Luciano Corsetti – Wikipédia, a enciclopédia livre

Diretoria da Festa da Uva de 1932. De pé, Artur Rossarolla, secretário; Ottoni Minghelli, vice-presidente, e Luciano Corsetti, tesoureiro. Sentado, Dante Marcucci, presidente.

Luciano Corsetti (Caxias do Sul, ? — Caxias do Sul, 1973) foi um empresário, jornalista e político brasileiro.

Vinha de uma família tradicional de Caxias do Sul, fundada pelo imigrante italiano Angelo Corsetti, que enriquecera com um moinho, depois transformado em uma grande empresa, a Corsetti & Cia., atuante no comércio de grãos, frutas e hortaliças e na indústria de rações, farinhas, massas e implementos agrícolas. A esta família pertence o ex-ministro Hygino Caetano Corsetti.[1][2] Luciano era sócio da empresa familiar[3] mas também trabalhava independentemente como contabilista, representante comercial, agente imobiliário, consultor jurídico e organizador de novas empresas com o Escritório Corsetti, que manteve entre 1933 e 1942, qualificado pela imprensa como "modelar organização que honra Caxias".[4][5][6] Foi ainda tesoureiro da Festa da Uva de 1932,[7] festeiro de Santa Teresa,[8] bibliotecário e conselheiro jurídico da Associação dos Comerciantes,[9][10] jornalista correspondente do Correio do Povo a partir de 1934[11] e diretor da sua sucursal caxiense entre 1940 e 1942, delegado da Associação Riograndense de Imprensa no mesmo período,[12][13][14] e depois prefeito.[15]

Foi o primeiro prefeito eleito por sufrágio universal em Caxias do Sul, assumindo em 13 de dezembro de 1947 e permanecendo no cargo até 31 de dezembro de 1951, liderando a chapa do PTB. Na época o Brasil retornava ao regime democrático orientado por uma nova Constituição, depois da ditadura de Getúlio Vargas. O Legislativo também foi recomposto, depois de dez anos de inatividade.[16]

Chamado na imprensa de "idealista", "personalidade íntegra" que ressalta "pelo trabalho, virtudes, honra e justiça",[17] elogiado pelo acadêmico e poeta Cyro de Lavra Pinto — que militava em partido rival — como homem público de "largo descortino e grande atividade" e "um dos mais sãos e sólidos valores que mourejam em prol da coletividade",[18] segundo Buchebuan & Piccinini sua administração foi conciliadora, considerado um bom governante e interessado pelos problemas coletivos.[19] Reorganizou, praticamente refundando, a Biblioteca Pública,[20] criou e subvencionou várias escolas, com destaque para a Escola de Belas Artes, a primeira em seu gênero no município (depois viraria curso superior e seria incorporada pela UCS).[21] Criou o sistema das feiras livres, atendendo a repetidas demandas da classe rural que desejava distribuir sua produção na zona urbana sem intermediários,[22] abriu estradas na zona rural e promoveu a capacitação técnica do agricultor, melhorando também a telefonia rural e o Horto Florestal.[23][24] Na opinião de Loraine Giron, Corsetti "administrou com competência tanto na educação como na agricultura. Seus sucessores não tiveram igual competência".[25] Financiou a ampliação do Hospital Pompeia, o principal hospital regional,[26] implementou significativas melhorias na rede de abastecimento de água e nas estações de tratamento, bem como no cemitério público, no Corpo de Bombeiros, no calçamento das ruas,[27][24][23] e no aeroporto,[28][29] e isentou do pagamento de imposto predial os clubes e associações recreativas, esportivas, educativas e beneficentes.[30]

O Monumento Nacional ao Imigrante.

Promulgou uma nova Lei Orgânica para o município e dirigiu a elaboração de um novo Plano Diretor a fim de melhor manejar uma rápida e desordenada expansão urbana, mas este não chegou a ser aprovado pela Câmara.[19][31] Segundo declaração de Mansueto Serafini Filho, que foi prefeito anos depois, "o grande erro de Caxias foi o Plano Diretor de Luciano Corsetti não ter sido implantado, então surgiram muitos problemas urbanos".[19] No entanto, mesmo sem aprovação oficial, o Plano deu a base para algumas intervenções da Prefeitura na malha urbana, destacando-se a criação de um parque e um grande pavilhão permanente para as exposições da Festa da Uva, onde hoje está instalada a sede do Poder Executivo.[16]

Também marcou sua gestão o início da construção do Monumento Nacional ao Imigrante, inaugurando uma nova e positiva fase nas relações entre os descendentes de italianos e os luso-brasileiros, que haviam sofrido uma profunda ruptura durante a Era Vargas pela imposição de um rápido abrasileiramento da região colonial e pela repressão dos sinais da italianidade. Por sua participação ativa na obra deste importante memorial, de forte carga simbólica para a comunidade, que hoje é um dos seus principais cartões-postais e declarado um dos seus símbolos oficiais, recebeu homenagem da Câmara em 1951 e novamente em 2014.[32][33][34] Seu nome batiza uma escola municipal.

