Mani (Grécia) – Wikipédia, a enciclopédia livre



Mani
Μάνη

Região independente
(Império Otomano Império Otomano)


1453 – 1870

Bandeira de Mani (ou Lacedaimónia)

Bandeira
Localização de Mani (ou Lacedaimónia)
Localização de Mani (ou Lacedaimónia)
Localização da península de Mani na Grécia
Continente Europa
País  Grécia
Capital Areópolis
Língua oficial Dialeto maniota e grego
Religião Cristianismo ortodoxo e Paganismo helénico
Governo Não especificado
História
 • 1453 Fundação
 • 1870 Dissolução
Possivelmente nunca foi um estado independente na verdadeira aceção do termo, pois na maior parte da sua história era formalmente um domínio do Império Otomano.

A península de Mani (em grego: Μάνη; romaniz.: Mánē), também conhecida pelo seu nome medieval Maina ou Maïna é uma região geográfica e cultural da Grécia, cuja capital é a cidade de Areópolis. Mani é a península central das três que se encontram na extremidade meridional do Peloponeso, no sul da Grécia continental, situando-se a oeste do Lacónia e a leste do golfo de Messénia. A península é uma continuação da cadeia dos montes Taigeto, a espinha ocidental do Peloponeso e é a pátria dos Maniotas (ou Maniates; Mανιάτες, Maniátes)

O terreno é montanhoso e de acesso muito difícil. Até há poucos anos, muitas aldeias de Mani só eram acessíveis por via marítima. Atualmente há uma estrada sinuosa e estreita que se estende ao longo da costa ocidental desde Calamata até Areópolis e depois para sul até Acrotênaro (o cabo pontiagudo que é o ponto mais meridional da Grécia continental) antes de virar para norte em direção a Gítio.

No passado pensava-se que o topónimo tivesse origem na palavra veneziana mano ("mão"), mas isso deve-se ao facto dos Venezianos terem feito "à mão" o castelo chamado de Le Maina. A origem linguística é a palavra grega manía (mανία), que significa ficar doido ou muito enraivecido, da qual também derivou o termo português "mania".

Tradicionalmente Mani divide-se em três regiões:

  • Exo Mani (Έξω Μάνη) ou Mani Exterior, a noroeste;
  • Kato Mani (Κάτω Μάνη) ou Mani de Baixo, a leste;
  • Mesa Mani (Μέσα Μάνη) ou Mani Interior a sudoeste.

Por vezes é incluída uma quarta região, chamada Esmino ou Vardúnia (Βαρδούνια), mas historicamente esta nunca fez parte de Mani. Vardúnia era uma região entre Mani e a Lacónia que foi ocupada por turco-albaneses durante a ocupação otomana da maior parte da Grécia. Estes colonos constituíram uma grande parte da população até à guerra de independência da Grécia, quando fugiram para o reduto otomano de Trípoli. Depois da guerra, a população grega de Vardúnia foi reforçada por colonos de Kato Mani e do centro da Lacónia.[1]

Na atualidade, em termos administrativos, Mani está dividida entre as unidades regionais da Lacónia (Mani Inferior e Mani Exterior) e da Messénia (Mani Exterior), na região do Peloponeso, mas na Antiguidade fazia parte integral da Lacónia, uma área dominada por Esparta. A parte messénica da península (também chamada aposkiaderi, uma expressão local que significa "à sombra") é ligeiramente mais chuvosa do que a parte lacónica (chamada prosiliaki, "ensolarada"), o que a torna mais produtiva em termos agrícolas. Os Maniotas de Mani Exterior (atualmente da Messénia) têm nomes de família que terminam em -éas, enquanto que os restantes Maniotas têm sobrenomes que terminam em -ákos; além destes há um sufixo -óggonas, que é uma corruptela de éggonos ("neto").

