Grande Jogo – Wikipédia, a enciclopédia livre

Pérsia no início do Grande Jogo em 1814
Ásia Central, cerca de 1848

O Grande Jogo é um termo usado para definir o conflito e a rivalidade estratégica entre o Império Britânico e o Império Russo pela supremacia na Ásia Central.[1] O Grande Jogo é um período clássico geralmente considerado como decorrendo entre o Tratado Russo-Persa de 1813 até à Convenção Anglo-Russa de 1907. A fase menos intensa se ​​seguiu à Revolução Bolchevique de 1917. Após a Segunda Guerra Mundial, no período pós-colonial, o termo continuou a ser utilizado para descrever as maquinações geopolíticas das grandes potências e potências regionais, visto que disputavam o poder geopolítico e influência na região.[2][3]

O termo "O Grande Jogo" é geralmente atribuído a Arthur Conolly (1807-1842), um oficial de inteligência da Sexta Cavalaria Ligeira de Bengala da Companhia Britânica das Índias Orientais.[4] O termo foi introduzido junto do grande público pelo romancista britânico Rudyard Kipling na sua novela Kim (1901).[5]

Origem e âmbito

[editar | editar código-fonte]

No início do século XIX cerca de 2000 milhas separavam a Índia britânica e as regiões periféricas da Rússia Czarista. Muito do território na Ásia Central estava ainda por mapear. As cidades de Bucara, Quiva, Merv, Cocande e Tasquente eram virtualmente desconhecidas pelos estrangeiros. Uma vez que a expansão russa começou a ameaçar colidir com o crescente domínio britânico no subcontinente indiano, os dois grandes impérios entraram num subtil jogo de exploração, espionagem e diplomacia na região. Houve sempre ameaça de conflito, mas nunca ocorreu uma guerra direta entre as partes. O centro da atividade foi o Afeganistão.[6]

O termo "Grande Jogo" não tinha correspondente em russo nem na historiografia soviética. A única prova do interesse russo em desafiar o Raj britânico foi a marcha indiana do imperador Paulo (1801), uma aventura quixotesca russo-francesa que chegou ao mar de Aral, a cerca de mil milhas do Passo Khyber. Mesmo assim, criou algum incômodo em Londres e fez recear por uma guerra entre a Grã-Bretanha e a Rússia.

Embora o Grande Jogo seja usado quase sempre como referência ao conflito entre interesses da Grã-Bretanha e da Rússia no Afeganistão, também havia intensa rivalidade na Pérsia e (mais tarde) no Tibete. A Grã-Bretanha estava alarmada com a expansão russa na Transcaucásia às custas da Pérsia. O Tratado de Gulistan (1813) e o Tratado de Turkmanchai (1826) resultaram em ganhos territoriais substanciais para o Czar. Para conter a expansão russa, os britânicos levaram a cabo a tarefa de reorganizar o obsoleto exército persa, transformado-o numa força armada competente. Houve uma série de crises diplomáticas entre Pérsia e Rússia, até certo grau instigadas pela embaixada britânica em Teerã. Uma delas resultou até no assassinato do embaixador russo, Alexander Griboyedov.

No início do século XX, o Irã do Norte tinha-se tornado praticamente um protetorado do Império Russo. Em certa altura da revolução constitucional persa, o coronel (cossaco) Vladimir Liakhov governou Teerã num governo militar com poderes ditatoriais. O centro do Grande Jogo mudou consideravelmente para leste. Os britânicos ficaram impressionados pelas expedições semimilitares de Nikolai Przhevalsky, Pyotr Kozlov, e outros exploradores russos que desbravaram as vastas extensões de Zungária e Sinquião. Houve um grande receio de que a Rússia anexasse esta parte remota do Império Qing. Assim, a Grã-Bretanha montou uma pequena expedição ao Tibete, retirando o Dalai Lama de Lhasa em 1904.

Avanço russo na Ásia Central

[editar | editar código-fonte]

Desde o século XVIII, a Rússia entrou em relações com os príncipes locais da região da Ásia Central situada à leste do Mar Cáspio. Só no século XIX foi, porém, chamada a atenção dos russos para estas planícies semidesérticas aos pés da serra do Turquestão, onde se criavam bovinos e bicho-de-seda e se cultivava o fumo e cânhamo; nas serras estavam as afamadas minas de ouro.

