Nomenclatura vernácula – Wikipédia, a enciclopédia livre
A nomenclatura vernácula se refere aos nomes de organismos biológicos que são baseados na língua vernácula.[1] Esse tipo de nomenclatura contrapõe-se com a nomenclatura científica, que é redigida em latim.
Tipos de vernáculos
[editar | editar código-fonte]Os táxons podem ser representados por meio de três tipos de denominações,[2] cada um estabelecido por situações diferentes:
- Os populares são os nomes que pertencem a língua comum, no qual denotam os grupos de organismos de conhecimento geral. Por exemplo, leão é o vernáculo português do táxon Panthera leo;[3]
- Os eruditos são instituídos artificialmente por técnicos, quando não existem nomes populares. Por exemplo, aranha-do-mar é o vernáculo do táxon Pycnogonida, em referência a sua semelhança com um aracnídeos e ser um táxon marinho;
- Os paracientíficos são criados por meio da adaptação do nome científico à língua vernácula. Por exemplo, coleópteros é um aportuguesamento do nome latino Coleoptera.[4]
Variações
[editar | editar código-fonte]Os vernáculos têm uma diversificação muito grande, sejam elas na mesma língua (intralinguística) ou com relação a outras línguas (extralinguística).
Intralinguísticas
[editar | editar código-fonte]As variações intralinguísticas referem-se aos vernáculos de uma determinada língua,[5] como por exemplo, os vernáculos da língua portuguesa. Em decorrência das variações que ocorrem na língua, também poderá haver efeitos sobre a nomeação dos organismos.
Alguns vernáculos apresentam usos restritos a uma determinada localidade, enquanto, outros são amplamente usados em qualquer região.[6] Como por exemplo, em São Tomé e Príncipe, ambulância é um vernáculo para o táxon Dermochelys coriacea,[7] enquanto que no Brasil, é tartaruga-de-couro.[8] Já, o táxon Hippopotamus recebe o vernáculo de hipopótamo que é comum em qualquer região lusofóna.
Os vernáculos também podem variar conforme a aplicação dos táxons, alguns podem fazer referência a apenas um táxon, enquanto que outros, a vários táxons. Como exemplo do primeiro caso, o vernáculo pintagueira faz referência apenas a espécie Eugenia uniflora.[9] No segundo caso, o vernáculo vaga-lume é uma referência para três famílias de coleópteros, os Elaterídeos, os Fengodídeos e os Lampirídeos.[10]
Extralinguísticas
[editar | editar código-fonte]As variações extralinguísticas referem-se aos vernáculos relacionados com outras línguas.[11] Nestas variações, a grafia do vernáculo poderá ser conservada. Como por exemplo, o táxon Panthera tigris recebe o vernáculo português de tigre, esta grafia é mantida em outras línguas românicas, como a catalã,[12] castelhana,[13] francesa,[14] galega[15] e italiana.[16]
Em outros casos, os vernáculos em outros idiomas não conserva a mesma grafia, nos quais são redigidos de formas diferentes. Por exemplo, o táxon Felis silvestris catus tem o vernáculo português de gato, porém seu vernáculo russo é koshka (кошка),[17] no chinês é māo (貓),[18] no japonês é neko (ネコ)[19] e no turco é kedi.[20]
Relação com a nomenclatura binomial
[editar | editar código-fonte]A estrutura da nomenclatura binomial é superficialmente semelhante à forma substantivo-adjetivo de nomes vernáculos usados por culturas pré-históricas.[21] Um nome coletivo, como coruja, foi tornado mais preciso com a adição de um adjetivo, como buraco.[21]
O próprio Linnaeus publicou em 1745, a Flora Suecica, no qual registrou, região por região, os nomes científicos e vernáculos suecos. Nessa, os vernáculos eram todos binômios, por exemplo, planta nº 84 Råg-losta e planta nº 85 Ren-losta,[22] sendo assim, o sistema binomial vernacular precedeu o sistema binomial científico.[21]
Códigos nomenclaturais
[editar | editar código-fonte]Os códigos internacionais de nomenclaturas, o CINZ e o CINB, estabelecem a abrangência apenas aos nomes científicos, os quais são redigidos em latim. Portanto, os vernáculos não são legalizados pelos códigos.[23][24]
Referências
- ↑ Papavero, Nelson (org.). Fundamentos práticos em taxonomia zoológica. 2a ed. São Paulo: Editora UNESP, 1994. p. 246. Consultado em 10 de abril de 2020.