Foram descobertos vestígios do Neolítico em muitas cavernas ao longo das costas de Mani. Homero refere-se a várias cidades da região e foram encontrados alguns artefatos do período micénico (1900–1100 a.C.) A área foi depois ocupada pelos Dóricos c.1 200 a.C. e tornou-se dependente de Esparta. Após o poderio espartano ter sido destruído no século III a.C., Mani passou a autogovernar-se. Passou depois pelo domínio dos Romanos e Bizantinos. Quando o Império Bizantino declinou, a península escapou ao controlo imperial. A fortaleza de Maini, no sul da área, tornou-se a capital da região. Ao longo dos séculos subsequentes, o controlo da península foi disputada entre Bizantinos, Francos e Sarracenos.

Depois da Quarta Cruzada (1204), os cavaleiros italianos e franceses (a que os Gregos chamavam coletivamente "Francos") ocuparam o Peloponeso, criaram o Principado da Acaia e construíram, as fortalezas de Mistras, Passava, Gustema (Beaufort) e Grande Maina. O domínio bizantino regressou em 1262, passando Mani a integrar o Despotado da Moreia.

EM 1460, depois da Queda de Constantinopla, o despotado passou para as mãos dos Otomanos, mas Mani não foi subjugada e manteve o seu governo próprio em troca de um tributo anual, que no entanto só foi pago uma vez. Os caudilhos ou beis locais governavam em nome dos Otomanos:

O primeiro desses governantes, Liberakis Yerakaris, reinou em meados do século XVII. Aos vinte anos tinha prestado serviço como remador nas galés venezianas e tornou-se o pirata mais proeminente de Mani. Capturado pelos Turcos e condenado à morte, a pena foi suspensa pelo grão-vizir, o albanês Ahmet Köprülü na condição de aceitar a governo de Mani. Yerakaris aceitou o cargo para se vingar da poderosa família maniota dos Stephanopoli, com os quais era rival. Começou por cercá-los no forte de Vitylo e capturou 35 deles, que executou imediatamente.

Nos vinte anos seguintes, Yerakaris usou o seu poder e influência junto da Sublime Porta para liderar campanhas militares à frente de exércitos formidáveis, ora ao lado dos Turcos, ora ao lado dos Venezianos. Casou com a bela princesa Anastácia, sobrinha do voivode da Valáquia, um membro da família Ducas, e acabou a sua vida, depois de aventuras comparáveis às dos anais dos condotieros italianos, com príncipe turco de Mani e senhor veneziano de Rumeli e Cavaleiro de São Marcos.

Os Turcos não repetiram a experiência nos cem anos seguintes [...] Durante os 45 anos entre 1776 e 1821, quando estalou a guerra de independência da Grécia, Mani foi governada por oito beis sucessivos, dos quais todos exceto um jogaram o perigoso jogo de manutenção dos interesses de Mani e da eventual liberdade grega enquanto tentavam manter-se no lado direito dos Turcos. [Foram eles:] Zanetos Koutipharis (3 anos), Michaelbey Troupakis (3 anos), Zanetbey Kapetanakis Grigorakis (14 anos), Panayoti Koumoundouros (5 anos), Antonbey Grigorakis (7 anos), Zervobey (2 anos), Thodorbey Zanetakis (5 anos) e o Petrobey Mavronichalis (6 anos).

 
Patrick Leigh Fermor. Mani, Travels in the Southern Peloponnese[2].
Paisagem costeira de Mani Inferior

À medida que o poder otomano decaiu, a montanhas de Mani tornaram-se um reduto dos cleftes, que além de bandidos, também combatiam os Otomanos. Há também provas de uma grande emigração de Maniotas para a Córsega durante o período otomano. Petros Mavromichalis, o último bei de Mani, foi um dos líderes da guerra de independência da Grécia. Proclamou a revolução em Areópolis a 17 de março de 1821. Os Maniotas contribuíram muito na luta independentista, mas quando a independência foi alcançada, quiseram manter a sua autonomia local. Durante o governo de Ioánnis Kapodístrias, eles resistiram violentamente à interferência exterior, indo ao ponto de matarem Kapodístrias.

