João Francisco de Oliveira (médico) – Wikipédia, a enciclopédia livre
João Francisco de Oliveira | |
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Nascimento | 9 de março de 1761 Funchal |
Morte | 26 de dezembro de 1829 (68 anos) Lisboa |
Cidadania | Portugal |
Filho(a)(s) | João Gualberto de Oliveira |
Alma mater | |
Ocupação | médico militar, político |
João Francisco de Oliveira Alves (Funchal, 9 de março de 1761 — Lisboa, 26 de dezembro de 1829), usava o nome João Francisco de Oliveira, foi um médico militar, formado pela Universidade de Coimbra em 1785, que se destacou como político durante o Vintismo. Foi físico-mor do Exército Português e inspetor-geral dos hospitais militares.[1] Com ligações próximas à família real,[2] foi deputado às Cortes e Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros do efémero 3.º governo do Vintismo, em funções de 30 de maio a 1 de junho de 1823.[3][4] Foi pai do político João Gualberto de Oliveira, o 1.º conde de Tojal.[5][6] Foi o impulsionador da criação de um jardim botânico na Madeira.[7][8]
Biografia
[editar | editar código-fonte]João Francisco de Oliveira Alves nasceu no Funchal, filho de Domingos de Oliveira Alves e de Lourença Rosa Justiniana. Terminados os estudos secundários no Funchal, foi para Coimbra, onde concluiu os estudos preparatórios para ingresso na Universidade. Na Universidade de Coimbra matriculou-se na Faculdade de Filosofia a 21 de outubro de 1776, na Faculdade de Matemática a 24 de outubro de 1777 e na Faculdade de Medicina a 23 de outubro de 1780. Obteve o grau de Doutor em Medicina a 3 de julho de 1785. Em 1787 foi lente substituto da Faculdade de Medicina durante um curto período.[6]
Transferiu-se para Lisboa e ingressou seguidamente como médico militar no Exército Português. Acompanhou como médico as forças portuguesas integradas no Exército Auxiliar à Coroa de Espanha que participaram nas campanhas do Rossilhão,[9] tendo sido promovido a físico-mor do Exército e inspetor-geral dos hospitais militares.[3]
Nomeado médico da Real Câmara, em Lisboa estabeleceu alguma proximidade com a família real, tendo os príncipes D. João e D. Carlota Joaquina sido padrinhos de alguns dos seus filhos. Em resultado dessa proximidade é atribuído a Francisco de Oliveira o complicado rapto de D. Eugénia José de Meneses, filha do 1.º conde de Cavaleiros e neta paterna do 4.º marquês de Marialva, dama de companhia da princesa, que engravidara, havendo a suspeita de o pai ser o próprio príncipe. O rapto ocorreu a 27 de maio de 1803. Curiosamente, D. João VI faz-lhe a doação de uma quinta no Monte (Funchal) e de uma fazenda em São Jorge (Santana), a 22 de abril do mesmo ano. A quinta e a fazenda seriam depois confirmadas em 1848, em seu filho Alexandre de Oliveira.[3][2][10]
Constaria que para salvar a honra do Príncipe Regente de um provável escândalo, teria raptado a aia da rainha, que depois terá deixado em Cádis, onde Eugénia foi recolhida pelas freiras do Convento de Conceição de Puerto de Santa Maria, onde teve a sua filha. Dali, mãe e filha teriam depois passado para um convento de Tavira, vindo Eugénia a falecer no Convento de Santo António da cidade de Portalegre, a 21 de janeiro de 1818. Entretanto o príncipe regente, por decreto de 2 de junho de 1803, proscreveu Eugénia da Corte declarando-a «riscada do título de dama, privada de todas as mercês e honras, e excluída da sucessão dos bens da coroa e ordens a que tenha, ou possa ter algum direito…», bem como retirando-lhe os direitos de sucessão na sua própria família.[11]
