Judas Iscariotes – Wikipédia, a enciclopédia livre
Judas Iscariotes (em hebraico: יהודה איש־קריות; romaniz.: Yehudhah ish Qeryoth; em grego bíblico: Iouda Iskariôth[1] ou Iouda Iskariotes[2]) foi um dos doze apóstolos de Jesus Cristo, que, de acordo com os evangelhos canônicos, veio a ser o traidor que entregou Jesus aos seus captores por trinta moedas de prata e, entrando em desespero, enforcou-se, segundo a tradição cristã.[3] Judas, em grego Ioudas, uma helenização do nome hebraico Judá (יהודה, Yehûdâh, palavra que significa "abençoado" ou "louvado"), sendo, por sinal, o nome de apóstolo que mais vezes aparece nos Evangelhos (vinte vezes) depois do de Simão Pedro.
Judas Iscariotes | |
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Remorso de Judas de José Ferraz de Almeida Júnior, 1880. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. | |
Nascimento | Queriote, Judeia, Império Romano |
Morte | 30 d.C. ou 33 d.C. Jerusalém, Judeia, Império Romano |
Causa da morte | Suicídio por enforcamento |
Etnia | judeu |
Historicidade
[editar | editar código-fonte]Embora a existência histórica de Judas Iscariotes seja em geral amplamente aceita entre os historiadores seculares,[4][5][6][7] esse consenso relativo não passou totalmente incontestado.[5] A alusão mais antiga possível a Judas vem da Primeira Epístola aos Coríntios 11: 23-24, na qual o apóstolo Paulo não menciona Judas pelo nome,[8][9] mas usa a forma passiva da palavra grega paradidōmi (παραδίδωμι), que a maioria das traduções da Bíblia traduz como "foi traído":[8][9] "... o Senhor Jesus na noite em que foi traído tomou um pedaço de pão ..."[8] No entanto, muitos estudiosos da Bíblia argumentam que a palavra paradidōmi deveria ser traduzida como "foi entregue".[8][9] Esta tradução ainda poderia se referir a Judas,[8][9] mas também poderia se referir a Deus metaforicamente "entregando Jesus" aos romanos.[8]
Em seu livro Antisemitism and Modernity (2006), o estudioso judeu Hyam Maccoby sugere que, no Novo Testamento, o nome "Judas" foi construído como um ataque aos judeus ou ao sistema religioso judaico responsável pela execução de Jesus.[10][11] Em seu livro The Sins of Scripture (2009), John Shelby Spong concorda com esse argumento,[12][13] insistindo, "Toda a história de Judas tem a sensação de ser inventada ... O ato de traição por um membro dos doze discípulos não são encontrados nos primeiros escritos cristãos. Judas é o primeiro colocado na história cristã pelo Evangelho segundo Marcos (3:19), que escreveu nos primeiros anos da oitava década da Era Comum."[12]
A maioria dos estudiosos rejeita esses argumentos pela não-historicidade,[6][14][15][16] observando que não há nada nos evangelhos que associe Judas com os judeus, exceto seu nome, que era extremamente comum para os judeus durante o primeiro século,[14][17][9] e que numerosas outras figuras chamadas "Judas" são mencionadas em todo o Novo Testamento, nenhuma delas é retratada negativamente.[14][17][9] Figuras positivas chamadas Judas mencionadas no Novo Testamento incluem o profeta Judas Barsabás (Atos 15: 22-33), o irmão de Jesus, Judas (Marcos 6: 3; Mateus 13:55; Judas 1), e o apóstolo Judas Tadeu, o filho de Tiago (Lucas 6: 14-16; Atos 1:13, João 14:22).[14] B. J. Oropeza argumenta que os cristãos não devem repetir a tragédia histórica de associar Judas Iscariotes com os judeus, mas sim considerá-lo como um apóstata cristão emergente e, portanto, um deles.[14] Sua traição por causa de uma soma de dinheiro alerta os auditores contra o vício da cobiça.[14]
Outras perspectivas
[editar | editar código-fonte]De acordo com alguns estudiosos, Judas de Iscariotes teria sido membro da seita dos zelotes. No quadro de um Messianismo Político do 1.º Século, estaria convencido de que ele, com todo o seu poder, concretizaria a chegada do Reino tão desejado por Israel. Mas, com o tempo, terá começado a sentir-se desiludido, porque Jesus não terá correspondido aos seus ideais e expectativas. Desencantado com Jesus, o terá entregue ao Sinédrio, para assim unir o povo judeu numa revolta contra Roma e desencadear o estabelecimento imediato do Reino de Deus.[18]
Outros sustentam que na realidade Judas não traiu Jesus Cristo por 30 moedas. Argumentam que ele terá agido por ordem do próprio Jesus, precipitando dessa forma a morte na cruz e a redenção da humanidade. Por fim, ele não se teria suicidado como dizem os Evangelhos canónicos, mas antes retira-se para o deserto para meditar. O Evangelho sobre Judas, escrito gnóstico do 2.º Século, "não deve ser visto como a versão verdadeira sobre o destino do apóstolo de má fama, mas como mais uma peça no quebra-cabeças dos primeiros anos do cristianismo".[19]
Cultura popular
[editar | editar código-fonte]Em 2011, outra cantora estado-unidense, Lady Gaga, lançou uma canção de nome "Judas", contida no seu terceiro álbum de estúdio, Born This Way, como single. A canção narra uma luta pessoal da intérprete de querer amar a Jesus Cristo, porém se vê amando a Judas Iscariotes.[20][21]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ Marcos 3:19; Marcos 14:10; Lucas 6:16
- ↑ Mateus 10:4; Lucas 22:3; João 12:4
- ↑ Livro "Preparação para a Morte", Santo Afonso Maria de Ligório; Editora: Edição PDF de Fl. Castro. Ano: 2004, Pág. 290 "Infeliz Judas!... Há mais de mil e novecentos anos que já está no inferno e, não obstante, se diria que seu castigo apenas vai em princípio!..."