A partir de 1834, o governo russo cuidou da ocupação do litoral oriental do Cáspio, fazendo em seguida a malograda tentativa contra o Canato de Quiva (1839). A ação militar russa havia sido destinada a assegurar as comunicações entre o forte de Oremburgo (no rio Ural) e o forte de Omsk na região ocupada pelos cossacos. No entanto, esta entrada da Sibéria se achava sob frequentes incursões dos nômades agressivos.

Esta tentativa russa despertou a atenção da Inglaterra, já que seus domínios indianos e o Afeganistão se encontravam nas vizinhanças dos canatos de Quiva, Bucara e Cocande.

As fronteiras dos territórios da Rússia imperial de Quiva, Bucara e Cocande no período de 1902-1903

A Guerra da Crimeia fez a Rússia adiar um pouco sua penetração planejada para consolidar suas fronteiras siberianas no sul (nesse momento, os russos já tinham em mãos o Cazaquistão). Cresciam, porém, as necessidades russas de algodão, linho e outros recursos do Turquestão para suas fábricas. Daí haverem recomeçado em 1865 as tentativas russas com a ocupação ou conquista de Tasquente (1865), de Bokara (1866) e da velha cidade imperial de Samarkanda, capital de Tamerlão e antigo centro intelectual da Ásia Central (1868); Quiva cairia em 1873, seguida por Cocande em 1876. Finalmente, o General Skobelev tomou de assalto a fortaleza de Geok Tepe no Turcomenistão, enquanto o oásis de Merv era ocupado em 1884.

A expansão russa apoiou-se na ideologia do pan-eslavismo, ou seja, o desejo de união de todos os povos eslavos em um só Estado. Entretanto, o ideal do pan-eslavismo conduziu a outros caminhos: em sua expansão territorial pela Ásia a Rússia colonizou várias nacionalidades. Para assegurar a posse e o controle de seu imenso território e facilitar o povoamento, a Rússia construiu a Ferrovia Transcaucasiana (1883-1886), que, partindo de Moscou, atinge o Turquestão e se prolonga até o mar Cáspio, e a Ferrovia Transiberiana (1891-1904), que parte de Moscou, atravessa a Sibéria Ocidental e Oriental e termina em Vladivostok, no litoral do oceano Pacífico, depois de vencer uma distância de 9 330 km.

A partir de 1873, a Rússia iniciou tentativas de expansão em direção à Pérsia (atual Irã) e o Afeganistão. Os russos queriam um acesso ao Oceano Indico, através do Afeganistão; a Inglaterra desejava transformá-lo em Estado-tampão, para proteger a Índia do expansionismo russo.

Por fim, a Rússia Soviética substituiu os canatos e emirados sob a soberania russa e redistribuiu sobre as bases nacionais os territórios do Turquestão em cinco Repúblicas Socialistas Soviéticas (1924): Casaquistão, Uzbequistão, Quirguistão, Turcomenistão e Tadjiquistão.

Rivalidade russo-britânica no Afeganistão

[editar | editar código-fonte]
Caricatura política representando o Emir afegão Sher Ali com seus "amigos": o Urso da Rússia e o Leão da Grã-Bretanha (1878)

Do ponto de vista britânico, a expansão do Império Russo na Ásia Central ameaçava destruir a "joia da coroa" do Império Britânico, a Índia britânica. Os ingleses temiam que as tropas do czar fossem dominar os canatos da Ásia Central (Quiva, Bucara, Cocande) um após o outro. O Emirado do Afeganistão poderia, então, tornar-se um ponto de preparo para uma invasão russa da Índia.[7]

Foi com essas ideias em mente que, em 1838, os britânicos lançaram a Primeira Guerra Anglo-Afegã e tentaram impor um regime fantoche no Afeganistão sob Shuja Shah. O regime teve vida curta e mostrou-se insustentável, sem apoio militar britânico. Em 1842, multidões atacavam os britânicos pelas ruas de Cabul e a guarnição britânica foi forçada a abandonar a cidade devido aos constantes ataques de civis.

