L'Envers de l'histoire contemporaine – Wikipédia, a enciclopédia livre

L'Envers de l'histoire contemporaine
Autor(es) Honoré de Balzac
Idioma Francês
País  França
Série Scènes de la vie parisienne
Lançamento 1848
Cronologia
Les Petits Bourgeois
Un épisode sous la Terreur

L’Envers de l’histoire contemporaine (em português, O avesso da história contemporânea[1]) é um romance de Honoré de Balzac, publicado em 1848. Entra para as Cenas da vida parisiense da Comédia Humana.

Tem-se pouca certeza sobre o histórico de publicação desta obra que, por si própria, resume todo o trabalho secreto do escritor, sua maneira de compor intrigas secundárias nas quais ele deixa, às vezes, um traço de uma mensagem. Ao terminar o romance, Balzac não sabia que seria seu último. Sua saúde já estava debilitada. As obras seguintes restarão inacabadas. Compreende-se melhor, sabendo disso, a escolha do tema: uma sociedade secreta com fim de caridade. A escolha de lugar também: um quarteirão deserto não distante da catedral de Notre-Dame de Paris.

A mitologia balzaquiana, diretamente herdada do romance negro, deseja que a força reine pelo mistério, que todo poder verdadeiro seja oculto.[2].

Aqui trata-se de um poder oculto caridoso: os Irmãos da Consolação, que se protegem pelo segredo, e cujos membros mantêm uma vida religiosa, modesta, sem exigências. Esta associação é exatamente o inverso dos Treze, da Histoire des Treize[3] ou da Sociedade dos dez mil, comandada por Vautrin[4]. Quando fala do seu romance, Balzac indica que prepara um tipo de oposição a Splendeurs et misères des courtisanes, onde a depravação reina com poder absoluto, e afirma que, nesta obra, ele desejava "aplicar ao bem a mesma ideia que ao mal". A necessidade de virtude, de beneficência, de religião em pleno coração de uma capital corrompida é como o último voto de um escritor que se exauriu em descrever todas as facetas do mundo, das melhores às piores, e que vai deixar depois dele uma obra gigantesca, inspiradora para inúmeros escritores. Balzac cria uma estrutura que entrará para a história da literatura: a ideia de "ciclo de romances", em que se inspirarão, entre outros, Émile Zola e Marcel Proust.

Primeiro episódio: Madame de La Chanterie

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Um dia, em setembro de 1836, o jovem Godefroy, que decide abandonar sua vida de desregramento e de indolência, e que se encontra com uma proprietária após ler um anúncio, vê um homem levar ajuda e consolação a outro. Chegando à casa onde lhe alugam um quarto (Madame de la Chanterie é a proprietária), reconhece o bom homem. Ele quer saber mais sobre as atividades deste e de Madame de la Chanterie, mas pedem-lhe um pouco de paciência. Pois antes de se tornar um "iniciado", deve-se conformar a preceitos estritos.

A casa, situada na rue Chanoinesse, perto da catedral de Notre-Dame de Paris, é ocupada pela sociedade dos Irmãos da Consolação, inteiramente dedicada à caridade cristã. Godefroid aprende com Madame de La Chanterie, que preside esta sociedade, os costumes da casa: levantar e deitar muito cedo e procurar inspiração na piedosa obra A Imitação de Cristo. Os outros membros desta sociedade são o Sr. Nicolas (na verdade o Marquês de Montauran, ex-coronel da gendarmaria), o Sr. Joseph (Lecamus, barão de Tresnes e ex-conselheiro da corte real), o Sr. Alain, o abade de Vèze e a empregada Manon.

Uma noite, Monsieur Alain contou a Godefroid como, quando jovem, ele duvidou de um amigo a quem havia emprestado uma grande soma de dinheiro, um amigo que finalmente devolveu honestamente a quantia total emprestada. Este evento desencadeou no Sr. Alain sua dedicação à caridade e ele se juntou à sociedade dos Irmãos da Consolação após conhecer o juiz Jean-Jules Popinot, cofundador da sociedade com Madame de La Chanterie e o vigário de Notre-Dame.

