Farmácia Popular do Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Se procura a farmácia mais antiga do Brasil e museu da cidade de Bananal, veja Pharmácia Popular.
Programa Farmácia Popular
Tipo de projeto Distribuição de medicamentos
Localização  Brasil
Proprietário
Fundação 13 de abril de 2004 (21 anos)
Financiamento Brasil Governo Federal
Website «Sítio oficial» 

Programa Farmácia Popular ou simplesmente Farmácia Popular, oficialmente denominado Programa Farmácia Popular do Brasil (PFPB),[1][2] é um programa do Governo Federal Brasileiro que visa complementar a disponibilização de medicamentos utilizados na Atenção Primária à Saúde.[1][2][3]

O Farmácia Popular é desenvolvido em parceria com prefeituras, governos estaduais, órgãos e instituições públicas ou privadas sem fins lucrativos de assistência à saúde, cujo propósito é oferecer medicamentos de uso comum a preços reduzidos.[1] O Programa Farmácia Popular está presente em 85% das cidades brasileiras, o que equivale a 4,7 mil municípios, conta com mais de 31 mil estabelecimentos credenciados e tem capacidade para atender 96% da população brasileira.[4] Em 2024, atendeu 24,7 milhões de pessoas.[5][6]

Em 13 de abril de 2004, por meio da Lei nº 10.858/2004,[2][7] a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) foi autorizada a distribuir medicamentos, mediante o ressarcimento de seus custos, com vistas a assegurar à população o acesso a produtos básicos e essenciais a baixo custo, diminuindo, assim, o impacto do preço dos remédios no orçamento familiar.[2][3]

Em 20 de maio de 2004, foi instituído o Programa Farmácia Popular do Brasil, por meio do Decreto n.º 5.090/2004,[8] cujo foco principal era a implantação da rede Farmácia Popular em parceria com governos estaduais e municipais, para a instalação de unidades do programa em locais estratégicos, por meio de convênios com a Fiocruz, tendo com interveniente o Ministério da Saúde.[2][3] O Programa cumpre uma das principais diretrizes da Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF).[2][3][9]

Na primeira fase do Programa, foi implementada uma rede estatal de farmácias diretamente pela Fiocruz ou em parceria da Fiocruz com municípios, estados e instituições de ensino públicas ou privadas filantrópicas, no que foi designado como Rede Própria. As prefeituras recebiam recursos do Ministério da Saúde para montar a estrutura física da farmácia. E, após a inauguração, as prefeituras recebiam verbas para contratação de funcionários para o atendimento e de farmacêuticos e manutenção do programa e o Governo Federal subsidia o valor de alguns medicamentos.[10]

A partir de 2006, o PFPB se expandiu mediante parcerias com as farmácias privadas por meio do Programa "Aqui Tem Farmácia Popular" (ATFP), no qual ocorre o credenciamento de estabelecimentos por interesse dos empresários. Da mesma forma que na Rede Própria, também é exigido um padrão de identidade visual nos estabelecimentos farmacêuticos, devendo ser exibidas peças publicitárias que identifiquem seu credenciamento ao Programa, com logomarca específica.[10] Por meio do Farmácia Popular, foram ofertados medicamentos com preços mais baixos, com desconto de até 90% para os usuários.[10]

Em 2011, com a instituição do “Saúde Não Tem Preço”, o programa passou a ofertar medicamentos gratuitos indicados para o tratamento de hipertensão, diabetes (ampliado em 2012 para asma). Outros tratamentos continuaram a ser ofertados em formato de copagamento, com até 90% de desconto.[11]

Em dezembro 2017, a Rede Própria foi encerrada por decisão da Comissão Intergestores Tripartite. Até então, a RP contava com 467 farmácias em todo o país.[11]

Com o relançamento do programa em 2023,[4] foram inclusos novos medicamentos gratuitos, como para osteoporose e anticoncepcionais. Em julho de 2024, a gratuidade foi estendida para tratamento de colesterol alto, doença de Parkinson, glaucoma e rinite.[12]

A partir de janeiro de 2024, o Farmácia Popular passou a disponibilizar gratuitamente absorventes para estudantes da rede pública de baixa renda, pessoas em situação de rua ou em vulnerabilidade extrema, como parte do Programa de Proteção e Promoção da Saúde e Dignidade Menstrual.[13]