A retirada do exército britânico consistiu em cerca de 4 500 soldados (dos quais apenas 690 eram europeus) e 12 000 do pessoal de apoio. Durante uma série de ataques dos guerreiros afegãos, todos os europeus, exceto um, William Brydon, foram mortos na marcha de volta para a Índia; alguns soldados indianos também sobreviveram e atravessaram a Índia posteriormente.[8] Os britânicos limitaram as suas ambições no Afeganistão após esta humilhante retirada de Cabul.

Após a rebelião indiana de 1857, os sucessivos governos britânicos viram o Afeganistão como um estado-tampão. Os russos, liderados por Konstantin Kaufman, Mikhail Skobelev e Mikhail Chernyayev, continuaram a avançar firmemente em direção ao sul pela Ásia Central para o Afeganistão, e em 1865, Tasquente foi formalmente anexada.

Samarkand tornou-se parte do Império Russo em 1868, e a independência de Bucara foi praticamente arrancada em um tratado de paz no mesmo ano. O controle russo foi então alargado até a margem norte do Rio Amu Darya.

Em uma carta à Rainha Vitória, o primeiro-ministro Benjamin Disraeli propôs "limpar a Ásia Central dos moscovitas e conduzi-los para o Cáspio".[9] Introduziu a Lei dos Títulos Reais de 1876, que acrescentou a Rainha Vitória o título de "Imperatriz da Índia", pondo-a ao mesmo nível que o imperador russo.

Depois que a Grande Crise do Oriente estourou, os russos enviaram uma missão diplomática sem ser convidada a Cabul em 1878, a Grã-Bretanha exigiu que o governante do Afeganistão, Xer Ali Cã, aceitasse uma missão diplomática britânica. A missão retornou, e em retaliação uma força de 40.000 homens foi enviada através da fronteira - iniciando a Segunda Guerra Anglo-Afegã. A segunda guerra foi quase tão desastrosa como a primeira para os britânicos, e até 1881, eles se retiraram outra vez de Cabul. A conclusão da guerra deixou Abderramão Cã no trono, que concordou em deixar que os britânicos controlassem a política externa do Afeganistão, enquanto consolidou sua posição no trono. Ele conseguiu reprimir as rebeliões internas com implacável eficiência e trouxe grande parte do país sob o controle central.

Em 1884, o expansionismo russo provocou outra crise - o Incidente de Panjdeh - quando tomaram o oásis de Merv. Os russos reivindicaram todo o território do antigo governante e lutaram com as tropas afegãs ao longo do oásis de Panjdeh. Na iminência de uma guerra entre as duas grandes potências, os britânicos decidiram aceitar a possessão russa do território norte de Amu Darya como um fato consumado.

Sem qualquer opinião afegã sobre o assunto, entre 1885 e 1888, a Comissão Conjunta Fronteira Anglo-Russa aprovou que os russos abandonariam o território mais afastado capturado em seu avanço, mas manteriam Panjdeh. O acordo delineou uma fronteira permanente afegã no norte do Amu Darya, com a perda de uma grande quantidade de território, especialmente em torno de Panjdeh.[10]

Isso deixou a fronteira leste do lago Zorkul no Wakhan. O território desta área era reivindicado pela Rússia, Afeganistão e China. Na década de 1880, os afegãos avançaram ao norte do lago para o Alichur Pamir.[11] Em 1891, a Rússia enviou uma força militar para Wakhan e provocou um incidente diplomático, ordenando que o capitão britânico Francis Younghusband deixasse Baza'iGonbad na Pequena Pamir. Este incidente, bem como o relatório de uma incursão por cossacos russos ao sul do Indocuche, levaram os britânicos a suspeitar do envolvimento russo "com os governantes dos insignificantes Estados na fronteira norte de Caxemira e Jammu".[12] Esta foi a razão para a Campanha de Hunza-Nagar, em 1891, após a qual o controle britânico foi estabelecido ao longo de Hunza e Nagar. Em 1892, os britânicos enviaram o Conde de Dunmore para o Pamir para investigar. A Grã-Bretanha estava preocupada que a Rússia iria tirar proveito da fraqueza chinesa no policiamento da região para ganhar território, e em 1893 chegou a um acordo com a Rússia para demarcar o restante da fronteira, um processo concluído em 1895.[11]

