A Espuma dos Dias (filme) – Wikipédia, a enciclopédia livre

L'écume des jours
A Espuma dos Dias (PRT/BRA)
 França
2013 •  cor, p&b •  131 min 
Gênero comédia dramática
Direção Michel Gondry
Roteiro Michel Gondry, Luc Bossy
Elenco Romain Duris
Audrey Tautou
Gad Elmaleh
Omar Sy
Aïssa Maïga
Charlotte Le Bon
Sacha Bourdo
Idioma francês

A Espuma dos Dias[1][2] (L'écume des jours) é um filme francês dirigido por Michel Gondry, lançado na França, na Suíça e na Bélgica em 2013. Trata-se de uma adaptação para o cinema do romance homônimo escrito por Boris Vian.

Colin é rico o bastante que nem precisa trabalhar, mora em uma casa ensolarada, possui um cozinheiro particular, Nicolas, que prepara iguarias sem igual segundo o chefe Gouffé. Na casa de Colin, também vive um rato de estimação que habita um universo que reproduz em pequenas dimensões a própria casa de Colin. Além disso, Colin tem uma predileção por jazz, tanto que inventou um pianocktail (piano que prepara coquetéis), ele partilha tais bebidas produzidas a partir do ritmo da música com seu amigo Chick. Em um dia em que estão almoçando juntos, Chick relata a Colin que conheceu Alise, uma jovem mulher, que como ele, também é fã do escritor Jean-Sol Partre ("versão espumosa" do escritor Jean-Paul Sartre, que era amigo de Boris Vian). Por coincidência, Alise é sobrinha de Nicolas. Na conversa com Chick, Colin confessa que também deseja apaixonar-se.

Na festa de aniversário do cachorro de Isis, Colin enamora-se à primeira vista por Chloé, cujo nome o faz lembrar de uma canção homônima de Duke Ellington, jazzista admirado por Colin. A partir de então, Colin e Chloé partilham vários momentos juntos: dançam o bigle moi, passeiam sobre uma nuvem, vão patinar em um rinque de patinação cuidado por homens com cabeça de pássaro, partilham momentos do cotidiano. Colin e Chloé decidem se casar. Na cerimônia de casamento há uma competição de corrida de carro para ver quem chega primeiro ao altar: o casal casamenteiro, Chloé e Colin, ou o casal de padrinhos, Chick e Alise. Esta última fica ressentida em não poder se casar com Chick por falta de dinheiro, pois seu parceiro, fã inveterado de Jean-Sol Partre, gasta tudo o que ganha colecionando livros e relíquias do escritor.

Na lua-de-mel, Chloé aspira uma semente que vai lhe desencadear uma grave doença: um nenúfar começa a crescer em seu pulmão. A doença progride, Chloé sente-se muito fraca, o tratamento recomendado pelo médico é que ela viva cercada de flores (pois a beleza dessas fará inveja ao nénufar que cresce nos pulmões da doente). Conforme o estado de saúde de Chloé se agrava, a casa de Colin vai se ensombrecendo e também começa a encolher, pois a vida financeira de Colin também vai de mal a pior: gastou muitos doublezons (moeda utilizada nessa realidade fictícia) na cerimônia de casamento, emprestou dinheiro para Chick se casar com Alise (o que não se realizou, pois Chick continuou a comprar livros e manuscritos de Jean-Sol Partre), além dos gastos com o tratamento da doença de sua amada Chloé. A situação torna-se tão calamitosa, que até Nicolas, o cozinheiro jovem do início da narrativa começa a envelhecer rapidamente e a olhos vistos.

