Edmundo Bittencourt – Wikipédia, a enciclopédia livre
Edmundo Bittencourt | |
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Nascimento | 5 de fevereiro de 1866 Santa Maria |
Nacionalidade | brasileiro |
Morte | 16 de outubro de 1943 (77 anos) Rio de Janeiro |
Ocupação | Advogado, jornalista |
Educação | Faculdade Nacional de Direito |
Cônjuge | Amália Muniz Freire |
Filho(s) | Paulo Bittencourt Aloísio Bittencourt |
Atividade | 1880 – 1928 |
Edmundo Bittencourt (Santa Maria, 5 de fevereiro 1866 — Rio de Janeiro, 16 de outubro de 1943) foi jornalista e advogado brasileiro, um dos nomes mais importantes no cenário jornalístico da Primeira República Brasileira.
Primeiros anos
[editar | editar código-fonte]Nasceu na pequena propriedade rural de seus pais, próximo de um povoado chamado Pau Fincado, no então município gaúcho de Santa Maria da Boca do Monte; era filho de Manuel Lopes Bittencourt e Maria Francisca Bittencourt.[1]
Quando ele tinha quatro anos de idade o pai, doente, viu-se forçado a vender o sítio e mudar-se para Porto Alegre, onde faleceu dois anos mais tarde, em 1872; quando o garoto tinha de sete para oito anos foi matriculado, na capital rio-grandense, numa escola pública a fim de fazer o curso primário; revelou desde cedo denodo no estudo e mais tarde foi para o colégio do então afamado educador Hilário Ribeiro que, contudo, foi forçado a abandonar.[1]
Aos treze anos, com a mãe viúva, viu-se obrigado a trabalhar a fim de auxiliar na mantença familiar, e por isso largou a escola; em tempos em que não havia a máquina de escrever, serviu-se de suas qualidades caligráficas, sendo contratado como copista no meio jurídico – servindo a grandes firmas advocatícias para passar a limpo suas petições e arrazoados, até que o escritório dos bacharéis Severino de Freitas Prestes e Antônio Lara de Fontoura Palmério o contratou com exclusividade para este serviço.[1]
Foi o Dr. Severino quem, um dia, perguntou-lhe se queria estudar e, com a resposta afirmativa, ele foi então matriculado no Ginásio São Pedro, de Aurélio Benigno de Castilhos; ali voltou a destacar-se, apesar de não ter recursos para adquirir os livros.[1]
Ao fim da sua formação inicial candidatou-se na Tesouraria Provincial ao cargo de amanuense, ao qual foi aprovado apesar de não contar com alguma proteção política; foi o seu chefe na repartição quem, vendo seu potencial, pediu-lhe que fizesse alguns artigos acerca da colonização da então província e ele, assim, publica pelo no jornal A Reforma, pertencente ao Partido Liberal, atraindo a atenção de seus líderes, em especial o já consagrado Gaspar Silveira Martins.[1]
Martins então, encontrando-o na redação, perguntou-lhe pelos estudos e ele narrou sua condição de pobreza; o líder então mandou-lhe que tirasse licença por um ano no emprego para iniciar os estudos jurídicos e, objetado se isto não seria onerar os cofres públicos, o líder liberal respondera-lhe que era obrigação da Província “proteger os seus filhos diletos”.[1]
Mocidade e trabalho
[editar | editar código-fonte]Saindo do estado natal acabou por perder o título que lhe dava o direito ao recebimento do salário e, ao cabo de três meses em Campinas havia conseguido emprego no Colégio Culto à Ciência daquela cidade paulista, para onde se mudara, e escreveu ao Rio Grande dispensando os pagamentos que nunca recebera.[1]
Apesar de ter recomendações do político Martins a professores da faculdade paulistana de direito, não se matriculou ali contudo, preferindo trabalhar no Banco da Lavoura e Comércio do Estado de São Paulo que tinha filial na então capital do país, o Rio de Janeiro, para onde mudou-se por um breve período pois fora logo transferido para a matriz paulistana pouco tempo depois, em 1889; mas ele se demitiu e retornou ao Rio onde, obtendo uma provisão, passou à condição de “solicitador forense” e foi trabalhar no escritório de Rui Barbosa e Sancho de Barros Pimentel.[1]
Por sugestão de Rui e Pimentel, matriculou-se na Faculdade Nacional de Direito onde concluiu o curso em apenas dois anos; segundo Cândido Mendes de Almeida, que lhe fora professor, o aluno “fizera época” enquanto ali esteve, debatendo as doutrinas e teorias com os catedráticos; no escritório de Rui veio a consagrar-se ele próprio como advogado.[1]
A corrupção no meio jurídico encontrou nele um ferrenho combatente, escrevendo artigos em que denunciava a venalidade de advogados e juízes, conquistando inimizades; neste período inicial da República colaborou em vários jornais cariocas, sendo mais frequente em A Imprensa, que pertencia a Rui.[1]
Casou-se a 23 de maio de 1890 com Amália Muniz Freire, com quem teve dois filhos: Paulo Bittencourt e Aloísio, que morreu cedo.[1]
