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Marcel Jouhandeau
Marcel Jouhandeau
Nome completo Marcel Henri Paul Jouhandeau
Nascimento 26 de julho de 1888
Guéret
Morte 7 de abril de 1979 (90 anos)
Rueil-Malmaison
Nacionalidade França Francês
Estatura 1,72 m
Cônjuge Élisabeth Toulemont (Élise)
Ocupação Romancista, novelista, ensaísta
Principais trabalhos Les Pincengrain, Monsieur Godeau intime, Chaminadour, Chroniques maritales, De l' abjection, Chroniques d'une passion, Tirésias

Marcel Henri Paul Jouhandeau (Guéret, 26 de Julho de 1888 - Rueil-Malmaison, 7 de Abril de 1979) foi um romancista, novelista, ensaísta e autor de memórias autobiográficas francês. Durante trinta e sete anos, foi também professor de letras num colégio privado religioso em Paris. Na sua vida e obra tentou conciliar a sua profunda fé cristã e a vivência, muitas vezes atormentada, mas sempre ardente da sua homossexualidade.

Nascido no seio de uma família de comerciantes de Guéret. O pai, dono de um talho, intimida-o com a sua beleza e a sua força. A família materna tem o dom natural da palavra. Vive com os pais, mas até aos nove anos de idade Jouhandeau é muito cuidado por uma sua tia, Alexandrine. Na sua obra De l'abjection, escreve sobre as suas primeiras experiências sexuais em criança, sublinhada já pela singularidade. Aos oito anos, é seduzido por um jovem empregado do talho, que se lhe exibe em segredo todo nu, deixando-o fascinado pela revelação de tais mistérios. Aos dez ou onze anos, outro miúdo inicia-o na masturbação e a prática continua mais tarde com outros rapazes. Aos quinze anos, ao assistir ao enterro de um amigo do pai, apaixona-se loucamente por outro jovem, filho do morto. A impossibilidade de concretizar esse amor, reprimido pelos conselhos da sua amiga Jeanne Martin (antiga noviça nas Carmelitas de Limoges), deixa-o num profundo desespero, e tenta suicidar-se em vão, bebendo um frasco de perfume. Ultrapassada a crise, propõe-se uma de duas coisas: unir-se a uma rapariga que viesse a ser sua mulher ou entregar-se exclusivamente a Deus. Ambos os projectos falhariam, submergidos por pulsões mais profundas, irreprimíveis.

Marcel Jouhandeau, alto, esguio, o porte aristocrático, ágil e elegante, marcado no rosto pela cicatriz de uma pequena malformação (lábio leporino), desde muito cedo – sob a influência de Jeanne Martin – abraça um catolicismo místico e espera ingressar num seminário. Em Setembro de 1908 vai estudar para Paris, no liceu Henri IV e depois na Faculdade de Letras. Escreve então os seus primeiros contos. A partir de Janeiro de 1913, torna-se professor de latim, grego e francês do primeiro ano do ciclo preparatório (sixième) no colégio privado (e muito católico) de Saint-Jean de Passy, onde permanecerá até se reformar aos 61 anos, em Julho de 1949, venerado pelos alunos.

A sua forte natureza homossexual entra desde logo em conflito com a sua fé católica e durante toda a vida oscilará entre a celebração do amor viril e a vivência mortificada da sua sexualidade a um ponto tal que, em Fevereiro de 1914, num ímpeto místico, Jouhandeau queima todos os seus manuscritos e tenta suicidar-se. Passada a crise, regressa à escrita, aconselhado pelo amigo Léon Laveine. Escreve aquilo a que chama contos, crónicas inspiradas pela sua cidade natal Guéret, a que dá o nome fictício de Chaminadour.

