Mário Quintana – Wikipédia, a enciclopédia livre

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Mário Quintana

Mário Quintana em 1966
Nascimento 30 de julho de 1906
Alegrete, Rio Grande do Sul
Morte 5 de maio de 1994 (87 anos)
Porto Alegre, Rio Grande do Sul
Nacionalidade brasileiro
Prémios Prêmio Machado de Assis 1980

Prêmio Jabuti 1981

Magnum opus O Batalhão das Letras

A Rua dos Cataventos

Escola/tradição poesia
Principais interesses literatura
Assinatura
Assinatura de Mário Quintana

Mário de Miranda Quintana (Alegrete, 30 de julho de 1906Porto Alegre, 5 de maio de 1994) foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro. As suas primeiras letras foram feitas na sua cidade natal, e em 1919 mudando-se para Porto Alegre onde estudou no Colégio Militar, publicando ali suas primeiras produções literárias. Trabalhou para a Editora Globo e depois na farmácia paterna. Considerado o "poeta das coisas simples", com um estilo marcado pela ironia, pela profundidade e pela perfeição técnica, ele trabalhou como jornalista quase toda a sua vida. Traduziu mais de cento e trinta obras da literatura universal, entre elas Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust, Mrs Dalloway de Virginia Woolf, e Palavras e Sangue, de Giovanni Papini.

Em 1953, Quintana trabalhou no jornal Correio do Povo, como colunista da página de cultura, que saía aos sábados, e em 1977 saiu do jornal. Em 1940, ele lançou o seu primeiro livro de várias poesias, A Rua dos Cataventos, iniciando a sua carreira de poeta, escritor e autor infantil. Em 1966, foi publicada a sua Antologia Poética, com sessenta poemas, organizada por Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, e lançada para comemorar seus sessenta anos de idade, sendo por esta razão o poeta saudado na Academia Brasileira de Letras por Augusto Meyer e Manuel Bandeira, que recita o poema Quintanares, de sua autoria, em homenagem ao colega gaúcho. No mesmo ano ganhou o Prêmio Fernando Chinaglia da União Brasileira de Escritores de melhor livro do ano. Em 1976, ao completar 70 anos, recebeu a medalha Negrinho do Pastoreio do governo do estado do Rio Grande do Sul. Em 1980 recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra.

A Casa de Cultura Mario Quintana, antigo Hotel Majestic

Mário Quintana não se casou nem teve filhos. Solitário, viveu grande parte da vida em hotéis: de 1968 a 1980, residiu no Hotel Majestic, no centro histórico de Porto Alegre. Recentemente, um conto fictício escrito em 2012 tornou-se viral na internet; propagando erroneamente como sendo verdade absoluta[1] que o poeta Mario Quintana teria sido despejado do Hotel Majestic quando o jornal Correio do Povo encerrou temporariamente suas atividades por problemas financeiros,[2] e Quintana, sem salário, deixou de pagar o aluguel do quarto.[3] Na ocasião, o comentarista esportivo e ex-jogador da seleção Paulo Roberto Falcão cedeu a ele um dos quartos do Hotel Royal, de sua propriedade. A uma amiga que achou pequeno o quarto, Quintana disse: "Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas".[4]

Essa mesma amiga, contratada para registrar em fotografia os 80 anos de idade de Quintana, conseguiu um apartamento no Porto Alegre Residence, um apart-hotel no centro da cidade, onde o poeta viveu até sua morte. Ao conhecer o espaço, ele se encantou: "Tem até cozinha!".[4] Em 1982, o prédio do Hotel Majestic, que fora considerado um marco arquitetônico de Porto Alegre, foi tombado. Em 1983, atendendo aos pedidos dos fãs gaúchos do poeta, o governo estadual do Rio Grande do Sul adquiriu o imóvel e transformou-o em centro cultural, batizado como Casa de Cultura Mario Quintana. O quarto do poeta foi reconstruído em uma de suas salas, sob orientação da sobrinha-neta Elena Quintana, que foi secretária dele em 1979 a 1994, quando ele faleceu.[5] Segundo Mário, em entrevista dada a Edla Van Steen em 1979, seu nome foi registrado sem acento. Assim ele o usou por toda a vida. Faleceu em 1994 aos 87 anos em Porto Alegre. Encontra-se sepultado no Cemitério São Miguel e Almas em Porto Alegre. Em 2006, no centenário de seu nascimento, várias comemorações foram realizadas no estado do Rio Grande do Sul em sua homenagem.[6]

