Língua javaé – Wikipédia, a enciclopédia livre

Língua javaé é uma língua originária dos Javaés e falada por, aproximadamente, 1.510 indígenas,[1] de 32 aldeias no sudeste do estado do Tocantins.[2] Os Javaés são denominados Itya Mahãdu (povo do meio).[3] A língua Javaé pertence ao tronco linguístico Macro-jê, integrando a família linguística karajá.[3]

O povo indígena Javaé possuem uma cultura rica e ancestral. São conhecidos por sua organização social em clãs, sua habilidade em cerâmica, pesca e agricultura, além de sua forte conexão com a natureza e a preservação de suas tradições.[4]

No contexto da comunicação entre os colonizadores e os povos indígenas do interior do Brasil, as línguas do tronco linguístico Macro-Jê eram desconhecidas pelos colonizadores. Isso levava à presença constante de intérpretes nas expedições em regiões distantes do litoral brasileiro, onde predominavam as línguas Tupi. No caso dos Javaés, em vários momentos, os contatos com não indígenas aconteceram através de um líder ou de alguém que falava a língua Karajá (ou ambos juntos).[5]

O contato entre os colonizadores e os povos indígenas geralmente ocorria por meio de expedições exploratória.[1] No contato com os Javaés, os colonizadores buscavam estabelecer relações comerciais, religiosas ou políticas com o grupo indígena. Nesses encontros, intérpretes que falavam a língua Karajá ou algum líder indígena que dominava o idioma atuavam como mediadores, facilitando a comunicação entre as partes. Essa mediação permitia a troca de informações, negociações e acordos entre os grupos envolvidos.[5]

Localização geográfica

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Os falantes da língua Javaé estão localizados  no estado do Tocantins, Brasil, mais especificamente na Ilha do Bananal, região cercada pelo rio Araguaia e rio Javaés, e que está entre os estados do Tocantins, Pará e Mato Grosso na Amazônia Legal. Com cerca de 2.000.000 hectares, a região faz parte da ilha ocupada pelo Parque Nacional do Araguaia, na qual além do povo Javaé, estão os Karajá e Avá-Canoeiro.[5]

Situação sociolinguística

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As línguas indígenas se diferenciam das línguas europeias e de outras línguas do mundo em sua fonética, fonologia, morfologia, sintaxe, léxico e categorias gramaticais refletindo, assim, um cruzamento entre os universos real e conceitual em sua semântica. Os Javaés, como muitas outras línguas indígenas, enfrentam desafios de preservação e revitalização cultural e linguística externa.[6]

Os povos Inỹ/Javaé falam variações dialetais da língua Inỹribe, da família linguística Karajá e do Tronco Macro-Jê.[4]

Estrutura linguística

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Estudos recentes indicam que, da mesma forma que entre os Karajás da Ilha do Bananal, a língua nativa é amplamente utilizada no dia a dia dos falantes Javaé.[2][7][5]

Pertencente à família linguística Macro-Jê, ela integra o subgrupo Jê e se caracteriza como uma língua aglutinante, ou seja, a formação das palavras ocorre mediante a adição de afixos, prefixos e sufixos, com a finalidade de expressar diversos significados gramaticais. Além disso, a língua Javaé possui um conjunto de consoantes e vogais que são empregadas na construção de palavras e frases.[6][3]

O grupo principal dentro da família Macro-Jê é a família -Jê, que inclui línguas faladas principalmente nas áreas de campos cerrados. Essas áreas se estendem do sul do Maranhão e do Pará, passando pelos estados de Goiás e Mato Grosso, até chegar aos campos no sul dos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Isso contrasta com a distribuição geográfica da família Tupí-Guaraní, que está localizada em áreas de floresta tropical e subtropical.[6]

Fonologia, Fonética e Ortografia

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As letras do alfabeto Inỹ são: a, b, d, e, h, i, j, k, l, m, n, o, r, s, t, u, w, x, y.[3]

Quanto a forma de escrever palavras em Karajá, geralmente se lê de maneira semelhante a pronúncia das letras correspondentes em português, com algumas exceções[7]:

Letra Pronúncia
J se pronuncia como /d / antes da letra /i/ como em "dia"
K /k/ se pronuncia como /c/ antes da letra /a/
S se pronuncia com a lígua entre os dentes
R se pronuncia como /r / de “cara”, mesmo no princípio de palavras.
T se pronuncia com o ar entrando na boca, a língua ficando na mesma posição que o /d/.
X é um som só, como /ch / na palavra “chá”.
À é um som neutro, que se forma no meio da boca.
Ò se pronuncia como /ó/ (aberto).
È se pronuncia como /é/ (aberto).
Y representa um som entre o /i/ e o /u/, que se pronuncia com a língua elevada no meio da boca e com os lábios não arredondados.

As palavras Karajá são oxítonas, com exceção dos verbos que se acentuam na raiz.[7]

Os Javaé utilizam tecnonímia em vez de nomes pessoais ao se dirigirem aos parentes, tanto próximos quanto distantes. Por exemplo, eles usam a expressão "walana" para se referir ao tio materno, em vez de usar o nome pessoal do tio. Os vocábulos no dialeto Javaé têm uma acentuação oxítona como nas palavras Irasò (“Aruanã”) e tyky (“pele”, “roupa” ou “casca”).[3]

Afixos verbais

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Os afixos verbais desempenham um papel fundamental na língua Javaé. São elementos gramaticais que têm um impacto significativo na comunicação e na estrutura das frases nessa língua. Eles não apenas fornecem detalhes sobre o que está acontecendo, mas também auxiliam na formação de frases claras, permitindo que os falantes se comuniquem de maneira direta e transmitam informações de maneira simples.[3]

Afixos
Interrogativo aõbo
Partícula de interrogação bo
Indicador do agente du
Pronome possessivo da 3ª pessoa, masculino ou feminino I
morfema de chamar kỹ
continuativo myhỹ
nominalização e determinativo na
verbalizador ny
sufixo de negação ou artigo indefinido õ
pronome de posse ta
pronome possessivo da 1ª pessoa, masculino ou feminino wa

Outras palavras e seus significados[3]:

Javaé Tradução/Português
kyre "Metade," "pedaço"
makèrè “vá embora”
manakèrè “venha cá”
sõmõ “pequeno”, “menor"
kijá "pequeno”
hikỹ “grande”, "maior"
hokỹ “grande”
wii "bom”, “belo’, “boa” e “música”

Amostra de texto em Javaé

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Canção Javaé

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Versão de cântico de trocas cerimoniais entre Wèrè e Tòlòra ( povos espirituais do fundo dos rios). Traduzido por Ricardo Tèwaxi Javaé, professor e residente da aldeia Javaé Canoanã em outubro de 2007.[3]

Língua Javaé Tradução literal por Tèwaxi
Iumỹ Iumỹ
Alabièhé rohonỹrerikeremỹ aalabièhè Avós que saíram
Rohonỹmỹreakeremỹ Avós que chegaram logo, saindo.
Kiakireke wirahureri Saíram de dentro da casa.
Hetowokireke rohonỹmỹ kiahe Casa abandonada, sentado.
Runỹremỹ itxikiesỹ tyimỹ Logo você se levanta.
Teamỹ rerumỹtakỹle ritxienỹmỹ Cordão feito de embira para a sua perna.
Kiakõrikihemỹ tatyobỹ Quando levanta, se vê a embira no corpo.
Kiahe ritxienỹremỹ idiraremỹ Viveu.
Tõõ Tõõ
Waixi kihe aõhebo tutatemỹ Porque você era irmão mais novo.
Tami rarybereri inỹ sèdu Eu falo para ele.
Hãwa kireke Gente, nossa mãe na aldeia
Wèrè riore wana wideboromỹ he Filha de Wèrè com o filho dele
Runỹremỹ kiaki hàri raremỹ Que ficou aí.
Kiaki kiè hàri raremỹ Tinha pajé, pajé existe.

Referências

  1. a b RICARDO, KLEIN, SANTOS, Fany Pantalioni, Tatiane, Tiago Moreira dos (2023). Povos Indígenas no Brasil, 2017-2022. São Paulo: Instituto Socioambiental. p. 11. ISBN 978-65-88037-17-1 
  2. a b JAVAÉ, Ricardo Tewaxi (2019). Escrito em Palmas. Nas águas do rio Javaés. Histórias, cosmologia e meio ambiente (PDF). Universidade Federal do Tocantins: Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais. pp. 58–59 
  3. a b c d e f g h LOURENÇO, Sonia Regina (2009). Brincadeiras de Aruanã: Performance, Mito, Música e Dança entre os Javaé da Ilha do Bananal (TO) (PDF). Florianópolis: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA 
  4. a b GIRALDIN, Oldair. JAVAÉ; Ricardo Tewaxi (7 de maio de 2021). Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis.Espaço, Tempo e Narrativas: reflexões sobre a cultura Inỹ/Javaé, Ilha do Bananal, Tocantins, Brasil. [: https://doi.org/10.5007/2175-8034.2022.e78338 n.24 (n. 1, p. 162–189)]: p. 164 
  5. a b c d PIN, André Egidio (2014). «História sobre o povo Javaé (Iny) e sua relação com as políticas indigenistas: da colonização ao Estado brasileiro (1775-1960)» (PDF). Sistema de Bibliotecas UFG: p.37. Consultado em 24 de setembro de 2023 
  6. a b c RODRIGUES, Aryon Dall'lgna (1986). Línguas brasileiras: Para o conhecimento das línguas indígenas (PDF). São Paulo: Edições Loyola. p. 17 
  7. a b c TORAL, André Amaral de (1992). Cosmologia e Sociedade Karajá (PDF). Rio de Janeiro: MUSEU NACIONAL. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL. p. 9 

Ligações externas

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