Marechal – Wikipédia, a enciclopédia livre
Marechal é a designação de várias patentes e cargos superiores, tanto no âmbito militar como civil.
Na Idade Média, em alguns países, marechal era o título de um alto oficial militar do Estado, responsável pela disciplina e pela logística dos exércitos em campanha. Era imediatamente subalterno ao condestável.
“Ao Marechal pertence pelo Regimento da guerra repartir os alojamentos de seu exército; depois que pelo Aposentador do Condestable for assinado o lugar, onde se houver de assentar; e para isso tem também o Marichal seu Aposentador, e provè de outros para as cavalgadas; manda ter cuidado das vèlas ao tempo de comer, assim de dia, como de noite”.[1]
Depois passou a ser abaixo de tenente-general e comandava na falta deles e dos generais.[2]
Hoje em dia, a designação é, sobretudo, usada para identificar a mais alta patente das forças armadas de diversos países.
Tradicionalmente, nos países onde a função ou a patente existe, a insígnia de marechal é um Bastão.
Âmbito militar
[editar | editar código-fonte]Em muitos países, marechal é o posto de maior patente no exército e na força aérea, sendo superior aos dos restantes postos de oficial general. Normalmente, o posto naval equivalente é designado "almirante", "almirante da Armada" ou "almirante da frota".
Geralmente, o posto de marechal é uma dignidade honorífica apenas atribuída aos generais com uma relevante folha de serviços em tempo de guerra.
Alguns países que, por razões políticas ou financeiras, não desejam a existência de uma patente de marechal, criaram a dignidade honorífica de general do Exército, com caraterísticas semelhantes.
Nas forças aéreas de alguns países — geralmente países da Commonwealth — é usado o termo "marechal" em vez do de general. Assim, os postos de marechal da Força Aérea, marechal chefe do ar, marechal do ar e vice marechal do ar, correspondem, respetivamente, aos postos de marechal, general de 4 estrelas, general de 3 estrelas e general de 2 estrelas dos exércitos.
Em outros países, como a França e a Itália, o termo "marechal" é utilizado, também, para designar alguns postos da classe de sargentos ou suboficiais.
Insígnias e distintivos de marechal (oficiais generais)
[editar | editar código-fonte]- Exército Brasileiro
(Marechal) - Força Aérea Brasileira
(Marechal do Ar) - Exército Francês
(Maréchal de France) - Exército Português
(Marechal do Exército) - Exército Soviético
(Marshal Sovetskogo Soiuza) - Exercito da Rússia (Márshal Rossíyskoy Federátsii)
Insígnias e distintivos de marechal (suboficiais e sargentos)
[editar | editar código-fonte]- Exército Italiano
(Maresciallo capo) - Carabinieri de Itália
(Maresciallo ordinario) - Exército Italiano
(Maresciallo) - Gendarmerie Francesa
(Maréchal des logis-chef ) - Gendarmerie Francesa
(Maréchal des logis)
Insígnias e distintivos de marechal (forças aéreas da Commonwealth)
[editar | editar código-fonte]- Reino Unido
(Marshal of the Royal Air Force) - Austrália
(Air chief marshal) - Índia
(Air chief marshal) - Nova Zelândia
(Air marshal) - Reino Unido
(Air vice-marshal)
Âmbito civil
[editar | editar código-fonte]O termo "marechal" é, também, utilizado para designar certas funções civis, especialmente cerimoniais e de agente de autoridade.
Funções cerimoniais
[editar | editar código-fonte]Em várias monarquias europeias, existiam dignitários com o título de "marechal". As suas funções, normalmente, correspondiam às de mestre de cerimónias. As suas tarefas incluíam o anúncio de convidados em festas, cerimónias, e audiências. Com estas funções, o cargo de marechal ainda existe, por exemplo, na Casa Real Britânica e em certas universidades dos Estados Unidos.
No Vaticano, o Marechal da Santa Igreja Romana era um alto dignitário laico, responsável pela custódia do Conclave. Era responsável por fechar a porta de acesso ao Conclave, trazendo sempre consigo a sua chave.
