Gabriel Mascaro – Wikipédia, a enciclopédia livre

Gabriel Mascaro
Gabriel Mascaro
Nascimento 24 de setembro de 1983 (41 anos)
Recife,  Pernambuco
 Brasil
Ocupação Cineasta
Artista visual
Cônjuge Rachel Ellis (divorciado) [1]
Página oficial

Gabriel Mascaro (Recife, 24 de setembro de 1983) é um cineasta e artista visual brasileiro.[2][3][4]

Iniciou sua carreira como realizador fazendo documentários em 2008. Dirigiu KFZ-1348 (2008, codirigido por Marcelo Pedroso), Um Lugar ao Sol (2009) e Doméstica (2013). No mesmo ano lançou o curta A Onda Traz, O Vento Leva. No ano seguinte lançou seu primeiro filme de ficção, Ventos de Agosto (2014) e se tornou mais conhecido após o lançamento do seu último filme, Boi Neon (2015). Também realizou uma instalação chamada Não é Sobre Sapatos e uma série fotográfica com o título Desamar [5] . Mascaro tem recebido atenção pela crítica especializada e despertou a curiosidade de curadores de festivais de cinema após estrear Boi Neon no 72 Festival de Veneza,[6] de onde saiu com Prêmio Especial do Júri,[7] em seguida conquistou a menção honrosa[8] em Toronto e 5 prêmios de melhor filme nos festivais do Rio,[9] Varsóvia,[10] Adelaide,[11] Marrocos[12] e Cartagena.[13] No mesmo ano Boi Neon foi o indicado brasileiro ao Goya[14] e nomeado ao Prêmio Fênix[15] em 8 categorias, e terminou recebendo os troféus ibero-americanos de Melhor Roteiro e Melhor Fotografia. Gabriel Mascaro foi convidado de honra do FILM FRA SØR, em Oslo (Noruega), onde teve uma minirretrospectiva. Em dezembro de 2016, Boi Neon entrou na lista dos 10 Melhores Filmes do Ano no New York Times,[16] sendo citado em sexta posição pelo crítico Stephen Holden. Em abril de 2016 Gabriel Mascaro teve sua primeira retrospectiva[17] no Film Society of Lincoln Center, em Nova York (EUA).

Seus trabalhos foram projetados ou exibidos em festivais e eventos como IDFA,[18] Locarno International Film Festival,[19] Rotterdam,[20] La Biennale di Venezia - Mostra Orizzonti, Oberhausen, the Guggenheim,[21] Videobrasil,[22] MACBA- Museu de Arte contemporânea de Barcelona,[23] MoMA,[24] Panorama da Arte Brasileira no MAM-SP[25] e Bienal de São Paulo.[26] Participou das residências artísticas do Videobrasil no Videoformes (FRA)[27] e no Wexner Center for the Arts (EUA).[28]

Em 2019, Mascaro lança o longa de ficção Divino Amor no festival de Sundance e na Berlinale, sendo destacado pelas revistas The Hollywood Reporter[29] e Screen International[30] como um dos melhores filmes de Sundance.

Gabriel Mascaro nasceu em Recife, capital do Estado de Pernambuco, em 24 de setembro de 1983. É graduado em Comunicação Social na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Iniciou sua carreira em 2008 com o documentário KFZ-1348, dividindo a direção com o cineasta Marcelo Pedroso. O filme parte em busca dos ex-donos do fusca de placa KFZ-1348, tendo o carro como fio condutor e a vida de seus proprietários como janela privilegiada para observação da sociedade brasileira. O documentário recebeu o Prêmio Especial do Júri[31] na 32 Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

O filme lançado em seguida, Um Lugar ao Sol (2009), faria sua trajetória avançar para mais festivais internacionais como o BAFICI,[32] Visions du Rèel,[33] e selecionado em mais de 30 festivais internacionais. O documentário aborda o universo dos moradores de coberturas de prédio das cidades de Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Através dos depoimentos desses moradores, o filme traz um rico debate sobre desejo, visibilidade, insegurança, status e poder, e constrói um discurso sensorial sobre o paradigma arquitetônico e social brasileiro. A coluna de crítica do Los Angeles Weekly[34] defende: "Sem forçar, nos provoca a pensar sobre desigualdade, satisfação e esquecimento”. No Brasil, o filme virou polêmica e foi questionado por suas atitudes éticas para com os personagens entrevistados.

