Marco zero de Brasília – Wikipédia, a enciclopédia livre

A Rodoviária sendo construída sobre o Marco Zero. Ao fundo é possível ver a Esplanada dos Ministérios e o Congresso, também em construção.

O Marco Zero é um local que marca o início da construção de Brasília, o que se deu com um cruzamento de vias.

Atualmente ele não é demarcado por placas nem monumentos, uma vez que há uma edificação construída sobre ele: a Rodoviária do Plano Piloto.

A Rodoviária do Plano Piloto durante a década de 1960. Seu edifício foi erguido em cima do marco zero de Brasília
O presidente Juscelino Kubitschek durante a construção da Avenida Monumental, que compreende o Eixo Monumental

Marco zero de Brasília é o nome dado ao cruzamento dos eixos Rodoviário e Monumental da capital do Brasil. Não há placa ou edificação que indique atualmente o Marco zero, tendo em vista que a Rodoviária do Plano Piloto foi construída em cima dele.[1][2][3]

O fato de o Marco Zero ser concebido em um cruzamento de vias relaciona-se ao plano urbano concebido para a cidade. Nele, o arquiteto e urbanista Lúcio Costa, autor do projeto vencedor do concurso, partiu do traçado de dois eixos cruzando-se em ângulo reto, como o sinal da cruz. A proposta foi escolhida justamente pela simplicidade.[4] Brasília nasceu “do gesto primário de quem assinala um lugar e dele toma posse”.[2] Em relação a estas duas linhas que se cruzam, uma, o Eixo Rodoviário, seria a via que leva às áreas residenciais – hoje, Asa Sul e Asa Norte. Seu formato levemente curvado é o que dava à cruz a forma de um avião. O outro traço representava o Eixo Monumental, que abrigaria os prédios públicos e o palácio do Governo Federal no lado leste; a Rodoviária e a Torre de TV no centro, e os prédios do governo local no lado oeste.[4]

A demarcação do Marco Zero era inerente ao surgimento da cidade. Ele comandaria o exato lugar onde a cruz, ou o avião, pousaria em relação aos pontos cardeais, e a como a cidade se comportaria em relação ao relevo do terreno e às chapadas que o contornam. Quando o local foi designado, após realizações de cálculos, cavou-se o chão em 10 metros de profundidade, o que significa um enorme movimento de terra. Esta quantidade foi posteriormente levada para a Praça dos Três Poderes.[2]

A Rodoviária pousada sobre o cruzamento que é o Marco Zero já era prevista desde o Relatório do Plano Piloto, elaborado por Lúcio Costa. Neste documento, já consta a Plataforma Rodoviária, que se coloca como uma organizadora dos espaços urbanos. Se diz que ela deveria ser implantada numa situação topográfica que contemplasse o arranjo autônomo tanto do caminhar dos pedestres quanto dos feixes de pistas automobilísticas.[5] É interessante perceber a correlação do edifício arquitetônico com sua importância geográfica e urbana de Marco Zero. Isso se percebe pelo fato de Lúcio Costa, autor do projeto urbanístico, não ter projetado muitos edifícios para a nova capital - a maioria dos simbólicos é de autoria de Oscar Niemayer. Contudo, fez questão de planejar esta Rodoviária.[6]

A proposta inicial de Lúcio Costa para o local em que se encontra o Marco Zero era o de uma grande laje contínua e completa, que conectaria os setores centrais (diversões, comércio, bancos, culturais).[2] A ideia não se cumpriu por completo. O local é constituído de várias lajes, em vários níveis. O Eixo Monumental atravessa a Rodoviária em nível térreo, entroncando com o Eixo Rodoviário na parte central. Já o Eixo Rodoviário atravessa em nível inferior. Por essa razão é conhecido pelo apelido de "Buraco do Tatu". A plataforma superior une os lados norte e sul do Eixo Rodoviário, mas não oferece passagem desimpedida. É um imenso estacionamento para veículos e calçadão para pedestres, unindo os setores cultural e de diversões. Essa plataforma também abriga duas praças e uma extensa marquise, ao norte, com as escadas, elevadores, lanchonetes, bancas de revistas e ponto de táxi. Já a plataforma térrea constitui a Estação Rodoviária de Brasília, centro das linhas urbanas (cidades do Distrito Federal) e metropolitanas (cidades do Entorno do DF).[7] Dessa maneira, a Rodoviária do Plano Piloto, e logo o Marco Zero, simboliza o local de encontro entre Brasília, a cidade planejada e idealizada, e seus arredores periféricos. É onde a utopia se realiza de seu modo caótico e imperfeito.[2] A Rodoviária não funciona, atualmente, para ônibus interestaduais. Esta função, que a edificação possuía originalmente, foi transportada para outra edificação.[7] Trata-se do "Terminal Rodoviário de Brasília", conhecido também como "Rodoviária Interestadual", o qual, inaugurado em 2010, se localiza a 6 km do Centro.[7][8]

O Marco Zero foi concebido em 1956, com a nova e definitiva demarcação da capital a ser construída. Foi o então presidente da República, Juscelino Kubitschek, deu início de fato à realização do projeto.[4] É o lugar onde o Brasil real toma posse do Brasil idealizado pelos modernos.[2]