- ↑ Garrido, Carlos (2012). Análise do tratamento lexicográfico dos táxones zoológicos nos dicionários gerais de referência das línguas portuguesa e espanhola. Revista de Lexicografia. 18: 41. Consultado em 8 de abril de 2020.
- ↑ leão. In: Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2015. Consultado em 8 de abril de 2020.
- ↑ coleóptero. In: Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2015. Consultado em 8 de abril de 2020.
- ↑ intralinguístico. In: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Lisboa: Priberam, 20-. Consultado em 10 de abril de 2020.
- ↑ Brickell, C. D. et al. (2009). International Code of Nomenclature for Cultivated Plants. Scripta Horticulturae. Leuven: ISHS. (10): 1-184 [p. 138]. Consultado em 10 de abril de 2020.
- ↑ Becker, Kathleen São Tomé e Príncipe. Chesham: Bradt Travel Guides, 2014. p. 215. Consultado em 9 de abril de 2020.
- ↑ tartaruga-de-couro. Projeto TAMAR. Consultado em 10 de abril de 2020.
- ↑ pitangueira. In: Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2015. Consultado em 11 de abril de 2020.
- ↑ Viviani, Vadim Ravara et al. (Abr./jun. 2010). Fauna de besouros bioluminescentes (Coleoptera: Elateroidea: Lampyridae; Phengodidae, Elateridae) nos municípios de Campinas, Sorocaba-Votorantim e Rio Claro-Limeira (SP, Brasil): biodiversidade e influência da urbanização. Biota Neotropica. Campinas: IVB. 10(2): 103–116 [p. 104]. Consultado em 11 de abril de 2020.
- ↑ interlinguístico. In: Infopédia. Porto: Porto Editora, 20- Consultado em 10 de abril de 2020.
- ↑ tigre. Glosbe: dicionário português-catalão. Consultado em 10 de abril de 2020.
- ↑ tigre. Glosbe: dicionário português-espanhol. Consultado em 10 de abril de 2020.
- ↑ tigre. Glosbe: dicionário português-francês. Consultado em 10 de abril de 2020.
- ↑ tigre. Glosbe: dicionário português-galego. Consultado em 10 de abril de 2020.
- ↑ tigre. Glosbe: dicionário português-italiano. Consultado em 10 de abril de 2020.
- ↑ кошка. Glosbe: dicionário russo-português. Consultado em 9 de abril de 2020.
- ↑ gato. Glosbe: dicionário português-chinês. Consultado em 10 de abril de 2020.
- ↑ gato. Glosbe: dicionário japonês-português. Consultado em 9 de abril de 2020.
- ↑ kedi. Glosbe: dicionário turco-português. Consultado em 9 de abril de 2020.
- ↑ a b c Stearn, William T. (1959). The Background of Linnaeus's Contributions to the Nomenclature and Methods of Systematic Biology. Systematic Zoology 8: 4–22 [p. 6, 9]. Consultado em 10 de abril de 2020.
- ↑ «Botanicus.org: Caroli Linnaei ... flora Suecica :». www.botanicus.org. p. 30. Consultado em 29 de abril de 2021
- ↑ Ride, W. D. L. et al. (1999). Internactional Code of Zoological Nomenclature.. Singapura: ITZN. Consultado em 10 de abril de 2020.
- ↑ Turland, N. J. et al. (2018). International Code of Nomenclature for algae, fungi, and plants. Glashütten: IAPT. Consultado em 10 de abril de 2020.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Corrêa, Manuel Pio (1926). Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional. 6 v.
- Garrido, Carlos (2012). Divergências no inventário das línguas e na constituição dos elementos lexicais equivalentes como fonte de discordâncias interculturais na tradução de textos destinados ao ensino e divulgação da ciência. Lebende Sprachen. Berlim: De Gruyter. 57(2): 238–264.
- Ihering, R. von. (1940). Dicionário dos animais do Brasil. São Paulo: Diretoria de Publicidade Agrícola.
- Pinto, Joaquim de Almeida (1873). Diccionario de Botanica Brasileira. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança.