Jogos Olímpicos de Verão de 1980 – Wikipédia, a enciclopédia livre
Jogos da XXII Olimpíada Moscou 1980 | ||
---|---|---|
Dados | ||
Sede | Moscou | |
País anfitrião | União Soviética | |
Países participantes | 80 CONs | |
Atletas | 5 179 | |
Eventos | 203 em 21 esportes | |
Cerimônia de abertura | 19 de julho | |
Cerimônia de encerramento | 3 de agosto | |
Abertura oficial | Leonid Brejnev, Secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética | |
Juramento do atleta | Nikolay Andrianov | |
Juramento do árbitro | Aleksandr Medved | |
Tocha | Sergei Belov | |
Estádio principal | Estádio Luzhniki | |
Jogos Olímpicos de Verão de 1980 (em russo: Летние Олимпийские игры 1980, romanizado: Letniye Olimpiyskiye igry 1980), conhecidos oficialmente como os Jogos da XXII Olimpíada foram os Jogos Olímpicos realizados em Moscou, União Soviética entre 19 de julho e 3 de agosto de 1980, e que contaram com a participação de 5.179 atletas de 80 nações. Esta foi a edição com o menor número de participantes desde Melbourne, em 1956, devido ao maior boicote da história olímpica, quando a influência da política no esporte chegou a seu ponto mais alto e decisivo.
No final de 1979, como protesto contra a invasão soviética do Afeganistão, o presidente norte-americano Jimmy Carter anunciou o boicote de sua nação aos Jogos Olímpicos de Moscou no ano seguinte, convocando seus aliados pelo mundo a darem o mesmo exemplo; 69 países, um número três vezes maior do que as nações africanas que se recusaram a participar dos Jogos anteriores em Montreal por questões raciais, seguiram o caminho dos Estados Unidos, levando estes Jogos a um esvaziamento que afetou bastante o nível técnico de diversas modalidades. Mesmo assim, algumas marcas e desempenhos excepcionais foram realizados e até atletas de países que apoiaram a ação americana acabaram participando individualmente sob a bandeira olímpica.
Este início dos anos 80 representou o pior momento vivido pelos Jogos Olímpicos e pelo Comitê Olímpico Internacional em toda a sua existência com o esperado boicote a ser feito em troca pela URSS e seus aliados aos Jogos seguintes em Los Angeles, fazendo com que seus dirigentes temessem pela própria extinção das Olimpíadas.
Processo de candidatura
[editar | editar código-fonte]As duas únicas cidades que se candidataram para sediar os XXII Jogos Olímpicos foram as cidades que perderam os Jogos de 1976 para Montreal: Moscou e Los Angeles. A escolha entre elas se deu em 23 de outubro de 1974, na 75ª sessão do Comitê Olímpico Internacional em Viena, na Áustria.
Resultados da eleição da cidade-sede dos Jogos da XXII Olimpíada[1] | ||
---|---|---|
Cidade | CON | Rodada única |
Moscou | União Soviética | 39 |
Los Angeles | Estados Unidos | 20 |
Boicote
[editar | editar código-fonte]Dado a invasão soviética ao Afeganistão, em 1979, os Estados Unidos decidiram boicotar os Jogos Olímpicos de 1980, o presidente americano Jimmy Carter deu um ultimato aos soviéticos, em 20 de fevereiro de 1980, para a completa remoção das tropas militares no Afeganistão. O boicote foi anunciado em 21 de março.
Carter pressionou outros países a também boicotar os Jogos, em que 69 nações aderiram, incluindo a Alemanha Ocidental, o Canadá e o Japão. Alguns países ocidentais apoiaram, como a França, Portugal e o Reino Unido, mas deram livre arbítrio para os atletas irem a União Soviética ou não. Porém, esses países mandaram uma delegação de atletas reduzida. Por estas questões, a Itália e a Grã-Bretanha foram as principais representantes da Europa Ocidental nos jogos de 1980. O boicote afetou severamente o nível de muitos eventos
De uma maneira ou outra, os jogos foram bem organizados, e mais recordes olímpicos foram quebrados nos jogos de 1980 do que nos Jogos de 1976, realizados em Montreal.
A União Soviética não ignorou o fato, e durante as cerimônias de abertura e encerramento foram apresentadas várias indiretas ao boicote ocidental.
Na cerimônia de abertura dos jogos, o presidente soviético Leonid Brejnev lamentou a interferência política em eventos criados para sustentar a paz, enquanto isso, durante o discurso, os painéis espelhados formavam uma mensagem pacífica О спорт, ты - мир!, em português: "Ó, esporte, tu és a paz!"
Na cerimônia de encerramento, a audiência esperava pelo hasteamento das bandeiras soviética (país sede), grega (país olímpico) e a americana (próximo país sede), mas pelo fato de a delegação dos Estados Unidos não ter comparecido, a bandeira da cidade de Los Angeles foi hasteada no lugar da bandeira americana e no lugar do hino americano, foi tocado o hino olímpico.[2]
A famosa cena do choro do mascote Misha também foi uma das indiretas, já que o ursinho lamentava a ausência das delegações que participavam do boicote.[3]
Fatos e destaques
[editar | editar código-fonte]- Pela primeira e única vez os Jogos não foram transmitidos exclusivamente por uma rede de TV americana. A NBC abriu mão das transmissões das competições em virtude do boicote americano, limitando-se a transmitir flashes em videotape das competições em sua programação diária, e um pool televisivo formado pela rádio e TV estatal da URSS, a Univision, Eurovision, Televisa mexicana e a canadense CTV foi o responsável pelas imagens ao vivo para todo o planeta.
- os Estados Unidos, que protestavam contra a intervenção soviética no Afeganistão, no mesmo momento estavam intervindo na Guerra Civil Libanesa, e três anos mais tarde, a menos de um ano da Olimpíada de 1984, que seria realizada em Los Angeles, os norte-americanos deram início à Invasão de Granada.
- Apesar do boicote de muitos países do Ocidente, uma imagem dos jogos rodou bastante em todos eles: após conseguir o ouro no salto com vara, o polonês Władysław Kozakiewicz, farto das vaias da plateia soviética, que torcia pelo atleta local Konstantin Volkov, mandou para ela um gesto obsceno internacionalmente difundido, conhecido no Brasil como "banana". O ato agradou à opinião pública polonesa, também cansada da forte influência da URSS sobre o país. No ocidente, foi visto como um protesto político.
- Misha, o ursinho símbolo dos Jogos de Moscou, tornou-se o mais popular mascote olímpico da história. Sua imagem derramando uma lágrima na cerimônia de encerramento do evento, formada por placas movimentadas por participantes nas arquibancadas do estádio, é uma das mais ternas e emocionantes imagens destes Jogos.
- O nadador Vladimir Salnikov entrou para a história ao ser o primeiro homem a nadar os 1 500 m livres, a maratona da natação, em menos de 15 minutos. Em 1988, oito anos mais velho, ele faria o retorno às Olimpíadas em Seul, ganhando novamente os 1 500 m.
- Na disputa do remo, modalidade dois sem, um observador distraído que olhasse para o pódio da premiação imaginaria que estivesse vendo a vida em dobro. Numa coincidência extraordinária e num fato único, as duas duplas ganhadoras das medalhas de ouro e de prata, da Alemanha Oriental e da União Soviética, eram formadas por gêmeos univitelinos idênticos.
- Após a ausência nos Jogos de Montreal devido ao boicote das nações africanas, a Etiópia estava de volta mostrando seu poderio e tradição nas corridas de fundo, com o grande Miruts Yifter, um homem de idade nunca esclarecida, conquistando a medalha de ouro nos 5 000 e nos 10 000 m, igualando a performance do finlandês Lasse Viren em 1976.
- O soviético Aleksandr Dityatin tornou-se o nome dos Jogos ao arrebatar oito medalhas nos oito eventos masculinos da ginástica olímpica (três delas de ouro), sendo o único ginasta a conseguir tal feito numa olimpíada.
