Judeu Nuquim – Wikipédia, a enciclopédia livre
Judeu Nuquim | |
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Autor(es) | Octavio Mello Alvarenga |
Idioma | português brasileiro |
País | Brasil |
Assunto | romance histórico |
Gênero | Romance |
Editora | Bloch |
Lançamento | 1967 |
Páginas | 360 |
Judeu Nuquim é um romance histórico do escritor mineiro Octavio Mello Alvarenga, terceiro lugar no II Prêmio Walmap de 1967, com 243 romances inscritos e cuja banca examinadora foi composta por Guimarães Rosa, Jorge Amado e Antônio Olinto,[1] autor do prefácio da obra, “Um Romance Objetivo e Estórico”. “Estórico no sentido de que reconstitui um passado, mas a reconstituição é mais de espírito do que de pormenores”.[2] "A formação de Minas Gerais e de parte de nosso interior, em cuja composição entraram muitas raças e muitas culturas, recebe, com Judeu Nuquim, um momento de iluminação."[3]
O romance é, em grande parte, narrado em primeira pessoa por quatro personagens – o Capitão Fonsalmiro, seu compadre Zé Trabuco, o Padre Padrim e o Judeu Nuquim – embora em alguns capítulos mais ao final o narrador onisciente assuma o comando da narrativa.
Segundo o autor em entrevista ao jornal O Globo[4] quando premiado com o Walmap, a obra é "uma transposição lírica de certas constantes da alma mineira e é um mergulho nas raízes históricas do seu Estado. O personagem que dá o nome ao livro é um cristão novo, fugitivo do Tribunal Inquisitorial que se instalou na Bahia. A irmã de Nuquim se casa com um paulista, o Capitão Fonsalmiro. Por sua vez o paulista arrasta consigo uma gama psicológica de elementos bastante diferentes daqueles que caracterizam os cristãos novos."
ENREDO
[editar | editar código-fonte]Com a prisão dos pais, cristãos novos vindos de Portugal para evitar perseguições, pelo tribunal da inquisição mandado instalar no Brasil, Nuquim Bergman e sua irmã Domitila (Domi) deixam Salvador e fazem um longo percurso pelo sertão até o Rio São Francisco e subindo-o até as minerações (Minas Gerais), onde Nuquim, o "barba-de-fogo", estabelece um comércio. "Não foi fácil o caminho. Não era fácil o cumprimento de tanta distância, que o velho Nuquim, do fundo de sua prisão, nos apontara percorrer."[5] Travam conhecimento com Afonso Almiro de Pessoa (o Capitão Fonsalmiro), Vigia do Rei, cobrador do quinto real, que quando mais jovem fora capitão de bandeiras que desbravavam o interior em busca de “gentios” (índios) para escravizar, ouro, e terras para cultivar e criar gado, mas que agora jaz doente, com uma ferida na perna ("vida de perna doente, mulher zangada, velhice e solidão me arrastando aos poucos para o cemitério")[6], em sua propriedade rural, a Fazenda dos Angicos.
O capitão guarda na memória uma paixão que tivera por Marianja (Maria dos Anjos, também conhecida como Maria do Padre: "minha Marianja de Pousada, que foi fel e flor na vida que tive antes de vir para as Minas. E por que não veio comigo?"),[7] filha do Padre Inocêncio de Queirós (Padre Padrim) com uma índia goianá, sacerdote mal visto pela congregação por se aproximar demais dos índios e proteger a cultura deles, que acaba sendo assassinado. Marianja prefere acompanhar o pai a casar com Fonsalmiro, que acaba desposando a irmã de Nuquim. Domitila se assimila, perde a identidade judaica, mas Nuquim a conserva e lê regularmente trechos da Torá e dos Profetas. "Minha Torá querida. [...] Meu livro de capa negra, com profetas, salmos, admoestações, longas genealogias que se construíram de sangue, as falas do Senhor, suas ordens, castigos."[8]
Ao ser desrespeitado por Fonsalmiro devido aos seus hábitos religiosos ("O Nuquim cunhado o aborrecia no seu silêncio de ler debaixo da lâmpada pela noite afora; nas exigências de comidas, mania de recusar carne de porco, gostosíssimos lombos com farofa e ameixa que chegavam por encomenda especial; o diabo do homem sempre tinha uma desculpa para não comer, não partilhar"),[9] Nuquim resolve deixar Angicos. No caminho para o Rio de Janeiro, encontra Marianja que, após a morte do padre, vaga pelo sertão com um grupo de índios miseráveis e fanáticos. Em gratidão pela ajuda prestada por Nuquim, Marianja batiza o filho do qual está grávida com o mesmo nome do judeu. Um dia Fonsalmiro irá conhecer o filho Nuquim.