Ibne Gusmão – Wikipédia, a enciclopédia livre
Ibne Gusmão | |
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Nascimento | 1078 Córdova |
Morte | 2 de outubro de 1160 (81–82 anos) Córdova |
Cidadania | Al-Andalus |
Ocupação | poeta |
Religião | Islamismo |
Maomé ibne Abedal Maleque ibne Gusmão (em árabe: محمد بن عبد الملك بن قزمان; romaniz.: Muhammad ibn Abd al-Malik ibn Quzman; Córdova (Espanha), c. 1078 - ibid., 1160), melhor conhecido como ibne Gusmão ou ibne Cuzmane,[1] foi um famoso poeta do Alandalus, conhecido pelas suas peculiares zejeis[2] escritos no árabe coloquial do Alandalus.
Há quem pretenda ver no nome Guzmán uma arabização do alemão[3] algo que era frequente no Alandalus, mas outras fontes assinalam que o nome Quzmān já aparece documentado na Arábia pré-islâmica, pelo que poderá ser árabe, embora seja um nome pouco usual.
A sua obra ficou preservada praticamente num único conjunto, que foi descoberto em São Petersburgo em finais do século XIX, o seu Cancioneiro ou divã (antologia poética), que é também a principal fonte de informação sobre a sua vida, já que nas suas composições fala também de si próprio: que tinha entre seis e oito anos quando ocorreu a Batalha de Zalaca, permitindo assim aproximar a sua data de nascimento.
ibne Gusmão conhecia bem a poesia árabe clássica, de autores célebres como Abu Tamam, Almutanabi, Du r-Rumma, etc. Chegaram até aos nossos dias alguns poemas seus ao estilo árabe clássico, consideradas de pouco valor quando comparadas com o seu Cancioneiro: esta é uma obra original, tanto pela forma utilizada, o zéjel, escrito não na habitual língua literária habitual mas no dialecto coloquial local, como pelos temas que aborda, nos quais frequentemente reinterpreta de forma irónica alguns tópicos da poesia árabe clássica.
O Divã
[editar | editar código-fonte]Pensa-se que ibne Gusmão foi o primeiro grande escritor que empregou o zéjel, que había sido criado por Ibn Bayya, o poeta de Saragoça, dando-lhe a sua forma definitiva, polindo-o das imperfeições que a seu ver ainda tinha.
O seu Divã, ou Cancioneiro, contem 149 zéjeis. O estudioso árabe, Stern, organizou-os em duas classes:
- Os zéjeis moaxajeños, que são poemas de entre cinco e sete estrofes, em tudo semelhantes às moaxajas (temas, forma, jarcha), excepto por serem escritos na língua coloquial, e não no árabe clássico. Constituem cerca de um terço do Divã.
- Os zéjeis propriamente ditos, sem limite de estrofes, de temas diversos, e que constituem os dois terços restantes.
ibne Gusmão dedicou uma boa parte dos seus zéjeis a descrever as suas relações com jovens varões, as festas a que assistia, ou os bailes e instrumentos musicais que as animavam. Fala ainda de si próprio e faz, como outros poetas, o elogio dos seus mecenas e protectores. Segundo relata um dos seus zéjeis, já perto do final dos seus dias, pareceu arrepender-se da sua vida desperdiçada:
“ | ibne Gusmão arrependeu-se. Melhor seria se preservasse! Passou os seus dias em festas entre os dias. Mas depois de soarem os atabales e adufes e de se arranjar para o baile Agora sobe e desce a torre do muezim. Fez-se imame na mesquita e reza prostrando-se e inclinando-se. | ” |
E também deixou instruções escritas para quando morresse:
“ | Quando morrer estas são as minhas instruções para o enterro: dormirei com uma vinha entre as sobrancelhas. Que me envolvam entre as suas folhas como mortalha e me ponham na cabeça um turbante de rebentos de vide. | ” |
Referências
- ↑ Grande enciclopédia portuguesa e brasileira. 13. Lisboa: Editorial Enciclopédia. p. 452
- ↑ forma poética andalusina muito popular no século XI, que poderia ser a origem, em Portugal e Galiza, das cantigas
- ↑ Darío Fernández-Morera, "The Myth of the Andalusian Paradise", The Intercollegiate Review, 2006, pp. 7, [1]