Mario Kempes – Wikipédia, a enciclopédia livre
Kempes comemorando um de seus gols na final da Copa do Mundo FIFA de 1978 | ||
Informações pessoais | ||
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Nome completo | Mario Alberto Kempes Chiodi | |
Data de nasc. | 15 de julho de 1954 (70 anos) | |
Local de nasc. | Bell Ville, Córdova, Argentina | |
Altura | 1,82 m | |
Pé | canhoto | |
Apelido | El Toro El Matador Guaso | |
Informações profissionais | ||
Clube atual | aposentado | |
Posição | centroavante | |
Clubes de juventude | ||
1961–1968 1968–1969 1969–1970 | Club Atlético y Biblioteca Bell Talleres Instituto | |
Clubes profissionais | ||
Anos | Clubes | Jogos (golos) |
1970–1973 1973–1976 1976–1981 1981–1982 1982–1984 1984–1986 1986–1987 1987–1990 1990–1992 1995 1996 | Instituto Rosário Central Valencia River Plate Valencia Hércules First Vienna Sankt Pölten Kremser Fernández Vial Pelita Jaya | 123 (93) 153 (111) 32 (16) 50 (21) 42 (11) 20 (7) 96 (34) 39 (7) 11 (5) 18 (12) | 13 (11)
Seleção nacional | ||
1973–1982 | Argentina | 43 (20) |
Times/clubes que treinou | ||
1996 1996 1997–1998 1999 2000 2000–2001 | Pelita Jaya Lushnja Mineros de Guayana The Strongest Blooming Independiente Petrolero |
Mario Alberto Kempes Chiodi (Bell Ville, 15 de julho de 1954) é um ex-futebolista argentino que atuava como centroavante.
Celebrizou-se como o decisivo condutor da Seleção Argentina no primeiro título desta numa Copa do Mundo FIFA, na edição de 1978, realizada na própria Argentina.[1] A imagem do garoto de 23 anos e cabelos compridos irrompendo no Monumental de Núñez pela grande área neerlandesa na prorrogação da final, marcando o gol que recolocou a Albiceleste à frente, está na memória do torcedor argentino.[2]
Em clubes, marcou época no Rosário Central e, principalmente no Valencia, onde exibiu seu repertório de arrancadas fulminantes em direção ao gol, correndo em velocidade com a bola dominada; e, também, grande noção de posicionamento na grande área e chutes certeiros de média distância,[2] além do faro de gol que lhe fez ser duas vezes artilheiro nacional em cada uma dessas equipes. Foi escolhido o melhor centroavante da história do Valencia pelo jornal Marca.[3]
Atualmente, trabalha como comentarista esportivo da ESPN.[4] Está também entre os jogadores que, em vida, batizaram um estádio. No caso de Kempes, o Olímpico Chateau Carreras, o principal da província de Córdoba, onde o ex-jogador nasceu, foi renomeado Estadio Mario Alberto Kempes em outubro de 2010.[5]
Carreira
[editar | editar código-fonte]Início
[editar | editar código-fonte]Kempes começou a carreira em um dos principais times cordobeses, o Instituto, que sobe para a Primera División em 1972 e termina em oitavo lugar no campeonato nacional. Os dois grandes destaques do clube chegam à Seleção Argentina e são logo negociados: ele e Osvaldo Ardiles, que vai para o Belgrano, enquanto Kempes, ainda antes dos 20 anos, transferiu-se para o Rosário Central (que havia sido o campeão nacional naquele ano), de maior prestígio.