Em 1878, o governo nacional reduziu a autonomia de Mani e a área foi ficando gradualmente esquecida. Os habitantes emigraram abandonando as terras, muitos deles para as maiores cidades gregas, mas também para a Europa Ocidental e Estados Unidos. Só na década de 1970, quando a construção de novas estradas possibilitou o crescimento da indústria turística, é que Mani voltou a ganhar população e prosperidade. Os Maniotas são conhecidos pelo seu caráter obstinado, natureza violenta, ideias conservadoras, por vezes extrema frugalidade e o defesa zelosa das propriedades familiares.

Economia e cultura

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Aldeia de Limeni

Apesar da sua aridez, Mani é conhecida pelos seus produtos culinários únicos, como a glina ou syglino (carne de porco, por vezes em enchidos fumada e aromatizada com ervas aromáticas como tomilho, orégão, hortelã, etc., conservada em banha com casca de laranja). Mani é também conhecida pelo seu azeite extra-virgem, que alguns consideram o melhor do mundo, produzido com azeitonas semi-maduras da variedade Koroneiki, que são cultivadas em socalcos das montanhas. O mel é também de elevada qualidade.

Atualmente, as aldeias costeiras da região estão cheias de cafés e lojas para turistas. A península atrai visitantes pelas suas igrejas bizantinas, castelos francos, praias de areia desertas e paisagens deslumbrantes. Algumas das praias mais populares durante o verão são Calogria e as próximas do porto de Estupa, mas também há boas praias de areia e de seixos em Cardamili e Agios Nikolaos. Outras atrações turísticas são as antigas casas-torre de Mani (pyrgospita), algumas delas oferecendo alojamento, e as grutas de Diros, com estalactites e estalagmites, perto de Itilo. Por estarem parcialmente debaixo de água, estas últimas são visitadas em barcos semelhantes a gôndolas.

Gítio, Areópolis, Cardamili e Estupa enchem-se de turistas durante os meses de verão, mas no inverno a região é bastante calma. Muitos habitantes trabalham como agricultores de oliveiras, dedicando os meses de inverno à colheita da azeitonas e seu processamento. Algumas aldeias das montanhas são menos orientadas para o turismo e é usual terem muito poucos habitantes. A região é uma das mais tradicionalistas e conservadoras da Grécia, e é um reduto eleitoral do partido de conservador Nova Democracia.

Igreja rural

A introdução do cristianismo foi tardia em Mani; os primeiros templos gregos começaram a ser convertidos em igrejas cristãs no século XI. Um monge bizantino, que se diz ser de origem arménia ou grega de Argos, nascido no Ponto, chamado Nicon, "o Metanoita" (Νίκων ὁ Μετανοείτε), foi encarregado pela Igreja para espalhar o cristianismo nas áreas que tinham mantido as suas tradições pagãs como Mani e Tsacónia.

A região do Peloponeso era uma terra cheia de demónios, contra os quais São Nicon combatia constantemente. São Nicon chegou a Mani no fim do século IX para pregar o cristianismo aos Maniotas. Embora estes começassem a converter-se no início do século X devido à pregação de São Nicon, só 200 anos, isto é, no século XII ou XIII, a antiga religião pagã grega desapareceria completamente. Depois de ser santificado pela Igreja Ortodoxa, São Nicon tornou-se o padroeiro de Mani e de Esparta.

Isolada de influências exteriores pelas suas montanhas, os Maniotas semi-trogloditas (homens das cavernas) foram os últimos a serem convertidos. Só abandonaram a sua antiga religião da Grécia no fim do século IX. É surpreendente lembrar que esta península rochosa, tão perto do Levante de onde o cristianismo brota, tenha sido batizada três séculos depois da chegada de Santo Santo Agostinho à longínqua Kent.
 
Patrick Leigh Fermor. Mani, Travels in the Southern Peloponnese[3].

Notas e referências

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  1. Chapman, John. «Kato Mano - from Kelefa to Vardounia and on to Githeon». www.zorbas.de/maniguide/ (em inglês). Mani: A Guide and History. Consultado em 26 de setembro de 2013 
  2. Leigh Fermor 1958, p. 48.
  3. Leigh Fermor 1958.

Ligações externas

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O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Mani (Grécia)

Maina and Mainotes na Encyclopædia Britannica, edição de 1911, no Wikisource em inglês.