Eugénio Vaz Pacheco do Canto e Castro – Wikipédia, a enciclopédia livre

Eugénio Vaz Pacheco do Canto e Castro
Eugénio Vaz Pacheco do Canto e Castro
Eugénio Pacheco (retrato de Almeida Júnior).
Nascimento 8 de novembro de 1863
Ponta Delgada
Morte 28 de julho de 1911 (47 anos)
Ponta Delgada
Cidadania Portugal, Reino de Portugal
Alma mater
Ocupação professor, político, cientista, jornalista

Eugénio Vaz Pacheco do Canto e Castro (Ponta Delgada, 8 de Novembro de 1863 — Ponta Delgada, 28 de Julho de 1911), mais conhecido simplesmente por Eugénio Pacheco, foi um intelectual e político açoriano, defensor das causas republicana e autonomista, que desenvolveu intensa e variada acção nos domínios da investigação científica, da pedagogia e do jornalismo de intervenção político-social.[1][2][3][4]

Eugénio Pacheco nasceu na Casa dos Pachecos, na freguesia de São Pedro da cidade de Ponta Delgada, filho de João Silvério Vaz Pacheco de Castro e de Emília Carolina do Canto, um casal ligado às melhores famílias da aristocracia micaelense. Foi sobrinho de Eugénio do Canto (1836-1915).[5]

Após concluir os estudos secundários em Ponta Delgada, matriculou-se no curso de Filosofia Natural da Universidade de Coimbra, onde se formou no ano lectivo de 1886.[6] Concluído o curso partiu para Paris, onde realizou um estágio de aperfeiçoamento em Mineralogia, permanecendo cerca de um ano em França. Esta estadia coincidiu com o período em que o seu tio José do Canto se encontrava em Paris.

Em 1888 regressou à ilha de São Miguel, sendo nesse mesmo ano nomeado professor do Liceu Nacional de Ponta Delgada, de que seria reitor entre 1890 e 1894, iniciando uma carreira docente que manteria durante toda a sua vida.[7]

Nos anos seguintes, a par da sua actividade pedagógica, creditou-se como investigador na área da História Natural, em particular no campo da petrologia e mineralogia, e como jornalista e político.[2]

No campo da mineralogia e da petrologia dirigiu a Secção de Geologia e Mineralogia do então Museu Municipal de Ponta Delgada, o actual Museu Carlos Machado, instituição cuja comissão administradora e protectora integrou a partir de 1890 por nomeação da Câmara Municipal de Ponta Delgada. Também no Liceu Nacional de Ponta Delgada, onde era docente, montou um laboratório destinado a executar análises químicas e microscópicas de minerais, no qual graciosamente integrou o material que adquirira para uso próprio em Coimbra e em Paris.[1]

O seu interesse pelas questões mineralógicas e petrológicas das rochas micaelenses levou a que realizasse diversos estudos que foram pioneiros nesses campos em Portugal, com destaque para a análise microscópica de rochas. Uma memória sobre as características microscópicas de rochas das ilha de São Miguel que publicou em 1888 foi a primeira publicação portuguesa sobre microscopia de rochas.[8]

No seu trabalho de investigação e divulgação científica no campo da geologia, mineralogia e petrologia, manteve correspondência sobre temas científicos com alguns dos mais relevantes cientistas portugueses, espanhóis e franceses do seu tempo, nomeadamente com Nery Delgado, Paul Choffat, Francisco Quiroga, Alfred Lacroix e Ferdinand Fouqué. Por proposta de Fouqué foi feito membro da Sociedade Francesa de Mineralogia (Société française de minéralogie).[1]

Demonstrou grande interesse pelo publicismo, apoiando a criação e a produção de numerosos periódicos, nos quais deixou valiosa colaboração. Foi fundador, proprietário, redactor, impressor e administrador do jornal O Preto no Branco, foi redactor do periódico Autonomia dos Açores e colaborador de vário periódicos, entre os quais o Archivo dos Açores, O Norte (da Ribeira Grande), O Novo Micros, o Diário de Annúncios e o O Localista.[1]