Rosário Central
[editar | editar código-fonte]Não tardou a destacar-se nacionalmente na equipe auriazul: marcando 29 gols em 36 partidas em 1974, terminando na artilharia do Nacional e quase sendo campeão duas vezes: os canallas ficaram com o vice-campeonato no Nacional, ante o San Lorenzo e no Metropolitano (na época, torneio mais valorizado que o próprio nacional[6]), ante o rival Newell's Old Boys. Na Libertadores de 1974, o time foi eliminado na primeira fase, após perder um play-off para o também argentino Huracán (ambos haviam terminado empatados na liderança), que fica com a única vaga para a fase semifinal. O bom desempenho de Kempes garantiu-lhe vaga na Copa do Mundo de 1974, tornando-se o primeiro a ir a uma Copa como jogador do Rosário, ao lado do colega Aldo Poy. A série de gols continuou: foram 35 em 49 jogos em 1975 e 21 em 22 partidas em 1976, quando terminou na artilharia do Metropolitano. Na Libertadores de 1975, Kempes levou o Central às semifinais de forma heróica: o clube novamente empatara na liderança da primeira fase, necessitando vencer um play-off, desta vez com o arquirrival Newell's, derrotado por 1 a 0 com um gol dele. As semifinais disputaram-se em grupos de três times. Os rosarinos perderam a vaga na decisão nos critérios de desempate, por um gol a menos de saldo que o Independiente, detentor do título – e que seria novamente campeão. Já nos campeonatos locais, o Central não alcançou as primeiras posições naqueles anos, mas as performances de Kempes atraíram olhares da Espanha, iniciando-se por essa época negociações com o Valencia. O atacante, que vinha de uma família de classe média que atravessava dificuldades financeiras com a crise econômica, além de terem problemas também por serem vinculados ao peronismo, aceitou a proposta e levou todos os familiares consigo, fugindo da ditadura militar que, em março daquele 1976, se instalara na Argentina, com um golpe de Estado.[2]
Valencia
[editar | editar código-fonte]Em sua primeira temporada no Valencia, a de 1976–77, mostrou serviço, terminando, com 24 gols, como artilheiro da Liga Espanhola. O time terminou apenas em sétimo, mas somente dez pontos atrás do campeão Atlético de Madrid.[7] A segunda foi ainda melhor: Kempes marcou 28 vezes, foi novamente artilheiro e levou os Ches à quarta colocação, oito pontos atrás do campeão (desta vez, o Real Madrid) e classificado para a Copa da UEFA.[7] A temporada se encerraria com ele como herói da Copa do Mundo FIFA de 1978.
A temporada 1978–79 viu o Valencia novamente ficar apenas em sétimo em La Liga[7] e ser eliminado nas oitavas de final da Copa da UEFA pelo West Bromwich, mas finalmente com um título: a Copa do Rei. E Kempes foi, novamente, o herói, marcando os dois gols na decisão contra o Real Madrid, na capital espanhola.[8] O troféu, apenas o segundo da carreira de Kempes (o primeiro por um clube), credenciou o time a disputar a Recopa Europeia da UEFA de 1979–80.
E a temporada seguinte viu o clube espanhol faturar este título (contra o Arsenal), o segundo campeonato europeu interclubes em relevância; e também a Supercopa Europeia, no tira-teima com o vencedor da Copa dos Campeões da UEFA de 1979–80 (o também inglês Nottingham Forest). Foi a coroação da temporada, em que o time ficara apenas em sexto no Espanhol – com o argentino a apenas dois gols atrás da artilharia de Quini.[9] A temporada 1980–81 foi a mais próxima em que Kempes esteve de faturar o campeonato espanhol: o Valencia terminou em quarto, a apenas três pontos da campeã Real Sociedad.[9] Ironicamente, ele pouco jogou na temporada: foram apenas doze partidas na Liga, ainda assim com nove gols. Resolveu então recuperar a forma no país natal, regressando à Argentina.
Kempes chegou ao River Plate a peso de ouro,[2] em resposta do clube, que trouxera também Alfredo Di Stéfano como técnico, à contratação de Diego Maradona pelo rival Boca Juniors.[10] Os millonarios caíram cedo na Copa Libertadores da América em 1981, mas Kempes foi destaque no título nacional daquele ano, marcando 15 vezes em 29 partidas, incluindo o gol do título, no segundo jogo da final contra o Ferro Carril Oeste, no estádio do adversário.[10] Foi trazido imediatamente de volta ao Valencia.
Hércules
[editar | editar código-fonte]Seu mau desempenho na Copa do Mundo de 1982, todavia, sinalizou o início de um ocaso na carreira. No retorno ao Valencia, o time ficou na última posição antes dos três rebaixados na temporada 1982–83.[9] Na segunda, pouco jogou e o time conseguiu uma décima segunda colocação,[9] decidindo livrar-se de seu antigo astro. Kempes assinou contrato com o recém-promovido Hércules, após disputar partidas em um clube de futebol de salão. No Hércules, novamente vivenciou a experiência de ver o time terminando entre os últimos que se salvaram do descenso, derrotando o Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu.[9] Na temporada 1985–86, porém, o time não escapou, sendo rebaixado – curiosamente, ao lado do Valencia.[9]
Últimos anos
[editar | editar código-fonte]Kempes passaria os seis anos seguintes no decadente futebol da Áustria, tendo algum destaque no pequeno St. Pölten: tirou o time da segunda divisão em 1988 e, no Campeonato Austríaco, marcou nove gols em 29 partidas em 1989 e 15 vezes em 35 jogos em 1990. Resolveu parar em 1992, no Kremser, mas ensaiou um retorno três anos depois, na segunda divisão do Chile. Bastante fora de forma,[2] jogou apenas onze vezes pelo modesto Fernández Vial, ainda assim marcando cinco gols.