A importância da Rodoviária é indiscutível na cidade. O professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB), Cláudio Queiroz, afirma que “A rodoviária é um edifício que é um mercado, um shopping e, ao mesmo tempo, é o coração urbano de Brasília”.[6] Apesar de sua importância que remete à localização do Marco Zero, a Rodoviária, a qual é considerada obra seminal de Brasília, foi sempre desprezada em sua importância, e um caso de descaso. As fissuras de sua estrutura apareceram pouco tempo depois da inauguração, em setembro de 1960.[9]

Antes do "Marco zero" e da fundação de Brasília

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Apesar de se considerar o local em que se encontra hoje a Rodoviária do Plano Piloto como o marco zero, vale lembrar que já havia ocupação humana na região da atual capital antes da construção de Brasília - onde hoje se encontra Planaltina, o núcleo urbano mais antigo do Distrito Federal. A cidade nasceu em 19 de agosto de 1859 como um distrito do município de Formosa, em Goiás. O Distrito de Mestre D’armas — em homenagem a um armeiro que vivia na região permaneceu com este nome até ser batizada com o nome atual, em 1917. Planaltina se originou das incursões realizadas pelos bandeirantes paulistas e fez parte dos primeiros estudos da Comissão Exploradora do Planalto Central, liderada por Luiz Cruls (1892). É nesta Região Administrativa que se encontra a Pedra Fundamental, a qual demarca o local onde se pretendia construir a futura capital do Brasil. Este monumento, que fica no fica no Morro da Capelinha, foi encomendado pelo então presidente da República, Epitácio Pessoa.[10]

As escolhas deste ponto e do Marco Zero foram influenciadas por determinações anteriores. Desde a época colonial já se planejava transportar a capital do Rio de Janeiro para uma região interiorana do país. Esta proposta foi reforçada em 1823, por José Bonifácio de Andrada e Silva, conhecido como “Patriarca da Independência”. Foi ele quem sugeriu o nome "Brasília". Além disso, em 1883, o sacerdote católico italiano Dom Bosco sonhou que visitava a América do Sul e, em seu relato, publicado no livro “Memórias Biográficas de São João Bosco”, diz que na localidade em que se construiu Brasília haveria uma cidade bastante rica. A visão acabou sendo interpretada como uma premonição do local em que deveria ser construída a nova capital do Brasil. Mas ela começou a ser viabilizada somente em 1891, quando a determinação de sua área foi incluída na primeira Constituição da República brasileira.[4]

Marco Zero e Pedra Fundamental

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O Marco zero costuma ser confundido com a Pedra fundamental de Brasília. No entanto, ambos representam períodos diferentes da história da cidade. Enquanto a Pedra fundamental foi construída em 1922 para marcar o Quadrilátero Cruls, local estudado como propício para a construção de uma nova capital nacional, o cruzamento dos eixos Rodoviário e Monumental ficou conhecido como Marco zero por ter sido considerado o símbolo da construção de Brasília.[1][11]

Reencontro do Marco Zero

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Após anos desaparecido, o Marco zero foi reencontrado no dia 31 de julho de 2024 após as obras de revitalização no "Buraco do Tatu", viaduto que liga o Eixão Sul ao Eixão Norte, por baixo da rodoviária do Plano Piloto. O marco estava escondido abaixo do antigo pavimento de concreto.[1]

  1. a b «Qual a diferença entre Pedra Fundamental e Marco Zero?». Histórias de Brasília. 3 de setembro de 2019. Consultado em 6 de agosto de 2020 
  2. a b c d e f Conceição Freitas (27 de junho de 2019). «O desprezo eterno pela Rodoviária, a obra seminal de Brasília». Metrópoles. Consultado em 28 de julho de 2020 
  3. «Cruzamento central: o Marco Zero». brazilia.jor.br. Consultado em 6 de agosto de 2020 
  4. a b c d «História – GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL». Consultado em 25 de agosto de 2020 
  5. ROSSETTI, Eduardo Pierrotti. Lucio Costa e a Plataforma Rodoviária de Brasília. Arquitextos, São Paulo, ano 10, n. 119.03, Vitruvius, abr. 2010 <https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.119/3371>.
  6. a b Brasília, Redação Jornal de. «Conheça outros arquitetos que fizeram parte de Brasília». Jornal de Brasília. Consultado em 26 de agosto de 2020 
  7. a b c «Plataforma Rodoviária - o cruzamento central de Brasília». doc.brazilia.jor.br. Consultado em 25 de agosto de 2020 
  8. «Sobre o Terminal». Terminal Rodoviário de Brasília. Consultado em 25 de agosto de 2020 
  9. «O desprezo eterno pela Rodoviária, a obra seminal de Brasília». Metrópoles. 27 de junho de 2019. Consultado em 25 de agosto de 2020 
  10. Brasília, Agência. «Primeiro núcleo urbano do DF, Planaltina faz 160 anos». Agência Brasília. Consultado em 25 de agosto de 2020 
  11. «Primeiro fotógrafo oficial de Brasília recebe homenagem em exposição». G1. 16 de junho de 2015. Consultado em 6 de agosto de 2020