Em fevereiro de 2025, o Ministério da Saúde anunciou a gratuidade sobre 41 medicamentos e itens, contra diabetes, asma, hipertensão, osteoporose, anticoncepção, colesterol alto, rinite, doença de Parkinson, glaucoma, e incontinência, além de fraudas geriátricas e produtos para dignidade menstrual.[6]

Características

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O objetivo do programa é, segundo o Ministério da Saúde, ampliar o acesso da população aos medicamentos considerados essenciais, oferecendo tais medicamentos a preços reduzidos. Os medicamentos são adquiridos pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),[2] em laboratórios farmacêuticos públicos (como FURP) ou do setor privado. A Fiocruz disponibiliza os medicamentos às Farmácias Populares sem custo algum, onde são vendidos em farmácias próprias, ou ainda em farmácias da iniciativa privada, onde o comprador informa o CPF para o DATASUS no ato da compra. A redução de preços é possível graças a isenção de impostos e a aplicação de subsídios, por parte do Governo. Em média, os medicamentos são vendidos com preços 85% menores do que as farmácias comuns.[14]

Para a obtenção dos medicamentos e itens do Farmácia Popular, o paciente deve comparecer a um estabelecimento credenciado (identificado pela logomarca do Programa Farmácia Popular do Brasil) e apresentar os seguintes documentos: documento oficial com foto e número do CPF ou documento de identidade em que conste o número do CPF, além de receita médica dentro do prazo de validade, tanto do SUS quanto de serviços particulares.[15]

A principal crítica ao programa[16][17] é o fato dos medicamentos serem vendidos, enquanto a constituição brasileira garante a todos os cidadãos do país saúde pública, ou seja, garante que os medicamentos devem ser distribuídos gratuitamente. Além disso, defensores de uma visão liberal argumentam que o programa poderia ser executado exclusivamente por convênios com as farmácias já existentes da rede privada (o que já ocorre parcialmente) e não na constituição de estabelecimentos públicos geridos pelas prefeituras. Os críticos alegam que criou-se uma "farmaciabras" sem necessidade, e que sairia mais em conta para o poder público simplesmente dar gratuitamente, através da rede do SUS, os medicamentos que são vendidos com descontos de 50 a 90% em cada estrutura específica.[carece de fontes?]

Custo-efetivo

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Dados de pesquisa que monitorou os resultados do programa Aqui Tem Farmácia Popular entre 2006 e 2012 revelaram que o subsídio oferecido pelo programa evitou cerca de 240 mil das hospitalizações (cerca de 17%) que poderiam ter ocorrido por conta do diabetes tipo 2, gerando uma economia de custos na faixa dos 13%.[18] De acordo com a pesquisa, o impacto é percebido especialmente entre as camadas mais pobres e mais vulneráveis. Segundo os dados analisados, o programa foi considerado custo-efetivo, o que significa que seu custo compensa o benefício causado.

Governo Dilma

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Em 2015, o governo Dilma anunciou cortes no programa.[19][20][21] O corte afetaria 11 itens, incluindo fraldas geriátricas, com opções para os tratamentos de glaucoma, mal de Parkinson, osteoporose, rinite e colesterol.[22] Apesar do corte, o Ministério do Planejamento garantiu que não haveria impacto no funcionamento do programa.[21][23]

Governo Temer

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Em 2017, o governo Temer anunciou cortes no programa, deixando de atender cerca de 7 milhões de pessoas.[24] No mesmo ano, foram fechadas farmácias federais em cidades e bairros de baixa renda, na época, o Ministério da Saúde afirmou que 80% dos R$ 100 milhões gastos com a rede própria correspondiam a custos administrativos, e não a medicamentos.[24] Entre 2016 e 2018, o número de pessoas atendidas caiu de 28,8 milhões, para 21,6 milhões.[24] Suspeitas de fraude e investigações do Tribunal de Contas da União (TCU) colaboraram para a redução orçamentária.[24][17][25]

Governo Bolsonaro

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Em 2022, o governo Bolsonaro cortou em 59% o orçamento do programa Farmácia Popular para garantir o orçamento secreto de 2023.[26][27] Com a repercussão negativa, Bolsonaro mandou o orçamento ser recomposto pelos ministros da Saúde e Economia,[28][29][30] que informaram que o corte visa respeitar o teto de gastos[28][31] e que o orçamento ainda está aberto para novas revisões de cortes e gastos.[32][33] O corte de orçamento deve ser revisto e ainda precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional,[34] podendo ser revertido apenas após as eleições.[35]