- ↑ Ehrman 1999, pp. 216–217.
- ↑ a b Gubar 2009, pp. 31–33.
- ↑ a b Stein, Robert H. (2009). «Criteria for the Gospels' Authenticity». In: Paul Copan; William Lane Craig. Contending with Christianity's Critics: Answering New Atheists & Other Objectors. Nashville, Tennessee: B&H Publishing Group. p. 93. ISBN 978-0805449365
- ↑ Meier, John P. (2005). «Criteria: How Do We Decide What Comes from Jesus?». In: Dunn, James D.G.; McKnight, Scot. The Historical Jesus in Recent Research. Warsaw, Indiana: Eisenbrauns. pp. 127–28. ISBN 978-1575061009
- ↑ a b c d e f Gubar 2009, p. 29.
- ↑ a b c d e f Stanford 2015.
- ↑ Maccoby, Hyam (2006). Antisemitism And Modernity. Londres, Inglaterra: Routledge. p. 14. ISBN 978-0415553889
- ↑ Gubar 2009, p. 27.
- ↑ a b Spong, John Shelby (2009). The Sins of Scripture. Nova Iorque: HarperCollins. ISBN 978-0060778408
- ↑ Gubar 2009, pp. 27–28.
- ↑ a b c d e f Oropeza, B.J. (2010). «Judas' Death and Final Destiny in the Gospels and Earliest Christian Writings». Neotestamentica (44.2). pp. 342–61
- ↑ Tropenza, B.J. (2011). In the Footsteps of Judas and Other Defectors: Apostasy in the New Testament Communities Volume 1:The Gospels, Acts, and Johannine Letters. Eugene, Oregon: Cascade/Wipf & Stock. pp. 149–50, 230
- ↑ Gubar 2009, p. 28.
- ↑ a b Gubar 2009, p. 31.
- ↑ Diário de Noticias de 21 de maio de 2006, Secção Opinião, Anselmo Borges, Padre e Professor de Filosofia; National Geographic, Abril de 2006, pág.; História Viva, Novembro de 2003, pág. 61-5; O Processo de Judas, Dr. Remy Bijaoui, Imago, 1999.
- ↑ Veja de 12 de abril de 2006, ed. 1951, pág. 91.
- ↑ Dinh, James (23 de março de 2011). «Lady Gaga To Direct 'Judas' Video With Laurieann Gibson». MTV (em inglês). MTV Networks. Consultado em 3 de maio de 2011
- ↑ Perpetua, Matthew (18 de fevereiro de 2011). «Preview Six Songs From Lady Gaga's 'Born This Way'». Rolling Stone (em inglês). Consultado em 3 de maio de 2011
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Ehrman, Bart D. (1999), Jesus: Apocalyptic Prophet of the New Millennium, ISBN 978-0195124743, Oxford, Inglaterra: Oxford University Press
- Ehrman, Bart D. (2016), Jesus Before the Gospels: How the Earliest Christians Remembered, Changed, and Invented their Stories of the Savior, ISBN 978-0-06-228520-1, Nova Iorque, Nova Iorque: HarperOne
- Gubar, Susan (2009), Judas: A Biography, ISBN 978-0-393-06483-4, Nova Iorque, Nova Iorque e Londres, Inglaterra: W. W. Norton & Company
- Stanford, Peter (2015), Judas: The Most Hated Name in History, ISBN 978-1-61902-750-3, Berkeley, Califórnia: Counterpoint
- Zwiep, Arie W. (2004), Judas and the Choice of Matthias: A Study on Context and Concern of Acts 1:15-26, ISBN 978-3-16-148452-0, Wissenschaftliche Untersuchungen zum Neuen Testament 2. Reihe, 187, Tubinga, Alemanha: Mohr Siebeck