Heinrich Racker – Wikipédia, a enciclopédia livre
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Heinrich Racker | |
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Nascimento | 1910 Polónia |
Morte | 1960 Buenos Aires |
Cidadania | Argentina |
Alma mater | |
Ocupação | musicólogo, filósofo, psicanalista |
Heinrich Racker (1910 - 1960) foi um psicanalista argentino de origem polonesa, cuja família emigrou de Viena, na Áustria, onde ele estudou. Para escapar ao nazismo, foi para Buenos Aires em 1939. Doutor em musicologia e em filosofia, tornou-se psicanalista, inicialmente sob a direção de Jeanne Lampl-de-Groot, em seguida fazendo uma análise com Angel Garma e Marie Langer na Argentina. Sua obra principal, publicada pela primeira vez em 1968, é o estudo da técnica psicanalítica da transferência e da contra-transferência. Segundo Etchegoyen, Racker foi ignorado na França durante muito tempo por causa das posições de Jacques Lacan sobre a transferência (cf. Etchegoyen, 2005), e também por causa do atraso nas traduções de seus escritos. Pouco a pouco, construiu sua obra em torno da questão do maneio técnico da contra-transferência.
Suas ideias principais
[editar | editar código-fonte]Suas contribuições sobre a transferência e a contra-transferência são consideráveis e tiveram uma grande influência sobre a técnica psicanalítica. Seu primeiro artigo A neurose de contra-transferência tem um aspecto revolucionário e foi escrito no momento em que Donald Winnicott publicou o artigo O ódio na contra-transferência, em 1948, e Paula Heimann publicou em Londres seu famoso artigo sobre a contra-transferência, em 1950. Racker se interrogava a partir de uma observação: Desde que comecei meu trabalho como psicanalista, fiquei impressionado e preocupado pela distância notável que existe entre a grande profundeza do saber psicanalítico e as limitações para tornar este saber eficaz na transformação psicológica dos analisandos . Foi a partir desta constatação técnica, das obras de Melanie Klein e de seus sucessores que Racker reformulou as ideias sobre a transferência, que Freud não havia feito em 1916. Ele escreveu que a contra-transferência só havia sido abordada a partir de 1940 e que este atraso constituía um sério obstáculo à percepção e à compreensão da transferência e precisou que a contra-transferência é a resposta vivente à transferência e que se ela for forte, a transferência não pode alcançar sua plenitude de vida e de conhecimento.
As ideias expostas por Racker em conferências e artigos entre 1940 e 1950 foram, de uma maneira geral, bem acolhidas na América Latina e nos Estados Unidos mas pouco discutidas na França. A transferência e a contra-transferência são o eixo do processo analítico, repetiu ao longo de sua obra.
A técnica psicanalítica
[editar | editar código-fonte]Inicialmente, a técnica psicanalítica foi marcada pela passagem do período da sugestão, como fator principal da cura, para o da descoberta das resistências. Freud e Joseph Breuer, após haverem mostrado o jogo das tendências psíquicas que causavam o recalque e inventado a cura pela palavra para levantá-las, tiveram de levar em conta as tendências opostas à cura, as resistências de seus pacientes. Na cura de Anna O., elas se traduziram nas manifestações de uma transferência amorosa e na fuga contra-transferencial de Breuer [1].
A resistência contra o levantamento do recalque vinha do fato que as lembranças eram dolorosas, vergonhosas ou imorais para o analisando. Este mecanismo poderia tomar diferentes formas, se manifestando pelo silêncio, a loquacidade, a reação terapêutica negativa, ou pelo agir. Freud mudou então a técnica e instaurou a regra fundamental , consistindo em pedir ao paciente para exprimir todos os seus pensamentos, tudo o que lhe atravessasse o espírito, sem nada omitir mesmo se isto fosse doloroso e aparentemente não tivesse sentido, nem importância ou estivesse fora do assunto. Era questão de se deixar levar pelas associações livres. Esta evolução da técnica de Freud parece hoje evidente, mas Racker precisa que ela foi precedida de inúmeros trabalhos, ensaios e erros técnicos, uma alternância de sucessos e/ou fracassos terapêuticos. A tomada de consciência deveria curar o sujeito,mas para tanto seria preciso se rememorar uma lembrança ou um desejo sexual traumáticos, etc. O trabalho do analista consistia então em "adivinhar", a partir das associações livres do paciente, o que o seu desejo revelava - desejo decorrente das pulsões infantis ou de uma lembrança - e comunicar-lhe a revelação por meio de uma Interpretação.
