Maria Julieta Drummond de Andrade – Wikipédia, a enciclopédia livre

Maria Julieta Drummond de Andrade
Nascimento 4 de março de 1928
Belo Horizonte, MG
Morte 5 de agosto de 1987 (59 anos)
Rio de Janeiro
Nacionalidade Brasil Brasileira
Progenitores Mãe: Dolores Morais Drummond de Andrade
Pai: Carlos Drummond de Andrade
Cônjuge Manuel Graña Etcheverry (c. 1949)
Filho(a)(s) Pedro Augusto Graña Drummond
Carlos Manuel Graña Drummond
Luís Maurício Graña Drummond
Ocupação Escritora

Maria Julieta Drummond de Andrade (Belo Horizonte, 4 de março de 1928Rio de Janeiro, 5 de agosto de 1987) foi uma escritora brasileira.[1]

Maria Julieta Drummond de Andrade nasceu em 4 de março de 1928, em Belo Horizonte (MG), filha de Carlos Drummond de Andrade e Dolores Morais Drummond de Andrade. Aos seis anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, então capital do Brasil, onde o pai assumia a função de chefe de gabinete do ministro Gustavo Capanema, no Ministério da Educação e Saúde.

Publicou aos 17 anos o seu primeiro livro, a novela A Busca, com prefácio de Aníbal Machado. Formada em Línguas Neolatinas pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), no Rio de Janeiro, Maria Julieta desempenharia, por mais de 30 anos, trabalho a favor das letras brasileiras na Argentina, país para o qual se mudou ao casar com o escritor e advogado portenho Manuel Graña Etcheverry, em 1949, com quem teve três filhos: Carlos Manuel, Luis Maurício e Pedro Augusto.[2]

Além de lecionar literatura na Universidade de Buenos Aires (UBA), Maria Julieta foi também diretora do Centro de Estudos Brasileiros, dedicado ao ensino de português do Brasil e a multiplas atividades culturais. O Centro fazia parte do Setor Cultural da embaixada brasileira. Ela foi diretora de 1976 a 1983. Durante esse período, promoveu seminários, entrevistas e exposições com artistas argentinos e brasileiros, e foi responsável pela publicação de obras de Cecília Meireles, Mário de Andrade e Augusto dos Anjos, entre outros. Em 1980, recebeu homenagem de Personalidade do Ano, dada pela UBA. No mesmo ano, recebeu também o prêmio de melhor divulgação da literatura brasileira na Argentina, dado pela Associação Paulista de Críticos da Arte (APCA), no Brasil.

Fez traduções importantes para o português, como a Nova antologia pessoal, de Jorge Luis Borges, publicada em 1969, e verteu para o espanhol uma reunião de textos como “O cavalinho azul” e “O rapto das cebolinhas” da teatróloga brasileira Maria Clara Machado, lançado em 1979. Traduziu também a peça Emily Dickinson, de William Luce, de 1985.

Em 1977, passou a colaborar semanalmente no jornal O Globo, escrevendo crônicas, contos e memórias. Publicou também entrevistas, entre as quais a célebre conversa que teve com o pai, gravada na sala de jantar da casa do poeta numa tarde de 1984.[3]

Seus textos foram reunidos em duas antologias: Um buquê de alcachofras, de 1980, que em três meses teve duas edições, e O valor da vida, do ano seguinte.

Um ano antes de voltar para o Brasil, Maria Julieta chegou a anunciar um livro que se chamaria Topázio. “[...] Só ficou na intenção, em uma lauda e meia datilografada”, afirmou Octávio de Mello Alvarenga, segundo marido da escritora. Em 1985, sob o título Diário de uma garota, Carlos Drummond de Andrade, sem consultar a filha, publicou o caderno de férias escrito quando ela tinha 13 anos. Em 1986, Maria Julieta lançou os títulos infantis Loló e o computador e, no ano seguinte, Gatos e pombos.  