Em 1996, ainda foi tentar manter a carreira no futebol da Indonésia, contratado junto com o compatriota Pedro Pasculli para ser jogador e treinador do Pelita Jaya, mas não chegou a atuar em jogos oficiais. Sua carreira de técnico continuaria nos anos seguintes, em equipes sem maior expressão. Seu último clube como treinador foi o Independiente Petrolero, da Bolívia, saindo em 2001.
Seleção Nacional
[editar | editar código-fonte]Copa do Mundo de 1974
[editar | editar código-fonte]Kempes estreou pela Seleção Argentina em 1973, ainda como jogador do Instituto de Córdoba. No ano seguinte, já como destaque do Rosário Central, foi para a Copa do Mundo FIFA de 1974, mas não se destacou, não marcando gols e sendo substituído em três jogos.[11] O país caiu na segunda fase de grupos, sendo eliminado após perder o duelo contra o Brasil.
Copa do Mundo de 1978
[editar | editar código-fonte]A segunda Copa de Kempes terminaria gloriosa. Começou não tão boa: a anfitriã Argentina passou à segunda fase sem nenhum gol dele, chegando até a perder para a Itália. Kempes despertou no primeiro jogo da segunda fase de grupos, marcando os dois gols na vitória por 2 a 0 sobre a forte Polônia, no estádio onde havia se acostumado a fazer gols: era o Gigante de Arroyito, o campo de sua antiga equipe do Rosário Central – Kempes foi à Copa já como jogador do Valencia (sendo, por sinal, o único convocado da Argentina a jogar fora do país). Outra explicação para a melhora foi supersticiosa: o técnico César Luis Menotti havia pedido que o atacante raspasse o bigode que ostentou durante a primeira fase, no que foi atendido a partir daquele jogo.[12]
No mesmo gramado, porém, bem marcado pelo volante Chicão, Kempes não produziu tanto em um 0 a 0 bastante tenso contra o Brasil.[13] Novamente no Gigante, marcou outros dois gols na polêmica goleada por 6 a 0 sobre o Peru, que garantiu a Argentina na final.[14][15] Decisão cujo placar seria inaugurado por ele, aos 37 minutos. No final da partida, os Países Baixos complicaram: empataram aos 37 do segundo tempo e quase viraram em um chute de Rob Rensenbrink, que terminou na trave. Na prorrogação, Kempes aliviou os torcedores locais, marcando seu segundo gol no jogo, que o isolava na artilharia da competição – até a Copa do Mundo FIFA de 2010, o argentino era o mais jovem a ser artilheiro de um mundial,[11] só aí sendo superado pelo alemão Thomas Müller. No último minuto do tempo extra, a inédita conquista argentina seria garantida com o gol de Daniel Bertoni, fechando o placar em 3 a 1.[16][17] Kempes tornou-se o único a ser, em uma mesma edição, artilheiro e campeão com sua seleção sendo a anfitriã.[18]
Copa do Mundo de 1982
[editar | editar código-fonte]Quando foi chamado para a sua terceira Copa, a de 1982, o sentimento era otimista: Kempes havia obtido bom desempenho no River Plate e teria idade para jogar ao menos também a Copa do Mundo FIFA de 1986 – ainda tinha 28 anos à época da Copa do Mundo realizada na Espanha. Mais do que isso, a Seleção manteve a espinha-dorsal campeã de 1978 – Ubaldo Fillol, Daniel Passarella, Américo Gallego, Alberto Tarantini (todos eram seus colegas no River), Osvaldo Ardiles e outros, além dele, e somava as promessas Ramón Díaz (também dos millonarios) e, principalmente, Diego Maradona. A realidade, porém, contrariou o plano teórico, e Kempes fez um mundial apagado, além de não marcar; assim, a Argentina voltou a cair na segunda fase após perder para o Brasil.[19] Kempes não conseguiu retomar a boa fase, não cumprindo a trajetória que ainda se esperava dele antes do torneio. Com isso, o atacante deixou de ser chamado pela Albiceleste ainda naquele ano.
