Ditadura benevolente – Wikipédia, a enciclopédia livre

Uma ditadura benevolente é um governo em que um líder autoritário exerce poder político absoluto sobre o estado, mas é percebido como fazendo isso em benefício da população como um todo, contrastando com o estereótipo decididamente malévolo de um ditador que se concentra em seus apoiadores e interesses próprios. Um ditador benevolente pode permitir a existência de algumas liberdades civis ou tomada de decisão democrática, como por meio de referendos públicos ou representantes eleitos com poder limitado, e muitas vezes faz preparativos para uma transição para uma democracia genuína durante ou após seu mandato. Pode ser visto como uma forma republicana de despotismo esclarecido.

Características

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O uso moderno do termo em uma sociedade mundial onde a norma se inclina muito mais para a democracia pode ser rastreada até John Stuart Mill em seu clássico A Liberdade (1869). Embora ele tenha argumentado a favor dos direitos democráticos para os indivíduos, ele abriu uma exceção para o que chamou de países em desenvolvimento de hoje:[1]

Podemos deixar de lado aqueles estados atrasados da sociedade em que a própria raça pode ser considerada como estando fora da idade. O despotismo é [...] legítimo [...] no trato com os bárbaros, desde que o fim seja o seu aperfeiçoamento [...]. A liberdade [...] não se aplica a nenhum estado de coisas anterior ao tempo em que a humanidade se tornou capaz de ser melhorada por uma discussão livre e igualitária.

O "ditador benevolente" também era uma retórica popular no início do século XX como um suporte para as decisões coloniais. O oficial colonial britânico Malcolm Hailey, o 1º Barão Hailey disse na década de 1940: "Uma nova concepção de nosso relacionamento... pode surgir como parte do movimento para a melhoria dos povos atrasados do mundo." Hailey concebeu o desenvolvimento econômico como uma justificativa para o poder colonial.[2]

Na língua espanhola, o trocadilho dictablanda é às vezes usado para designar uma ditadura que conserva algumas das liberdades e mecanismos da democracia. Analogamente, o mesmo trocadilho é feito em português como "ditabranda" ou "ditamole". Em fevereiro de 2009, o jornal brasileiro Folha de S.Paulo publicou um editorial classificando a ditadura militar no Brasil (1964-1985) como uma "ditabranda", causando controvérsia.[3]

Mancur Olson caracterizou os ditadores benevolentes como "não como o lobo que caça os alces, mas mais como o fazendeiro que garante que seu gado seja protegido e receba água".[4]

Referências

  1. «Benevolent Autocrats» (PDF) (em inglês). Consultado em 2 de setembro de 2021 
  2. Easterly, William (2010). «Democratic Accountability in Development: The Double Standard». Social Research (4): 1075–1104. ISSN 0037-783X. Consultado em 2 de setembro de 2021 
  3. Ribeiro, Igor (25 de fevereiro de 2009). «A "ditabranda" da Folha». Portal Imprensa. Consultado em 2 de setembro de 2021. Arquivado do original em 1 de fevereiro de 2012 
  4. Olson, Mancur (setembro de 1993). «Dictatorship, Democracy, and Development». American Political Science Review (em inglês) (3): 567–576. ISSN 0003-0554. doi:10.2307/2938736. Consultado em 2 de setembro de 2021