Relações com a ABL

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O poeta Mário Quintana quando criança
O poeta Mário Quintana quando criança

O poeta tentou por três vezes uma vaga à Academia Brasileira de Letras, mas em nenhuma das ocasiões foi eleito; as razões eleitorais da instituição não lhe permitiram alcançar os vinte votos necessários para ter direito a uma cadeira.[7]

Obras de Mario Quintana

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Obras poéticas

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Henrique Mann e Mário Quintana.
Henrique Mann e Mário Quintana
  • A Rua dos Cataventos[8] Porto Alegre, Editora do Globo, 1940
  • Canções - Porto Alegre, Editora do Globo, 1946
  • Sapato Florido[9] Porto Alegre, Editora do Globo, 1948
  • O Aprendiz de Feiticeiro - Porto Alegre, Editora Fronteira, 1950
  • Espelho Mágico - Porto Alegre, Editora do Globo, 1951
  • Inéditos e Esparsos - Alegrete, Cadernos do Extremo Sul, 1953
  • Poesias - Porto Alegre, Editora do Globo, 1962
  • Caderno H[10] Porto Alegre, Editora do Globo, 1973
  • Apontamentos de História Sobrenatural - Porto Alegre, Editora do Globo / Instituto Estadual do Livro, 1976
  • Quintanares- Porto Alegre, Editora do Globo, 1976
  • A Vaca e o Hipogrifo - Porto Alegre, Garatuja, 1977
  • Esconderijos do Tempo - Porto Alegre, L&PM, 1980
  • Baú de Espantos - Porto Alegre - Editora do Globo, 1986
  • Preparativos de Viagem - Rio de Janeiro - Editora Globo, 1987
  • Da Preguiça como Método de Trabalho - Rio de Janeiro, Editora Globo, 1987
  • Porta Giratória - São Paulo, Editora Globo, 1988
  • A Cor do Invisível - São Paulo, Editora Globo, 1989
  • Velório Sem Defunto - Porto Alegre, Mercado Aberto, 1990
  • Água - Porto Alegre, Artes e Ofícios, 2011
  • Eu Passarinho - São Paulo, Para gostar de ler 41 , Editora Ática, 2006 (Antologia póstuma)
  • Poema: Quarteto e Terceto

Livros infantis

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  • O Batalhão das Letras - Porto Alegre, Editora do Globo, 1948
  • Pé de Pilão - Petrópolis, Editora Vozes, 1968
  • Lili inventa o Mundo - Porto Alegre, Mercado Aberto, 1983
  • Nariz de Vidro - São Paulo, Editora Moderna, 1984
  • O Sapo Amarelo - Porto Alegre, Mercado Aberto, 1984
  • Sapato Furado - São Paulo, FTD Editora, 1994
  • Nova Antologia Poética - Rio de Janeiro, Ed. do Autor, 1966
  • Prosa & Verso - Porto Alegre, Editora do Globo, 1978
  • Chew me up Slowly (Caderno H) - Porto Alegre, Editora do Globo / Riocell, 1978
  • Na Volta da Esquina - Porto Alegre, L&PM, 1979
  • Objetos Perdidos y Otros Poemas - Buenos Aires, Calicanto, 1979
  • Nova Antologia Poética - Rio de Janeiro, Codecri, 1981
  • Literatura Comentada - Editora Abril, Seleção e Organização Regina Zilberman, 1982
  • Os Melhores Poemas de Mario Quintana (seleção e introdução de Fausto Cunha)- São Paulo, Editora Global, 1983
  • Primavera Cruza o Rio - Porto Alegre, Editora do Globo, 1985
  • 80 anos de Poesia - São Paulo, Editora Globo, 1986
  • Trinta Poemas - Porto Alegre, Coordenação do Livro e Literatura da SMC, 1990
  • Ora Bolas - Porto Alegre, Artes e Ofícios, 1994
  • Antologia Poética - Porto Alegre, L&PM, 1997
  • Mario Quintana, Poesia Completa - Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 2005.

