Paleolítico Médio – Wikipédia, a enciclopédia livre
Época: | Paleolítico Inferior - | Paleolítico Superior |
O paleolítico médio é um conceito que compreende um espaço temporal, cultural e geográfico mais restrito do que os períodos do Paleolítico que o antecedem e precedem.[1] Caracteriza-se pela predominância de uma tradição lítica denominada musteriense, que utiliza a técnica de talha denominada método Levalloi ou modo técnico 3,[2] que consiste na obtenção de uma ou várias lascas por defeito, a partir de uma preparação particular do núcleo. É um período muito menos extenso que o anterior (o Paleolítico Inferior) e abrange aproximadamente entre os anos 325 000[3]-300 000 Antes do Presente (AP) e 40 000-30 000 AP.[4]
O Paleolítico Médio coincide com a maior parte do Pleistoceno Superior ou Tarentiano, até cerca de metade da última era glacial, a de Würm-Wisconsin. É também a época do Homo neanderthalensis, que se espalhou da Europa para o Oriente Próximo e grande parte da Ásia Central.[4]
Visão linear
[editar | editar código-fonte]Inicialmente, o Paleolítico Médio foi definido pela existência do Homo neanderthalensis, espécie que se supunha estar na linha de evolução do gênero Homo em direção ao Homo sapiens. Mas a realidade tem se mostrado mais complexa, e segundo os dados atuais, o H. neanderthalensis não precedeu o H. sapiens,[5] mas foi uma espécie de origem europeia que por 150.000 anos existiu paralelamente ao H. sapiens, originário da África[6] e seu contemporâneo. Um fóssil de Homo sapiens foi encontrado no Vale do Rio Omo, no sul da Etiópia. Omo I,[7] datado de 195 000 anos atrás.[8] Além disso, foi demonstrado que na Ásia Oriental o Homo erectus sobreviveu em uma grande área, enquanto as outras duas espécies se dispersaram pelo planeta,[9] dando origem também, em certas áreas da atual Indonésia, a uma quarta espécie, o Homo floresiensis,[10] com adaptação especializada a florestas.
Não houve, portanto, um processo linear de evolução e a visão inicial do Paleolítico Médio acabou sendo basicamente europeia, verificável apenas naquelas áreas onde o H. sapiens substituiu populações tardias de H. neanderthalensis, ou seja, na Europa e na Ásia Ocidental até o Irã e Uzbequistão, mas não no resto do continente asiático, muito menos nas regiões da África onde surgiu o H. sapiens.
Eventos
[editar | editar código-fonte]- c. 300.000 BP – Humanos anatomicamente modernos (Homo sapiens sapiens) aparecem na África,[11] uma de cujas características é a falta de pelos corporais significativos em comparação com outros primatas. Veja Jebel Irhoud.
- c. 300.000–30.000 BP – Cultura musteriana (Homo neanderthalensis) na Europa.[12]
- c. 170.000–83.000 BP – Invenção de roupas.[13]
- c. 75.000 BP – Supererupção do vulcão Toba.[14]
- c. 80.000–50.000 BP – O Homo sapiens sai da África como uma única população.[15][16] Nos milênios seguintes, os descendentes dessa população migraram para o sul da Índia, ilhas malaias, Austrália, Japão, China, Sibéria, Alasca e a costa noroeste da América do Norte.[16]
- c. 80.000–50.000? BP – Modernidade comportamental, a esta altura incluindo linguagem e cognição sofisticada.
Referências
- ↑ Miller, Barbra; Bernard Wood; Andrew Balansky; Julio Mercader; Melissa Panger (2006). Anthropology (PDF). Boston Massachusetts: Allyn and Bacon. p. 768. ISBN 978-0-205-32024-0
- ↑ Boëda, E. (1994) Le concept Levallois: variabilité des méthodes. (em francês) Paris: CNRS, monographie du CRA n° 9
- ↑ Arsuaga, J. L. & Martínez, I. 1998. La especie elegida. (em espanhol) Ediciones Temas de Hoy, Madrid. ISBN 978-84-7880-909-7
- ↑ a b Arsuaga, Juan Luis (2004). El collar del Neandertal. En busca de los primeros pensadores. (em espanhol) terceira ed. Barcelona: Random House Mondadori. p. 97. ISBN 84-9759-298-0
- ↑ Serre et al. (2004). "No evidence of Neandertal mtDNA contribution to early modern humans". PLoS Biology 2 (3): 313–7.
- ↑ Maca-Meyer, N., González, A. M., Larruga, J. M., Flores, C. & Cabrera, V. M., (2001) "Linajes mayores del genoma mitocondrial trazan antiguas expansiones humanas". (em espanhol) BMC Genetics 2: 13
- ↑ Shea, J. J., Fleagle, J. G., Brown, F. W., Assefa, Z., Feibel, C. & McDougall, I., 2002. Archaeological Reconnaissance of the Omo Kibish Formation, Ethiopia; Journal of Human Evolution 42: A33-A34.
- ↑ McDougall, I., Brown, F. H. & Fleagle, J. G., 2005. Stratigraphic placement and age of modern humans from Kibish, Ethiopia. Nature 433: 733-736
- ↑ Swisher C. (1996) "Homo erectus of Java: potential contemporaneity with Homo sapiens in Southeast Asia"; Science 274: 1870-74.
- ↑ Morwood, M. J., et al. «Archaeology and age of a new hominin from Flores in eastern Indonesia.» Nature 431: 1087-1091.
- ↑ Hublin JJ, Ben-Ncer A, Bailey SE, Freidline SE, Neubauer S, Skinner MM, Bergmann I, Le Cabec A, Benazzi S, Harvati K, Gunz P (Junho de 2017). «New fossils from Jebel Irhoud, Morocco and the pan-African origin of Homo sapiens» (PDF). Nature. 546 7657 ed. pp. 289–292. Bibcode:2017Natur.546..289H. PMID 28593953. doi:10.1038/nature22336. Consultado em 27 de julho de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 8 de janeiro de 2020
- ↑ Shea, J.J. (2003). «Neanderthals, competition and the origin of modern human behaviour in the Levant». Evolutionary Anthropology. 12 4 ed. pp. 173–187. doi:10.1002/evan.10101
- ↑ Toups, M.A.; Kitchen, A.; Light, J.E.; Reed, D. L. (Setembro de 2010). «Origin of Clothing Lice Indicates Early Clothing Use by Anatomically Modern Humans in Africa». Molecular Biology and Evolution. 28 1 ed. pp. 29–32. PMC 3002236. PMID 20823373. doi:10.1093/molbev/msq234. Cópia arquivada em 14 de janeiro de 2017
- ↑ Jones, Tim (6 de julho de 2007). «Mount Toba Eruption – Ancient Humans Unscathed, Study Claims». Anthropology.net. Consultado em 20 de abril de 2008. Cópia arquivada em 8 de julho de 2018
- ↑ Zimmer, Carl (21 de setembro de 2016). «How We Got Here: DNA Points to a Single Migration From Africa». New York Times. Consultado em 22 de setembro de 2016. Cópia arquivada em 2 de maio de 2019
- ↑ a b This is indicated by the M130 marker in the Y chromosome. "Traces of a Distant Past", by Gary Stix, Scientific American, July 2008, pp. 56–63.