Herói cultural – Wikipédia, a enciclopédia livre

Escultura representando Prometeu, o herói cultural grego descobridor do fogo.

O herói cultural é um personagem de um determinado grupo cultural, étnico, racial ou religioso que se distingue por realizar uma determinada invenção ou descoberta. Após sua morte, o herói cultural pode continuar a viver, seja em uma estrela, constelação, animal ou de forma puramente espiritual.

É tido como "irmão gêmeo do trickster".[1]

Diferencia-se do simples herói, indivíduo notabilizado por suas realizações[2] e cuja aplicação é mais imediata e ao efeito de acontecimentos, por absorver construções míticas e variáveis semânticas e temporais ligadas ao imaginário popular e, por isso, cultural. No Brasil, Aleijadinho é um exemplo de assimilação de um personagem como herói cultural, com a construção de um ícone de identidade cultural, cuja significação sofreu a interferência dos modernistas, especialmente de Mário de Andrade, e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Após a sua morte, lendas foram criadas, como a de que o personagem seria cego e faria todo o trabalho sozinho, assim como teria se deslocado em curto espaço de tempo por regiões de difícil acesso para os padrões da época. Assim sendo, o processo de heroísmo do personagem não foi aplicado imediatamente e, sim, temporalmente, de acordo com interferências culturais. A historiadora Guiomar de Grammont defende, por exemplo, que Aleijadinho não foi um, mas vários.[3][4][5][6]

Na mitologia grega, o exemplo de Prometeu, um herói cultural, mostra o processo que tirou os homens da obscuridade, "no tempo em que 'olhavam sem ver, ouviam sem escutar', para os erguer ao domínio da natureza e à posse da sabedoria".[7]

Na literatura, os arquétipos literários demonstram esse processo de construção do herói cultural. Esse processo "liga o mais arcaico dos heróis, o herói mítico, à luta ― contra as forças demônicas do caos, integrando-o ao mito básico da criação".[1]

Referências

  1. a b MOUNTIAN, Daniela. Impostor e imposturas em O Diabo Mesquinho. Encontro de pós-graduandos da FFLCH-USP, São Paulo, 23 a 26 de novembro de 2009
  2. HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Verbete herói. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001
  3. GRAMMONT, Guiomar de. Aleijadinho e o aeroplano - o paraíso barroco e a construção do herói colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008, 320 p.
  4. HAAG, Carlos. (novembro de 2008). Paranóia ou mistificação?. Revista FAPESP
  5. GONÇALVES FILHO, Antonio. (4 de janeiro de 2009). Aleijadinho, um mito?. Jornal O Estado de S.Paulo
  6. LUTTERBACH, Maria. O gênio audaz do Barroco. Revista Sagarana
  7. PEREIRA, Maria Helena Rocha. As combinações com as letras, memória de tudo, trabalho criador das Musas. Universidade de Coimbra
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