Igreja Católica nos Países Baixos – Wikipédia, a enciclopédia livre

IgrejaCatólica
Igreja Católica nos Países Baixos
Catedral de Santa Catarina, em Utrecht
Santo padroeiro São Vilibrordo[1][2]
Ano 2008
População total 16.500.000
Católicos 4.300.000
Paróquias 700 (2016)
Presidente da Conferência Episcopal Hans van den Hende
Núncio apostólico Paul Tschang In-Nam
Códice NL

A Igreja Católica nos Países Baixos (popularmente conhecidos como Holanda) faz parte da Igreja Católica universal, sob a direção espiritual do Papa e da Cúria, em Roma. O primaz é o arcebispo de Utrecht, Willem Jacobus Eijk desde 2008. Atualmente o catolicismo é a maior religião do país, se as igrejas forem contadas separadamente,[3] representado cerca de 11,7% da população holandesa[4] de 2015, representando queda, dos 40% que eram católicos na década de 1960.

Entre os séculos IV e VI ocorreram as migrações dos povos bárbaros, e as tribos da região, como celtas, germanos e romanos foram gradualmente conquistados pelas grandes tribos germânicas, como os francos, frísios e os saxões.Por volta do ano 500 os francos que inicialmente viviam entre os rios Reno e Somme, aceitaram o cristianismo (obrigados pelo Rei Clóvis. Grande parte da área ao sul do Rio Mosa pertencia desde a baixa Idade Média a Arcediago e Campine, que era parte da Diocese de Tongeren-Maastrich-Liège. A partir do centro da diocese, gradualmente as cidades de Tongeren, Maastrich e Liège, essa parte a Holanda foi cristianizada. De acordo com a tradição, o primeiro bispo de Maastrich, São Servácio foi sepultados na cidade em 384, embora apenas o bispo Domiciano (ca. 535) está estabelecido residir em Maastricht. Contanto a conversão dos povos pagãos ao cristianismo levaria pelo menos até o ano 1000 pela força, e as religiões tribais dos frísios e saxões se extiguirem. Nos séculos seguintes, o cristianismo católico foi dominante no país.

Religião nos Países Baixos em 1849. As áreas com maioria católica estão marcadas em verde.

Após a Guerra de Independência os católicos passaram a ser sistematicamente e oficialmente discriminados pelo governo protestante, e assim se seguiu até a segunda metade do século XX, quando ocorreu maior desenvolvimento e influência econômica e cultural da região sul do país, de maioria católica. Da Reforma Protestante até o seculo XX, os católicos neerlandeses eram restringidos a viver somente na região sul, que eram os lugares em que já eram maioria, ou pelo menos, grande minoria na maior parte dos territórios. Contanto, com a chegada da modernidade entre a população, cresceu também a secularização nas áreas que tinham menor quantidade de católicos – ou seja, em áreas protestantes. Os católicos ainda formavam uma pequena maioria na maior parte das províncias do sul, como em Limburgo.

Após a República Neerlandesa banir o catolicismo nos anos 1580, o território do país se tornou um território de missão, sob autoridade da Congregação para a Propagação da Fé, sob o nome de Missão da Holanda. O episcopado do país só pôde ser restaurado em 1853.[5]

Durante os séculos XIX e XX os católicos se viram obrigados a viver em um sistema de segregação, com suas próprias escolas, estações de rádio e TV, hospitais, partidos políticos, etc. Eles formaram uma coalização com protestantes ortodoxos, os quais també se sentiam discriminados. Essa coalizão foi importante para pôr fim à exclusão social sofrida pelos católicos. No período entre 1860 e 1960 a vida da Igreja Católica e suas instituições floresceu. O período foi chamado de "A Rica Vida Romana" (em neerlandês: Het Rijke Roomse leven), e foi quando a quantidade de católicos nos Países Baixos cresceu e praticamente se pareou ao número de protestantes, semelhante ao que aconteceu em outros países como Irlanda do Norte, Escócia, Suíça e Alemanha.

Depois de 1970, a ênfase em conceitos e tradições católicas, como o inferno, o demônio, o pecado, a confissão, a comunhão de joelhos, a catequese, as segundas uniões, o divórcio e o sexo antes do casamento desapareceram, e raramente são encontrados no catolicismo neerlandês. Ainda existe uma divisão cultural entre o sul católico e o norte protestante, porém com 1,5 milhão de habitantes e 20% da produção industrial do país, a área sul católica, chamada BrabantStad se tornou uma das mais importantes área econômicas e centros metropolitanos do país.