A interpretação das pulsões infantis tornou-se o instrumento terapêutico mais importante. Porém este progresso não bastou, nem todos os pacientes obtinham benefícios deste trabalho, continuando a manter as representações recalcadas e estrangeiras ao Ego. As resistências continuavam operando. Então, tornou-se necessário atacá-las, donde a ideia de Freud de ‘’interpretar as resistências’’. Era preciso mostrar ‘’como’’ o ego rejeitava a pulsão e as representações a ela ligadas, e porque ele o fazia. Racker ilustra seu propósito com uma citação de Nietzsche . "Eu fiz isto ", diz minha memória. "Eu não posso ter feito isto" ,diz meu orgulho que permanece implacávael. Finalmente é a memória que vai ceder [2]. Era então questão de elucidar os mecanismos de defesas doego: recalcamento , desinvestimento, projeção, introjeção, clivagem, etc. Em suma, tudo o que se opunha à integração visada pela psicanálise.
Outro fenômeno veio então se opor às ambições terapêuticas de Freud. Por exemplo quando certos pacientes, que pareciam cooperar para o sucesso do trabalho associativo, de repente mostravam-se excessivamente hostis ou manifestavam sentimentos amorosos não sublimados, etc. A pessoa do analista tornava-se então a questão central, turvando ou mesmo comprometendo o trabalho analítico. Freud rapidamente ultrapassou a tentação de se considerar o objeto dum tal fervor ou dum semelhante ódio, e desde então tomou consciência do fenômeno da ‘’transferência’’, que ele colocava até então ao serviço das resistências. Em vez de se rememorar, o paciente repetia e transferia na sua relação com o médico, sentimentos contidos nos seus complexos infantis recalcados.Estes complexos infantis exprimiam-se primeiramente contra os objetos primários, geralmente os pais, e eram estes que agora se revelavam na análise.A partir deste momento, notou Racker, Freud definiu a transferência como a totalidade dos fenômenos e processos psicológicos decorrentes de anteriores relações de objeto, transferidos pelos pacientes para o analista.
Publicações
[editar | editar código-fonte]- Transfert et contre-transfert. Études sur la technique psychanalytique (Transferência e contra-transferência. Estudos sobre a técnica psicanalítica), Césura, Lyon, 2000, ISBN 2905709790. Prefácio de Leon Grinberg e Rebecca Grinberg.
Notas e referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ Não se trata aqui de voltar aos debates a propósito de Anna O., de Breuer ou de Freud, debates que foram abordados com outras finalidades, entre outros por Henri F. Ellenberger, aliás não publicados no tempo em que Racker fazia a sua obra. Não é certo que a publicação destes trabalhos tivessem levado Racker a modificar suas teorias na medida em que todas as teses que ele sustentou sobre Anna O. colocavam em causa a questão da transferência e da contra-transferência
- ↑ Nietzsche : Mais além do bem e do mal
Artigos conexos
[editar | editar código-fonte]Fontes
[editar | editar código-fonte]- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em francês cujo título é «Heinrich Racker».
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Conférence hommage sur Racker
- Heinrich Racker ou le contre-transfert comme un nouveau départ de la technique psychanalytique Angela Goyena
- Transference and Countertransference; Publisher: Karnac Books, 1988, ISBN 0950714690 Le livre en anglais]