Necessitado, Colin resolve trabalhar na indústria armamentícia, sua função é simples: doar o calor do seu corpo forte e jovem para fazer brotar as sementes de armas e fazer crescer os canos de pistolas. No entanto, as armas produzidas por Colin são ineficientes e ele é mandado embora. Sua casa continua a escurecer, a encolher e a saúde de Chloé só piora. Paralelamente, Alise faz uma tentativa de curar a obsessão de Chick na sua fonte geratriz: ela decide matar Jean-Sol Partre com um arranca-corações (arma específica para esse fim), além de incendiar todas as livrarias onde Chick tenha gasto dinheiro. Por conta de seu vício, Chick perde seu emprego, deixa de pagar seus impostos e por isso é perseguido e morto pela polícia. Alise também morre em um dos incêndios. Sem recursos para continuar o tratamento de Chloé, Colin a vê morrer. O pior de tudo é que ela terá um enterro indigno, um enterro de pobre.

No caminho para o cemitério, Colin se depara com um lago e nele vê um nenúfar, planta aquática pela qual ele tem um ódio fundamentado. Ele joga pedras no nenúfar, mas isso não basta e ele se lança ao lago para tentar assassinar o nenúfar inimigo.

A direção de Michel Gondry, os cenários, os efeitos especiais, o uso das cores para criar sentido tentam dar conta do universo surreal e paralelo criado por Boris Vian como simulacro da sociedade dita civilizada. Apenas para dar uma ideia desse estilo fantasista que existe no romance e que Michel Gondry tenta traduzir para as telonas, eis algumas cenas dignas de nota: Colin aparando as pálpebras, Nicolas ensinando seu patrão a dançar o bigle moi (pernas que se afrouxam e se esticam desmedidamente), enguias que saem do bico das torneiras, o universo em miniatura do ratinho, raios de luz que são palpáveis, nuvens que transportam os amantes, sapatos que fogem dos pés, um dia no campo que faz simultaneamente sol e chuva, músicas que arredondam os espaços, a violência banalizada (Colin assassina um dos homens-cabeça-de-pássaro, ele é espancado na igreja por não ter dinheiro suficiente para pagar a cerimônia de enterro, Alise mata Jean-Sol Partre de modo frio e sem culpa), a plantação de armas de fogo, a mudança de um mundo colorido inicialmente para um mundo mais tenebroso no fim da narrativa (notar o uso das cores na narrativa visual de Michel Gondry: as cores alegres, vivas e joviais do início do filme vão se desbotando até chegar quase ao preto e branco no final).

Como destaca Jacques Morice, do Télérama, "O famoso romance de Boris Vian estimula o imaginário de Gondry, constrangendo-o bastante a um certo rigor que por vezes lhe faltava [...] Esse cinema de visualizações torna-se bem mais perturbador porque é orquestrado com uma aparente simplicidade. Michel Gondry não recorre à um exército de efeitos digitais. Seu filme é tudo, menos espetaculoso. Porque a direção, bem artesanal, senão arcaica, se sustenta sobre o concreto do cotidiano. O diretor não se demora nunca sobre suas invenções, ele as filma como que de passagem. É esta magia furtiva, subterrânea, que seduz".[3]

Recepção da crítica

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O filme de Gondry ao ser lançado talvez não tenha causado o impacto esperado de um filme com orçamento de 20 milhões de euros[4] (e de um diretor reconhecido por sua magnífica direção em Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças) por estar em concorrência com o arrebatador La vie d'Adèle, de Abdellatif Kechiche. Além disso, por ser um filme baseado em um romance, quase sempre há uma subestimação da narrativa visual em relação à narrativa literária original, como poderá ser percebido nas críticas abaixo.

L'écume des jours suscitou críticas positivas, negativas e mistas.