Em 2010, Mascaro lançou mais um documentário, Avenida Brasília Formosa. "É um filme sobre políticas públicas de planejamento urbano e o seu desencontro com os sonhos e desejos dos moradores”, critica Carlos Minuano.[35] O filme teve estreia no Festival de Rotterdam na mostra Bright Future, festival que em seguida apoiou o desenvolvimento do seu novo roteiro, o Boi Neon (2015), através do Hubert Bals Fund[36]

Em 2012 lançou o seu documentário mais conhecido, Doméstica. Mascaro entrega a sete adolescentes a missão de registrar por uma semana a sua empregada doméstica e entregar o material bruto para o diretor realizar um filme com essas imagens. O resultado final foi um filme que causou grandes debates entre críticos e pesquisadores. Estrategicamente lançado nos cinemas comerciais no dia do trabalhador, Doméstica foi considerado pela crítica especializada “um documentário histórico”.[37] O filme teve sua première internacional no International Documentary Film Festival Amsterdam[38] na edição de 2012, e recebeu prêmios em festivais nacionais como o de Brasília,[39] Panorama de Cinema[40] e Cachoeiradoc.[41] O crítico do jornal Estado de São Paulo, Luis Carlos Merten, comenta que “Nenhum filme fez tanto como Doméstica para retratar o que já está enraizado no inconsciente dos brasileiros”.[42]

Paralelamente ao longa-metragem, Mascaro lançou o curta A onda traz, o vento leva (2012), documentário que retrata o cotidiano de Rodrigo, um rapaz surdo que trabalha numa equipadora instalando som em carros. O projeto do documentário foi premiado em 2011 pela Fundação ArtAids[43] quando finalizado, o filme foi exibido no Museu de Arte Contemporânea de Barcelona[23] e em vários outros festivais como o IDFA[44] e o Festival de Brasília,[45] de onde saiu com prêmio de melhor montagem.[46]

Seu primeiro longa de ficção foi lançado em 2014. Ventos de Agosto teve sua estreia internacional no Festival de Locarno, recebeu prêmio de melhor filme no Festival Internacional du Film d'Amiens[47] e melhor fotografia e atriz no 47 Festival de Brasília.[48] O filme acompanha Shirley, que deixou a cidade grande para viver em uma pequena e pacata vila litorânea cuidando de sua avó. Ela trabalha numa plantação de coco dirigindo trator e, mesmo isolada, cultiva o gosto pelo punk rock e o sonho de ser tatuadora.

No ano seguinte estreou seu segundo longa de ficção, o Boi Neon (2015), filme coproduzido por produtoras do Uruguai e da Holanda. Boi Neon teve sua estreia internacional no Festival de Veneza, na Mostra Orizzonti,[49] seguiu para o Festival de Toronto[50] e estreou no Brasil no Festival do Rio, de onde saiu com quatro prêmios.[51] No Festival de Marrakech Mascaro recebeu o prêmio de melhor diretor entregue pelas mãos do diretor Francis Ford Coppola, um dos júris do festival[52]

O filme tornou o nome de Gabriel Mascaro mais conhecido entre a crítica internacional e cinéfilos. Declaradamente um fã do filme, o cantor Caetano Veloso escreveu um texto sobre o Boi Neon para publicação na imprensa americana que foi replicado pela Folha de S.Paulo.[53] No texto, Caetano declara que o filme se trata de “uma obra cinematográfica peculiar” e que “se vê o poema dos gêneros e da proximidade entre a vida animal e os humanos que (…) buscam a ascensão social mas também o sublime". O crítico chefe da revista Indiewire, Eric Kohn, descreve o longa como “poético, envolvente e profundamente sensual”, elegendo o filme como “a grande descoberta do Festival de Toronto”,[54] e num segundo artigo provoca sobre a originalidade da obra, intitulando a manchete em: “Como Gabriel Mascaro inventou um novo tipo de cinema”.[55]

Jean-Claude Bernardet, crítico e ator de cinema, cita em uma entrevista Boi Neon como um contraponto a um tipo de filme, cada vez mais frequente, que dá todas as respostas ao público. “Hoje há muitos roteiristas que querem explicar tudo, porque o personagem fez isso ou aquilo, porque ele virou a esquina. Não se trabalha suficientemente a elipse e a justaposição, criando rela­ções explí­citas entre as cenas”,[56] pontua.