O Grande Jogo se desloca para o leste

[editar | editar código-fonte]

Na década de 1890, os canatos da Ásia Central de Quiva, Bucara e Cocande caíram, tornando-se vassalos russos. Com a Ásia Central sob controle do czar, o Grande Jogo agora desloca-se para o leste da China, Mongólia e Tibete. Em 1904, os britânicos invadiram Lhasa, um ataque preventivo contra as intrigas russas e reuniões secretas entre o 13ª Dalai Lama e o enviado do Czar Nicolau II. O Dalai Lama fugiu para o exílio para a China e Mongólia. Os britânicos estavam muito preocupados com a possibilidade de uma invasão russa da colônia da coroa da Índia, embora a Rússia - gravemente derrotada pelo Japão na Guerra Russo-Japonesa e enfraquecida por uma rebelião interna - não poderia realmente ter recursos para um conflito militar contra a Grã-Bretanha. A China sob Dinastia Qing, no entanto, era outra questão.[13]

O Império do Meio estava gravemente atrofiado sob os manchus, a casta étnica dominante da Dinastia Qing. Dois séculos e meio de vida decadente, disputas fratricidas e impenetrabilidade para um mundo em mudança tinham enfraquecido o Império. Os armamentos e as táticas militares da China estavam ultrapassadas, mesmo medievais. As modernas fábricas, pontes de aço, ferrovias e telégrafos eram quase inexistentes na maioria das regiões. Os desastres naturais, fome e rebeliões internas haviam debilitado ainda mais a China. No final do século XIX, o Japão e as grandes potências facilmente esculpiram concessões comerciais e territoriais. Estas, foram submissões humilhantes para os manchus uma vez muito poderosos. Ainda assim, a lição central da guerra com o Japão não passou despercebida ao General de Estado-Maior russo: um país asiático utilizando a tecnologia ocidental e métodos de produção industrial poderia derrotar uma grande potência europeia.[14]

Em 1906, o czar Nicolau II enviou um agente secreto para a China para coletar inteligência sobre a reforma e modernização da Dinastia Qing. A tarefa foi dada à Carl Gustaf Emil Mannerheim, na época um coronel do exército russo, que viajou para a China com o sinólogo francês Paul Pelliot. Mannerheim se disfarçou como um coletor etnográfico, usando um passaporte finlandês.[14] A Finlândia era, na época, um Grão-Ducado. Por dois anos, Mannerheim passou por Xinjiang, Gansu, Shaanxi, Henan, Shanxi e Mongólia Interior até Pequim. Na montanha sagrada budista de Wutai Shan conheceu até o 13ª Dalai Lama.[15] No entanto, enquanto Mannerheim estava na China em 1907, a Rússia e a Grã-Bretanha intermediavam o acordo anglo-russo, terminando o período clássico do Grande Jogo.

Aliança anglo-russa

[editar | editar código-fonte]
O Irã sob a dinastia Qājār

No período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial, ambos os impérios ficaram alarmados com o aumento da atividade do recém unificado Império Alemão no Oriente Médio, nomeadamente o projeto alemão da Ferrovia Berlim-Bagdá, que abriria a Mesopotâmia e a Pérsia ao comércio e tecnologia alemã. Os ministros Alexander Izvolsky e Edward Grey concordaram em resolver seus conflitos de longa data na Ásia, a fim de tornar eficaz uma posição contra o avanço alemão na região. A Convenção Anglo-Russa de 1907 trouxe o próximo período clássico do Grande Jogo.

Os russos aceitaram que as políticas de Afeganistão estavam unicamente sob controle britânico desde que os britânicos garantissem não alterar o regime. A Rússia concordou em realizar todas as relações políticas com o Afeganistão através dos britânicos. Os britânicos concordaram que iriam manter as fronteiras atuais e desencorajar fortemente qualquer tentativa de interferir pelo Afeganistão em território russo. A Pérsia foi dividida em três zonas: uma zona britânica no sul, uma zona russa no norte do país, e uma estreita zona neutra servindo como tampão no meio.[16] Em relação ao Tibete, as duas potências concordaram em manter a integridade territorial desse Estado-tampão e "para lidar com Lhasa somente através da China, o poder suserano".[17]

