Kwalliso – Wikipédia, a enciclopédia livre
As colônias prisionais de trabalho forçado para presos políticos na Coreia do Norte, transliteradas como kwalliso ou kwan-li-so, constituem uma das três formas de prisão política no país, as outras duas sendo as prisões de curta duração e os centros de trabalhos forçados – para contravenções ou crimes mais sérios, respectivamente. No total, estima-se que haja de 80 a 120 mil prisioneiros políticos nos kwalliso.[1]
Diferentemente de outros sistemas penais, os condenados são enviados para os kwalliso sem nenhum processo judicial juntamente com os membros de três gerações de sua família. A duração das prisões varia, mas muitos são condenados a trabalhos forçados pelo resto da vida. Os trabalhos forçados num kwalliso tipicamente incluem mineração – de carvão, ouro e minério de ferro –, corte de árvores e madeira, atividades agrícolas e atividades industriais. Os campos abrigam várias indústrias estatais de itens como roupas, calçados e móveis.
Estimativas sugerem que, no início de 2007, havia seis campos kwalliso operando no país. Originalmente havia 14 campos, mas a maioria deles foi fundido com outros ou fechado, tendo seus prisioneiros transferidos.[2]
Origens e desenvolvimento
[editar | editar código-fonte]Atrás apenas do desenvolvimento de seu programa nuclear, as violações de direitos humanos que ocorrem na Coreia do Norte dominam a percepção negativa sobre o país. Traçar o desenvolvimento destas prisões, símbolo máximo da opressão nortecoreana, é uma forma de traçar a trajetória da própria nação. Ainda, o advento e o desenvolvimento das prisões estão diretamente ligados ao isolamento do país do resto do mundo e a radicalização estatal.[3]
Emergência histórica e conceitualização
[editar | editar código-fonte]Em janeiro de 1979, um relatório foi publicado pela Anistia Internacional detalhando a angustiante história de Ali Lameda, um poeta venezuelano preso na Coreia do Norte. Ele foi detido em 1967, mantido preso por um ano sem julgamento, colocado em prisão domiciliar, e então preso novamente por mais seis anos como parte de sua sentença de vinte anos. Este foi o primeiro caso de violação de direitos humanos na Coreia do Norte a ser internacionalmente discutido, embora prisões sistemáticas de indivíduos por motivos políticos acontecessem já há décadas.[3][4]
O encarceramento de presos políticos não é uma prática unicamente nortecoreana ou stalinista. O sistema prisional da Coreia do Norte foi desenvolvido no governo de Kim Il Sung (1945–94) e ampliado por seus sucessores, e é frequentemente classificado como uma abominação, barbárie ou "holocausto moderno", ou ainda um gulag. Em particular, o uso do termo "gulag" é empregado para lembrar os laços nortecoreanos com a extinta União Soviética, sugerindo que, juntamente com a ideologia comunista, centralização econômica e coletividade, o sistema prisional do país e o tratamento de inimigos políticos são práticas herdadas de Stalin e da União Soviética, implementados pelo governo nortecoreano.[3]
Influências stalinista e maoista
[editar | editar código-fonte]Desde o início, a Coreia do Nortem tem mantido uma complexa relação com Rússia e China. Imediatamente após o término da Guerra da Coreia em 1953, a Coreia do Norte e Kim Il Sung buscaram a China e a União Soviética para ajuda econômica e militar. Antes da ruptura sino-soviética no início da década de 1960, Kim visitou as capitais de ambos os países várias vezes, mas o distanciamento causou problemas a Kim, que lutava para continuar em bons termos com ambos. De forma geral, Kim deveu à China e à União Soviética a sobrevivência de seu país, e tinha consciência da dominância de ambos. Mas a crescente disputa deu à Kim espaço para manobrar entre as duas potências comunistas, ambas tolerantes pelo receio de perder a Coreia do Norte para o lado oposto.[5]
Embora de acordo com a mitologia nortecoreana Kim seja o criador de toda a forma de política, o líder não foi original em suas ideias. Até mesmo a Juche, tida como uma ideologia corena original, é atribuída a filósofos coreanos mais antigos. Em suma, o modelo para os campos de prisão pode ter vindo dos gulags implantados por Stalin na década de 1930, que ironicamente pode ter chegado à Coreia como uma forma de reação contra o movimento antistalinista, liderado pela União Soviética na década de 1950. Uma outra possibilidade é que o distanciamento de Kim da doutrina soviética indicou uma aproximação com a China maoista.[6][7]
Referências
- ↑ «Concentrations of Inhumanity» (PDF) (em inglês). Freedom House. Maio de 2007. Consultado em 24 de novembro de 2017
- ↑ a b c «Democratic People's Republic of Korea: Ali Lameda: A personal account of of the experience of a Prisoner of Conscience in the Democratic People's Republic of Korea» (em inglês). Amnesty International. 1 de janeiro de 1979. Consultado em 13 de junho de 2018
- ↑ «El poeta venezolano que conoció el infierno de Corea del Norte» (em espanhol). ALnavío. 19 de agosto de 2017. Consultado em 13 de junho de 2018
- ↑ «The China–North Korea Relationship» (em inglês). Concil on Foreign Relations. 28 de março de 2018. Consultado em 18 de junho de 2018
- ↑ «How North Korea's Political Ideology Became A De-Facto Religion» (em inglês). HuffPost. 27 de abril de 2017. Consultado em 18 de junho de 2018
- ↑ «Shen, Mao, Stalin and the Korean War: Trilateral Communist Relations in the 1950s, 2012» (em inglês). USC US-China Institute. 1 de janeiro de 2013. Consultado em 18 de junho de 2018