Em 2023, o Congresso anunciou cortes no orçamento de programas sociais para garantir um valor recorde de orçamento secreto.[36]

Em 2024, o governo Lula anunciou cortes e congelamentos no orçamento do programa Farmácia Popular por conta do congelamento de gastos no Orçamento da União.[37][38][39][40] Apesar do corte, o Ministério da Saúde garantiu que não haveria impacto no funcionamento do programa nem na sua projeção de crescimento.[41][42]

Referências

  1. a b c «Sobre o Programa Farmácia Popular». Ministério da Saúde. Consultado em 19 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 20 de setembro de 2022 
  2. a b c d e f g «PROGRAMA FARMÁCIA POPULAR DO BRASIL - NORMAS E MANUAIS TÉCNICOS» (PDF). Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde (BVS MS) 1.ª ed. Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Editora MS. Dezembro de 2005. ISBN 85-334-0959-1. Consultado em 19 de setembro de 2022 
  3. a b c d «Sobre o Programa». Ministério da Saúde. 15 de março de 2021. Consultado em 15 de março de 2025. Arquivado do original em 9 de julho de 2021 
  4. a b «Após quase uma década, Farmácia Popular retoma credenciamento de novas unidades em municípios prioritários». Ministério da Saúde. Consultado em 15 de março de 2025 
  5. «Farmácia Popular beneficiou mais de 24 milhões de brasileiros em 2024, maior número da série histórica». Agência Gov. Consultado em 15 de março de 2025 
  6. a b «Farmácia Popular: veja os medicamentos oferecidos de graça». G1. 14 de fevereiro de 2025. Consultado em 15 de fevereiro de 2025 
  7. «LEI Nº 10.858, DE 13 DE ABRIL DE 2004». Planalto. 13 de abril de 2004. Consultado em 19 de setembro de 2022 
  8. «DECRETO Nº 5.090, DE 20 DE MAIO DE 2004» (PDF). Ministério da Saúde. 20 de maio de 2004. Consultado em 19 de setembro de 2022 
  9. «Ministério da Saúde destina maior orçamento da história para assistência farmacêutica». Ministério da Saúde. 27 de novembro de 2024. Consultado em 15 de março de 2025 
  10. a b c Silva, Rondineli Mendes da; Caetano, Rosângela (24 de maio de 2018). «Gastos com pagamentos no Programa Aqui Tem Farmácia Popular: evolução entre 2006-2014». Physis: Revista de Saúde Coletiva: e280105. ISSN 0103-7331. doi:10.1590/S0103-73312018280105. Consultado em 15 de fevereiro de 2025 
  11. a b «COPAGAMENTO DOS USUÁRIOS NO PROGRAMA FARMÁCIA POPULAR DO BRASIL: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO DA REDE CONVENIADA» (PDF). 2020. Consultado em 15 de fevereiro de 2020 
  12. Alves, BIREME / OPAS / OMS-Márcio. «Beneficiários do Bolsa Família terão acesso gratuito a todos os medicamentos do Farmácia Popular | Biblioteca Virtual em Saúde MS». Consultado em 15 de fevereiro de 2025 
  13. Maraccini, Gabriela. «Dignidade menstrual: saiba como retirar absorventes gratuitamente pelo SUS». CNN Brasil. Consultado em 15 de fevereiro de 2025 
  14. «FAMEM - Farmácia Popular é alternativa para acesso de camisinhas no carnaval». Consultado em 9 de agosto de 2008. Arquivado do original em 7 de março de 2009 
  15. «Farmácia Popular». Ministério da Saúde. Consultado em 15 de fevereiro de 2025 
  16. «CMI Brasil - manifesto no centro de BH "Em defesa do SUS, contra a farmácia popular"». Consultado em 9 de agosto de 2008. Arquivado do original em 12 de janeiro de 2012 
  17. a b «Entre 2015 e 2020, mais de R$ 2,6 bilhões do Farmácia Popular foram desviados por fraudadores». G1. 16 de maio de 2022. Consultado em 15 de fevereiro de 2025 
  18. «Medicação subsidiada reduz custos com hospitalizações e melhora saúde da população». Blog Impacto - FGV EAESP Pesquisa. 18 de fevereiro de 2021. Consultado em 15 de março de 2021 
  19. «Governo corta verbas de sete programas sociais». O Globo. 18 de outubro de 2015. Consultado em 15 de março de 2025 