Quanto ao médico, cerca de um ano depois, a 12 de junho de 1804, por sentença da Casa da Suplicação foi condenado «de a raptar, ausentando-se com ella fugitivo …», pelo que se determinava que «com baraço e pregão seja levado até ao lugar da forca, onde morrerá…» sendo os seus bens confiscados. A criança recebeu o nome de Eugénia Maria do Rosário de Meneses e nasceu a 2 de novembro de 1803 em Cádis, tendo falecido a 19 de novembro de 1863 em Lisboa, com 60 anos de idade, sendo inumada na tumba n.º 1379 do Cemitério dos Prazeres.[12]
De Cádis, João Francisco de Oliveira seguiu para os Estados Unidos, onde durante alguns anos exerceu medicina em New Bedford.[3][2][13]
Após a transferência da corte para o Rio de Janeiro, deslocou-se àquela cidade, sendo o seu processo revisto em abril de 1820. Por decreto de 5 de abril 1820, passado na Corte do Rio de Janeiro, foi-lhe concedido o perdão real. No Rio de Janeiro foi bem recebido, obtendo uma comenda da Ordem de Cristo no ano seguinte, a 6 de novembro de 1821. Foi então encarregado da chefia da legação diplomática de Portugal em Londres, onde foi ministro e encarregado de negócios de 1821 a maio de 1822,[14] transitando depois para a legação em Paris.[3][15]
Em Paris ter-se-á envolvido numa conspiração, tendo de abandonar precipitadamente a capital francesa, acabando por recolher à ilha da Madeira onde ficou sob vigilância. A sua filha legitimada, Eugénia de Meneses e Oliveira (ou Eugénia Maria do Rosário de Meneses), também recolheu ao Funchal.[16] Eugénia Maria do Rosário de Meneses viria a casar em Lisboa, a 30 de novembro de 1839, com William Smith, o cônsul britânico em Lisboa.[17] Em 1858, William Smith e D. Eugénia Maria de Meneses Smith adquiriram uma luxuosa residência nos arredores de Sintra, a Quinta da Vigia (hoje Camelia Gardens), à qual deram a sua atual configuração geral.[18]
Foi eleito pela Divisão Eleitoral do Funchal deputado às Cortes do Vintismo nas eleições gerais de 1822. Por parecer de 20 de Dezembro de 1822, a Comissão de Verificação de Poderes, por parecer aprovado na sessão do mesmo dia, julgou legal a eleição como deputado de João Francisco de Oliveira, permitindo que tomasse posse do lugar.[19]
Na sequência da Vilafrancada foi chamado a integrar, com a pasta dos Negócios Estrangeiros, o efémero 3.º governo do Vintismo, nomeado numa tentativa de conciliação entre os apoiantes de D. João VI e do infante D. Miguel, mas esteve naquelas funções apenas alguns dias, dado o colapso do governo a 1 de junho de 1823.
Após esta passagem pelo governo retirou-se para o Funchal, onde em 1823 assumiu o cargo de provedor da Santa Casa da Misericórdia do Funchal. Nessas funções foi determinante para a criação de uma Aula de Cirurgia no Funchal, cujo programa elaborou, a qual daria origem à Escola Médico-Cirúrgica do Funchal, instituição que durante mais de 70 ano formaria médicos na ilha da Madeira. Manteve-se nesse cargo até 1825.[20][21] Também lhe é atribuída a primeira iniciativa visando a criação do Jardim Botânico da Madeira, pois a primeira vez que se mencionou a possibilidade de criar um organismo botânico na Madeira ocorreu em maio de 1798, através de um documento que João Francisco de Oliveira havia enviado a Domingos Vandelli, diretor do Real Jardim Botânico de Lisboa, intitulado Apontamentos para se estabelecer na Ilha da Madeira hum viveiro de plantas e huma Inspecção sobre a Agricultura da mesma Ilha. Na sequência dessa iniciativa, em 1799 criou-se um viveiro de plantas na freguesia do Monte, o qual, segundo os autores do Elucidário Madeirense, foi extinto em 1828 pelo governo de D. Miguel.[22]
Foi das mais importantes figuras da ilha da Madeira, pai do conde de Tojal, que teve carreira política em Lisboa, e de Alexandre de Oliveira, que permaneceu na ilha. Faleceu em Lisboa, a 26 de dezembro de 1829, com 68 anos de idade, estando sepultado na Igreja de São Domingos.[23]
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ A. Bandeira de Figueiredo, Introdução à História Médica da Madeira, Porto, 1963.