Referências

  1. "A primeira transmissão a cores da TV brasileira". O Explorador, 25/10/2008
  2. Griffante, Ariel. "Reflexos de Progresso". Revista Live, 08/04/2016
  3. "Corsetti & Cia". O Momento, 10/03/1945
  4. "Escritório Técnico Comercial". A Época, 05/07/1942
  5. "Transporte Aereo de Correspondencia". O Momento, 13/06/1935
  6. "Modelar organização que honra Caxias". A Época, 13/10/1940
  7. Adami, João Spadari. Festas da Uva 1881-1965. São Miguel, 1966, p. 27
  8. "A festa de nossa padroeira". O Momento, 09/10/1933
  9. "Associação dos Comerciantes". O Momento, 09/10/1933
  10. "A Posse da Nova Diretoria da Ass. dos Comerciantes". O Momento, 22/11/1934
  11. "Correio do Povo". O Momento, 12/07/1934
  12. "Sucursal Correio do Povo". A Época, 28/04/1940
  13. "Novo Delegado da A.R.I. em Caxias". O Momento, 21/04/1941
  14. "A Ass. Rio Grandense de Imprensa tem novo delegado em Caxias". A Época, 06/09/1942
  15. "A posse do novo prefeito eleito de Caxias". O Momento, 24/12/1947
  16. a b Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul [Geni Salete Onzi (org.)]. Palavra e Poder: 120 anos do Poder Legislativo em Caxias do Sul. Ed. São Miguel, 2012, pp. 62-65; 133
  17. "Alvo de expressiva homenagem, por motivo de seu primeiro ano de governo, o senhor Luciano Corsetti, chefe da comuna". O Momento, 18/12/1948
  18. "Luciano Corserti, ilustre prefeito de Caxias do Sul". O Momento, 11/12/1948
  19. a b c Buchebuan, Terezinha de Oliveira & Piccinini, Livia Teresinha Salomão. "Complexo Jardelino Ramos: área pública X cidadão de costas quentes" Arquivado em 26 de outubro de 2016, no Wayback Machine.. In: I Seminário Urbfavelas. São Bernardo do Campo, 2014
  20. Bergozza, Roseli Maria. Escola Complementar de Caxias: histórias da primeira instituição pública para formação de professores na cidade de Caxias do Sul (1930-1961). Dissertação de Mestrado. UCS, 2010, p. 37
  21. Xerri, Eliana Gasparini. da Universidade da Serra à Universidade de Caxias do Sul (1950-2002): o pensar e o construir da universidade na serra gaúcha. Tese de Doutorado. PUCRS, 2012, pp. 124-130
  22. "Crônica do Município". O Momento, 01/01/1949
  23. a b "A marcha dos serviços públicos da comuna". O Momento, 04/06/1949
  24. a b "Mandato popular". O Momento, 25/12/1948
  25. "Caxias Centenária: de Campo dos Bugres a Município (1875-2010)". História Daqui, 05/10/2013
  26. Almeida, Edlaine Cristina Rodrigues de. História da Escola de Enfermagem Madre Justina Inês: uma instituição de ensino superior formando enfermeiras em Caxias do Sul/RS (1957-1967). Dissertação de Mestrado. Universidade de Caxias do Sul, 2012, p. 52
  27. "O senhor prefeito municipal aborda importantes assuntos administrativos de Caxias do Sul para a reportagem desta folha". A Época, edição especial do 11º aniversário, out/1949
  28. "Trabalhos no aeroporto municipal". O Momento, 07/04/1951
  29. "Aeroporto Municipal". O Momento, 26/08/1950
  30. Gomes, Fabrício Romani. Sob a proteção da Princesa e de São Benedito: identidade étnica, associativismo e projetos num clube negro de Caxias do Sul (1934-1988). Dissertação de Mestrado. UNISINOS, 2008, p. 95
  31. Schlindwein, Jaqueline Renata. O discurso e a prática do gerenciamento de resíduos sólidos urbanos (RSU) em Caxias do Sul. Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília, 2013, p. 108
  32. "Monumento ao Imigrante". O Momento, 17/03/1951
  33. "Cidadãos que construíram o Monumento Nacional ao Imigrante são homenageados" Arquivado em 26 de outubro de 2016, no Wayback Machine.. Assessoria de Imprensa – Prefeitura de Caxias, 28/02/2014
  34. Lopes, Rodrigo. "Monumento ao Imigrante, agora um símbolo oficial de Caxias". Pioneiro, 19/05/2015
Prefeitos de Caxias do Sul
Precedido por
Dante Marcucci

Luciano Corsetti
13 de dezembro de 1947 – 31 de dezembro de 1951
Sucedido por
Euclides Triches