Godefroid também aprende com o Sr. Alain a história de Madame de La Chanterie. Nascida em 1772 como Barbe-Philiberte de Champignelles, ela se casou com Henri de La Chanterie, que se tornou presidente do Tribunal Revolucionário e foi condenado com a queda de Robespierre. Madame de La Chanterie salva o marido da prisão, mas ele continua a traí-la e morre alguns anos depois. A filha deles, Henriette, casada em 1807 com o Barão Polydore Bryond des Tours-Minières (o futuro Contenson, agente da polícia secreta), se deixa atrair pelo marido para um caso de Chouannerie. Ela é condenada à morte e executada, Madame de La Chanterie é condenada à prisão, mas restabelecida durante a Restauração.

Segundo episódio: O iniciado

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Uma vez que o desejo de Godefroid de pertencer a esta sociedade misteriosa se manifesta, ele recebe uma missão sob o patrocínio do Sr. Alain. Enquanto o próprio Sr. Alain se infiltrará como capataz numa "grande fábrica onde todos os trabalhadores estão infectados com as doutrinas comunistas, e sonham com a destruição social, a degola dos patrões [...]", Godefroid é enviado para a rue Notre-Dame-des-Champs, perto do boulevard du Montparnasse. Encontra-se neste endereço uma família composta por um velho (Sr. Bernard), sua filha Vanda – gravemente afetada pelo tricoma e acamada há anos – e o filho desta, Auguste. Godefroid se dedica à tarefa e oferece à família uma ajuda que lhe permitirá sair da miséria, defendendo o princípio da caridade católica, que contrasta com os princípios da filantropia mencionados pelo Sr. Bernard.

Na irmandade, é criticado por ter se deixado seduzir pela “poesia da miséria”. Descobre-se que o velho é, na verdade, o juiz que, nos dias do Império, condenou Madame de La Chanterie e sua filha. Sua missão é então retirada e Godefroid teme que a sociedade aproveite a oportunidade fácil para se vingar do carrasco da filha de La Chanterie. No entanto, ele soube algum tempo depois que os Irmãos continuaram o trabalho iniciado por Godefroid e tiraram a família da pobreza, mantendo o anonimato. É o próprio Sr. Bernard quem pesquisa para descobrir a origem de Godefroid, e quem encontra sua ex-vítima, na rue Chanoinesse. Ele reconhece seu crime e se arrepende, com as palavras: “Os anjos se vingam assim."

E o romance termina com esta frase: “Naquele dia, Godefroid foi admitido na Ordem dos Irmãos da Consolação."

Referências

  1. Honoré de Balzac. A comédia humana. Org. Paulo Rónai. Porto Alegre: Editora Globo, 1954. Volume XI
  2. Bernard Pingaud. Introdução a L’Envers de l’histoire contemporaine. Paris: Gallimard, « coll. Folio », 1970, p. 9
  3. São três as histórias dos treze: Ferragus, La Duchesse de Langeais e La fille aux yeux d'or.
  4. Personagem criminosa presente em Splendeurs et misères des courtisanes, Le Père Goriot e Illusions perdues.
  • (fr) Sarah Mombert, « L’Envers de l’histoire contemporaine : conjurations, complots et sociétés secrètes, moteurs souterrains du récit romanesque romantique », Stendhal, Balzac, Dumas : un récit romantique ?, Toulouse, PU du Mirail, 2006, p. 21-31.
  • (fr) Franc Schuerewegen, « Honoré de Bouillon, un air de famille : Triste histoire de la fin de Balzac », Balzac, pater familias, Amsterdam, Rodopi, 2001, p. 95-106.
  • (pt) Marcel Bouteron. "Balzac e os irmãos da consolação". In Honoré de Balzac. A comédia humana. Org. Paulo Rónai. Porto Alegre: Editora Globo, 1954. Volume XI, pg 494

Ligações externas

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