A menos intensa rivalidade anglo-soviética

[editar | editar código-fonte]
No subtítulo de uma revista satírica inglesa de 1911 se lê: "Se não tivéssemos um conhecimento aprofundado, eu (leão britânico) poderia ser quase tentado a perguntar o que você (urso russo) está fazendo lá com o nosso pequeno companheiro do jogo (gato persa)"

A Revolução Bolchevique de 1917 anulou tratados existentes e uma segunda fase do grande jogo começou. A Terceira Guerra Anglo-Afegã de 1919 foi precipitada pelo assassinato do então governante Habibullah Khan. Seu filho e sucessor Amanullah Shah declarou a independência total e os britânicos atacaram o norte da fronteira da Índia. Embora pouco se ganhou militarmente, o impasse foi resolvido com o Tratado de Rawalpindi de 1919. O Afeganistão restabeleceu a sua autodeterminação em matéria de assuntos externos.

Em maio de 1921, o Afeganistão e a República da Rússia Soviética assinaram um Tratado de Amizade. Os soviéticos forneceram a Amanullah auxílio sob a forma de dinheiro, tecnologia e equipamento militar. A Influência britânica no Afeganistão diminuiu, mas as relações entre o Afeganistão e os russos permaneceram ambíguas, com muitos afegãos desejando recuperar o controle de Merv e Panjdeh. Os soviéticos, por seu lado, pretendiam extrair mais do tratado de amizade que Amanullah estava disposto a dar.

O Reino Unido impôs pequenas sanções diplomáticas como uma resposta ao tratado, temendo que Amanullah estivesse saindo da sua esfera de influência e percebendo que a política do governo do Afeganistão era ter o controle de todos os grupos de língua pashtun em ambos os lados da Linha Durand. Em 1923, Amanullah respondeu, tomando o título de padshah - "imperador" - e oferecendo refúgio para os muçulmanos que fugiram da União Soviética e aos indianos nacionalistas exilados do Raj.

O programa de reformas de Amanullah, contudo, foi insuficiente para fortalecer o exército com rapidez suficiente - em 1928 abdicou sob pressão. O indivíduo que mais se beneficiou da crise foi Mohammed Nadir Shah, que reinou de 1929 a 1933. Ambos, os soviéticos e os britânicos, jogaram a situação a seu favor: os soviéticos colaboraram receberam ajuda dos afegãos para lidar com a rebelião usbeque em 1930 e 1931, enquanto os britânicos auxiliaram o Afeganistão na criação de um exército profissional de 40 000 homens.

Com o advento da Segunda Guerra Mundial, veio a suspensão temporária de interesses e o alinhamento britânico e soviético: em 1940, ambos os governos pressionaram o Afeganistão para a remoção de um grande contingente não diplomático alemão, que eles acreditavam estar envolvido em espionagem. Inicialmente, isto foi rejeitado. Em 1941, houve a invasão anglo-soviética do Irã. Embora um país neutro, o Reza Pahlevi havia trazido o Irã mais próximo da Alemanha. Isto motiva os britânicos, que temiam que a Refinaria de Petróleo de Abadan, pudesse cair em mãos alemãs; para os soviéticos, o Irã era um país de extrema importância estratégica. As duas nações Aliadas, então, passaram a aplicar pressão sobre o Irã e o xá, mas isto só levou ao aumento da tensão e a discursos pró-alemão. O Xá recusou-se a expulsar os muitos cidadãos alemães residentes no Irã, e negou a utilização do transporte ferroviário para os Aliados, o que, juntamente com as preocupações estratégicas, levou a Grã-Bretanha e a União Soviética a lançar uma invasão. A finalidade da invasão, portanto, era fixar campos petrolíferos iranianos e assegurar linhas de abastecimento para os soviéticos.[18] Com este período de cooperação entre a URSS e do Reino Unido, o grande jogo entre as duas potências chegaria a um fim.