Nos anos 1980 e 1990 a igreja se polarizou. A principal organização dos conservadores era o Contato dos Católicos Romanos, e o dos liberais que foi fundado era o Movimento Oito de Maio em neerlandês: Acht Mei-beweging), devido às disputas pela visita papal em 1985; e o movimento tinha uma relação difícil com os bispos, e foi desmantelado em 2003.

  Membros da Igreja Católica registrados[6]
  Membros da Igreja Católica de acordo com pesquisa de opinião[7]
Igrejas e paróquias nos Países Baixos[8]
Ano Número de igrejas Número de paróquias
2003 1782 1525
2004 1761 1463
2005 1740 1442
2006 1721 1425
2007 1693 1420
2008 1661 1402
2009 1647 1382
2010 1629 1139
2011 1609 1044
2012 1593 981
2013 1571 895
2014 1556 760
2015 1513 726
2016 1484 700
2017 1464 690
2018 1384 686
2019 1352 666

Atualmente, o catolicismo ainda é a maior religião do país, contando com cerca de 4 milhões de membros registrados, ou seja, 22,9% da população neerlandesa.[9][10] Em 2006, a Diocese de 's-Hertogenbosch registrou que apenas 45.645 moradores, a maioria acima dos 65 anos, participavam das missas, representando apenas 2% da população total da área. Ao oeste de Brabante do Norte, na Diocese de Breda, o número de pessoas que se declaram católicas caiu vertiginosamente. A frequência a serviços religiosos é ainda menor no oeste, onde apenas 1% da população vai regularmente à igreja.[11]

Muitos dos católicos de Brabante do Norte e Limburgo (localizadas ao sul), formavam a maioria da população até a década de 1980. De acordo com os dados da igreja de 2010, duas dioceses, 's-Hertogenbosch e Roermond, ainda tinham maioria católica. É notável que em 2005 a SILA (Stichting Interkerkelijke Ledenadministratie) listou diminuição dos números de católicos nessas duas dioceses. Isso mostra a grande diferença entre os que frequentam e os que apenas se consideram membros. Especialmente a Igreja Católica afirma que um quarto da população holandesa é católica, questionando as estatísticas. Entretanto, em pesquisas, menos da metade desse número se declara católica. Muitas pessoas ainda são membros registrados, porém já não são mais religiosas, mas por diversas razões não renunciaram sua adesão, um fenômeno que ficou conhecido como "pertencer sem acreditar".

De acordo com dados da igreja, os católicos se tornaram minoria na Diocese de 's-Hertogenbosch em 2014. O número de paróquias nos Países Baixos caiu de 1525 para 700 entre 2003 e 2016.[8] Muitos edifícios que antes eram igrejas tiveram alterados seus ramos de atuação, como lojas, apartamentos e museus.

Em setembro de 2022, a Diocese de Roermond teve de tomar uma decisão drástica: retirar o preceito dominical, ou seja, a obrigatoriedade dos fiéis participarem da missa. Foi feita a divulgação de uma carta explicando as razões para isso, e os motivos expostos foram a falta de padres, a falta de pessoas nas equipes paroquiais e, até mesmo, a falta de fiéis. Por isso, "as paróquias da província de Limburgo não podem mais garantir a celebração semanal da Eucaristia". A carta relata também o alto custo do aquecimento a gás e da eletricidade em comparação com o pequeno número de pessoas que frequentam as Missas. No entanto, as paróquias só devem adotar essa medida caso não haja outra solução. A decisão pode representar "um primeiro passo rumo ao fechamento de uma igreja". Em algumas regiões do país, já é comum que os fiéis de várias paróquias diferentes se congreguem para uma celebração única da Missa dominical.[12]

Escândalos de pedofilia

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Em dezembro de 2011 foi publicada uma reportagem por Wim Deetman, um ex-ministro holandês, detalhando supostos casos de abuso infantil na Igreja Católica Católica holandesa. Foram reportadas 1.800 denúncias de abuso praticadas por "membros do clero ou voluntários nas dioceses católicas" desde 1945.[13] De acordo com com as denúncias, o risco de experiências de abuso infantil era duas vezes maior em instituições [católicas ou não] que a média nacional, de 9,7%. Essas revelações evidenciam que não há diferença no risco entre instituições católicas ou não católicas.[14] Em março de 2012, contanto, foi revelado que 10 casos de crianças supostamente abusadas haviam sido arquivados.[13] Também veio à tona que o antigo primeiro-ministro Victor Marijen havia acobertado casos de abusos sexuais de crianças. De acordo com o jornal Telegraph, essa afirmação é duvidosa.[15]

Organização territorial

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Mapa do país com as divisões das dioceses.
Catedral de São Cristóvão, em Roermond, a diocese com a maior porcentagem de atendimento aos serviços religiosos.