Dentre os diversos livros que o poeta traduziu para a Livraria do Globo (Porto Alegre) estão alguns volumes do Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust (talvez seu trabalho de tradução mais reconhecido até hoje), e obras de Honoré de Balzac, Voltaire, Virginia Woolf, Graham Greene, Giovanni Papini e Charles Morgan. Além disso, estima-se que Quintana tenha traduzido um sem-número de histórias românticas e contos policiais, sem receber créditos por isso - uma prática comum à época em que atuou na Editora Globo, de 1934 a 1955.

A tradução do livro O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, elaborada por Quintana na década de 1980 para a editora Melhoramentos, foi publicada no ano de 2017, após a obra entrar em domínio público.[11]

Lista exemplificativa

- No caminho de Swann, (Du cote de Chez Swann) volume um, (1948)
- À sombra das raparigas em flor (A l'ombre des jeunes filles en fleur) volume dois, (1957)
- O caminho de Guermantes ( Le cote de Guermantes), volume três(1953)
- Sodoma e Gomorra (Sodome et Gomorrhe), volume quatro (1957).

Outros títulos traduzidos por Mário Quintana
  • O poder e a glória (The Power and the Glory), de Graham Greene, (1940)
  • O tio prodigioso (The fabulous clipjoint), de Fredric Brown - Série Amarela 1951

O poeta pernambucano Manuel Bandeira dedicou-lhe um poema, onde se lê:

Meu Quintana, os teus cantares
Não são, Quintana, cantares:
São, Quintana, quintanares.
Quinta-essência de cantares…
Insólitos, singulares…
Cantares? Não! Quintanares!

O pajador Jayme Caetano Braun, dedicou ao poeta a Payada a Mario Quintana, segue abaixo um trecho da poesia:

Entre os bem-aventurados
Dos quais fala o evangelho,
Eu vejo no mundo velho
Os poetas predestinados,
Eles que foram tocados
Pela graça soberana,
Mas a verdade pampeana
Desta minh’alma irrequieta,
É que poeta nasce poeta
E poeta é o Mario Quintana!

Em Pelotas, há uma escola que recebeu o nome do poeta.[12] Em Porto Alegre, Mário Quintana é nome de um bairro da Zona Norte da cidade.[13]

Prêmio Jabuti

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Em 1981 recebeu o Prêmio Machado de Assis e Prêmio Jabuti de Personalidade Literária do Ano.[7]

Precedido por
Gilberto Freyre

Prêmio Jabuti - Personalidade Literária do Ano

1981
Sucedido por
Josué Montello

Referências

  1. «Amigos rebatem texto viral e esclarecem como Mario Quintana foi ajudado por Falcão». Porto Alegre: jornal Zero Hora. 13 de outubro de 2020. Consultado em 13 de outubro de 2020 
  2. «Mario Quintana um par de sapatos para a posteridade - EntreLivros». uol.com.br 
  3. «iG - Notícias, Vídeos, Famosos, Esportes, Bate Papo, Infográficos». iG. Consultado em 8 de novembro de 2009. Arquivado do original em 20 de agosto de 2008 
  4. a b Marilia Cechella. «Mario Quintana». assisbrasil.org. Consultado em 8 de novembro de 2009. Arquivado do original em 3 de março de 2016 
  5. Giancarlo Perlo. «O Ponto de Encontro: Encontro com Elena Quintana». altervista.org 
  6. «Mario Quintana, o passarinho de canto triste da poesia brasileira, nascia há 115 anos». Revista Bula. 30 de julho de 2021. Consultado em 11 de fevereiro de 2022 
  7. a b «Mario Quintana - Biografias». UOL. 10 de março de 2005. Consultado em 5 de abril de 2025 
  8. «A rua dos cataventos». google.com.br 
  9. «Sapato florido». google.com.br 
  10. «Caderno H». google.com.br 
  11. «O Pequeno Príncipe | Editora Melhoramentos». O Pequeno Príncipe | Editora Melhoramentos. Consultado em 1 de novembro de 2020 
  12. «Escola tradicional de Pelotas renova marca e inicia matrículas 2024». GZH. 10 de outubro de 2023. Consultado em 5 de abril de 2025 
  13. «Observando Bairro» (PDF). Procempa. Beve Análise sobre os Bairros de Porto Alegre. Consultado em 4 de abril de 2025 

Ligações externas

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O Wikiquote tem citações relacionadas a Mario Quintana.
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