Dentre as críticas positivas, citam-se:

A crítica do Le Parisien diz: "O que você sonhou, Michel Gondry realizou. O óvni do cinema francês ousou levar às telas a história de amor de Colin e Chloé, bela e minada por um nenúfar que cresce em seu pulmão. O universo sempre fantástico do livro pode causar vertigem, em especial na primeira parte. A segunda, mais calma, mais trágica, em um maravilhoso preto e branco, é de infinita beleza. Os atores formam cada um uma faceta desse sonho despertado."[5]

Alain Spira, de Paris Match faz a seguinte colocação: "Bem batido, esse coquetel cinematográfico onírico-poético-dobrável é deliciosamente tocante. Que viagem extraordinária ele nos oferece".[6]

Thierry Méranger, em Cahiers du cinéma, diz: "A força do filme, esquizofrênica, mal amável e fascinante, mantém-se ainda mais próxima de Vian do que se poderia imaginar".[7]

Dentre as críticas negativas, destacam-se:

Thomas Sotinel, do Le Monde, declara: "A espuma dos dias [...], li o romance de Vian com um entusiasmo que não é sempre comunicável. [...] Poderia se dizer que o filme esgota toda sua energia na construção de um mundo que não chega aos pés de seus habitantes".[8]

Philippe Trétiack, da Elle, acha que "Michel Gondry fez um filme que é de início um tsunami de imagens, de clipes publicitários que seduzem e encantam e então terminam afogando o espectador. Uma pena".[9]

Danièle Heymann, de Marianne, conclui: "É necessário colocar em evidência: na versão Gondry do livro que tanto amamos não resta nada além do que a espuma..."[10]

Referências

  1. AdoroCinema (Brasil)
  2. CineCartaz (Portugal)
  3. « Le fameux roman de Boris Vian stimule l'imaginaire de Gondry, tout en le contraignant à une certaine rigueur qui lui faisait parfois défaut encore. [...] Ce cinéma de visions est d'autant plus troublant qu'il est orchestré avec une apparente simplicité. Michel Gondry ne recourt pas à une armada d'effets numériques. Son film est tout sauf spectaculaire. Car la mise en scène, très artisanale sinon archaïque, porte sur le concret du quotidien. Le réalisateur ne s'attarde jamais sur ses inventions, il les filme comme en passant. C'est cette magie furtive, souterraine, qui séduit. » Crítica publicada no Télérama.
  4. L'écume des jours prend l'eau artigo do Le Figaro.fr.
  5. « Vous en avez rêvé, Michel Gondry l'a fait. L'ovni du cinéma français a osé porter à l'écran l'histoire d'amour de Colin et de Chloé, minée par un nénuphar grossissant dans le poumon de la belle. L'univers perpétuellement fantasque du livre peut donner le vertige, notamment dans la première partie. La seconde, plus calme, plus tragique, dans un superbe noir et blanc, est d'une infinie beauté. Les acteurs forment chacun une facette de ce rêve éveillé » http://www.leparisien.fr/cinema/critiques-cinema/l-ecume-des-jours-un-reve-eveille-24-04-2013-2754451.php
  6. « Bien secoué, le cocktail cinématographique onirico-poético-foldingue est délicieusement frappé. Quel voyage extraordinaire il nous offre ! » Crítica de L'écume des jours no Paris Match.
  7. « La force du film, schizophrène, mal aimable et fascinant, est de se tenir encore plus près de Vian qu’on aurait pu l’imaginer. » Extrato da crítica publicada no Cahiers du cinéma, disponível no site do AlloCiné.
  8. « L'Ecume des jours [...] lit le roman de Vian avec un enthousiasme qui n'est pas toujours communicatif. [...] On dirait que le film épuise toute son énergie à la construction d'un monde qui ne fait plus beaucoup de place à ses habitants. » Extrato da crítica do Le Monde, disponível no AlloCiné.
  9. « Michel Gondry a tiré un film qui est d'abord un tsunami d'images, de clips de pubs qui séduisent et enchantent puis finissent par noyer le spectateur. Dommage. ». Extrato da crítica da Elle disponível no AlloCiné.
  10. « Il faut se rendre à l'évidence, dans la version Gondry du livre que nous avons tant aimé ne demeure que l'écume... ». Extrato da crítica da revista Marianne, disponível no AlloCiné.
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