Durante a Primeira Guerra Mundial, é destacado para o serviço auxiliar e afectado na retaguarda como secretário em Guéret. Publica La Jeunesse de Théophile em 1921 e em 1924 Les Pincengrain. Estes textos desencadeiam uma enorme animosidade dos guéretenses contra o autor. Na esperança de enganar o “vício”, casa-se aos quarenta anos, a 4 de Junho de 1929, com Élisabeth Toulemont, uma antiga dançarina e semi-mundana, algo excêntrica, que actuava sob o nome de Caryathis, e que figura na obra de Jouhandeau sob o nome de Élise. Amiga de Jean Cocteau e de Max Jacob, tinha sido amante do encenador Charles Dullin. Élise tenta, em vão, livrar o marido da avassaladora atracção que este sente por homens novos («Tenho horror à pederastia e as crianças só me inspiram respeito. Sou homossexual e gosto dos jovens a partir dos dezoito anos. Estou apaixonado pelo Adão de Miguel Ângelo, é a majestade do corpo do homem que me perturba», dirá em La vie comme une fête). Ao longo da década de 1930, esta levará a melhor, impondo-se definitivamente até ao final da sua vida, para grande desgosto da martirizada mas sempre indefectível Élise (que também escreverá uma autobiografia). Até ao fim da vida, o casal digladiara apaixonadamente, peripécias que alimentarão o enredo de vários livros de Jouhandeau (Chroniques maritales, Scènes de la vie conjugale, entre outros). Élise dirá do marido que era o diabo em pessoa, mas outrotanto dirá ele dela, acusando-a, entre outras coisas, de o ter espoliado ingratamente.

Falou abertamente da sua homossexualidade em várias das suas obras como L'Amateur d'imprudences, De l' abjéction, Chronique d’une passion, Du pur amour e muito explicitamente na trilogia Écrits secrets (Tirésias, Carnets de Don Juan e Le voyage secret). Os Jouhandeau moram em Paris, perto da porta Maillot. Os seus livros são publicados pelas Éditions Gallimard (sete títulos saídos sob a chancela da editora Grasset, depois de uma desavença com Gaston Gallimard).

De 1936 a 1941, escreve quatro artigos anti-semitas dos quais três serão reunidos num folheto, Le Péril juif, editado por Sorlot (s.d.). Em 1941, participa no «Congresso de Weimar» (organizado por Goebbels) a convite de Gerhardt Heller. Partem também com ele Abel Bonnard, Drieu La Rochelle, Robert Brasillach, Alfred Fabre-Luce, Jacques Chardonne, André Fraigneau, Ramon Fernandez. Em Dezembro de 1941, Jouhandeau publica Témoignage, um artigo curto onde exprime a sua admiração pela Alemanha, na Nouvelle Revue Française de Drieu. E é tudo. Depois da Libertação, o seu processo será arquivado, sem consequências. Nos seus Journaliers, longa crónica em vinte e oito volumes, voltará várias vezes a esse período da sua obra.

Em 1949, os Jouhandeau recolhem em sua casa uma jovem, Céline. A sua educação será um falhanço. No Verão de 1962, Céline casa-se, mas em Dezembro do mesmo ano dará à luz uma criança, Marc, fruto de uma outra relação. O marido acabará por rejeitar a criança, e em 1967, os Jouhandeau adoptarão o rapaz.

Élise morre em 1971, pelo que diz Jouhandeau, na sequência de um ataque de fúria. Quase cego, Jouhandeau deixa de ler e de escrever em 1974. Numa das suas últimas entrevistas, a Bernard Pivot, diz que aos oitenta anos ainda tinha relações homossexuais, e que o desejo se mantinha vivo. Consagra os seus últimos anos ao seu filho adoptivo Marc, e em 1979 morre de cancro do estômago, em Rueil-Malmaison, onde vivia desde 1960.