Funções de agente de autoridade
[editar | editar código-fonte]Na Idade Média, em alguns países, eram chamados "marechais", certos oficiais de justiça. Esses oficiais de justiça correspondiam aos que, em Portugal, eram denominados "meirinhos" e tinham funções várias, de âmbito judicial e policial.
Na França a Maréchaussée (literalmente "Marechalato") era o corpo policial antecessor da Gendarmerie. A designação do corpo derivava do facto de estar dependente do Marechal de França, o dignitário responsável pela justiça e disciplina no exército. Posteriormente, em outros países, foram criadas organizações policiais semelhantes. Ainda hoje, nos Países Baixos, o Koninklijke Marechaussee ("Marechalato Real") é a força de segurança militarizada nacional. Estes corpos correspondem à Guarda Nacional Republicana portuguesa e às polícias militares brasileiras.
Nos Estados Unidos, existem os "marshals" que são agentes policiais, normalmente, dependentes do poder judicial federal ou estadual. Por exemplo, os United States marshals são agentes policiais, responsáveis pela segurança dos tribunais federais, transporte de presos, perseguição de fugitivos e execução de mandados judiciais. Já os air marshals são agentes policiais que embarcam a bordo de aeronaves da aviação civil, para as protegerem contra-ataques terroristas. O termo "marshal" é, muitas vezes, traduzido por "marechal", mas corresponde melhor aos termos "meirinho" ou "oficial de justiça" usados nos países de Língua Portuguesa.
Marechal em vários países
[editar | editar código-fonte]Brasil
[editar | editar código-fonte]Marechal foi a patente máxima no Exército Brasileiro e na Força Aérea Brasileira, sendo que nesta última tem o nome de "Marechal do Ar", posições equivalentes à de Almirante na Marinha. O Marechal se distingue por utilizar cinco estrelas, sendo que o Marechal do Ar as utiliza na posição aproximada do Cruzeiro do Sul e o Marechal do Exército, em formato de x, enquanto as estrelas do Almirante se posicionam em pentágono.
Até a reforma estrutural de 1967, no Exército Brasileiro, os generais de exército (com quatro estrelas), ao passarem para a reserva, ganhavam a quinta estrela pela promoção automática. Com a reforma, somente haverá a promoção de um general de exército a marechal em caso de guerra. Em 1975, o Exército tinha 73 marechais — o que significa que havia mais marechais brasileiros do que franceses e ingleses juntos ao longo de toda a história de guerras de todo o século XX. O último marechal do Exército Brasileiro, Waldemar Levy Cardoso, faleceu em 13 de maio de 2009.[3]
O último marechal brasileiro na ativa, promovido em virtude beligerante, foi João Batista Mascarenhas de Morais, comandante da Força Expedicionária Brasileira. Foi distinguido com as honras de marechal pela Assembleia Constituinte de 1946; em 1951, por decreto do Congresso Nacional, foi investido no posto de marechal em serviço ativo do Exército enquanto vivesse.[4] Mascarenhas de Morais faleceu em 1968.
Entretanto, houve promoções ao posto de Marechal (no Exército), Marechal do Ar (na Aeronáutica) e Almirante (na Marinha) durante as promulgações de estado de sítio em 1964 e 1967, onde cada um dos ministros militares foi alçado ao posto máximo da carreira enquanto comandavam suas respectivas Forças Armadas.
No período imperial, a patente era denominada Marechal do Exército.
Coreia do Norte
[editar | editar código-fonte]Nas Forças Armadas da Coreia do Norte há três patentes de marechal, em nível crescente: chasu (traduzida como "vice-marechal"[5]), wonsu (propriamente traduzida como "marechal") e taewonsu (equivalente a "grão-marechal" ou generalíssimo).
Moçambique
[editar | editar código-fonte]Moçambique teve um único marechal na sua história: Samora Moisés Machel, o primeiro Presidente da República (ver também História de Moçambique).