Há sete dioceses nos Países Baixos, sendo que uma dessas tem a população de maioria católica, a Diocese de Roermond.

Os dados abaixos foram coletados e divulgados pelas próprias autoridades eclesiásticas, de 31 de dezembro de 2010.[16]

Número de pessoas registradas por diocese e frequência à igreja (Dez 2010)
Diocese Católicos registrados Comparecimento à missa dominical da pop. geral (ao menos uma vez ao mês)
(registrado como membro da igreja) (porcentagem) (pessoas que vão à igreja) (porcentagem)
Groninga-Leeuwarden ± 107.000 5,9% 6.900 0,4%
Utrecht ± 754.000 18,8% 31.700 0,8%
Haarlem-Amsterdã ± 465.000 16,1% 24.300 0,8%
Roterdã ± 513.000 14,2% 25.800 0,7%
Breda ± 437.000 39,1% 12.300 1,1%
's-Hertogenbosch ± 1.125.000 53,9% 38.900 1,9%
Roermond ± 765.000 68,1% 32.800 2,9%
Total ± 4.166.000 25,0% 172.700 1,0%

Estatísticas

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Ano População Católicos (baseado nos registros de membros) Porcentagem (baseada nos registros de membros)
1970 5.320.000 40,5
1980 5.620.000 39,5
1990 5.560.000 37,0
1995 15.493.889 5.385.258 34,8
2000 15.987.075 5.060.413 31,6
2005 16.334.210 4.406.000 27,0
2010 16.655.799 4.166.000 25,0
2011 16.730.348 4.091.000 24,5
2012 16.779.575 4.044.000 24,1
2013 16.829.289 3.992.000 23,7
2014 16.900.726 3.943.000 23,3
2015 16.979.120[19] 3,882,000[20] 22,9
2020 17.407.585[21] 3.701.000[22][23] 21,2

Ainda que o número de católicos tenha caído significativamente nas últimas décadas, a Igreja Católica perdura até hoje o maior grupo religioso do país. Ainda que os Países Baixos sejam tradicionalmente protestantes, o catolicismo ultrapassou o protestantismo após a Primeira Guerra Mundial, e, em 2012 apenas 10% da população é protestante (durante o século XX esse número era de 60%; isso significa que a desafiliação religiosa protestante começou duas décadas antes de atingir a Igreja Católica).[24] A estimativa é de 3,882 milhões de católicos registrados em 2015 pela Igreja, representando 22,9% da população:[25] queda em relação aos 40% registrados na década de 1970. A Igreja Católica Holandesa sofreu a perda de 650.000 fiéis entre 2003 (4.532.000 / 27,9% da população) e 2015.[26] O número de pessoas registradas como católicas nos Países Baixos continua a cair, cerca de 0,5% ao ano.

Brabante do Norte e Limburgo são historicamente as regiões mais católicas dos Países Baixos, e os elementos católicos formam uma identidade cultural da região, até mesmo mais que uma identidade propriamente religiosa. A vasta maioria dos católicos, assim como os holandeses em geral, são irreligiosos. Uma pesquisa feita com pessoas que se autodeclaravam católicas em 2007, revelou que apenas 27% eram teístas; 55% ietsistas, deístas ou agnósticos.[27] Em 2015 apenas 13% dos autodeclarados católicos diziam acreditar na existência do Céu, 17% em Deus e menos da metade acreditavam que Jesus é o Filho de Deus ou o Enviado de Deus ao mundo.[28]

O comparecimento à missa dominical pelos católicos caiu nas últimas décadas para menos de 200.000 pessoas, ou 1,2% da população em 2006.[29]

Estimativa de número de sacramentos católicos e rituais eclesiásticos ministrados nos Países Baixos (2003-2016)[30]
Ano Batismos Primeiras-
comunhões
Crismas Conversões Matrimômios Funerais
2003 37.065 40.435 29.385 805 7.700 38.130
2004 34.580 38.535 27.600 825 6.800 35.570
2005 33.000 37.905 27.175 735 6.600 34.285
2006 30.705 37.665 26.105 690 6.455 33.435
2007 29.190 36.800 25.500 730 5.470 32.000
2008 27.880 35.400 24.230 740 4.990 30.910
2009 25.980 34.900 23.630 780 4.400 29.750
2010 23.840 32.410 21.220 760 3.865 28.630
2011 21.910 31.030 20.420 725 3.225 27.520
2012 19.680 27.460 18.900 530 2.915 26.260
2013 17.530 24.790 16.870 705 2.350 24.940
2014 15.840 21.700 14.810 475 2.105 22.570
2015 14.030 19.870 12.660 540 1.910 21.880
2016 12.470 17.850 11.410 450 1.720 21.100
2020 5.170 6.040 3.810 275 395 16.720