Novo Grande Jogo

[editar | editar código-fonte]
Ásia Central: região de disputas históricas

Fim da Guerra Fria até 2001

[editar | editar código-fonte]

Na década de 1990, o uso da expressão " Novo Grande Jogo" em referência ao clássico "Grande Jogo" surgiu[19][20][21][22][23][24] para descrever a competição entre as várias potências ocidentais, a Rússia e a China pela influência política e acesso a matérias-primas na Eurásia Central, "a influência, o poder, a hegemonia e os lucros na Ásia Central e na Transcaucásia".[25][26]

Muitos autores e analistas viram nesse novo "jogo" como centrado em torno da política do petróleo regional nas repúblicas da Ásia Central. A Noopolitik desempenha um papel mais importante do que nunca, o equilíbrio de poder do Novo Grande Jogo;[27] e, em vez de competir pelo controle real sobre uma área geográfica – "o transporte tubular, as rotas dos petroleiros, os consórcios e contratos petrolíferos" - são os prêmios do Novo Grande Jogo.[3][25][28]

2001 até o presente

[editar | editar código-fonte]

Na sequência dos ataques contra os Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos invadiram o Afeganistão, a fim de ajudar os rebeldes afegãos da Aliança do Norte na remoção do regime talibã, que havia permitido que a Al-Qaeda operasse campos de treinamento no Afeganistão. Até o final de 2001, o regime Talibã havia perdido o controle da maior parte do território que ocupava e suas lideranças atravessaram a fronteira para as áreas tribais do Paquistão. As forças dos Estados Unidos e seus aliados da OTAN permaneceram no Afeganistão apoiando o atual regime do presidente Hamid Karzai. Isto levou a novos esforços geopolíticos pelo controle e influência na região.[29] Muitos analistas também fazem comparações destas maquinações políticas do Grande Jogo como era jogado pelos russos e britânicos no século XIX , ou descrevendo-as como parte de um contínuo Grande Jogo,[2][3] e se tornou predominante na literatura sobre a região, aparecendo em títulos de livros,[28] revistas acadêmicas,[26] artigos de notícias e relatórios governamentais.[30][31][32][33][34] Embora os recursos energéticos e bases militares sejam mencionadas como parte do Grande Jogo, assim são as disputas continuas pelas vantagens estratégicas entre grandes potências e entre as potências regionais nas regiões montanhosas fronteiriças do Himalaia. No século XXI, o Grande Jogo continua.[35]

Em Myth and Reality in the Great Game, Gerald Morgan abordou o assunto ao examinar vários departamentos do Raj para determinar se alguma vez existiu uma rede de inteligência britânica na Ásia Central. Morgan escreveu que a evidência de tal rede não existe. Na melhor das hipóteses, os esforços para a obtenção de informações sobre movimentos russos na Ásia Central foram raras aventuras ad hoc. Na pior das hipóteses, intrigas semelhantes às aventuras em Kim são rumores infundados e Morgan escreve que tais rumores "estavam sempre em circulação comum na Ásia Central e adaptados tanto para a Rússia como para a Grã-Bretanha".[36]

Em sua palestra “The Legend of the Great Game”, Malcolm Yapp afirmou que os britânicos usaram o termo "The Great Game" em fins do século XIX para descrever várias coisas diferentes em relação aos seus interesses na Ásia. Yapp acredita que a principal preocupação das autoridades britânicas na Índia era o controle da população indígena, não a prevenção de uma invasão russa.[37]

De acordo com Yapp, "entender a história do Império Britânico na Índia e no Oriente Médio fica-se impressionado pela proeminência e a irrealidade dos debates estratégicos".[37]