Portugal
[editar | editar código-fonte]Em Portugal, com a designação de Marechal existiram várias funções e patentes militares.
Marechal de Portugal
[editar | editar código-fonte]O cargo de Marechal de Portugal ou Marechal do Reino foi criado pelo Rei D. Fernando I em 1382, na sequência da reorganização do alto comando dos exércitos. O Marechal estava directamente subordinado ao Condestável de Portugal, sendo responsável pelos alojamentos das tropas e por outras funções logísticas. As suas funções equivaliam às do actual Quartel-Mestre-General do Exército. A partir do século XVI o cargo deixou de existir.
O primeiro marechal do Reino de Portugal foi Gonçalo Vaz de Azevedo.[1]
Marechal-general
[editar | editar código-fonte]O posto de marechal-general foi atribuído, desde 1762, a alguns oficiais generais, ao exercerem o cargo de Comandante-Chefe do Exército, sendo o primeiro o Conde de Lippe. Entre 1835 e 1910, tornou-se um posto reservado ao próprio Rei, na sua função de Comandante Supremo do Exército.
Marechal de campo
[editar | editar código-fonte]Marechal de campo foi a nova designação, do antigo posto de sargento-mor de batalha, adoptada em 1762. Em 1864 o posto de marechal de campo passou a denominar-se general de brigada. Corresponde ao atual posto de major-general.
Marechal do Exército
[editar | editar código-fonte]Como patente militar o posto de marechal do Exército foi criado em 1762, para ser atribuído a oficiais generais que exercessem a função de governador das armas de uma província. O posto acabou por se tornar uma dignidade honorífica reservada a generais com folhas de serviços muito relevantes, especialmente em situação de combate.
Actualmente o posto existe no Exército Português — marechal do Exército, sendo equivalente ao posto de almirante da Armada na Marinha Portuguesa. De momento não existe nenhum marechal ou almirante da Armada vivo.
Desde a sua criação, no século XVIII, até a atualidade, foram promovidos a este posto menos de 20 militares. No século XX, este posto foi, quase sempre, concedido por motivos políticos, sobretudo aos militares que exerceram a função de Presidente da República. Os últimos marechais do Exército Português foram António de Spínola e Costa Gomes, sendo estes, os únicos a ascenderem a esta patente após o 25 de Abril de 1974. O único almirante da Armada (com esta designação) foi Américo Tomás.
Marechal da Força Aérea
[editar | editar código-fonte]Com a criação da Força Aérea Portuguesa, como ramo independente, em 1952, passou também a existir o posto de marechal da Força Aérea. A Força Aérea Portuguesa apenas teve dois marechais — Craveiro Lopes e Humberto Delgado, sendo este último promovido postumamente.
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Lista de marechais nas Forças Armadas Portuguesas
- Hierarquia militar (Brasil)
- Hierarquia militar (Portugal)
- Oficial general
- General do Exército
Referências
- ↑ a b A sociologia da representação político-diplomática no Portugal de D. João I, por Maria Alice Pereira dos Santos, Doutoramento em História Medieval, Universidade Aberta, Lisboa – Janeiro de 2015, nota pág. 52, cf. Manuel Severim de Faria, Notícias de Portugal, op. cit., Discurso II, § III, p. 38
- ↑ Diccionario da lingua portuguesa, composto pelo padre D. Raphael Bluteau e acrescentado por Antonio de Moraes Silva, Oficina de Simão Tadeu Ferreira, Lisboa, 1789.
- ↑ FOLHA: Morre no Rio, aos 108 anos, o último marechal do Exército
- ↑ O Imortal Mascarenhas de Morais, por Germano Seidl Vidal.
- ↑ Agência France Presse (16 de julho de 2012). «Exército da Coreia do Norte tem novo vice-marechal». G1. Consultado em 23 de julho de 2015
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. (3ª reimpressão)
- SOBRAL, José. Postos e Cargos Militares Portugueses. Audaces, 2008