Conferência Episcopal

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Desde 14 de junho de 2016 o presidente da Conferência Episcopal Neerlandesa é Hans van den Hende.

Nunciatura Apostólica

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A internunciatura apostólica de Haia foi instituída em 1829. Já a nunciatura apostólica dos Países Baixos foi instituída em 22 de julho de 1967, com o breve apostólico Quantum utilitatis, do Papa Paulo VI.

Referências

  1. «Patrons Saints of Countries, Continents and Places». Catholic Tradition. Consultado em 29 de junho de 2018 
  2. «St. Willibrord». Catholic.com. Consultado em 29 de junho de 2018 
  3. Tom Heneghan (3 de dezembro de 2013). «Dutch bishops give Pope Francis a bleak picture of Catholic Church in decline». Reuters. Consultado em 30 de junho de 2018 
  4. Bernts, Tom; Berghuijs, Joantine (2016). God in Nederland 1966-2015. Ten Have. ISBN 9789025905248
  5. Sunier, Thijl Houses of worship and politics of space in Amsterdam in Ethnic Amsterdam: Immigrants and Urban Change in the Twentieth Century, Solidarity and identity edited by Nell, Liza, Rath, Jan, 2009, Amsterdam university press, page 170
  6. a b KASKI-Report ), retrieved 26 Sep 2017
  7. Bernts, Tom; Berghuijs, Joantine (2016). God in Nederland 1966-2015. Ten Have. ISBN 9789025905248
  8. a b «Kerkgebouwen en parochies» 
  9. By Tom Heneghan. «Dutch bishops give Pope Francis a bleak picture of Catholic Church in decline». Consultado em 1 de julho de 2018 
  10. «Kerkelijke gezindte en kerkbezoek; vanaf 1849; 18 jaar of ouder». 15 de outubro de 2010 
  11. Kerncijfers 2006 uit de kerkelijke statistiek van het Rooms-Katholiek Kerkgenootschap in Nederland, Rapport nr. 561 oktober 2007, Jolanda Massaar- Remmerswaal dr. Ton Bernts, KASKI, onderzoek en advies over religie en samenleving
  12. «Diocese da Holanda suspende obrigatoriedade da Missa dominical». Gaudiuim Press. 4 de setembro de 2022. Consultado em 8 de setembro de 2022 
  13. a b «Dutch Roman Catholic Church 'castrated at least 10 boys'». Telegraph. Consultado em 19 de março de 2012 
  14. «Onderzoek naar seksueel misbruik van minderjarigen in de Rooms-Katholieke Kerk» (PDF). Consultado em 2 de julho de 2018 
  15. «Onderzoek naar seksueel misbruik van minderjarigen in de Rooms-Katholieke Kerk» (PDF). Consultado em 2 de julho de 2018 
  16. «Overzicht onderzoeksvormen» 
  17. «Kaski». ru.nl 
  18. «Overzicht onderzoeksvormen». ru.nl 
  19. «Centraal Bureau voor de Statistiek StatLine - Bevolkingsontwikkeling; regio per maand» 
  20. «SILA (Stichting Interkerkelijke Ledenadministratie)» 
  21. «Centraal Bureau voor de Statistiek StatLine - Population; key figures» 
  22. «SILA (Stichting Interkerkelijke Ledenadministratie)» 
  23. «Katholieken» 
  24. «Kerncijfers 2012» 
  25. KASKI-Report 636 ), retrieved 9 Jan 2015
  26. «Cijfers Rooms-Katholieke Kerk» 
  27. God in Nederland' (1996-2006), by Ronald Meester, G. Dekker, ISBN 9789025957407
  28. "Hoe God (bijna) verdween uit Nederland". NOS. 13 March 2016. Retrieved 3 April 2016.
  29. «KASKI – the official Dutch Roman Catholic statistics source». Consultado em 2 de julho de 2018. Arquivado do original em 19 de abril de 2006 
  30. «Sacramenten en kerkelijke rituelen»