A repercussão gerada pela crítica fez com que aumentasse a curiosidade a cerca da filmografia do diretor. Em abril de 2016, o curador Dennis Lim organizou no Lincoln Center (Nova Iorque) uma retrospectiva[57] chamada “Ebbs and Flows” com todos os longas de Mascaro feitos a partir de Um Lugar ao Sol. O Boi Neon foi exibido durante o festival New Directors/New Films,[58] também no Lincoln Center.

No Brasil, Gabriel Mascaro faz parte de uma recente geração de realizadores que acaba de se destacar no circuito internacional, sendo precedido por nomes como Kleber Mendonça Filho, Marcelo Gomes, Cláudio Assis (ambos também do Estado de Pernambuco) e Karin Ainouz. Pernambuco ficou conhecido no mapa internacional da cultura pela sua forte cena musical dos anos 90, com o movimento chamado Manguebeat. No momento, o estado vive uma expressiva e crescente cena do cinema independente.

Em janeiro de 2019 Mascaro lançou nos festvais de Sundance e Berlinale o filme Divino Amor, que foi destaque na revista The Hollywood Reporter como um dos melhores filmes de Sundance. A publicação afirmou que Divino Amor é “uma parábola sobre nosso tempo”[59]. A revista Variety sugeriu que o filme é “espiritual e sexy”[60]. A revista IndieWire afirmou que o filme é um "comentário sociopolítico exuberante”[61]. Lançado no mesmo mês da posse do presidente brasileiro conservador Jair Bolsonaro, o filme chamou a atenção da crítica internacional pela sua precisão de tempo e reflexão sobre a política brasileira.

Ano Título Função Notas
2008 KFZ-1348 Diretor Documentário
2009 Um Lugar ao Sol Diretor Documentário

Menção Especial no Festival Internacional de Cinema Independente de Buenos Aires
Prêmio do Júri de melhor documentário no Festival Internacional de Documentários de Santiago, no Chile
Prêmio do Júri na Mostra Internacional do Filme Etnográfico, no Rio de Janeiro

2010 As Aventuras de Paulo Bruscky Diretor Curta-metragem
2010 Av. Brasília Teimosa Diretor Documentário
2012 A Onda Traz o Vento Leva Diretor Documentário
2012 Doméstica Diretor Documentário
2014 Ventos de Agosto Diretor Menção honrosa no Festival Internacional de Locarno

Melhor diretor no VII Janela Internacional de Cinema do Recife
Prêmio FIESEL no Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata
Licorno D'Or no Festival Internacional du Film d'Amiens
Prêmio Especial do Juri no Starz Denver Film Festival
Melhor Filme no Festival Internacional de Cinema Independente de Istambul

2015 Boi Neon Diretor Prêmio Especial do Júri no Festival de Veneza

Menção Honrosa no Festival Internacional de Toronto
Festival do Rio - Melhor Filme
Festival do Rio - Melhor Roteiro
Hamburg Film Festival- FIPRESCI Award
Warsaw Grand Prix no 31º Festival Internacional de Cinema de Varsóvia

2019 Divino Amor Diretor Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira - Melhor Filme e Melhor Atriz

Festival Internacional de Cine em Guadalajara Film Festival México - Prêmio FEISAL de Melhor Filme[62]