  • La Jeunesse de Théophile (1921)
  • Les Pincengrain (1924)
  • Les Térébinthe (1926)
  • Prudence Hautechaume (1927)
  • Monsieur Godeau intime (1926)
  • Astaroth (1929)
  • Éloge de l’imprudence (1931)
  • L’Amateur d’imprudences (1932)
  • Monsieur Godeau marié (1933)
  • Chaminadour (1934-1941)
  • Algèbre des valeurs morales (1935)
  • Le Péril juif (1937)
  • Chroniques maritales (1938)
  • De l’abjection (1939)
  • Essai sur moi-même (1947)
  • Scènes de la vie conjugale (1948)
  • Mémorial (1948)
  • La Faute plutôt que le scandale (1949)
  • Chronique d’une passion (1949)
  • Élise architecte (1951)
  • Éloge de la volupté (1951)
  • Dernières années et mort de Véronique (1953)
  • Contes d’enfer (1955)
  • Éléments pour une éthique (1955)
  • Léonora ou les dangers de la vertu (1955)
  • Réflexions sur la vieillesse et la mort (1956)
  • Carnets de l’écrivain (1957)
  • L’École des filles (1960)
  • Journaliers (1961–1978)
  • Les Instantanés de la mémoire (1962)
  • Trois crimes rituels (1962)
  • Le Parricide imaginaire (1967)
  • Du pur amour (1970)
  • Écrits secrets : Tirésias (1954), Carnets de Don Juan, Le Voyage secret (1988)
Journaliers
  • Journaliers - Journaliers t. 1, 1957-1959
  • Les instantanés de la mémoire - Journaliers t. 2, 1959
  • Littérature confidentielle - Journaliers t. 3 , 1959
  • Que tout n'est qu'allusion - Journaliers t. 4, 1960
  • Le bien du mal - Journaliers t. 5, 1960
  • Être inimitable - Journaliers t. 6, 1960
  • La malmaison - Journaliers t. 7, 1960-1961
  • Que la vie est une fête - Journaliers t. 8, 1961
  • Que l'amour est un - Journaliers t. 9, 1961
  • Le gourdin d'Élise - Journaliers t. 10, 1962
  • La vertu dépaysée - Journaliers t. 11, 1962
  • Nouveau testament - Journaliers t. 12, 1963
  • Magnificat - Journaliers t. 13, 1963
  • La possession - Journaliers t. 14, 1963
  • Confrontation avec la poussière - Journaliers t. 15, 1963-1964
  • Aux cent actes divers - Journaliers t. 16, 1964
  • Gémonies - Journaliers t. 17, 1964
  • Paulo minus ab angelis - Journaliers t. 18, 1964-1965
  • Un second soleil - Journaliers t. 19, 1965
  • Jeux de miroirs - Journaliers t. 20, 1965-1966
  • Orfèvre et sorcier - Journaliers t. 21, 1966-1967
  • Parousie - Journaliers t. 22, 1967-1968
  • Souffrir et être méprisé - Journaliers t. 23, 1968-1969
  • Une gifle de bonheur - Journaliers t. 24, 1969-1970
  • La mort d'Élise - Journaliers t. 25, 1970-1971
  • Nunc dimittis - Journaliers t. 26 ,1971-1972
  • Du singulier à l'éternel - Journaliers t. 27, 1972-1973
  • Dans l'épouvante le sourire aux lèvres - Journaliers t. 28, 1973-1974

Dois livros de Marcel Jouhandeau, Éléments pour une éthique et Éloge de l’imprudence, foram reeditados pelas Éditions Noé em 2006.

  • Henri Rode, Marcel Jouhandeau et ses personnages, Frédéric Chambriand, 1950.
  • Jacques Danon, Entretiens avec Élise et Marcel Jouhandeau, Paris, Belfond, 1966.
  • Henri Rode, Jouhandeau, éditions de la Tête de Feuilles, 1972.
  • Marcel Jouhandeau, La vie comme une fête: entretiens, Jean-Jacques Pauvert, 1977.
  • Henri Rode, Un mois chez Marcel Jouhandeau, Le Cherche Midi éditeur, 1979.
  • Jacques Roussillat, Marcel Jouhandeau, le diable de Chaminadour, Bartillat, 2002, 2006.
  • Carnets de Chaminadour, 1 et 2. ALMJAC-Guéret, Creuse, 2006, 2007.
  • Correspondance Marcel Jouhandeau-Jean Paulhan, apresentada e anotada por Jacques Roussillat, Les Cahiers de La NRF, 2012.

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