João Ângelo (sebastocrator) – Wikipédia, a enciclopédia livre
João Ângelo | |
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Nascimento | ca. 1277 Bizie |
Morte | 1348 Constantinopla |
Nacionalidade | Império Bizantino |
Ocupação | General e governador |
Religião | Ortodoxia Oriental |
João Ângelo (em grego: Ἰωάννης Ἄγγελος, fl. 1328 – 1348) foi um aristocrata, general e governador bizantino. Se distinguiu primeiro pela supressão da revolta em Epiro em 1339-1340, onde foi em seguida nomeado como governador. Um parente do estadista e imperador João VI Cantacuzeno (r. 1347–1354), se aliou a ele na guerra civil bizantina de 1341-1347 e, no final de 1342, recebeu o governo da Tessália (e, possivelmente, do Epiro), cargo que manteve até a sua morte em 1348.
Biografia
[editar | editar código-fonte]João Ângelo era um parente - ele aparece como primo ou sobrinho nas fontes, com este último sendo mais provável - de João Cantacuzeno,[1][2] o amigo mais próximo de Andrônico III Paleólogo (r. 1328–1341) e futuro imperador como João VI (r. 1347–1354).[3] Os nomes dos seus pais são desconhecidos e a única informação precisa disponível sobre ele é que era genro do protovestiário Andrônico Paleólogo.[1][4] Em suas memórias, João Cantacuzeno afirma que ele mesmo criou João Ângelo e o ensinou a arte da guerra.[5]
João aparece pela primeira vez em 1328, quando era governador da cidade de Castória.[5] Nos anos após a morte de João II Orsini (r. 1323–1335), em 1335, Andrônico III já havia anexado gradativamente os territórios do Despotado de Epiro na Tessália, em Epiro e na Albânia.[6] Em c. 1336/1337, João Ângelo manteve o posto de céfalo de Janina, com o título de pincerna.[5][7] Havia ressentimentos, porém, com relação ao governo bizantino na região[8] e, em 1339, uma revolta irrompeu no Epiro, que rapidamente cresceu e conseguiu conquistar umas poucas fortalezas estratégicas, incluindo a capital, Arta. No final do mesmo ano, João Ângelo foi enviado por Andrônico III juntamente com o governador da Tessália, Miguel Monômaco, na vanguarda de um exército bizantino. O imperador e Cantacuzeno seguiram para a região na primavera de 1340. Já no final do ano a revolta foi sufocada e João Ângelo foi nomeado governador imperial em Arta.[9][10][11]
João permaneceu no Epiro como governador até a morte de Andrônico III em junho de 1341. Ele então deixou o cargo e viajou com uma delegação de altos-oficiais para se encontrar com Cantacuzeno em Demótica. Com a irrupção da guerra civil no início do outono, ingressou no partido de Cantacuzeno e esteve presente quando ele foi aclamado imperador em Demótica em 26 de outubro de 1341.[12][13][14] Na primavera de 1342, Ângelo seguiu Cantacuzeno em sua fracassada campanha em Tessalônica e na fuga subsequente para a Sérvia, para a corte de Estêvão Uresis IV (r. 1331–1346).[15][16]
No final do mesmo ano, porém, os magnatas da Tessália foram até Cantacuzeno e lhe ofereceram apoio na guerra. Após as negociações terem sido concluídas com sucesso, Cantacuzeno emitiu uma bula dourada nomeando João Ângelo, que também tinha o estatuto de pincerna na corte, como governador vitalício da Tessália. Embora Ângelo tenha sido posteriormente elevado ao cargo ainda mais alto de sebastocrator e desfrutado de alguma autonomia, sua autoridade era limitada: o posto não era hereditário e ele era estritamente um delegado do imperador.[17][18][19] Ângelo reinou com bastante sucesso. Tirando vantagem do declínio da Companhia Catalã do Ducado de Atenas, conquistou terreno ao sul e chegou a estender sua autoridade sobre Epiro e Acarnânia também, onde prendeu e colocou em prisão domiciliar Ana Paleóloga, a ardilosa viúva de João II Orsini e irmã de sua esposa. Suas ações, em meio à guerra civil, deram a Cantacuzeno um respiro há muito necessário.[16][20][21] No início de 1343, participou, à frente do contingente de cavalaria da Tessália, na tentativa fracassada de Cantacuzeno de tomar a cidade de Tessalônica.[22]
