Dinastia Yuan – Wikipédia, a enciclopédia livre
Grande Yuan 大元 Divisão do Império Mongol | |||||||||||||||||||||
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Mapa de Grande Yuen em 1294 | |||||||||||||||||||||
Províncias de Grande Yuen em 1330 | |||||||||||||||||||||
Capital | Cambalique (Pequim) Shangdu (capital de verão) | ||||||||||||||||||||
Países atuais | Mongólia, China, Coreia do Norte, Coreia do Sul e Rússia | ||||||||||||||||||||
Línguas oficiais | Mongol Chinês | ||||||||||||||||||||
Religião de Estado | Budismo | ||||||||||||||||||||
Outras religiões Burocracia celestial, Tengriismo, Xamanismo, Taoismo, Confucionismo, Religião tradicional chinesa, Nestorianismo, Catolicismo, Judaísmo, Maniqueísmo, Islamismo | |||||||||||||||||||||
Moeda | Chao | ||||||||||||||||||||
Forma de governo | Monarquia | ||||||||||||||||||||
Imperador | |||||||||||||||||||||
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Período histórico | Pós-clássica | ||||||||||||||||||||
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Parte de uma série da |
História da China |
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Moderna
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Dinastia Yuan ou Iuã[1] ou ainda Iuane;[2] oficialmente Grande Yuan (chinês: 大元, pinyin: Dà Yuán; mongol: ᠶᠡᠬᠡ
ᠶᠤᠸᠠᠨ
ᠤᠯᠤᠰ, Yeke Yuwan Ulus) foi uma linhagem de imperadores de origem mongol fundada por Kublai Khan, neto de Genghis Khan, formalmente em 1271.
Dinastia Yuan
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Nome chinês | |||||||||||||||
Chinês: | 元朝 | ||||||||||||||
Significado literal | "Dinastia Yuan" | ||||||||||||||
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Nome chinês alternativo | |||||||||||||||
Chinês: | 大元 | ||||||||||||||
Significado literal: | Grande Yuan | ||||||||||||||
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Em mongol | |||||||||||||||
Mongol: | ᠶᠡᠬᠡ ᠶᠤᠸᠠᠨ ᠤᠯᠤᠰ |
Origem
[editar | editar código-fonte]Os mongóis, sob várias lideranças, foram conquistando no período entre 1211 a 1279 as várias regiões que compunham o atual território da China, na época dividida por mais de 300 anos entre as dinastias Liao e Jin ao norte, os Xi Xia no centro e Sung ao sul. Durante o reinado de Genghis Khan, foram conquistadas várias áreas do norte da China, dentre elas a Manchúria e a cidade de Pequim, após um longo cerco. Seu filho Ogodei conquistou em 1234 a cidade de Kaifeng e iniciou a guerra contra os Song. Porém seu reinado ficou mais conhecido pelas campanhas no Oriente Médio e na Europa, aonde os exércitos mongóis chegaram perto de Viena, tendo esta campanha sido abortada prematuramente devido a sua morte.
A conquista da China veio a se intensificar ainda mais nos reinados de Möngke Khan e Kublai Khan, principalmente no do último. Durante o reinado de Mangu, ao mesmo tempo em que Hulagu Khan comandava os exércitos mongóis no Oriente Médio e Berque promovia um segundo ataque à Polônia, Kublai Khan prosseguia com a conquista da China. Após a morte de seu irmão, derrotou Arigue Buga (também seu irmão) em uma disputa de poder e se tornou o grande cã do Império Mongol. Uma de suas primeiras atitudes foi transferir a capital de Karakorum para Beijing.
Em 1279, após aniquilar os últimos remanescentes dos Song na famosa batalha de Yamen, a conquista da China foi enfim concluída. Kublai então fundou uma dinastia ao estilo chinês, transformando-o em uma entidade politicamente distinta do resto do grande Império Mongol que se espalhara pela Ásia durante o século XIII. À essa altura, outras regiões do Império Mongol como a Horda de Ouro e o canato de Chagatai eram na prática independentes. Durante o governo de Kublai Khan, a China viu suas estradas e seus meios de comunicação, bem como suas vias navegáveis restauradas, o que abriu aos chineses a possibilidade de comércio com estrangeiros.