As cartas trocadas entre a cronista e seu pai ao longo de 50 anos serviram como base para o monólogo teatral Cartas de Maria Julieta e Carlos Drummond de Andrade, encenado por Sura Berditchevsky em 2012.[4][5]

Em 1987 faleceu vítima de um câncer. A fatalidade foi demais para Drummond, já com 84 anos. No cemitério, ele teria dito a um amigo que sua vida tinha acabado. Doze dias depois - em 17 de agosto -, o escritor sofreu um infarto e morreu, sendo enterrado ao lado da filha no Cemitério São João Batista, em Botafogo, no Rio de Janeiro.[6]

Aos 11 anos posou para Cândido Portinari que a retratou em vestido rosa e ressaltou o traço fisionômico herdado do pai, também destacado por Drummond no poema “Resíduo”: “Pois de tudo fica um pouco./ Fica um pouco de teu queixo/ no queixo de tua filha”.[7]

A ligação afetiva e intelectual entre Carlos Drummond de Andrade e Maria Julieta era quase lendária. Ambos eram tão afinados que conseguiam emular o estilo um do outro, como a autora confidenciou ao jornalista Edmílson Caminha: "Quando adoeci e não pude mandar para O Globo minhas crônicas semanais, meu pai as escreveu e encaminhou ao jornal; quando o doente era ele, fiz a mesma coisa, para que o Jornal do Brasil não deixasse de publicá-lo três vezes por semana. Acho que editores e leitores de um e do outro não perceberam a diferença, pois nunca houve reclamação".

Um testemunho dessa relação é Maria Julieta entrevista Carlos Drummond de Andrade, disco idealizado e produzido por Pedro Drummond a partir de uma entrevista gravada em fita cassete em 1984. Nela, o poeta e a filha passeiam por assuntos variados: livros, Deus, crítica, Estado Novo, projetos, felicidade... O ouvinte tem a impressão de estar sentado no sofá da sala, acompanhando uma conversa ao mesmo tempo íntima e de interesse geral.

Nos anos em que a autora morou em Buenos Aires, pai e filha trocaram muitas cartas. O afastamento geográfico não abrandou o carinho, que os unia num laço tão forte que, doze dias após a morte de Maria Julieta, Carlos também se foi. O Jornal do Brasil estampou na primeira página: "A morte de Drummond não surpreendeu seus amigos mais íntimos: 'A vida perdeu o sentido para mim', confessou ele depois da morte da filha".[8]

  • 1946 - A Busca (novela)
  • 1980 - Um Buquê de Alcachofras (crônicas)
  • 1982 - O Valor da Vida (crônicas)
  • 1985 - Diário de uma Garota
  • 1986 - Gatos e Pombos (crônicas)
  • 1986 - Loló e o computador (infantil)

Referências

  1. Maria Julieta Drummond de Andrade. Instituto Moreira Salles
  2. Ribeiro, Alfredo (1 de junho de 2017). «Sobre Maria Julieta Drummond de Andrade». Instituto Moreira Salles. Consultado em 29 de agosto de 2023 
  3. «Maria Julieta entrevista Carlos Drummond de Andrade». Consultado em 31 de março de 2020 
  4. Veja carta que a filha de Drummond mandou para ele Folhinha, 26 de maio de 2012
  5. Cartas de Maria Julieta & Carlos Drummond de Andrade - São Paulo. Teatro Eva Herz
  6. «Conheça a linda história entre Carlos Drummond de Andrade e a filha, Maria Julieta». www.shereland.com. 10 de agosto de 2014. Consultado em 9 de agosto de 2020 
  7. «Maria Julieta Drummond de Andrade». Instituto Moreira Salles. Consultado em 9 de agosto de 2020 
  8. «Maria Julieta, 90 anos, por Victor Heringer | Por dentro dos acervos do IMS». Instituto Moreira Salles. Consultado em 9 de agosto de 2020 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]