- ↑ a b c Cristina Norton, O segredo da bastarda, Lisboa, Temas e Debates, 2002.
- ↑ a b c d e João Francisco de Oliveira, 1822, Paris, França.
- ↑ João Cabral do Nascimento, «João Francisco de Oliveira e as suas filhas adulterinas», in Arquivo Histórico da Madeira, vol. III, pp. 116-117. Funchal, 1933.
- ↑ Eugênio da Cunha e Freitas, «Cartas do Dr. João Francisco de Oliveira a seu filho conde de Tojal», in Arquivo Histórico da Madeira, vol. IV, pp. 10-13. Funchal, 1934-1935.
- ↑ a b História da Ciência na UC : Alves, João Francisco de Oliveira (1761-?).
- ↑ O Jardim Botânico a Madeira.
- ↑ Carta de João Francisco de Oliveira, na qual dá a conhecer do anseio dos habitantes da ilha da Madeira, na criação de lotarias, da Escola Cirúrgica e do banco, datada do Funchal, 24 de janeiro de 1826.
- ↑ Correspondência de João Francisco de Oliveira, médico do Exército Auxiliar, para o tenente-general João Forbes.
- ↑ Ernesto Soares, «Ainda a bastarda de D. João VI», in Arquivo Histórico da Madeira, vol. IV, pp. 129 a 138. Funchal, 1934-1935.
- ↑ Alvará, por que Vossa Alteza Real Ha por bem Mandar riscar a Dona Eugenia José de Menezes, do Titulo de Dama, privalla de todas as Mercês, e Honras, e degradalla da familia, e Casa em que nasceo, como se houvesse nascido da infima plebe, na fórma acima declarada. Na Regia Officina Typografica, Lisboa, 2 de junho de 1803.
- ↑ D. Diogo José Ferreira de Eça de Meneses (1772-1862), 3.º Conde da Lousã : Uma família do Antigo Regime, entre Portugal e o Brasil.
- ↑ O caso está descrito em Pimentel, 1893, A ultima Corte do absolutismo em Portugal. Foi retomado por Carvalho, 1917, Médicos e Curandeiros, e por um autor anónimo, A., 1950, «O Ilustre Conselheiro João Francisco de Oliveira».
- ↑ Portal Diplomático: Reino Unido - Titulares.
- ↑ Paulo Miguel Rorigues, «João Francisco de Oliveira entre Paris, Londres e o Funchal: percursos de um diplomata e activista político (1820-1823)». Anuário do Centro de Estudos de História do Atlânico. Funchal, 4 (2012). pp. 107-128.
- ↑ Requerimento de João Francisco de Oliveira, médico no Funchal, em que solicita permissão para que a filha fique recolhida no convento de Nossa Senhora da Encarnação, enquanto ele se desloca ao Reino para tratar de negócios.
- ↑ Casamento de [William Guilherme Smith e D. Eugénia Maria [do Rosário] de Meneses].
- ↑ Camelia Gardens: história.
- ↑ Parecer, de 20 de Dezembro de 1822, da Comissão de Verificação de Poderes, sobre a verificação e legalização dos poderes do deputado João Francisco de Oliveira, eleito pela Divisão Eleitoral do Funchal, com base na ata de eleição e diploma do deputado.
- ↑ As Aulas Médico-Cirúrgicas no Hospital da Misericórdia do Funchal (1812-1836).
- ↑ A Antiga Escola Médico-Cirúrgica do Funchal. Breve Monografia Histórica.
- ↑ Historial do Jardim Botânico da Madeira.
- ↑ Find-a-Grave: Dr João Francisco de Oliveira.