Evolução política e a dominação sobre a China
[editar | editar código-fonte]A Dinastia Yuan caracterizou-se pela ineficiência administrativa e grave estratificação social, causada, basicamente, pela inexperiência dos mongóis em administração pública — até décadas antes nômades inquietos, organizados em pequenos clãs independentes. Primeiro os governantes mongóis posicionaram todos os mongóis no extrato superior da sociedade, conferindo-lhes isenção de impostos e direitos de propriedade. Em seguida vinham os funcionários públicos. Kublai Khan havia abolido a tradição do concurso público para a seleção de chineses para compor o corpo burocrático do Império.
A decisão de abolir os concursos teve consequências sociais a longo prazo. Até então, muitos jovens de famílias abastadas esforçavam-se para passar nesses exames, para ter uma vida cômoda na administração. Com a abolição dos concursos, estes jovens passaram a procurar outras saídas profissionais, resultando no crescimento do número de professores e de médicos, por exemplo. Ademais, a supressão dos exames também teve repercussões a nível linguístico. Ao não haver os concursos, deixaram de estudar os textos clássicos, e com isso declinou o conhecimento do chinês clássico, fazendo crescer o uso da língua vernácula como meio escrito.
A ineficiência dos mongóis em operar a máquina administrativa de uma civilização tão antiga e complexa fez com que os mongóis importassem, principalmente, turcos e persas para compor a burocracia imperial, e estes estrangeiros, conhecidos como "os de olhos coloridos", compunham a segunda classe social mais importante. Os chineses nativos, a grande maioria da população, encontravam-se nas classes mais baixas. Os Jin ainda possuíam direitos a terras, e a aristocracia chinesa permaneceu no poder local do antigo reino Jin. Os cidadãos comuns tinham direitos restritos a propriedade e ao trabalho, sendo usados no comércio e na prestação de serviços. Os Song, por sua vez, tinham liberdades civis especialmente restritas — não podiam usar armas, nem sair às ruas à noite, por exemplo.
Campanhas militares contra países vizinhos
[editar | editar código-fonte]Kublai Khan, com o objectivo de estender ainda mais os seus domínios, promoveu algumas campanhas militares contra reinos vizinhos. Em 1274 promoveu um ataque contra o Japão, na época governado pelos Kamakura. Por causa de uma tempestade marítima somada à resistência local o ataque fracassou. Um segundo ataque ocorreu em 1281, também fracassado por uma tempestade marítima, que foi chamada pelos japoneses de camicaze, ou vento divino. Kublai ainda pretendia atacar o Japão novamente em 1286, porém devido a falta de recursos para tal empreitada, isso não foi possível, para além da sua morte 6 anos mais tarde. Também foram feitas campanhas contra os reinos do Sudeste Asiático, sem muito sucesso. Em 1292 foi promovido um ataque contra a ilha de Java, também mal sucedido.
Ainda no plano externo, devido à sua política toda focada na China e reinos vizinhos, as regiões mais distantes do Império, tais como a Rússia, a Pérsia e o Turquestão, foram deixadas de lado, contribuindo assim para a fragmentação do Império Mongol em Canatos independentes menores.
Derrubada do poder, ascensão da dinastia Ming
[editar | editar código-fonte]Os fracassados programas econômicos que geraram um esvaziamento do tesouro imperial, aliado às rixas entre os sucessores do Imperador (invariavelmente homens fracos e de competência administrativa duvidosa), assim como a situação servil do povo chinês em suas próprias terras foram o rastilho para o surgimento dos movimentos nacionalistas durante a primeira metade do século XIV. A corrupção estatal também foi um fator para a queda do Império, levando os muçulmanos a unirem-se com os pretendentes da nova dinastia e a antiga família real chinesa a fim de expulsá-los da China.[3]
Numa tentativa de reverter tal situação, o sistema de concursos públicos foi restaurado em 1315. A matéria desses novos exames tornou-se uma versão simplificada do cânone neoconfuciano de Zhu Xi. Havia dois tipos de exames: um mais fácil para os mongóis e demais povos não chineses; e o outro mais difícil aos chineses. A adoção desse cânone neoconfuciano teria consequências a longo prazo e manter-se-ia durante as dinastias seguintes até a nova abolição do sistema de exames em 1905.