Referências

  1. «Emilie Lesclaux e Rachel Ellis: as gringas do cinema pernambucano». Jornal do Commercio. Consultado em 19 de maio de 2016 
  2. Gabriel mascaro. FilmeB - Quem é Quem
  3. Gabriel Mascaro. African Film Festival (em inglês)
  4. Gabriel Mascaro. Videobrasil
  5. «Desamar - Diário de Pernambuco» 
  6. «72 Festival de Veneza» 
  7. «Prêmio Especial do Júri Orizzonti» 
  8. «Menção Honrosa - Toronto International Film Festival». Arquivado do original em 15 de julho de 2016 
  9. «Festival do Rio» 
  10. «Festival da Varsóvia» 
  11. «Festival de Adelaide - Austrália» 
  12. «Festival de Marrakech» 
  13. «Festival de Cartagena» 
  14. «"Boi neon", de Gabriel Mascaro, é o indicado brasileiro ao Prêmio Goya | Notícias | ANCINE | Agência Nacional do Cinema | Ministério da Cultura | Governo Federal». ancine.gov.br. Consultado em 17 de maio de 2017 
  15. «"Aquarius" e "Boi neon" voltam consagrados do Prêmio Fénix 2016 | Notícias | ANCINE | Agência Nacional do Cinema | Ministério da Cultura | Governo Federal». www.ancine.gov.br. Consultado em 17 de maio de 2017 
  16. Scott, Manohla Dargis, A. O.; Holden, Stephen (7 de dezembro de 2016). «The Best Movies of 2016». The New York Times. ISSN 0362-4331 
  17. «Gabriel Mascaro Retrospective Announced». Film Society of Lincoln Center (em inglês). 9 de março de 2016. Consultado em 18 de abril de 2019 
  18. «IDFA». Arquivado do original em 22 de agosto de 2016 
  19. «Locarno Film Festival» 
  20. «Festival de Rotterdam» 
  21. «Guggenheim» 
  22. «Videobrasil» 
  23. a b «MACBA» 
  24. «MoMA» 
  25. «MAM - SP». Arquivado do original em 19 de agosto de 2016 
  26. «Bienal de São Paulo» 
  27. «Residências Artísticas» 
  28. «Wexner Center of the Arts» 
  29. «'Divine Love' ('Divino amor'): Film Review | Sundance 2019». The Hollywood Reporter (em inglês). Consultado em 18 de abril de 2019 
  30. Ward2019-01-26T03:11:00+00:00, Sarah. «'Divine Love': Sundance Review». Screen (em inglês). Consultado em 18 de abril de 2019 
  31. «KFZ na Mostra de São Paulo» 
  32. «BAFICI» 
  33. «Visions du Rèel» (PDF) 
  34. «LA Weekly» 
  35. «Carlos Minuano» 
  36. «IFFR Hubert Bals» 
  37. «Folha de S.Paulo - Doméstica» 
  38. «IDFA Doméstica». Arquivado do original em 22 de agosto de 2016 
  39. «Festival de Brasília - Doméstica» 
  40. «Panorama Coisa de Cinema» 
  41. «Cachoeira Doc» 
  42. «Estadão - Luis Carlos Merten» 
  43. «ArtAIDS» 
  44. «IDFA - A Onda Traz, o Vento Leva». Arquivado do original em 22 de agosto de 2016 
  45. «Festival de Brasília - A Onda Traz, o Vento Leva» 
  46. «Prêmio de Melhor Montagem» 
  47. «Festival de Amiens» 
  48. «Melhor Atriz - Festival de Brasília» 
  49. «Mostra Orizzonti - Boi Neon» 
  50. «TIFF». Arquivado do original em 15 de julho de 2016 
  51. «Festival do Rio - Boi Neon» 
  52. «Coppola e Festival de Marrakech» 
  53. «Caetano Veloso - Boi Neon» 
  54. «Indiewire - Eric Kohn» 
  55. «Indiewire - Novo tipo de Cinema» 
  56. «Jean-Claude Bernardet: a desconstrução de um mito». Brasileiros. 20 de abril de 2017. Consultado em 17 de maio de 2017. Arquivado do original em 11 de agosto de 2017 
  57. «Retrospectiva Lincoln Center» 
  58. «New Directors/New Films» 
  59. «'Divine Love' ('Divino amor'): Film Review | Sundance 2019». The Hollywood Reporter (em inglês). Consultado em 6 de maio de 2019 
  60. Lodge, Guy; Lodge, Guy (26 de janeiro de 2019). «Sundance Film Review: 'Divine Love'». Variety (em inglês). Consultado em 6 de maio de 2019 
  61. Kohn, Eric; Kohn, Eric (26 de janeiro de 2019). «'Divine Love' Review: Futuristic Brazilian Drama Is More Sex Therapy Than Sci-Fi». IndieWire (em inglês). Consultado em 6 de maio de 2019 
  62. «Guadalajara International Film Festival (2019)». IMDb. Consultado em 18 de abril de 2019 

Ligações externas

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