Títulos
[editar | editar código-fonte]- Valencia
- River Plate
- Primera División: 1981 (Nacional)
- Pelita Jaya
- Galatama: 1993–94
- Seleção Argentina
Artilharias
[editar | editar código-fonte]- Rosário Central
- Primera División: 1974 - 26 gols (Nacional) e 1976 - 21 gols (Metropolitano)
- Valencia
- La Liga: 1976–77 (24 gols) e 1977–78 (28 gols)
- Recopa Europeia da UEFA: 1979–80 (9 gols)
- Seleção Argentina
- Copa do Mundo FIFA: 1978 - 6 gols
Prêmios e honrarias
[editar | editar código-fonte]- 1978: Melhor jogador da Copa do Mundo FIFA
- 1978: Seleção da Copa do Mundo FIFA
- 1978: Onze d'Or
- 1978: Futebolista Sul-Americano do Ano
- 2004: FIFA 100[20]
- 2006: Eleito o 6º melhor jogador Argentino do século XX pela IFFHS
- 2016: Um dos 11 eleitos pela AFA para a Seleção Argentina de Todos os Tempos[21]
- IFFHS ALL TIME ARGENTINA MEN'S DREAM TEAM (Time B)[22]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ «Kempes: "El Matador" de uma só Copa». Trivela. 15 de julho de 2008. Consultado em 19 de dezembro de 2021
- ↑ a b c d e "Herói de uma Copa só", Especial Placar - Os Craques do Século, novembro de 1999, Editora Abril, pág. 111
- ↑ Sergio García (15 de dezembro de 2017). «Kempes, goleador en el mejor Valencia» (em espanhol). Marca. Consultado em 19 de dezembro de 2021
- ↑ «Mario Kempes - Archivo de Columnas» (em espanhol). ESPN. Consultado em 19 de dezembro de 2021
- ↑ Alexandre Leon Anibal (22 de outubro de 2010). «Estádio Olímpico de Córdoba passa a se chamar Mario Kempes». Futebol Portenho. Consultado em 19 de dezembro de 2021
- ↑ Dois campeões por ano", Anuário Placar 2003, Editora Abril, págs. 702-704
- ↑ a b c "Spain, Final Tables 1969-1979", José Vicente Tejedor Carnicero, RSSSF
- ↑ "Spain - Cup 1979", Carles Lozano Ferrer, RSSSF
- ↑ a b c d e f "Spain, Final Tables 1979-1989", José Vicente Tejedor Carnicero, RSSSF
- ↑ a b "Mario Kempes", El Gráfico especial número 27, "100 Ídolos de River", novembro de 2010, pág. 32
- ↑ a b "Jovem imortal", Especial Placar: Os 100 Craques das Copas, outubro de 2005, Editora Abril, pág. 71
- ↑ "O cara", Placar número 1341, abril de 2010, Editora Abril, pág. 139
- ↑ Enciclopédia do Futebol Brasileiro Lance, Areté Editorial, 2001, pág. 48
- ↑ «Argentina 6x0 Peru: suspeita goleada que eliminou o Brasil faz 40 anos». Lance!. 21 de junho de 2018. Consultado em 19 de dezembro de 2021
- ↑ Tales Torraga (13 de outubro de 2021). «43 anos depois, o que prova armação nos 6 a 0 da Argentina no Peru em 1978?». UOL. Consultado em 19 de dezembro de 2021
- ↑ Tiago de Melo Gomes (25 de dezembro de 2010). «Nostalgia da Copa – Argentina 3×1 Holanda– 1978». Futebol Portenho. Consultado em 19 de dezembro de 2021
- ↑ Marcos Júnior Micheletti (25 de junho de 2021). «Achados & Perdidos: Há 43 anos a Argentina conquistava sua primeira Copa do Mundo». Terceiro Tempo. Consultado em 19 de dezembro de 2021
- ↑ «Mario Kempes - Que fim levou?». Terceiro Tempo. Consultado em 19 de dezembro de 2021
- ↑ «Brasil derrota Argentina por 3 a 1 em 2 de julho de 1982, na Copa do Mundo da Espanha». Confederação Brasileira de Futebol. 2 de julho de 2014. Consultado em 19 de dezembro de 2021
- ↑ «Lista de craques de Pelé para Fifa tem maioria brasileira». BBC Brasil. 4 de março de 2004. Consultado em 19 de dezembro de 2021
- ↑ «Com Messi e Maradona, AFA divulga seleção de todos os tempos». Blog Brasil Mundial FC. 5 de janeiro de 2016. Consultado em 10 de março de 2020
- ↑ «IFFHS ALL TIME ARGENTINA MEN'S DREAM TEAM». Consultado em 20 de dezembro de 2024
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Mario Kempes». no oGol
- «Mario Kempes». no Transfermarkt
- «Mario Kempes». no Soccerway