  1. Também chamado de Torneio das Trevas (em russo: Турниры теней, Turniry Teney) na Russia.
  2. a b «Post Modern Imperialism: Geopolitics and the Great Games». Consultado em 22 de agosto de 2012 
  3. a b c «Walberg, Eric. Postmodern Imperialism: Geopolitics and the Great Games». Consultado em 22 de agosto de 2012 
  4. Hopkirk, Peter (1992). The Great Game: The Struggle for Empire in Central Asia, p. 1
  5. Morgan, Gerald. “Myth and Reality in the Great Game” Asian Affairs 4:1 (1973) 55-65.
  6. «Ásia Central: Afeganistão e suas relações com os territórios britânicos e russos». World Digital Library. 1885. Consultado em 28 de julho de 2013 
  7. «When Will the Great Game End?». orientalreview.org. 15 de novembro de 2010. Consultado em 22 de agosto de 2012 
  8. Gandamak at britishbattles.com
  9. Mahajan, Sneh, British Foreign Policy, 1874–1914, p. 53
  10. International Boundary Study of the Afghanistan-USSR Boundary (1983) Arquivado em 17 de agosto de 2014, no Wayback Machine. by the US Bureau of Intelligence and Research
  11. a b Robert Middleton, The Earl of Dunmore 1892–93 (2005)
  12. Forty-one years in India – From Subaltern To Commander-In-Chief, Lord Roberts of Kandahar – The Hunza-Naga Campaign
  13. Tamm, Eric Enno, "The Horse That Leaps Through Clouds: A Tale of Espionage, the Silk Road and the Rise of Modern China", p. 3
  14. a b Tamm, Eric Enno, "The Horse That Leaps Through Clouds: A Tale of Espionage, the Silk Road and the Rise of Modern China", p. 4
  15. Tamm, Eric Enno, "The Horse That Leaps Through Clouds: A Tale of Espionage, the Silk Road and the Rise of Modern China", p. 353
  16. Lloyd, Trevor Owen, "Empire: The History of the British Empire ", p. 142
  17. Hopkirk, Peter (1992). The Great Game: The Struggle for Empire in Central Asia, p. 520
  18. Compton McKenzie (1951). Eastern Epic. Chatto & Windus, London
  19. Geyer, Georgie Anne (17 de fevereiro de 1992). «U.S. Flag Waves Inside A Proud New Nation». Universal Press Syndicate 
  20. Sneider, Daniel (5 de maio de 1992). «New 'Great Game' In Central Asia». The Christian Science Monitor 
  21. «The New Great Game in Asia». The New York Times. 2 de janeiro de 1996 
  22. Ahrari, Mohammed E.; James Beal. "The New Great Game in Muslim Central Asia". McNair Paper 47. Institute for National Strategic Studies and National Defense University.
  23. Cohen, Ariel. "The New "Great Game": Oil Politics in the Caucasus and Central Asia". Backgrounder #1065. The Heritage Foundation.
  24. Ahmed, Rashid. "Central Asia: Power Play". Far Eastern Economic Review
  25. a b Brysac, Shareen; and Meyer, Karl. Tournament of Shadows: The Great Game and the Race for Empire in Asia. Basic Books. pp. 704.
  26. a b Edwards, Matthew. "The New Great Game and the new great gamers: Disciples of Kipling and Mackinder". Central Asian Survey 22 (1): 83–103
  27. «An Optimistic Memo on the Chinese Noopolitik: 2001-2011». Idriss J. Aberkane. e-ir.info. 13 de junho de 2011 
  28. a b Rashid, Ahmed (2010). Taliban, Militant Islam, Oil and Fundamentalism in Central Asia 2ª ed. New Haven: Yale University Press. ISBN 978-0-300-16368-1 
  29. Cooley, Alexander. "Great Games, Local Rules: The New Great Power Contest in Central Asia", 53
  30. Mahdi Darius Nazemroaya (3 de dezembro de 2007). «The "Great Game": Eurasia and the History of War». Global Research 
  31. Melik Kaylan (13 de agosto de 2008). «Welcome Back To the Great Game». Wall Street Journal 
  32. Mahdi Darius Nazemroaya (21 de abril de 2009). «The "New Great Game" in Eurasia is being fought in its "Buffer Zones"». Global Research 
  33. «Candid discussion with prince andrew on the kyrgyz economy and the "great game"». Wikileaks. 29 de outubro de 2008. Consultado em 11 de outubro de 2013. Arquivado do original em 17 de novembro de 2013 
  34. Menon, Rajan. "The New Great Game in Central Asia". Survival: Global Politics and Strategy 45 (2), Rajan Menon : 187–204
  35. In the 21st century the great game continues:
  36. Morgan, Gerald. "Myth and reality in the great game". Asian Affairs 4 (1): 55-65
  37. a b Yapp, Malcolm. "The Legend of the Great Game”, Proceedings of the British Academy. pp. 179–198
  • Linha do tempo do Grande Jogo online.

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]