas

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