João Ângelo continuou a governar a Tessália (e, possivelmente, Epiro e Acarnânia também) até o início de 1348, quando morreu da Peste Negra que estava então devastando a região e causando uma severa perda populacional.[5][16][23] Os sérvios rapidamente se aproveitaram: Epiro caiu frente ao próprio Uresis no outono de 1347, enquanto que a Tessália foi tomada meses depois da morte de João pelo general sérvio Gregório Prealimpo, que se tornou o novo governador em nome de Uresis.[24][25]
Família
[editar | editar código-fonte]Pouco se sabe da família de João Ângelo. Casou-se com uma das filhas do protovestiário Andrônico Paleólogo, uma irmã da rainha de Epiro Ana Paleóloga.[5][21] Não se sabe se eles tiveram filhos, embora alguns autores tenham conjecturado que os irmãos conhecidos como Pincerneus (Pinkernaioi), ativos em Epiro na virada para o século XV, seriam seus descendentes.[26]
Referências
- ↑ a b Guilland 1967, p. 249.
- ↑ Nicol 1968, p. 53, 147.
- ↑ Fine 1994, p. 293ff.
- ↑ Nicol 1968, p. 147–148.
- ↑ a b c d e Trapp 1988, PLP 91038.
- ↑ Fine 1994, p. 253–254.
- ↑ Nicol 2010, p. 107.
- ↑ Nicol 2010, p. 108ff.
- ↑ Fine 1994, p. 254–255.
- ↑ Nicol 1996, p. 38–43.
- ↑ Nicol 2010, p. 114–121, 124.
- ↑ Guilland 1967, p. 249–250.
- ↑ Nicol 1996, p. 55–56.
- ↑ Nicol 2010, p. 124.
- ↑ Guilland 1967, p. 250.
- ↑ a b c Fine 1994, p. 302.
- ↑ Fine 1994, p. 301–302.
- ↑ Nicol 1968, p. 53.
- ↑ Nicol 2010, p. 126.
- ↑ Nicol 1996, p. 65.
- ↑ a b Nicol 2010, p. 127.
- ↑ Nicol 1996, p. 67.
- ↑ Bartusis 1997, p. 96.
- ↑ Fine 1994, p. 302, 320.
- ↑ Nicol 1996, p. 93–94.
- ↑ Nicol 2010, p. 172–173 (Note #56).
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Bartusis, Mark C. (1997). The Late Byzantine Army: Arms and Society 1204–1453. Filadélfia: Pennsylvania University Press. ISBN 0-8122-1620-2
- Guilland, Rodolphe (1967). Recherches sur les Institutions Byzantines, Tome I. Berlim: Akademie-Verlag
- Fine, John Van Antwerp (1994). The Late Medieval Balkans: A Critical Survey from the Late Twelfth Century to the Ottoman Conquest (em inglês). Ann Arbor, Michigan: University of Michigan Press. ISBN 0-472-08260-4
- Nicol, Donald MacGillivray (1968). The Byzantine family of Kantakouzenos (Cantacuzenus) ca. 1100–1460: A Genealogical and Prosopographical Study. Washington, Distrito de Colúmbia: Dumbarton Oaks Center for Byzantine Studies
- Nicol, Donald MacGillivray (1996). The Reluctant Emperor: A Biography of John Cantacuzene, Byzantine Emperor and Monk, c. 1295–1383 (em inglês). Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-52201-4
- Nicol, Donald MacGillivray (2010). The Despotate of Epiros 1267–1479: A Contribution to the History of Greece in the Middle Ages. Cambridge, Reino Unido: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-13089-9
- Trapp, Erich; Beyer, Hans-Veit; Leontiadis, Ioannis (1988). «91038. Ἄγγελος Ἰωάννης». Prosopographisches Lexikon der Palaiologenzeit. Addenda 1–8. Viena, Áustria: Verlag der Österreichischen Akademie der Wissenschaften