Jesus entre os doutores – Wikipédia, a enciclopédia livre
Jesus entre os doutores, também conhecido como Jesus encontrado no Templo ou Disputa, foi um episódio da infância de Jesus relatado no Evangelho de Lucas. É um único evento da infância tardia de Jesus mencionado nos Evangelhos.
Episódio
[editar | editar código-fonte]O episódio aparece apenas em Lucas 2:42–51. O jovem Jesus, então com doze anos, acompanha Maria e José a Jerusalém numa peregrinação, segundo o "costume da festa" - ou seja, a Páscoa judaica. No dia de voltar, "ficou em Jerusalém" e seus pais, acreditando que ele estivesse à frente com parentes, iniciaram a viagem de volta para Nazaré. Notando o erro, eles voltaram para Jerusalém, encontrando Jesus três dias depois.[1] Ele foi encontrado no Templo, discutindo com os anciãos, que estavam "admirados" com sua sabedoria e inteligência, especialmente por sua pouca idade. Quando foi finalmente repreendido por Maria, Jesus respondeu «Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devia estar na casa de meu Pai?» (Lucas 2:49) (ou, em outra tradução, "Ele respondeu: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é de meu pai?"[2]). A história foi ligeiramente elaborada na literatura apócrifa posterior, como é o caso do Evangelho da Infância de Tomé (19:1-12).
O costume judaico posterior do Bar Mitzvah para garotos de treze anos, considerada a idade em que um garoto judeu adquire responsabilidade suficiente para aprender e seguir os mandamentos, aparece alguns séculos depois após a descrição de Lucas, mas pode ter sido esta a razão pela qual Jesus visitou o Templo - como jovem judeu que era - para estudar as Escrituras.
A perda de Jesus é a terceira das Sete dores de Maria e o seu reencontro é o quinto dos Mistérios Gozosos do Santo Rosário.
Na arte
[editar | editar código-fonte]O episódio já foi muitas vezes representado na arte cristã e era um componente comum nos ciclos da Vida da Virgem assim como nos da Vida de Cristo. Nas primeiras representações cristãs, Jesus aparece geralmente no centro, sentado numa plataforma elevada e rodeado pelos anciãos, que estão geralmente em arquibancadas. O gesto que Jesus geralmente aparece fazendo é apontando para o seu dedão erguido (ilustração) e é um gesto retórico tradicional de alguém explicando um texto. Estas representações derivam das composições clássicas dos mestres de filosofia ou retórica com seus estudantes e são similares às representações medievais da época sobre palestras em universidades. A partir do começo da Idade Média, o período mostrado é geralmente fundido com o reencontro por José e Maria, com eles representados, em geral à esquerda da cena. Tipicamente, Jesus e os doutores, compenetrados em suas discussões, não os notaram ainda. Do século XII em diante, Jesus aparece geralmente sentado numa cadeira similar a um trono, geralmente com um livro ou um rolo nas mãos.
Nas representações medievais tardias, os doutores, agora segurando e consultado grandes volumes, já tem características tipicamente judaicas e são, por vezes, caricaturas exageradas e com tons antissemitas, como nas imagens de Albrecht Dürer (vide imagem).
Do Alto Renascimento em diante, muitos pintores mostram um "close-up" da cena, com Jesus rodeado de perto por acadêmicos gesticulando. Rembrandt, que gostava de pintar anciãos judeus no Templo em diversas situações, fez três rascunhos sobre o assunto (Bartsch 64-66), além de um sobre a cena muito mais rara sobre "Jesus voltando do Templo com seus pais" (B 60)).
O assunto atraiu muito menos artistas a partir do século XIX e uma das últimas representações notáveis pode ser uma falsificação de Vermeer por Han van Meegeren perante a polícia holandesa para demonstrar que as pinturas que ele vendera para Goering eram também falsas.
Referências
- ↑ The Bible Knowledge Commentary: New Testament edition by John F. Walvoord, Roy B. Zuck 1983 ISBN 0882078127 page 210
- ↑ «Lucas 2:49». Bíblia da CNBB. Consultado em 10 de agosto de 2011[ligação inativa]
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Schiller, G. (1971). Iconography of Christian Art (em inglês). I. London: Lund Humphries. p. 124-5