- O grande boxeador cubano Teófilo Stevenson marcou seu lugar na história como maior boxeador amador de todas as épocas ao conquistar sua terceira medalha de ouro seguida na categoria superpesados.
- O alemão-oriental Waldemar Cierpinski igualou-se em títulos ao lendário etíope Abebe Bikila conquistando o bicampeonato na maratona olímpica.
- Participando sob a bandeira olímpica, graças ao boicote também promovido por seu país, os britânicos Sebastian Coe e Steve Ovett dividiram em corridas dramáticas as medalhas de ouro dos 800 e dos 1 500 m no atletismo.
- A Alemanha Oriental dominou completamente as provas do remo, ganhando onze das quatorze modalidades do esporte.
- A vela, disputado fora de Moscou, na baía de Tallinn, fez a alegria do Brasil nesta Olimpíada, trazendo para o país duas inesperadas medalhas de ouro, através dos velejadores Marcos Soares e Eduardo Penido, dois garotos de 20 anos, na classe 470 e Alexandre Welter e Lars Bjorkstrom na classe Tornado. Estas medalhas brasileiras seriam o prenúncio da brilhante geração de iatistas que surgiria no país quase vinte anos depois, liderada por Robert Scheidt e Torben Grael.
- Por outro lado, a esperança brasileira João Carlos de Oliveira, ainda recordista mundial do salto triplo, teve que se contentar novamente com o bronze, numa final polêmica em que os juízes da prova, todos russos, foram acusados de anular um salto perfeito do brasileiro, que lhe daria o ouro, com a intenção de fazer o compatriota Viktor Saneyev conquistar sua quarta vitória olímpica na modalidade, o que acabou não acontecendo.
Modalidades disputadas
[editar | editar código-fonte]Países participantes
[editar | editar código-fonte]No total, 81 Comitês Olímpicos Nacionais, competiram nos Jogos de 1980, o número mais baixo desde Melbourne 1956. Atletas da Libéria desistiram da competição após desfilarem na cerimônia de abertura, restando 80 nações participantes. Apesar do boicote que afetou a presença de diversas nações, seis países fizeram sua primeira aparição em Jogos Olímpicos: Angola, Botsuana, Jordânia, Laos, Moçambique e Seicheles. O Chipre fez sua estreia em Jogos Olímpicos de Verão, mas já havia participado seis meses antes nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1980, em Lake Placid. O Sri Lanka competiu pela primeira vez com o seu novo nome (anteriormente como Ceilão) assim como o Zimbábue (antiga Rodésia).
Na lista abaixo, o número entre parênteses indica o número de atletas por cada nação nos Jogos de Moscou. Países em itálico representam as nações que competiram nos Jogos sob a bandeira olímpica ou do respectivo Comitê Olímpico Nacional:
|
|
|
Quadro de medalhas
[editar | editar código-fonte]Ordem | País | |||||
---|---|---|---|---|---|---|
1 | URS União Soviética | 80 | 69 | 46 | 195 | |
2 | GDR Alemanha Oriental | 47 | 37 | 42 | 126 | |
3 | BUL Bulgária | 8 | 16 | 17 | 41 | |
4 | CUB Cuba | 8 | 7 | 5 | 20 | |
5 | ITA Itália | 8 | 3 | 4 | 15 | |
6 | HUN Hungria | 7 | 10 | 15 | 32 | |
7 | ROM Romênia | 6 | 6 | 13 | 25 | |
8 | FRA França | 6 | 5 | 3 | 14 | |
9 | GBR Grã-Bretanha | 5 | 7 | 9 | 21 | |
10 | POL Polônia | 3 | 14 | 15 | 32 | |
17 | BRA Brasil | 2 | 2 | 4 |
Artigos relacionados
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ aldaver.com. «INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE VOTE HISTORY» (em inglês). Consultado em 5 de outubro de 2009
- ↑ «Cópia arquivada» (PDF). Consultado em 21 de setembro de 2012. Cópia arquivada (PDF) em 18 de novembro de 2008
- ↑ http://rutube.ru/tracks/1295516.html Arquivado em 3 de fevereiro de 2012, no Wayback Machine. Олимпиада 1980 - РуТубе