O “Correio da Manhã”
[editar | editar código-fonte]A 15 de junho de 1901 fundou, ao lado de Manuel Vitorino e Leão Veloso o jornal que marcaria sua trajetória: o Correio da Manhã, com o objetivo de fazer oposição ao governo Campos Sales que, como o próprio admitiria em seu livro “Da propaganda à Presidência”, havia cooptado os outros jornais; a publicação logo reúne grandes nomes das letras e do jornalismo.[1]
Sem abandonar por completo o direito ao dedicar-se integralmente ao jornalismo, colaborou na elaboração de uma Lei de Falências que, mais tarde, serviria de base à que fora criada pelo Congresso.[1]
Em decorrência de uma campanha que iniciara no periódico na questão de saúde pública da venda de carnes ele convidara o então recém-chegado da Europa e iniciante na sua clínica o médico Oswaldo Cruz que, entretanto, acreditando tratar-se de questão política, negou-se a dar um parecer.[1]
Duelo, tentativa de homicídio e prisões
[editar | editar código-fonte]Durante as administrações de Campos Sales, Rodrigues Alves, Afonso Pena, Hermes da Fonseca e começo do de Wenceslau Brás, Bittencourt empreendeu forte campanha contra o senador Pinheiro Machado.[1]
O político governista, então, acreditando amedrontá-lo, desafiou-o publicamente para um duelo com pistolas, na qual era exímio atirador – mas Edmundo aceitou o embate; o desafiante então levara por testemunhas a Hermes da Fonseca e Ramiro Barcelos; Bittencourt fora acompanhado os colaboradores e amigos Vicente Piragibe e Osmundo Pimentel.[1]
Ambos erraram seus primeiros disparos e Edmundo exigiu que fossem aos segundos; errou novamente, mas Pinheiro Machado o feriu gravemente; ele foi então socorrido por um médico presente e sobreviveu, continuando seu afã de denunciar as mazelas dos governos.[1]
Durante o governo de Hermes da Fonseca o "Correio" havia denunciado que um sobrinho do senador, chamado Antônio Pinheiro Machado, mesmo sendo funcionário público, havia morado ilegalmente na Europa e recebido salário como se no serviço estivesse; o denunciado, então, atira contra Bittencourt em um restaurante, ferindo-o no pulso; apesar de sua intenção ser a morte do diretor do jornal, foi acusado por lesão leve e, julgado, foi absolvido.[1]
Ele próprio, contudo, foi preso durante o governo daquele presidente, e em outras tantas ocasiões, por sua postura crítica aos governos da Velha República, como o de Epitácio Pessoa; e após o Levante de 5 de julho de 1922, ficou preso em quartéis e em cárceres de navios.[1]
Últimos anos
[editar | editar código-fonte]Edmundo aposentou-se em 1928, passando o comando do seu jornal Correio da Manhã ao seu filho Paulo Bittencourt, que iniciou um período de reformulação editorial e renovação tecnológica do jornal.[2][3] Apesar de sua aposentadoria, ela não o impediu a emprestar seu apoio à Revolução de 1930; aos 70 anos, por ocasião das comemorações do Centenário Farroupilha em 1935, retornou ao Rio Grande e visitou pela última vez o local de seu nascimento, em Santa Maria.[1]
Com a idade sua saúde se fragilizara bastante, mas seu estado agravou-se quando foi atropelado por um bonde na Praça Paris; ele então, depois de tratar-se e ter uma recuperação razoável, passou a morar mais tempo em Teresópolis do que na capital.[1]
Bittencourt havia feito uma operação na Santa Casa de Saúde de São Sebastião mas, ao contrário do que se esperava, não se recuperou, vindo a falecer à 5h da madrugada de 16 de outubro, naquele nosocômio; o corpo foi então levado à sua residência em Copacabana, onde foi velado.[1]
O sepultamento ocorreu em cerimônia simples, a seu pedido, no Cemitério de São João Batista, com a presença de autoridades e populares.[1]
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w Redação da revista (1 de janeiro de 1944). Disponível em Hemeroteca digital da Biblioteca Nacional do Brasil. «Edmundo Bittencourt». Rio de Janeiro: Estabelecimento de Artes Gráficas C. Mendes Júnior. Almanaque do Correio da Manhã. I (nº 1/1944): pág. 2-20
- ↑ Daiana Maciel Areas (2013). O governo JK nas páginas do Correio da Manhã (1956-1961) (PDF) (Dissertação de Mestrado). São Gonçalo: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Formação de Professores de São Gonçalo, Programa de Pós-graduação em História Social. Consultado em 23 de julho de 2020
- ↑ «MORREU PAULO BITTENCOURT» (PDF). jornal Correio da Manhã, disponível na Hemeroteca da Biblioteca Nacional. 3 de agosto de 1963. pp. 1–2. Consultado em 18 de abril de 2024
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. 4. ed. São Paulo: Mauad Editora, 1999. 501p. ISBN 85-85756-88-8 ISBN 978-85-85756-88-8