A dinastia Yuan perdurou até 1368, quando uma revolta camponesa instaurou a dinastia Ming no poder.
Ciência e tecnologia
[editar | editar código-fonte]O domínio mongol sob a dinastia Yuan viu avanços tecnológicos a partir de uma perspectiva econômica, com a primeira produção em massa de notas de papel por Kublai Khan no século XIII.[4]
Em matemática, o matemático Zhu Shijie (1249–1314) usou um método de eliminação para reduzir as equações simultâneas a uma única equação com apenas um desconhecido e avanços na álgebra polinomial foram feitos por matemáticos durante a era Yuan.[5] Zhu resolveu equações simultâneas com até quatro incógnitas usando um arranjo retangular de coeficientes, equivalente a matrizes modernas.[6][7] Seu método é descrito no Espelho de Jade dos Quatro Desconhecidos (四元玉鉴), escrito em 1303.[8] As páginas de abertura contêm um diagrama do triângulo de Pascal. A soma de uma série aritmética finita também é abordada no livro.[9]
Guo Shoujing[10] aplicou a matemática na construção de calendários. Ele foi um dos primeiros matemáticos da China a trabalhar na trigonometria esférica.[11] Gou derivou uma fórmula de interpolação cúbica[12] para seus cálculos astronômicos.[13] O conhecimento matemático do Oriente Médio foi introduzido na China sob o governo mongol e os astrônomos muçulmanos trouxeram numerais arábicos para a China no século XIII.[14]
A tradição médica chinesa do Yuan tinha "Quatro Grandes Escolas" que o Yuan herdou da dinastia Jin. Todas as quatro escolas foram baseadas na mesma base intelectual, mas defendiam diferentes abordagens teóricas em relação à medicina.[15] Os curandeiros eram divididos em médicos não-mongóis chamados otachi e xamãs mongóis tradicionais. Os mongóis caracterizaram os médicos otachi pelo uso de remédios herbais, que se distinguiam das curas espirituais do xamanismo mongol.[16] Estudiosos confucianos foram atraídos para a profissão médica porque asseguravam uma alta renda e a ética médica era compatível com as virtudes confucianas.[17][16] Sob os mongóis, a prática da medicina chinesa se espalhou para outras partes do império. Os médicos chineses foram levados por campanhas militares pelos mongóis à medida que se expandiam para o oeste.[18]
Vários avanços médicos foram feitos no período Yuan. O médico Wei Yilin (chinês: 危亦林, pinyin: Wēi Yìlín; c. 1277–1347)[19] inventou um método de suspensão para reduzir as articulações deslocadas, que ele fazia usando anestésicos.[15] O médico mongol Hu Sihui descreveu a importância de uma dieta saudável em um tratado médico de 1330.[15] A medicina ocidental também era praticada na China pelos cristãos nestorianos da corte Yuan, onde às vezes era rotulada como "huihui" ou medicina muçulmana.[20] Os médicos Huihui, que trabalhavam em dois hospitais imperiais, eram responsáveis por tratar a família imperial e os membros do tribunal.[16]
Os governantes mongóis patrocinaram a indústria de impressão Yuan.[21][22] A tecnologia de impressão chinesa foi transferida para os mongóis através do Reino de Qocho (chinês tradicional: 高昌回鶻, pinyin: Gāochāng Húihú, lit. ‘Qocho Uyghurs’, Mongol ᠦᠶᠭᠦᠷ Uihur "id.")[23][24] e intermediários tibetanos.[21] A publicação de um texto taoísta inscrito com o nome de Töregene Khatun, a esposa de Ögedei, é uma das primeiras obras impressas patrocinadas pelos mongóis. Em 1273, os mongóis criaram a Diretoria da Biblioteca Imperial, um escritório de impressão patrocinado pelo governo.[21] Escolas locais e agências governamentais foram financiadas para apoiar a publicação de livros.[25] Uma das aplicações mais notáveis da tecnologia de impressão foi o chao, o papel-moeda no período Yuan. Chao foi feito a partir da casca de amoreiras.[26] O governo Yuan usou blocos de madeira para imprimir papel-moeda, mas mudou para placas de bronze em 1275.[27]
Em cerâmica chinesa do período foi um dos de expansão, com a grande inovação o desenvolvimento em porcelana Jingdezhen (chinês: 景德镇陶瓷),[28] utensílios de cerâmica com fundo-vidrado[29][30] pintado em azul e branco. Isto parece ter começado nas primeiras décadas do século XIV, e no final da dinastia quando ela estava madura e bem estabelecida. Outros tipos principais de utensílios de cerâmica continuaram sem uma ruptura acentuada no seu desenvolvimento, mas houve uma tendência geral para algumas peças de tamanho maior e mais decoração. Isso geralmente é visto como um declínio do refinamento da música. As exportações expandiram consideravelmente, especialmente para o mundo islâmico.
