Ogiges – Wikipédia, a enciclopédia livre
Ogiges, Ogige, Ogigo ou Ogigos (em grego: Ὠγύγης or Ὠγύγος) foi um rei mitológico primevo da Grécia Antiga, geralmente da Beócia,[1] mas uma lenda alternativa também faz dele o primeiro rei da Ática. Embora a etimologia e o significado originais sejam incertos, a palavra grega Ogygios (Ωγύγιος), que significa ogígico, acabou se tornando um sinônimo de "primevo", "primordial", "das primeiras eras".[2]
É mais conhecido como o rei dos ectenos ou hectenos, povo autóctone da Beócia, onde a cidade de Tebas seria fundada posteriormente.[3] Como tal, ele se tornou o primeiro soberano de Tebas, que foi, naquele tempo, chamada de Ogígia em sua homenagem. Posteriormente, os poetas viriam a se referir aos tebanos como ogígidas.[4]
A história foi contada por Pausânias, que, escreveu em suas viagens na Beócia no século II d.C.: "Dizem que os primeiros a ocupar a terra de Tebas foram os ectenos, cujo rei era Ogigo, um aborígene. De seu nome derivou-se "ogígia", que é um epíteto de Tebas utilizado pela maioria dos poetas."[5]
Existem porém um grande número de histórias alternativas sobre ele na mitologia grega. De acordo com o escoliasta de Licofronte, seu reino era localizado na Tebas egípcia. Estevão de Bizâncio, ao escrever no século VI d.C., disse que Ogiges havia sido o primeiro rei da Lídia (uma provável confusão com Giges, o primeiro rei da Lídia). Em ainda outra versão da história, a tradição beócia foi combinada com a de outra parte da Grécia: Ogiges teria sido o rei dos ectenos, primeiro povo a ocupar a Beócia, mas ele e seu povo mudaram-se posteriormente para a área conhecida então como Acte (Akte). A terra foi chamada de Ogígia em sua homenagem mas recebeu depois o nome de Monte Atos. Sexto Júlio Africano, que escreveu depois de 221 d.C., acrescentou que Ogiges teria fundado Elêusis.[6]
As histórias sobre sua ascendência também variam muito. Além de Ogiges ter sido um dos aborígenes da Beócia, existem contos que o retratam como filho de Posídon, Beoto, ou até mesmo Cadmo. O Papa Teófilo, no século IV d.C. (ad Autol.), escreveu que ele teria sido um dos Titãs.
Foi marido de Teba, de quem a cidade grega de Tebas recebeu seu nome. Seus filhos foram listados como: Eleusino (de quem a cidade de Elêusis recebeu o nome) e Cadmo (assinalado acima como seu pai em outras versões da lenda), além de três filhas: Áulide, Alalcomênia e Telvínia.
Esforços para ligar sua lenda à tradição bíblica já o fizeram ser um contemporâneo ao Êxodo dos hebreus, fugindo do Egito Antigo.[7]
O primeiro dilúvio mundial da mitologia grega, chamado de dilúvio ogigiano, teria ocorrido durante o reinado de Ogiges, de quem teria derivado o nome - embora algumas fontes o apresentem como um dilúvio regional, tal como uma inundação do Lago Copais, um grande lago que existia no centro da Beócia.[8] Outras fontes o vêem como um dilúvio associado com a Ática.[9] Esta última opinião foi aceita por Africano, que escreveu que "aquele grande e primeiro dilúvio ocorreu na Ática, quando Foroneu era o rei de Argos, como narra Acusilau.
Quando este dilúvio foi considerado global, uma semelhança foi notada com o dilúvio bíblico de Noé: diversas datas foram assinaladas para o evento, incluindo 9.500 a.C. (Platão),[10] 2.136 a.C. (Varrão), e 1.796 a.C. (Africano).[7].
Outra interpretação é dada por Isaac Newton, que faz dele um cimério ou cita, os povos nômades que habitavam a Grécia antes dela ser invadida por exilados egípcios em 1125 a.C.[necessário esclarecer][11]. Seu filho Eleusino fundou Elêusis em 1080 a.C. - uma das cinco cidades mais antigas da Grécia[11].
Ogiges sobreviveu ao dilúvio porém muitos pereceram. Depois de sua morte, devido à devastação do dilúvio, a Ática permaneceu sem reis por 189 anos, até a era de Cécrope (Cecrops Diphyes).[12] Africano escreveu: "Porém depois de Ogiges, devido à grande destruição causada pelo dilúvio, o que hoje em dia se chama de Ática permaneceu sem rei por cento e oitenta e nove anos, até os tempos de Cécrope. Pois Filocoro assegura que aquele Acteão que veio depois de Ogiges, e todos os nomes fictícios, nunca sequer existiram."
O nome de Ogiges provavelmente tem a mesma origem que o da ilha fantasma de Ogígia, mencionada na Odisseia de Homero.
Referências
- ↑ Verbete "Ogygus" em N. G. L. Hammond e H. H. Scullard, The Oxford Classical Dictionary, segunda edição, Oxford University Press: 1970.
- ↑ Verbete Ωγύγιος em Henry George Liddel, Robert Scott, A Greek-English Lexicon.
- ↑ Verbete "Ogyges" em Oskar Seyffert, A Dictionary of Classical Antiquities, revisão e edição de Henry Nettleship e J.E. Sandys, Nova Iorque: Meridian Books, 1956.
- ↑ Verbete "Ogyges" em E. H. Blakeney, Smith's Smaller Classical Dictionary, Everyman's Library, Londres: J. M. Dent and Sons Ltd., 1937.
- ↑ Pausânias, Descrição da Grécia, 9.5.1, tradução para o inglês de W. H. S. Jones e H. A. Omerod, Loeb Classical Library, 1918.
- ↑ Africano, Cronografia, citado por Eusébio de Cesareia, Praeparatio Evangelica, 10.10.
- ↑ a b Africano, Cronografia, op. cit.
- ↑ Seyffert, op. cit.
- ↑ Blakeney, op. cit.
- ↑ Ver Timeu (22), Crítias (111-112), e Leis, livro III.
- ↑ a b Isaac Newton, The Chronology of Ancient Kingdoms, A Short Chronicle from the First Memory of Things in Europe, to the Conquest of Persia by Alexander the Great
- ↑ Gaster, Theodor H. Myth, Legend, and Custom in the Old Testament Arquivado em 4 de fevereiro de 2002, no Wayback Machine., Harper & Row, Nova Iorque, 1969.