História conectada – Wikipédia, a enciclopédia livre
A história conectada surgiu na década de 1990, em resposta à história comparada.[1] É um ramo da história mundial que permite jogos de escalas espaciais e temporais, e que tem como representante principal Sanjay Subrahmanyam.
O método da história conectada define uma nova abordagem para a escrita da história, adquirindo diversas particularidades e enfrentando novos desafios para a narrativa histórica. A fim de poder compreender as conexões entre diferentes histórias para além de seus próprios territórios regionais, nacionais e continentais, é importante levar em consideração que cada espaço e contexto possui passados e processos extremamente distintos uns dos outros, estabelecendo diferentes relações políticas, sociais e culturais.[2]
Uma abordagem prática da pesquisa histórica
[editar | editar código-fonte]A história conectada é uma abordagem para a pesquisa histórica que estuda as diversas culturas,[3] bem como a dinâmica de circulação (de pessoas, de ideias, de técnicas e recursos) e mistura, com base em uma literatura em línguas vernáculas não euro-centradas. Neste sentido, a história conectada estuda as conexões reais, os contatos entre as comunidades, que inicialmente se opuseram geograficamente. Assim, pretende-se produzir uma "contra-narrativa" em relação a uma história eurocêntrica. Esta "contra-narrativa" fornece uma nova compreensão das percepções locais e das pluralidades históricas do "momento colonial das sociedades não-europeias".[3]
História conectada é, portanto, o estudo de interações múltiplas realizadas através do vai-e-vem entre as diferentes escalas de análise e por um descentramento do olhar. Estas variações de escalas revelam a totalidade do intercâmbio entre as instâncias estudadas e permitem uma análise dos grandes movimentos.[4] No entanto, a história conectada se concentra no estudo dessas interações em um momento específico e não a longo prazo. Esse tipo de história é, portanto, menos pertinente para o estudo das mudanças de longa duração e das evoluções dessas conexões.[5]
As duas noções essenciais de história conectada são: reciprocidade e hibridização (ou mistura). A história conectada busca entender como cada comunidade vive uma com a outra. Como resultado, sua metodologia permite criticar os preconceitos etnocêntricos de outras abordagens históricas.[6] Por sua natureza transnacional, a história conectada diz respeito às circulações, sejam elas relativas a homens ou objetos, seja a processos criativos que atuam sobre sociedades. Ela quer superar a compartimentalização nacional civilizacional para mostrar os modos de interação "entre o local e o regional e o supra-regional".[7]
Em conclusão, a história conectada estuda os problemas relacionados a vários contextos geográficos e culturais, tais como as migrações populacionais.[8]
Uma abordagem na encruzilhada de várias correntes historiográficas
[editar | editar código-fonte]Comparação com a história global
[editar | editar código-fonte]A diferença entre história conectada e história global é que a história conectada é primariamente uma abordagem metodológica antes de ser uma teoria da história.[6]
A história global, a história de globalização das sociedades, nasceu nos Estados Unidos, que engloba várias abordagens e supõe uma grande mobilização de conhecimentos e materiais, bem como um descentramento do olhar. Ela é global por seu objeto de estudo e "por sua recusa de fragmentação historiográfica e compartimentalização disciplinar".[9]
Comparação com a história transnacional
[editar | editar código-fonte]A história conectada é um dos ramos da história transnacional, outra perspectiva centrada em um objeto de estudo histórico. Encontra-se mais na Europa porque deriva seu objeto da história das organizações internacionais. A história transnacional também está interessada nas interações e interdependências das sociedades modernas e contemporâneas, de acordo com o eixo da globalização. Centra-se no movimento de pessoas, capital e bens e requer amplo conhecimento de várias línguas, a fim de obter acesso a fontes que permitam nova iluminação interpretativa.[10]
Comparação com a história comparada
[editar | editar código-fonte]A história conectada surgiu em resposta à metodologia da história comparada.[1] Limita-se a analisar as diferenças e semelhanças entre dois grupos culturais distintos ou comunidades sem se preocupar com as relações entre esses grupos. Assim, ao contrário da história comparada, a história conectada não negligencia circulações e contatos de formas culturais.[6]
Comparação com a história cruzada
[editar | editar código-fonte]Assim como a história cruzada, a história conectada dá um lugar importante para o descentramento do olhar. A história cruzada é uma história conectada que dá mais valor ao estudo das transferências entre diferentes áreas culturais.[11] A história cruzada pertence assim à mesma família das abordagens relacionais e "relaciona, muitas vezes em uma escala nacional, formações sociais, culturais e políticas, as quais se supõe que mantêm relações".[12]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b Subrahmanyam 2005, p. 1.
- ↑ Hartog & 2013 p.178.
- ↑ a b Bertrand 2007, pp. 69-89.
- ↑ Minard 2013, pp. 20-30.
- ↑ Norel 2014.
- ↑ a b c Zugina 2007, p. 62.
- ↑ Minard 2013, p. 27.
- ↑ Subrahmanyam 2012, p. 19.
- ↑ Minard 2013, p. 22.
- ↑ Université de Genève 2017.
- ↑ Testo 2008, p. 15.
- ↑ Werner & Zimmermann 2003, p. 8.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]Livros
[editar | editar código-fonte]- Subrahmanyam, Sanjay (2005). Explorations in Connected History. From the Tagus to the Ganges. Oxford: Oxford University Press.
- Subrahmanyam, Sanjay (2012). Vasco de Gama. Légende et tribulations du vice-roi des Indes. Paris: Alma Publisher
- Testo, Lawrence (2008). Histoire globale. Un autre regard sur le monde. Auxerre: Sciences humaines éditions
Periódicos
[editar | editar código-fonte]- Bertrand, Romain (2007). «Rencontres impériales. L'histoire connectée et les relations euro-asiatiques.». Revue d'histoire moderne et contemporaine. 5 (54-4bis)
- Hartog, François (2013). «Experiência do tempo: da história universal à história global» (PDF). História, Histórias. 1 (1): 164-179
- Minard, Philippe (2013). «Globale, connectée ou transnationale : les échelles de l'histoire». Spirits. 12
- Werner, Michael; Zimmermann, Bénédicte (2003). «Penser l'histoire croisée : entre empirie et réflexivité.». Annales. Histoire, Sciences sociales.
- Zugina, Jean-Paul (2007). «L'Histoire impériale à l'heure de l'"histoire globale". Une perspective atlantique.». Journal of Modern and Contemporary History. 5 (54-4bis)
Páginas da web
[editar | editar código-fonte]- Norel, Philippe (2014). «Le livre de la mondialisation ibérique.». Blog Histoire Globale. Consultado em 13 de setembro de 2018. Cópia arquivada em 13 de janeiro de 2018
- Université de Genève. (2017). «Histoire transnationale.». Site Oficial da Universidade. Consultado em 13 de setembro de 2018. Cópia arquivada em 31 de janeiro de 2018
Este artigo resulta, no todo ou em parte, de uma tradução do artigo «Histoire connectée» na Wikipédia em francês, na versão original. |