Referências
- ↑ Bernardo 1970, p. 65.
- ↑ Tempo brasileiro. [S.l.]: Edic̜ões Tempo Brasileiro. 1999
- ↑ Gladney, Dru C. (1991). Muslim Chinese: Ethnic Nationalism in the People's Republic (em inglês) 2 ed. Harvard University: Council on East Asian Studies. 234 páginas. ISBN 9780674594951
- ↑ «The Invention of Paper Money in China». ThoughtCo
- ↑ Dauben 2007, p. 346.
- ↑ Joseph 2011, p. 196.
- ↑ Dauben 2007, p. 344.
- ↑ Hart, Roger (2013). Imagined Civilizations China, the West, and Their First Encounter. Baltimore, MD: Johns Hopkins Univ Pr. p. 82. ISBN 1421406063
- ↑ Ho 1985, p. 101.
- ↑ Morris Rossabi (28 de novembro de 2014). From Yuan to Modern China and Mongolia: The Writings of Morris Rossabi. [S.l.]: BRILL. pp. 282–. ISBN 978-90-04-28529-3
- ↑ Joseph 2011, p. 247.
- ↑ Erwin Kreyszig (2005). Advanced Engineering Mathematics 9 ed. [S.l.]: Wiley. 816 páginas. ISBN 9780471488859
- ↑ Allsen 2001, p. 172.
- ↑ Ho 1985, p. 105.
- ↑ a b c Lane 2006, p. 140.
- ↑ a b c Rossabi 1988, p. 125.
- ↑ Allsen 2001, p. 157.
- ↑ Lane 2006, pp. 138–139.
- ↑ Wu 1950, p. 492.
- ↑ Allsen 2001, p. 151.
- ↑ a b c Allsen 2001, p. 182.
- ↑ Wu 1950, p. 460.
- ↑ Joint Centre for Asia Pacific Studies (1996). Cultural contact, history and ethnicity in inner Asia: papers presented at the Central and Inner Asian Seminar, University of Toronto, March 4, 1994 and March 3, 1995. [S.l.]: Joint Centre for Asia Pacific Studies. p. 137
- ↑ Sir Charles Eliot (4 de janeiro de 2016). Hinduism and Buddhism: An Historical Sketch. [S.l.]: Sai ePublications & Sai Shop. pp. 1075–. GGKEY:4TQAY7XLN48
- ↑ Wu 1950, p. 463.
- ↑ Allsen 2001, p. 183.
- ↑ Allsen 2001, p. 179.
- ↑ Kerr, Rose. Chinese Ceramics; Porcelain of the Qing Dynasty 1644–1911, 1986, reprinted 1998, V&A Publications, ISBN 1851772642
- ↑ Fournier, Robert, Illustrated Dictionary of Practical Pottery (Van Nostrand Reinhold, 1973) ISBN 0-442-29950-8
- ↑ Hamer, Frank, and Hamer, Janet, The Potter's Dictionary of Materials and Techniques (A&C Black/University of Pennsylvania Press, 2004) ISBN 0-8122-3810-9
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Bernardo, Hernani de Barros (1970). Considerações acerca de alguns vocábulos portugueses. Lisboa: Edição da Revista de Portugal
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Media relacionados com Dinastia Yuan no Wikimedia Commons