  20. «Governo vai cortar Programa Farmácia Popular e tirar dinheiro de UPAs e Samu». Extra Online. 30 de setembro de 2015. Consultado em 15 de março de 2025 
  21. a b «Governo federal anuncia o maior corte no orçamento da história». Jornal da Globo. 23 de maio de 2015. Consultado em 15 de março de 2025 
  22. «Abrafarma quer discutir corte no Farmácia Popular com ministério da Saúde». Extra Online. 11 de outubro de 2015. Consultado em 15 de março de 2025 
  23. «Corte na Saúde chega a R$ 13,47 bilhões e "inviabiliza atendimento do SUS", diz especialista». Jovem Pan. 31 de julho de 2015. Consultado em 15 de março de 2025 
  24. a b c d «Alvo de cortes de Temer, programa Farmácia Popular deixa de atender 7 milhões». Folha de S.Paulo. 9 de abril de 2019. Consultado em 15 de março de 2025 
  25. «Fraudes na Farmácia Popular nos governos Dilma, Temer e Bolsonaro chegam a R$ 2,6 bilhões, diz CGU». Estadão. Consultado em 15 de março de 2025 
  26. «Governo 'tesoura' Farmácia Popular para garantir orçamento secreto em 2023». Portal UOL. 9 de setembro de 2022. Consultado em 9 de setembro de 2022 
  27. «Governo 'tesoura' Farmácia Popular para garantir orçamento secreto em 2023». Estadão. 9 de setembro de 2022. Consultado em 9 de setembro de 2022 
  28. a b «Bolsonaro manda reverter os cortes feitos no orçamento do programa Farmácia Popular». TV Cultura. 14 de setembro de 2022. Consultado em 18 de setembro de 2022 
  29. «Após repercussão negativa de corte no Farmácia Popular, Bolsonaro promete recompor verba em 2023». GZH. 15 de setembro de 2022. Consultado em 19 de setembro de 2022 
  30. «Farmácia Popular: Bolsonaro diz que Congresso irá rever corte de 60% no orçamento». Yahoo Finanças. 15 de setembro de 2022. Consultado em 19 de setembro de 2022 
  31. «Governo avalia recompor orçamento de Farmácia Popular para 2023». CNN Brasil. 14 de setembro de 2022. Consultado em 19 de setembro de 2022 
  32. «Guedes nega cortes no Farmácia Popular e diz que 'é só um desencaixe temporário'». O Globo. 14 de setembro de 2022. Consultado em 19 de setembro de 2022 
  33. Estado', 'Agência (25 de agosto de 2020). «Na mira de Guedes, Farmácia Popular atende 21 milhões de pessoas». Economia. Consultado em 15 de fevereiro de 2025 
  34. «Ministérios correm ao Congresso para recompor cortes no Orçamento de 23»Subscrição paga é requerida. Coluna do Estadão. 15 de setembro de 2022. Consultado em 19 de setembro de 2022 
  35. «Após cortes no Farmácia Popular, Bolsonaro diz que elevação pode ficar para 2023». Folha de S.Paulo. 15 de setembro de 2022. Consultado em 19 de setembro de 2022 
  36. «Congresso faz cortes no Farmácia Popular, vale-gás e Fies para bancar emendas em valor recorde; veja a lista». G1. 22 de dezembro de 2023. Consultado em 15 de março de 2025 
  37. «Farmácia Popular é o programa mais atingido por corte de gastos do governo Lula». UOL. 8 de agosto de 2024. Consultado em 15 de março de 2025 
  38. «Governo bloqueia R$ 1,7 bi do Farmácia Popular e R$ 580 milhões do Auxílio Gás». O Globo. 8 de agosto de 2024. Consultado em 15 de março de 2025 
  39. «Governo Lula corta verba de bolsas de estudo, educação básica e Farmácia Popular». Folha de S.Paulo. 11 de abril de 2024. Consultado em 15 de março de 2025 
  40. «Governo corta orçamento de Bolsa Família, Farmácia Popular e Auxílio Gás em 2025». UOL. 31 de agosto de 2024. Consultado em 15 de março de 2025 
  41. «Orçamento do Farmácia Popular para 2024 continuará maior que dos anos anteriores». Secretaria de Comunicação Social. Consultado em 15 de março de 2025 
  42. «Ministérios dizem que Farmácia Popular e Auxílio Gás não sofrerão com cortes». Gazeta do Povo. Consultado em 15 de março de 2025 

Ligações externas

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