Irmandade Fusquenlla – Wikipédia, a enciclopédia livre

A Irmandade Fusquenlla foi uma irmandade (tipo de corpo policial formado nas cidades na Baixa Idade Média), formada em 1431, nas terras do nobre Nuno Freire de Andrade, apelidado como o Mau, por causa da extrema dureza com que este tratava os seus vassalos. A irmandade iniciou uma revolta nas áreas de Pontedeume e Betanços que se estendeu a outras comarcas dos bispados de Lugo, Mondoñedo e Santiago de Compostela. O líder era Roi Xordo, um fidalgo da área da Corunha ou Ferrol.

Durante o século XV, com a debilidade do poder dos reis em Castela, os senhores feudais passaram a agir como reis nos seus próprios domínios[1]. Desse modo, tiveram início fortes confrontos entre os senhores, que inclusive envolveram pessoas do alto clero[2]. Em tais confrontos, os bandos mudavam rapidamente de composição em função das circunstâncias. Perante esta situação de instabilidade, os burgueses das cidades e das vilas começaram a formar irmandades com o fim de protegerem os seus direitos.

Portanto, os séculos XIV e XV foram épocas de grande conflito social, com diversos confrontos protagonizados pelos vizinhos das cidades de Santiago de Compostela, tais como, os que ocorreram:

  • em 1421, quando a "Irmandade de Roi Sánchez", fundada em 1418, rebelou-se em 1421 contra o bispo; e
  • em 1419, quando ocorreu em Ourense, uma revolta que terminou com a morte do bispo.
Castelo de Moeche, Galiza. Nele refugiou-se Nuno Freire de Andrade

Em 1431, Nuno II de Andrade, alcunhado O Mau, impôs uma nova taxa, por ocasião da visita do infante Henrique de Aragão ao Reino da Galiza.

Os vassalos, comandados por Roi Xordo, se rebelaram, derrubando algumas casas fortes, vinhas e hortas dos Andrade, estendendo depois as ações às comarcas próximas. Após o ataque ao Castelo de Betanzos, os irmandinhos tentaram atacar Santiago de Compostela, onde Nuno Freire se refugiou com a sua família. Lá, as tropas do bispo tentaram enfrentar a revolta, mas tiveram de ser retiradas.

Porém, os irmandinhos não chegaram a tomar Compostela: tiveram conhecimento prévio da fuga de Nuno Freire para o Castelo de Moeche, local para onde se dirigiram para localizá-lo. Durante o caminho, produz-se a Batalha do Eume, na qual foram derrotados[3].

A "Irmandade Fusquenlla" foi a primeira grande irmandade com capacidade para levar a revolta a uma parte importante da Galiza. E foi também um dos mais claros precedentes da posterior Grande guerra irmandinha, iniciada na primavera de 1467

Mas entre os dois eventos, ocorreram diversas pequenas rebeliões, tais como[4]:

  • 1446-56: Irmandade que demole fortalezas em vários portos das Rias Baixas;
  • 1455: Revolta dos residentes de Ourense contra o bispo;
  • 1454-58: Irmandade de Betanços e Corunha constituída com a permissão do Rei Henrique IV de Castela;
  • 1458-59: Revolta das cidades e vilas da terra de Santiago contra o Arcebispo Rodrigo de Luna, coincidindo com a rebelião dos cavaleiros do arcebispado (Moscoso, Sueiro Gomes de Soutomaior e Pedro Bermúdez de Montaos), com quem Santiago, Noia e Muros formou uma irmandade baseada na que já funcionava em Betanços e Corunha.
  • 1446-1448: Revolta do povo de Alhariz, contra a tomada de posse do povoado por parte do Conde de Benavente, que tinha uma carta de doação de Juan II;
  • 1454: Revolta semelhante em Viveiro contra Inês de Viveiro.
  • 1457: Revolta da cidade de Lugo contra Dom García Martínez de Baamonde.
  1. de Tejada, Francisco Elías, e Pércopo, Gabriela (1966):El Reino da Galiza hasta 1700. Editorial Galaxia. (em galego)
  2. Idem
  3. Villares Paz, Ramón: Historia de Galicia, Editorial Galáxia, 2004. ISBN: 978-84-8288-655-8 (em galego)
  4. Anselmo López Carreira (2005). O reino medieval de Galicia. Editorial Galaxia