Nas suas colaboração para periódicos, que na maior parte aparecem assinadas como Eugénio Pacheco, tratou questões diversas, nomeadamente, etnográficas, filosóficas, históricas, linguísticas, literárias, pedagógicas, entre outras. Assumiu a defesa de alguns temas politica e socialmente complexos, entre os quais a criação de cooperativas de consumo e de sindicatos agrícolas, a regulação do crédito rural e a criação do ensino agrícola elementar. Também participou no debate sobre a emigração e a falta de braços para a agricultura, temática muito querida das elites terratenentes micaelenses e terceirenses da época, defendendo a protecção aos emigrantes contra contractos ilegais. No campo da educação, defendeu o alargamento do ensino técnico e a instituição de subsídios a estudantes pobres. Alguma dessa colaboração foi editada sob a forma monográfica.[1]

Teve participação activa no primeiro movimento autonomista da década de 1890, aliado a monárquicos próximos do Partido Progressista e a alguns republicanos.[9] Com o andar do tempo foi evoluindo para a causa republicana, o que aliado ao seu estilo jornalístico crítico da vida política local gerou vários conflitos e inimizadas na sociedade micaelense.[10] Também neste período, dedicou-se à promoção do turismo, sendo um dos fundadores, com E. F. Travassos, M. F. Cordeiro e A. J. Fernandes, da Sociedade Propagadora de Notícias Micaelenses.[11][12]

Em comissão de estudo patrocinada pelo então Presidente do Conselho de Ministros, o micaelense Ernesto Hintze Ribeiro, partiu em Outubro de 1902 para Boston, Estados Unidos da América, com a tarefa de conhecer os laboratórios de línguas da Universidade de Harvard. Apesar de não ter sido bem sucedido e a estada em Boston ter sido curta, entre 14 de Fevereiro e 16 de Maio de 1903 publicou semanalmente em Cambridge, Massachusetts os 13 números do jornal Açores-América, periódico que tinha por objectivo a promoção sócio-cultural dos açorianos emigrados na Nova Inglaterra e a promoção dos ideais republicanos. Nesse periódico teve a importante colaboração do médico e poeta Garcia Monteiro, de origem faialense, tendo sido relevante a propaganda a favor das ideias e iniciativas visando o progresso da colónia açoriana ali emigrada.

Terminada a sua permanência em Boston, em 1903 fixou-se em Lisboa, onde passou a leccionar. Regressou a Ponta Delgada, onde faleceu pouco depois.

Na toponímia da cidade de Ponta Delgada existe a «Rua Doutor Eugénio Pacheco».

Obras publicadas

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Para além de muitos outros textos dispersos pelos periódicos da época, com destaque para O Preto no Branco de que foi proprietário e editor, é autor das seguintes publicações:

  • (1886) "Do logar do homem na natureza" in O Instituto, vol. 33, 11: 572-586.
  • (1887) "Do logar do homem na natureza" in O Instituto, vol. 34, 1: 29-41, 2: 86-96 (incompleto).
  • (1887) "Note sur les propriétés optiques de quelques minéraux des roches de l'archipel açoréen" in Bulletin de la Société française de minéralogie, vol. 10, pp. 303–313.
  • (1888) Recherches micrographiques sur quelques roches de l'Île de San Miguel. Imprensa Nacional, Lisboa.
  • (1890) Ensaio critico sôbre a bibliographia geológica dos Açores e nomeadamente de S. Miguel. Ponta Delgada, Typ. do Archivo dos Açores (separata do Arquivo dos Açores, vol. 11, pp. 268–303).
  • (1891) Annuario do Lyceu Nacional de Ponta Delgada para o anno de 1890 a 1891, seguido dalguns documentos para a Historia da Instrucção Publica em São Miguel. Ponta Delgada, Typ. do Archivo dos Açores.
  • (1892) Resposta à consulta do governo de 22 de Fevereiro de 1892 - sobre os serviços dos Lyceus. Ponta Delgada, Typ. do Campeão Popular.
  • (1893) Regulamento interno da Sociedade Cooperativa Michaelense, approvado nas sesões da Direcção dos dias 18 e 20 de Junho de 1893. Ponta Delgada, Tipografia Minerva.
  • (1893) Carta à Snrª D. Alice Moderno ácerca da autonomia dos Açores datada de 29-XI-1893. Ponta Delgada, Tip. Minerva.
  • (1894) A Philosophia da Natureza dos Naturalistas. Ponta Delgada, Typ. do Campeão Popular.
  • (1895) Escravatura Branca. Ponta Delgada, Tip. Elzeviriana.
  • (1896) "Discurso comemorativo", in Magalhães, L. e Lima, J. M. (editores), Antero de Quental - In Memoriam. Porto, Ed. Genelioux e Lugan: 337-348.
  • (1897) Tombo Michaelense - Documentos referentes à ilha de São Miguel, vol. I [e único]: Junta Governativa de 1846. Ponta Delgada.
  • (1898) Consulta sobre a reforma do ensino secundário pela commissão do Lyceu de Ponta Delgada. Ponta Delgada, Typ. de Eugénio Pacheco.
  • (1898) Esboço de uma analyse psycologica (O capitão Chaves). São Miguel, Tipo-litografia Ferreira (separata de A Actualidade, 47).
  • (1899) Estudos gerais II - Orthographia e Majusculação. Ponta Delgada, Imp. de Eugénio Pacheco (separata de O Preto no Branco, 160-161).
  • (1899) Dos impossíveis em Philosophia Natural. Ponta Delgada, Imp. de Eugénio Pacheco.
  • (1899) Crítica dum livro - Os alienados nos Açores. Ponta Delgada, Imp. de Eugénio Pacheco.
  • (1899) Pontos nos ii (análise crítica do "Açores Médico" do Prof. Miguel Bombarda). Coimbra, Tip. França Amado.
  • (1899) A propósito do catálogo da Antheriana (carta à redacção do Heraldo). Ponta Delgada.
  • (1899) Noções sintéticas de Física Positiva. Ponta Delgada.
  • (1899) S. A. S. o Príncipe de Mónaco e os seus serviços à causa açoriana. S. Miguel, Tip. Ferreira.
  • (1901) A cal e as febres typhoides. Carta aos Exmos. Redactores do Archivo Medico dos Açores. Ponta Delgada, Tip. do Localista.
  • (1905) The Tokyo Imperial University calendar. Lisboa, Imp. Nacional (separata do Boletim da Direcção Geral da Instrução Pública, I-III)

Notas

  1. a b c d e «Nota biográfica de Eugénio Pacheco na Enciclopédia Açoriana». www.culturacores.azores.gov.pt .
  2. a b Aníbal Cymbron de Bettencourt Barbosa, "Eugénio Vaz Pacheco do Canto e Castro (Eugénio Pacheco)" in João Hickling Anglin, Novas leituras para os meus alunos, pp. 39-45. Ponta Delgada, Tip. do Correio dos Açores, 1954.
  3. Ernesto Ferreira, "O arquipélago dos Açôres na História das ciências". Separata de Petrus Nonius, I. Lisboa: Bertrand, 1937.
  4. Ernesto Ferreira, Estudos filosóficos nos Açores. Separata de Petrus Nonius 5-7, Lisboa, 1940.
  5. Eugénio do Canto (1836-1915).
  6. J. B. Melo, "Açorianos na Universidade de Coimbra de 1853 até 1891". Archivo dos Açores, XI (1890): 417.
  7. Maria do Carmo Martins & Helena Sousa Melo, "O papel de Eugénio do Canto e de Eugénio Pacheco no Liceu de Ponta Delgada, ilha de São Miguel, Arquipélago dos Açores", in suplemento do Boletim da SPM, n.º 71, Dezembro 2014, pp. 14-16.
  8. Recherches micrographiques sur quelques roches de l'Île de San Miguel. Lisboa, Imprensa Nacional, 1888.
  9. Biografia de Eugénio Pacheco (1863-1911) - republicano e autonomista açoriano.
  10. M. Mesquita, "Eugénio Pacheco, uma concepção singular da autonomia" in Actas do Congresso do I Centenário da Autonomia dos Açores, vol. 2 ("A Autonomia no Plano Sócio-cultural"), pp. 145-172. Ponta Delgada, Jornal de Cultura, 1995.
  11. "Sociedade Propagadora de Notícias Michaelenses", in A Actualidade, Revista dos Açores Illustrada – Jornal de Domingo, 1.° ano, n° 31, maio 1, n.° 32, maio 15, 1898, pp. 86, 87 e 92.
  12. Enciclopédia Açoriana: Sociedade Propagadora de Notícias Micaelenses.

Ligações externas

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